Resenha de "A Menina que Roubava Livros"



A Menina que Roubava Livros

 

O livro "A Menina que Roubava Livros" é um romance do escritor australiano Markus Zusak. Publicado em 2005, a obra fez grande sucesso no mundo inteiro. O autor conta que a história do romance remete a experiências vividas por seus pais, ao crescerem na Alemanha nazista. Ele disse que sempre quis escrever sobre um ladrão de livros, e queria que tal livro tivesse algo que fosse diferente das demais obras suas. Aparentemente, suas exigências foram cumpridas, e cumpridas muito bem. Por que tão bem?! Quem lê o livro percebe.

"Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler". Liesel Meminger é uma garota que encontra a Morte três vezes durante 1939-1943, e consegue tapeá-la nas três. Chocada com tal fieto, a Morte decide acompanhar a menina e contar sua história. A protagonista é Liesel, chamada por muitas vezes de "a roubadora de livros" pela Morte, e a narradora que nos acompanha da primeira à última página é a própria ceifadora de almas. Durante o livro, ela conta suas experiências sobre o mundo dos homens, e por certas vezes, é até atribuído a ela concepções humanas. Liesel Meminger é uma garota de nove anos que, no início do livro, está sendo levada à pequena cidade de Molching, pois sua mãe não tinha condições de criar ela e seu irmão mais novo. Assim, eles viajam de trem para lá, e durante a viagem a Morte encontra Liesel pela primeira vez, quando leva a alma de seu irmão, que morrera na viagem. Assim, no enterro dele, Liesel rouba seu primeiro livro - "O Manual do Coveiro" - caído na neve. Aí começa a carreira da roubadora de livros. Com o irmão morto, Liesel acaba ficando sozinha após despedir-se de sua mãe, e conhece seus pais de criação: Hans e Rosa Hubermann, que eram quase tão pobres quanto a mãe da menina. Eles moravam numa pequena casa, o número 33 da Rua Himmel, em Molching. Lá, a vida de Lisel mudaria para sempre.

Hans Hubermann mostra-se um pai carinhoso e reconfortante. No começo da "estadia" de Liesel na casa, ela tinha pesadelos todas as noites com seu falecido irmão. Hans sempre passa a noite junto a ela, contando histórias e tocando acordeão. Quando ele percebe o livro que Liesel tinha consigo, Hans a ensin e escrever, e, com o tempo, a amizade entre os dois se intensifica. Rosa Hubermann era mal-educada e arrogante e tratava Liesel de forma diferente de Hans. Ela e Liesel iam frequentemente levando as roupas para as casas de Molching, pois para ajudar a sustentar a casa, Rosa lavava as roupas de outras famílias. Nesse período, a guerra ainda não tinha estourado, mas a situação na Rua Himmel era ainda muito difícil.

Liesel também faz amizade com Rudy Steiner, seu vizinho, que iam à escola hitleriana juntos e brincavam na Rua Himme. A amizade entre os dois foi se intensificando e eles tornaram-se muito íntimos. A melhor amiga de Liesel, que nunca foi reconhecida, foi Ilsa Hermann, a mulher do prefeito de Molching. Rosa e Liesel iam entregar as roupas lá também e, quando Liesel ia sozinha, sempre ficava com Ilsa na biblioteca para ler. A essa hora, ela já sabia ler e já havia roubado mais um livro.

Rosa Hubermann mostrou que, na verdade, amava Liesel, e muito. E, quando a guerra estourou, Hans abrigou Max Vandenburg, um judeu, em seu purão. Liesel criou um afeto enorme por ele, e sentiu-se muito mal quando ele teve que ir embora. Durante os quatro anos que passou com os Hubermann, Liesel roubou vários livros e aprendeu muitas coisas com todos. A história é cativante e o leitor é ligado intensamente aos fatos.

Talvez o ponto mais chamativo em relação à obra seja a narração. As palavras da Morte nos guiam pelas páginas e nos prendem à leitura. E, por incrível que pareça, acabamos considerando a Morte como uma amiga íntima, pois nos intimamos à narração. Ainda sobre a narração, outro aspecto considerável é a estrutura de pequenos trechos complementativos, por muitas vezes informações essenciais, explicados pela narradora no decorrer dos capítulos. Essa estrutura é envolvente e, mesclada à história em si, torna a leitura agradável e simples - além de, por vezes, divertida ou profunda.

As frases são curtas. Para aqueles que querem parágrafos que ocupem metade de uma página, tal livro não é recomendado. Não há muitas reclamações a fazer sobre a estrutura do livro. A simplicidade pode abalar muito mais que a complexidade, e "A Menina que Roubava Livros" segue bem a esse roteiro. E outro ponto positivo nesse respeito é que nossa cara narradora, às vezes; ou melhor, em grande parte das vezes; dirige-se diretamente ao leitor, com trechos como: "EIS UM PEQUENO FATO: Você vai morrer" e "UM ÚLTIMO FATO: Devo lhe dizer que a menina que roubava livros só morreu ontem". A palavra certa para explicar tudo isso é "identificação" - pois nos identificamos com a história inteira.

Mas é claro, como qualquer livro, esse também possui alguns pontos negativos. No começo e na metade não possui muitos - talvez nenhum -, o principal erro está no final. O autor errou ao antecipar o final (nesse caso, "final" é o desfecho - e o clímax) por várias páginas, até mesmo capítulos. Praticamente perdemos a emoção do espetacular fim. Simplesmente, de repente, a narradora conta quase metade do que aconteceria (graças a Deus, ela não conta tudo) dali a um número de páginas.

Apesar de a parte final do livro (em geral, não especificando o desfecho) ser caracterizada por reviravoltas e fortes emoções , que tocam até o leitor - aspecto do qual não há o que reclamar -, a principal parte é antecipada. Esse foi o maior erro que Markus Zusak cometeu. Porém, provavelmente foi o único.

Embora haja esse "desvio", a obra segue a padrões que escapam da "normalidade". Uma leitura fascinante e, de certa forma, polêmica. Não se sabe ao certo o que ocorrerá, e os personagens são tão cativantes que qualquer leitor fica preso a eles. Sim, sofremos catarse, pois a história é envolvente e retratante, e relacionada a situações incríveis que fazem o leitor identificar-se. As páginas podem voar uma após a outra ou trocar-se lentamente, mas uma coisa é certa: de tão atrativoo livro, quase que podemos classificá-lo como assombroso. Assim como a última afirmação da narradora: "Os seres humanos me assombram".

É a prova de que as palavras podem, sim, mudar uma vida inteira. Basta saber como usá-las, e saber como contá-las, assim como foi feito em "A Menina que Roubava Livros". Afinal, quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.


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