Filme Alexandria - Análise crítica



FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO

CURSO DE BACHAREL EM DIREITO 

ALCIDES GOMES NEVES

FABIANA SANTOS DA SILVA LIMA 

CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO 

ANÁLISE DO FILME ALEXANDRIA 

CAXIAS-MA

FEVEREIRO 2012

Após a exibição do filme: Alexandria faça o que se pede: 

1-Relato sobre a história do Filme

2-Análise comparativa de passagens importantes do filme com o que tem sido estudado na disciplina Ciência Política e Teoria Geral do Estado.

3-Crítica Negativa e Positiva dos aspectos abordados. 

1) História do Filme

A história do filme retrata o contexto social vivido pela população da cidade de Alexandria, Egito, por volta do século IV d.C. Um período de grande agitação em virtude dos conflitos entre cristãos, pagãos e judeus. Para desenvolver todo esse contexto, o autor do roteiro utilizou a história da filósofa Hipátia.

Em uma sociedade extremamente conservadora Hipátia destacava-se como professora de Filosofia, Matemática e Astronomia, na Biblioteca de Alexandria. Considerada um templo do saber dedicado à busca do conhecimento, também servia como templo para culto às divindades das religiões politeístas greco-romanas. Hipátia era solteira e, diferentemente das mulheres de seu tempo, não desejava casar-se. Sua vida era dedicada à busca pelo conhecimento. Especialmente em descobrir o funcionamento da órbita da terra, passava seus dias entre as aulas que ministrava e procurar uma resposta para tal indagação. Estava sempre acompanhada de seu escravo pessoal Davus, que secretamente a amava. Entre os vários alunos que frequentavam suas aulas na biblioteca, destacavam-se Orestes, que mesmo demonstrando seu amor por ela, não era correspondido e Sinésio, que era adepto do cristianismo.

Nesse período a diversidade religiosa já se apresentava bastante acentuada na sociedade eram crescentes os conflitos entre os seguidores das religiões politeístas greco-romanas, judeus e cristãos. Estes últimos ganhavam cada vez mais espaço. Por conta desses conflitos e para se efetivarem diante da sociedade, os cristãos acabaram por destruir a biblioteca de Alexandria, tendo como motivação uma investida anterior realizada pelos alunos e alguns mestres da biblioteca. Ainda assim, Hipátia seguiu ministrando suas aulas em casa. Orestes tornou-se prefeito de Alexandria, mas, se mantinha fiel ao amor por Hipátia e diante das decisões importantes que tinha a tomar, sempre consultava sua amada; Sinésio ordenou-se bispo da igreja católica e Davus, que fora alforriado por Hipátia enfrentava o conflito de seguir e manter-se fiel à fé cristã e deixar-se dominar pela paixão que sentia por Hipátia.  Em meio ao desenrolar das histórias desses quatro personagens que se entrelaçam, aparece o líder da Igreja Católica Cirilo, que para fazer valer a força crescente do Cristianismo, usa a ligação entre Orestes e Hipátia para enfraquecer o poder romano diante da sociedade. Cirilo busca nas escrituras argumentos para mostrar à população que Orestes deixava-se ser influenciado por Hipátia, que em virtude de ter um comportamento diferente da maioria das mulheres de seu tempo, era acusada de ser ateia e bruxa.

 É justamente em torno das histórias e desses conflitos que o filme expõe a realidade social daquela época. O roteiro deste filme foi muito bem escrito e produzido possibilitando de uma maneira simples reflexões acerca de temas relacionados à filosofia, religião e política.

 2)Análise comparativa de passagens importantes do filme com o que tem sido estudado na disciplina Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 

Podemos perceber ao longo do desenrolar do enredo do filme Alexandria, vários pontos importantes, que se encontram entrelaçados com o conteúdo estudado na disciplina até o momento. Dentre eles é válido destacar: 

1-      A postura de Hipátia

Assemelha-se à figura do homem justo de Platão, um homem virtuoso cuja alma racional deveria ser superior. Hipátia o tempo todo demonstrava isso, ao deixar-se guiar pela razão.  Para Platão, assim com para Hipátia a plenitude humana coincidia com o aperfeiçoamento da razão.  Daí sua opção de viver segundo suas convicções, diferentemente das mulheres de sua época. E o fato dela ser uma filósofa, reforça o pensamento de Platão quando ele não percebia distinção entre homens, mulheres e escravos, desde que este tivessem as mesmas condições para terem acesso ao conhecimento. 

2-      Davus

Davus vivia o conflito fé x paixão x razão.  Alma irascível x alma desejante x alma racional.  No momento em que ele fica revoltado com a maneira com a qual  Hipátia o trata e quando a biblioteca está sendo destruída e eles têm que fugir, Davus deixa sua alma irascível ser superior.  Ao procurar Hipátia e tentar possuí-la, torna sua alma concupiscente mais forte. Em um momento anterior em que Davus explica o movimento da Terra frente aos alunos de Hipátia reforça a importância da educação .aspecto valorizado por Platão, pois este não fazia distinção entre os que deveriam recebê-la. Nem as leis, nem o ordenamento social valiam mais que a Inteligência. Uma frase repetida ao longo do filme que reforça isto é: “Há mais coisas que nos unem do que o que nos separam.” Sendo Hipátia capturada sob acusação de ateísmo e bruxaria, Davus ver-se obrigado a sufocá-la a fim de que ela não sofra com as dores da tortura que será submetida pelos parabolanos.  E fazendo isso Davus deixa sua alma racional aflorar, assumindo a figura do homem justo Platoniano.  Mostrando mais uma vez que diante de qualquer situação a alma racional deve ser mais forte. 

3-      Orestes

Ao demonstrar seu amor a Hipátia ao longo de todo o filme, mesmo não sendo correspondido, de certa maneira demonstra sua fragilidade quando sua alma concupiscente e irascível se deixa ser superior à alma racional.  O tempo inteiro ele buscava em Hipátia sua alma racional que não fora bem desenvolvida, na forma de conselhos.  Estes fatos reforçam o ideal de justiça, ética e política de Platão dado a importância que deve se dar a formação e educação do dirigente político.  Isto reforça ainda a idéia de que a qualidade justada cidade dependia também da virtude dos seus dirigentes.  Platão defendia a hierarquia das almas e também a hierarquia social,onde cada um cumpria sua função para o bem da Polis e esta era dirigida racionalmente por seu governante (o filósofo). 

4-      Sinésio

Demonstra o tempo inteiro a superioridade de sua alma irascível.  O que segundo Platão também não é valido.  Quando este retorna a Alexandria, como bispo, e encontra-se com Orestes e Hipátia começa a demonstrar traços do pensamento Aristotélico, principalmente quando obriga Orestes a se declarar cristão e a confessar que crer no que está escrito na bíblia, fazendo valer a força da igreja, demonstrando assim as virtudes desta instituição, das suas leis,. Isto segundo Aristóteles era uma das qualidades da cidade justa.  Pois as qualidades das leis e do poder dependiam também da qualidade moral dos seus cidadãos. 

5-      Destruição da biblioteca

Este episódio começa a fazer emergir o pensamento Aristotélico.  Principalmente se relacionarmos a noção de justiça distributiva que passa a ser empregada pelos dirigentes junto à população.  Instituindo também uma noção de política cujo objetivo é descobrir a maneira de viver que leva à felicidade humana, sua situação material, a forma de governo e as instituições sociais capazes de assegurar isso. 

6-      Explicação de Anomius para Davus sobre o que o milagre representa para o Cristianismo.

Segundo Anomius, o milagre é partilhar.  Esse partilhar representado no filme assemelha-se à noção de política, no momento de seu surgimento.  Uma vez que a finalidade da vida política era uma justiça na comunidade.  Uma justiça que referia a uma ordem divina e natural, que regula, julga e pune as ações das coisas e dos homens.  Mas, que com o passar do tempo demonstra distanciar-se tanto da noção instituída por Platão quanto da noção de Aristóteles..

7-      Morte de Anomius

Demonstra a conseqüência final do que pode acontecer quando a alma irascível de Platão torna-se superior à racional. 

8-      Cirilo

Seu comportamento demonstra também a supremacia das almas concupiscente e irascível.  Cirilo personifica o homem injusto de Platão e que ao mesmo tempo demonstra o que Aristóteles disse sobre quando um governo é exercido para satisfazer o interesse de uma só pessoa, de um só grupo o ou apenas de uma só classe é porque se perverteu.  A reflexão essencial que este personagem traz à tona é: a qualidade da cidade justa está na virtude das instituições, como prega Aristóteles, ou está na qualidade, virtudes de seus dirigentes, como prega Platão.  Cirilo aparenta pregar uma democracia, mas, acaba agindo de certo modo como um demagogo na medida em que incita o povo contra os governantes. 

9-      Os conflitos entre cristãos, pagãos e judeus.

Retratam mais uma vez o pensamento de Platão e Aristóteles.  Possibilitando ao espectador refletir não só sobre a filosofia, mas também sobre política, justiça, poder, conhecimento e principalmente sobre o equilíbrio.  Com base nos questionamentos que podem ser analisados a partir deste contexto, não há como dizer que o pensamento o pensamento de Platão é superior ao de Aristóteles ou vice-versa, mas que os dois se complementam e são de extrema relevância para análise do contexto atual também. 

10-  Situação da Mulher e dos escravos.

Também retrata aspectos do pensamento aristotélico quando demonstra que é justo tratar desigualmente os desiguais para que recebam os bens partilháveis segundo suas condições e necessidades, ratificado assim a condição em que viviam as mulheres e os escravos. Para Aristóteles a justiça distributiva consistia em dar a cada o que lhe é devido, tendo como função dar desigualmente aos desiguais para torná-los iguais.  A existência individual está associada à existência social.

3-Crítica Negativa e Positiva dos aspectos abordados. 

a)      Positiva

O filme retrata os vários aspectos inerentes à situação da sociedade de Alexandria na época, ressaltando a divisão e formação das classes sociais, o papel da mulher na sociedade, a forma de governo aplicada. A trama principal aborda uma perspectiva sobre as múltiplas religiões da cidade e seus conflitos, sobretudo o conflito entre a religião Cristã e os pagãos que são representados pelos estudiosos, que tinham como sede a Biblioteca de Alexandria.  O filme aborda este conflito em uma época em que o conhecimento acerca de várias situações e coisas era envolvido por muito misticismo, tendo em vista a falta de explicação para tais eventos.  A ascensão do Cristianismo sobre as demais religiões mostra como a fé foi utilizada como justificativa para guerras e como o Estado teve que recorrer a ela para manter o controle social, sacrificando a busca do conhecimento, com destruição do trabalho científico, como forma de garantir o governo frente ao risco de intolerância das massas enfurecidas.

b)     Negativa

O filme acaba por ser tendencioso quando expõe o Cristianismo como o principal algoz na trama, sendo que seria válido um aprofundamento da questão a respeito do uso que o império romano fez da religião, a seu favor.   Além disso,  há alguns aspectos tratados no filme que devem ser citados como negativos do ponto de vista ético são: o papel ocupado pela mulher naquela sociedade, a intolerância religiosa, o uso da fé como justificativa para guerra, o início da criação dos santos cristãos a partir dos mártires, o atraso na evolução científica provocado pela destruição da biblioteca de Alexandria, a intolerância religiosa, bem como a perseguição aos cientistas sob pretexto religiosos.

De todo modo, as duas críticas são pertinentes acerca da análise da obra mencionada e tornam –se relevantes porque talvez, seja justamente esta  sua missão  quando possibilita ao expectador o tipo de abordagem que foi mostrado. Difícil precisar qual dos dois pontos de vista estão corretos, haja vista que tudo vai depender da ótica e do conhecimento que o expectador dispõe para compreender não só a temática abordada,  bem como,  todo o contexto histórico envolvido.

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Autor: Fabiana Santos Da Silva Lima


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