Você os olha, mas não os enxerga.



Diversas são as causas para estarem nessa situação: acidentes, principalmente os de trânsito, doenças genéticas ou adquiridas. O fato é que parece crescer o número de cadeirantes no mundo, e, além de nossas cidades, nós não estamos preparados para enfrentar essa situação.

A notícia causa um baque não só para a pessoa diretamente afetada, mas também para toda a família, que terá de se adaptar a essa nova realidade. Reformas na casa, como a construção de rampas e abertura de novos espaços se fazem necessárias.

Também, nossas calçadas, ruas, comércio em geral, estão longe de estarem preparados para um cadeirante. Rampas, quando existem, são, ou muito íngrimes ou com enormes buracos entre a rua e elas.

No que diz respeito a meios de locomoção, há uma grande diferença entre um ônibus, van ou carro possuir um adesivo indicando poder transportar um cadeirante e efetivamente levá-lo. Rampas estragadas, inexistentes e má vontade de motoristas que têm que cumprir horário impedem e ferem o direito constitucional de ir e vir. Sem contar outro desrespeito: a utilização irregular de vagas em estacionamento destinadas a deficientes físicos. Isso quando se reclama, porque muitas vezes eles são agredidos por quererem fazer valer seus direitos. Aí, a mesma pessoa que estacionou seu carro em lugar indevido é a mesma que se utiliza do caixa prioritário nos supermercados.

Porém, há um aspecto de um cadeirante que parece estar esquecido atualmente: o psicológico. Imagine uma pessoa altamente pró-ativa, que trabalhava, cuidava da casa, dos filhos, não raro ajudava a quem precisava, de uma hora pra outra não mais poder fazê-lo. A mudança é extraordinária, e a auto-estima parece inexistir a partir daí.

Então, no que se prender?

A fé, um dos fenômenos mais fortes e inexplicáveis de que se tem notícia, é uma importante peça desses quebra-cabeças. Afinal, crê-se no que se quer e, nessa situação, crer é uma das únicas saídas para usuários de cadeira de rodas num dos países mais desiguais do mundo, como o Brasil.

Igualmente, a família, elemento primordial e base de tudo, pode auxiliar e ter papel fundamental nessa questão, tentando minimizar as dificuldades impostas ao dia-a-dia de quem teve sua locomoção comprometida. Mas não é fácil. Tal situação altera a rotina de toda a família, seja financeiramente (pois muitas vezes a pessoa não pode mais trabalhar), seja animicamente, pois a necessidade de auxílio que um cadeirante requer pode ser constrangedor e vergonhoso para ele. Para superar isso, uma pequena palavra, mas com um significado enorme: amor. O conjunto desses fatores constitui a chamada resiliência, capacidade do ser humano em superar seus desafios. E haja resiliência!

Assim, da próxima vez que você vir um cadeirante pela rua, não pense estar olhando para um ser extraterrestre e desprovido de sentimentos. Também, não tenha pena nem finja que não os vê. Olhos que fuzilam ou que ignoram podem ser desastrosos. Pense sim, que essa pessoa é um guerreiro ou uma guerreira tentando viver - e muitas vezes só sobreviver - nessa selva, onde cada “subir em calçadas” é uma verdadeira epopéia


Autor: Mauricio Santana Pires


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