Reavaliação de vida



SUA VIDA NÃO TEM SENTIDO? SIGA ALGUÉM QUE SABE O CAMINHO!

 

Alguns meses depois que cheguei a Santarém, sentia-me completamente desnorteado, pois ainda não havíamos nos reunido (eu, a liderança local, a liderança da missão e a liderança da IBCU) para definirmos o papel de cada um, os alvos e metas a serem alcançados. Como a espera já passara de “alguns meses”, decidi começar sozinho.

Entrei em contato com alguns líderes locais, informei-me sobre como chegar até eles (nome dos barcos, horários e preço da passagem até suas comunidades) e passei a visitá-los regularmente afim de entrosar-me com as igrejas e o povo local.

Numa destas viagens, ao chegar à comunidade, o líder local me informou que no dia seguinte partiríamos bem cedo para começar a tirar madeira para a construção de uma ponte numa comunidade chamada Parunim, que ficava a 4 horas mato adentro.

Naquela noite, deitado em minha rede, fiquei imaginando onde seria este lugar, como chegaríamos lá, prá que direção ficava, como seria o trabalho, onde seria a ponte e como ela seria, o que eu deveria levar, etc. Não fazia a mínima idéia. Aquele era, até então, um lugar hostil para mim. Outra paisagem, outra cultura, outros costumes completamente diferentes daqueles na qual me criei. Eu estava nas mãos daquele que sabia o caminho e o propósito daquela missão.

 

Temos visto muitas pessoas testemunharem que suas vidas (ou a vida) não fazem sentido. Parece-me que os que tem coragem de afirmar isto já gastaram algum tempo pensando no assunto. Outras, quando abordadas, especulam qualquer abobrinha porque, talvez, não querem admitir que não sabem, ou (é o que fica implícito) nunca pensaram sobre este assunto tão importante.

 

A palavra sentido pode ter muitos sentidos (desculpe o trocadilho). Um deles pode significar propósito (o porquê vivemos), ou então alvo (para que vivemos). Mas pode significar também direção. Ora, se tivermos um sentido na vida, no sentido (ops!) de ter uma direção a seguir já é um bom começo...

A vida sem Deus não faz sentido. Acreditar em Deus (simplesmente)  também não implica nenhum sentido para a vida. Mas se O buscarmos afim de descobrir Sua vontade para nossa vida, ai sim, faz toda a diferença.

 

PRIMEIRO PASSO: BUSQUE A DEUS

“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo vosso coração” (Jr 29.13).   A.W. Tozer, comentando sobre este verso, escreveu: “Aquele que busca a Deus por qualquer motivo que não seja Deus, pode encontrar qualquer coisa, menos Deus”.

Sabemos que há um Deus que se interessa por nós. Sabemos também que Ele se revela através da Sua Palavra. Sabemos também que esta Palavra veio até nós: Jesus, de quem se diz: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). Ele é a Palavra encarnada, o logos de Deus “...e o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (Jo 1.14).

É Ele quem nos dá uma direção para a vida: “ Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).

Ser Cristão significa seguir a Cristo. Seguir no mesmo sentido que eu tive de seguir o meu anfitrião até Parunim. Foi ele quem me orientou sobre o caminho a seguir (e chegamos lá!), o que levar, o que fazer, como se comportar (lembre-se, eu estava em outra cultura, assim como nós - somos peregrinos e forasteiros neste mundo).

 

SEGUNDO PASSO: REAVALIE SUA VIDA

O que significa seguir a Cristo? Significa principalmente mudança. Significa morrer para este mundo, ou nas palavras de Jesus “tomar a sua cruz”. Diferente do que muitos pensam, a nossa cruz não é qualquer dificuldade que qualquer pessoa pode passar na vida, como doença, fome, sogra ou desemprego,  pois se assim fosse, os ímpios também se enquadrariam na mesma categoria. Cruz, para o crente, significa qualquer dor ou sofrimento que ele não precisaria passar, mas escolhe “pegá-la” voluntariamente por amor à Obra.

No final do capítulo nove de Lucas, vemos Jesus convocando alguns homens a seguí-lo. O contexto aparece imediatamente depois, o envio para a grande seara:

“Depois disso designou o Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide; eis que vos envio como cordeiros ao meio de lobos” (Lc 10:1-3)

Quando  lemos a passagem de9.57 a62, nos deparamos com algumas conversas bastante estranhas de Jesus com pelo menos 3 candidatos. Muitas vezes, ao ler as escrituras, ficava intrigado com as conversas que Jesus trava com alguns personagens: muitas vezes parecia “papo de louco”. Um sujeito fala uma coisa e Jesus responde outra completamente diferente. Com o tempo percebi que, diferente de nós, Jesus tinha sua mente constantemente voltada para as coisas espirituais. E assim como um malicioso pega qualquer assunto e interpreta maliciosamente, Jesus aproveitava qualquer palavra para elevar a um nível espiritual e ensinar verdades eternas.

 Vemos nestas conversas de Lucas 9 um bom exemplo disto.

 

1. DEVEMOS REAVALIAR NOSSOS VALORES

O primeiro candidato aproximou-se de Jesus e disse: “Seguir-te-ei para onde quer que fores”.

A resposta de Jesus para este homem dizia que para segui-lo, devemos reavaliar nossos valores:

“Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.

Permita-me especular um pouco. Os judeus daquela época (e até hoje) esperavam a vinda do Messias. A idéia é que este messias seria um Rei, guerreiro como Davi, e que restauraria a glória do reino de Israel e os livraria das mãos dos romanos. Alguns viam em Jesus esta imagem. Dentre seus seguidores, muitos esperavam ser beneficiados quando este reino fosse instaurado. Basta lembrar do pedido dos filhos de Zebedeu a Jesus. Talvez esta idéia tivesse passando no coração deste “voluntário” ao oferecer-se a seguir fielmente onde Jesus fosse.

Jesus ensina que os principais valores de um cristão não devem ser seu conforto, nem seus bens, nem suas raízes. Seus valores devem ser outros! Nossa cultura valoriza o acumulo: de bens, de títulos, de conhecimento. Valorizamos mais o TER do que o SER.

Eu não tenho dúvidas, Deus também não: nossa natureza é egoísta. Buscamos sempre nosso bem estar em primeiro lugar, e quando alcançamos, invariavelmente o reconhecemos como “bênçãos de Deus”.  Em contrapartida, tenho visto muitos homens e mulheres que tem largado família, carreira, conforto para seguir a Cristo e não têm sido tão “abençoados” assim...

O apóstolo Paulo, escrevendo sobre isto, relatou em sua carta aos filipenses:

“Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo...” (Fp 3.7-8)

Paulo, que era tudo o que alguém poderia almejar naquela época, considerou aquilo como nada para ganhar a Cristo. E vai mais adiante quando não considera nem a própria vida importante:

“...mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.28).

Quais valores temos cultivado em nossas vidas? Quais estamos passando para os nossos filhos? Estão de acordo com a vontade de Deus ou estão centrados em nossa pessoa? Por acaso, estes valores que temos cultivado tem sido fonte de ansiedade? Impede-nos de crescer na graça, no conhecimento e na obra de Cristo? Impede de seguí-lo?

 

2. DEVEMOS REAVALIAR NOSSAS PRIORIDADES

O personagem seguinte foi convocado por Jesus.

“E a outro disse: Segue-me. Ao que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai”.

Jesus o chamou. Foi um teste de obediência. Provavelmente os pais deste homem ainda não haviam morrido, mas havia um costume judaico onde o filho (mais novo?) cuidava dos pais até morrerem.

“Replicou-lhe Jesus: Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus”.

Jesus está dizendo que as prioridades do Reino são mais importantes do que sua família. As prioridades de um cristão não devem estar centradas nas coisas deste mundo! Nem na sua  família. Suas prioridades devem ser outras!

Todos temos prioridades na vida. Normalmente priorizamos atender nossas necessidades mais banais: alimentação, vestimenta, saúde, segurança, etc. O que tem sido prioridade em sua vida?

Em Mt 6:33 Jesus nos ensina qual deve ser DE FATO a prioridade em nossas vidas: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça...”

Buscar o reino...   Não é deste mundo.  É espiritual.  Não é humano. É eterno.

Somos comissionados (chamados a seguí-Lo), mas sempre há uma desculpa... Primeiro a escola,  formatura..., agora primeiro me casar..., agora primeiro criar filhos..., netos, ...

Por outro lado, podemos experimentar de algumas promessas de Deus nas nossas vidas. Por exemplo, em Lucas 18:29 Jesus fala sobre aqueles que  deixam família por causa do reino de Deus, e que receberão ainda no presente muitas famílias e no futuro a vida eterna. Posso testemunhar que em cada lugar que andei, ganhei uma família. E sei que posso voltar a qualquer lugar deste que terei uma família lá me esperando e em quantos lugares ainda for. Isto é promessa de Deus.

O apóstolo Paulo também tinha prioridades bem alinhadas com a de Cristo, por isso ele podia afirmar “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”. (Fp 1.21).

Quais são as prioridades na nossa vida? A quem devemos buscar primeiro?  Nossas prioridades tem nos deixado ansiosos? Por que? Saiba que nossas prioridades norteiam nosso propósito de viver.

 

3. DEVEMOS REAVALIAR NOSSOS ALVOS 

Um terceiro sujeito arriscou:

“...seguir-te-ei, Senhor, mas deixa primeiro despedir-me dos de casa.

Jesus, porém, lhe respondeu: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus”.

 Jesus usa como ilustração uma figura bastante conhecida naquela época: o arado a animal. O animal  ia na frente puxando o arado. Para que os sulcos do arado saiam corretamente alinhados, o agricultor colocava-se atrás do arado com as rédeas do animal nas mãos. Ele colocava uma baliza numa extremidade do campo, alinhava o arado mais a coluna do animal a esta baliza e mirava-a entre as duas orelhas do animal. Com as rédeas na mão, controlava o curso do animal para que este não desviasse do alvo. Se o agricultor se distraísse ou olhasse para trás, o animal saía da direção e estragava o trabalho.

Jesus não diz que ele não pode se despedir de seus parentes, o problema não é este. Ele nos ensina que os alvos de um cristão devem ir além de seus interesses pessoais.

Talvez aqui se concentre as maiores fontes de ansiedade (e demonstração de falta de fé) na nossa vida.

Em Mateus 6:31-32, quando Jesus diz: “estas coisas que os gentios procuram”, está falando que o alvo na vida dos gentios limita-se a estas preocupações.  É uma visão muito curta. Quando levantamo os olhos, ampliamos nosso campo de visão e estabelecemos alvos mais nobres, Deus suprirá nossas necessidades mais elementares. Deus supre.  É Ele quem efetua em nós tanto o querer quanto o realizar.

O maior choque cultural que sofri na minha vida, não aconteceu na primeira vez que visitei uma comunidade ribeirinha. Foi quando, após passar quase um mês numa comunidade, voltei para Belém e fui ao supermercado que ficava dentro do Shopping Castanheira. Nunca havia percebido quanto a vida cosmopolita é cercada de futilidades indispensáveis. E tenho sentido isto muito mais aquiem Campinas. Estasociedade consumidora nos pressiona a ter para aparecer. Quantos de nós não entramos nesta ciranda e acabamos por estabelecer alvos que não são nada?

Quais são seus alvos da nossa vida? É só preocupação com a aparência e o bem estar físico?

Tantas pessoas começam uma boa obra e desistem no meio da jornada... por que? Por que “olham para trás”, perdem o referencial, mudaram o alvo.

O apóstolo Paulo tinha um alvo bem definido na sua vida, o qual ele perseguia: “...prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deusem Cristo Jesus”. (Fp 3:13-14).

Temos estabelecido alvos para a nossa vida? São alvos dignos da missão que Jesus nos delegou de ir por todo o mundo, pregar o evangelho, fazer discípulos, engrandecer o Reino de Deus? Acaso temos dedicado nossa vida, trabalho e esforço naquilo que não é nada, não tem valor eterno? Aonde queremos chegar? O que queremos alcançar? Quais são nossos alvos?

 

TERCEIRO PASSO: TOME UMA DECISÃO

È interessante notar que a Bíblia não revela quais foram as repostas que estes homens deram?

Como será que eles reagiram? Não diz se reagiram negativa ou positivamente ao este chamado direto de Jesus (a Bíblia não revela!!!). Mas por que muitos de nós imaginamos que eles rejeitaram a proposta?

 

A minha interpretação é que: Diante destas “condições radicais”  colocadas por Jesus, as pessoas lêem esta passagem e acabam projetando para ela a resposta que têm em seus corações.

 

Que resposta daremos para este chamado?

 

Não dá para servir dois senhores. Dinheiro e Deus, Prazeres e Deus, Satisfação pessoal e Deus...

 

Não estou defendendo uma vida monástica, mas sim que se definirmos como propósito da nossa vida “seguir a Cristo”, e tivermos nossos valores, prioridades e alvos transformados, focados no Reino de Deus e na Sua Justiça, é promessa de Deus que estas coisas:

-          o sustento (comer, beber, vestir) será acrescentado

-          um prazer (não carnal, temporal – mas santo e permanente) será adicionado

-          e uma satisfação plena inundará você, não egocêntrica, não porque suas necessidades estão supridas, mas por poder servir ao Senhor.

 

 

QUAL CAMINHO A SEGUIR?

 

No clássico Alice no País das Maravilhas, ao deparar-se com uma série de bifurcações, Alice pergunta a um gato de Cheshire:

"Você poderia me dizer, por favor, qual caminho eu devo seguir?" 

"Isso depende muito de onde você deseja chegar."

Se não sabemos onde queremos chegar, então podemos seguir qualquer caminho. Tanto faz...

 

Reinaldo Bui

 

 

 


Autor: Reinaldo Bui


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