Critérios de cientificidade & ética: os múltiplos caminhos da verdade



A discussão sobre o que é um conhecimento científico e o que não é conhecimento científico já se faz presente a muito tempo dentro do discurso de vários teóricos, tornando-se um problema ético na sociedade contemporânea.

Boa parcela da sociedade, em geral, percebe a ciência como algo correto (verdadeiro), recebe e aceita o resultado destas informações e estudos “verdadeiros”. Estudos estes que são produzidos no interior da comunidade científica, formada por intelectuais e escolas produtoras de conhecimento ao redor do mundo.

Até então coeteris paribus, não fosse a capacidade de questionamento crítico de alguns pesquisadores, que não satisfeitos com determinados métodos e teorias utilizados na construção do conhecimento científico, propuseram-se a estudar e desenvolver “critérios de cientificidade”, que podem ser definidos com princípios de identificação para identificar o que é, e o que não é ciência.

A seguir, buscamos em alguns autores consagrados das ciências Sociais, sintetizar esta condição.

1.) Empirismo e Verificacionismo - Este critério subdivide-se em Empirismo Lógico e Positivismo Lógico. No Empirismo Lógico (Ciência Vs. Ideologia), pode-se incluir teóricos críticos da cientificidade, como Schilick que trata do Empirismo Lógico Ortodoxo: “principio da verificabilidade (comprovação), proposição sobre os procedimentos da ciência”. Já no Positivismo Lógico, observa-se os princípios da verificabilidade (comprovação) e da testabilidade (possibilidade), este último passível de realizar experimentos proposição significativa / científica: “será mais ou menos confirmada pela experiência de acordo com a quantidade de evidencia empírica disponível ao seu fator. Racionalismo Crítico”.

2.) O Falsificacionismo de Popper - Karl Popper acreditava que a cientificidade não depende do cientista, portanto não defendia a sua neutralidade. Para ele, a cientificidade não se baseava apenas na linguagem da observação, e portanto o conhecimento científico não se iniciaria com a observação. Onde então se daria o início? Através de tentativa de se solucionar um problema, responde Popper. É o seu famoso método ensaio-erro. “O método das ciências sociais, consiste em experimentar possíveis soluções para certos problemas com os quais iniciam-se nossas investigações e aqueles que surgem durante a investigação. (...) Portanto o método da ciência consiste em tentativas experimentais para resolver nossos problemas por conjecturas que são controladas por severa crítica” (POPPER, 1978, p.16).  É um desenvolvimento crítico consistente do método de “ensaio-erro”.

3.) Dialética e historicidade do conhecimento (dialética marxista) - Theodor W. Adorno realiza uma crítica a lógica das ciências sociais através de uma crítica da sociologia do conhecimento científico enquanto conhecimento verdadeiro. Adorno concorda com Popper na questão da produção de um conhecimento partindo de um problema. Porém o critica, pois enquanto Popper pretende trabalhar com um problema epistemológico, Adorno defende a utilização de problemas práticos, (utilização da realizada social). Ele não concorda com a afirmação de que na discussão sobre a qualidade da cientificidade, as Ciências Sociais quando comparadas com as outras, são consideradas menos científicas, pelo fato de serem mais jovens e consequentemente possuírem menor capacidade explicativa que as demais ciências.

4.) Cientificidade como paradigma - Considerado o “inventor” deste conceito de paradigma, enquanto aquilo que é compartilhado pelos membros de uma comunidade científica, Thomas Kuhn sugere que um paradigma pode ser definido com um conjunto de problemas a serem solucionados. O que define a ciência é a comunidade científica. Um paradigma governa, em primeiro lugar, não um objeto de estudo, mas um grupo de praticantes. O que é compartilhado, o que explica a abundante comunicação e a unanimidade de julgamento no interior de um grupo de cientistas? E existência de um paradigma.

5.) Ciência e não ciência - Para Pierre Bourdieu estes são dois conhecimentos distintos. Ou seja, o conhecimento estabelece uma negação, uma ruptura com o conhecimento não científico (ruptura epistemológica). Bourdieu acredita que o objeto de análise das ciências sejam as práticas sociais. Para ele a ciência é uma prática social com qualquer outra prática social. Sujeito (quem produz ciência?) – Método (instrumento) – Objeto (realidade)

Mesmo tendo uma idéia sobre os critérios de cientificidade, na tentativa de produção da ciência e distinção da mesma do conceito de não ciência, muitas dúvidas colocadas pelos teóricos (e mesmo pelos não teóricos) ainda pairam no ar: será que um conhecimento científico é válido para todos? Qual á a validade universal da ciência? E o que não é conhecimento científico, será que é não válido sem sentido nem significado?

Referências

POPPER, Karl. Lógica das Ciências Sociais. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro.1978.

SCHLICK, Moritz. O fundamento do conhecimento. In: Moritz Schlick, Rudolf Carnap.

Coletânea de textos. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Os pensadores). Pág.65.

___________________. “O Futuro da Filosofia”. In: Abstracta: Linguagem, Mente & Ação. Vol. 1:1, pág.108-122, 2004. Tradução de Leonardo de Mello Ribeiro.

Adaptado por Miguelangelo Gianezini para WebArtigos.com, 2012.

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Autor: Miguelangelo Gianezini


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