Dificuldades de interpretação textual



ARTIGO: Dificuldades de Interpretação Textual

      Nos dias atuais enfrentamos sérios problemas nas salas de aula no que diz respeito a interpretação textual que é enfrentada pelos alunos de variados níveis, desde o fundamental ao superior. Neste texto refletiremos sobre os mecanismos de formação que envolve a leitura, suas dinâmicas e suas mediações, em especial, a articulação deste processo no Ensino de História.

       É muito freqüente, por parte dos professores, a queixa de que os alunos “não sabem ler”. Como decorrência dessa constatação, é comum ouvirmos jargões como: “o problema deles não é de conteúdo de História, e sim de interpretação”, "eles não conseguem compreender a matéria, porque têm dificuldade com a língua”. Passam-se textos e mais textos para os alunos e lista-se uma série de perguntas para retirar respostas a partir do texto. Mais uma vez, a constatação do problema fundamental que perpassa a atividade pedagógica se configura nas dificuldades dos alunos em leitura (realmente existentes). Entretanto, tal constatação não é acompanhada de uma reflexão mais substantiva sobre as singularidades que envolvem a leitura e o desenvolvimento de capacidades e habilidades a ela articuladas

No entanto, essas dificuldades apresentadas pelos alunos precisam estar contextualizadas, à redução simplória que se faz, em relação à construção de habilidades e competências leitoras por parte dos alunos. Parece implícito na fala de muitos professores de História a atribuição das dificuldades de leitura e a responsabilidade por sua superação às aulas de Língua Portuguesa. etc.). Evidentemente não se pode desconsiderar que, como diz Vitória Rodrigues Silva, “as competências adquiridas nas experiências de leitura conferem aos leitores um repertório de estratégias, dentre as quais será possível escolher aquela que parece mais conveniente para enfrentar as dificuldades apresentadas em uma nova situação”. (SILVA, 2004: 73) .   A utilização de textos por parte
dos profissionais de ensino de História. Espera-se que os alunos leiam, compreendam o significado dos textos apresentados e deles extraiam informações. Implícita nessa ação pedagógica está a concepção de que, ao lerem os textos, os alunos estarão aos poucos adquirindo as habilidades e competências necessárias ao entendimento desses textos e de documentos de História, como se tais habilidades e competências pudessem ser naturalmente construídas pelos alunos, apenas pelo  contato com os textos, sem a mediação do professor ou de um colega.Como conseqüência, a ação pedagógica dos professores de História é fundamental para mediar o processo educativo e a construção dos processos mentais superiores. Pode-se pensar, a partir deste ponto, que a habilidade ou competência leitora de textos e documentos de História, escritos ou não – incluem-se aqui charges, tirinhas de quadrinhos, gráficos, pinturas e outros suportes –, deve ser orientada pelos professores. Assim, o desenvolvimento das habilidades se dá, não de forma espontânea, a partir de um mero contato dos alunos com os textos, e sim em uma complexa teia de interações. Isto implica ter em mente que cada gênero textual e cada disciplina escolar possui suas especificidades. Por isso os professores de História, por exemplo, cabe mediar o processo de leitura dos textos específicos da disciplina que lecionam, incorporando as reflexões sobre a leitura ao seu fazer cotidiano, além de mediar o processo de construção do conhecimento.  O texto historiográfico tornando-se o ponto de encontro de diferentes leitores, porque se o ato de ler é a possibilidade de saber o que se passa na cabeça do outro, lendo também compreendemos o que se passa em nossa própria cabeça: o texto historiográfico tornando-se o ponto de encontro de diferentes escritores, porque o ato de escrever possibilita confrontar, e assim melhor compreender o ofício que pratico e o mundo no qual ele se situa e sobre ele inevitavelmente reage. (MATTOS, 1998: 7) As aulas de História, no Ensino Médio, não têm como objetivo formar historiadores profissionais, como parecem esquecer alguns professores, mas visam a ajudar em uma formação que, no mínimo, contribua para o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para lidar, de forma crítica, com o grande número de informações que circulam pelos mais variados suportes: Internet, programas televisivos, rádio, jornais, revistas, charges, músicas, poesias, pinturas, fotografias etc. Toda a história da leitura supõe, em seu princípio, essa liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas essa liberdade leitora, não é jamais absoluta; é, sim, cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções, e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Freire (1996) sustenta que há diferença entre promover hábitos de leitura e promover o ato de ler, dizendo que a decifração mecânica de sinais é a atividade totalmente diversa da ação voluntária sobre a linguagem implicada no ato de ler. Hábitos estão ancorados na repetição mecânica de gestos, atos, na opção, no exercício da possibilidade humana de articular o agir ao pensar, ao definir, ao escolher. Para Freire (2003) ler e interpretar pode ser um “processo que envolve a compreensão crítica do ato de ler, e não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou linguagem escrita”, mas se antecipa e se alonga na inteligência do indivíduo enquanto leitor de mundo.

             Com relação ao ensino de história, Seffner (2006, p.108) afirma que “não dá para imaginar a área de história sem atividades específicas de leitura e escrita”. Segundo o autor, a escrita é algo tão importante na história que, para alguns, só existe história quando existe escrita. Além disso, a história é “uma determinada leitura do real, feita com a utilização de um conjunto de procedimentos e informações que orientam e validam a produção do conhecimento histórico”. Um dos objetivos do ensino de história deve ser o de “formar um aluno capaz de realizar uma leitura histórica densa do mundo, percebendo a realidade social como construção histórica da humanidade, obra na qual todos têm participação, de forma consciente ou não”(p.109). Mas para que essa leitura do mundo se faça é imprescindível que a leitura da palavra aconteça. Daí ser papel também do professor de história exercitar a leitura e a escrita em suas aulas  A fonte para o estudo da história parece ser apenas o texto do próprio autor, que se coloca como o narrador dos acontecimentos históricos, e a voz dos “grandes historiadores”.

         Isto além de não contribuir para a ampliação das experiências de leitura com materiais e gêneros diversos, contribui para uma visão simplista do conceito de sujeito histórico.

         No que diz respeito à atividade de leitura desses textos, o que se observa é a ênfase em questões cujo principal objetivo parece ser a memorização e a reprodução. Há uma preocupação excessiva com a dimensão meramente informativa do processo de estudo da história, isso pode ser percebido a partir dos tipos de questões propostas nas salas de aulas.  É um desafio que tem sido proposto para o ensino de História ampliar o repertório cultural do aluno e possibilitar uma inserção dos alunos em práticas de letramento de forma significativa e que contribua para a inclusão dos sujeitos por intermédio da construção de uma competência autônoma em leitura e produção de texto.Enfim com o objetivo de salientar a importância da leitura e do desenvolvimento das habilidades articuladas a essa disciplina. Desta forma, ler deixa de ser um problema exclusivo de Língua Portuguesa. Ao contrário, articula-se com todas as disciplinas porque se inscreve no existir humano em nosso contexto social. Onde concluímos nossa reflexão trazendo um olhar diferenciado no que diz respeito às aulas de História articulando outras dimensões no processo de leitura do mundo, trazendo para nossos alunos uma leitura além da aparência, lendo nas entrelinhas e descortinando uma visão embaçada no que diz respeito às interpretações de textos históricos.

 

 


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