Hamas: uma organização terrorista, ou um movimento de libertação?



 Hamas: uma organização terrorista, ou um movimento de libertação?

 

Introdução

 

            Falar sobre Oriente Médio é de uma complexidade, digamos “atroz”, tendo em vista que a maioria das informações que nós ocidentais recebemos daquela parte do mundo só é possível através de veículos midiáticos não muito confiáveis, e de pessoas que são convidadas por esses mesmos meios de comunicação para dar suas impressões sobre aquela região também serem um tanto suspeitos.  Do mesmo modo, discorrer sobre um tema como esse artigo quer propor, partindo da pergunta central acima (Hamas: uma organização terrorista, ou um movimento de libertação?), requer um desafio muito grande, tendo em vista as informações deste artigo   são  sintetizadas, mas com muita substância. A prova de tal proficiência só tem êxito com uma dose de coragem, e de pesquisa, vendo os dois lados (posição tanto de Israel como do Hamas), ou seja, tanto daqueles que vêem com bons olhos o Hamas como aqueles que o enxergam como um grupo terrorista. Com base nessa problemática central, vamos discorrer como a população palestina vê o Hamas, qual é a posição de Israel (e do Brasil), e como o Hamas consegue cada vez mais tanto prestígio quanto o outro grupo palestino chamado Al-Fatah.

 

          Para fechar esta longa introdução, faz-se necessário explicar o que é terrorismo, ou organização terrorista. Nos mais diferentes dicionários, terrorismo é um conjunto de atos de violência cometidos por um agrupamento revolucionário. Esses atos violentos podem ser agressão à integridade física de terceiros, pressão psicológica, coação, e até mesmo dominação de um grupo e/ou governo sob um indivíduo, povo ou nação. O movimento de libertação, como proposto no tema desse artigo, é a forma como um determinado grupo ou organização se congrega para alcançar sua independência territorial, nacional e política, através de ideais nacionalistas ou religiosas. Mais uma vez, seria pretensão de mais escrevermos aqui, quem é o vilão e o mocinho. Não queremos também que o leitor após sua leitura crítica, chegue a uma conclusão definitiva, pois esta conclusão definitiva nunca será a resposta absoluta.

 

Origem do Hamas

            A origem do Hamas inicia-se com um homem chamado Ahmed Ismail Hassan Yassin, que tanto estava ligado com as causas humanitárias do povo palestino, como uma solução política engajada para livrar os palestinos da forte influência israelense de suas terras.  O xeque Ahmed Yassin, como é conhecido, nasceu em Gaza, mas quando foi estudar no Cairo o islã (Egito), se interessou muito pela organização chamada Irmandade Muçulmana, cuja ideologia é anti-ocidental, e contra todos os governos seculares, sejam árabes ou não, e até anti-sionista. Regressando novamente para Gaza, Ahmed Yassin fundou o Hamas em dezembro de 1987, organização de inclinação islamita sunita, como sendo um braço direito da Irmandade Muçulmana.[1] Nessas alturas de sua criação, o Hamas, em árabe -  $arakat al-Muqwamat al-Islmiyyah – que significa Movimento de Resistência Islamica[2], não era o único que lutava contra o estado de Israel para emancipação do povo palestino. Já existia antes dele, uma outra organização chamada Fatah ou Al-Fatah, fundada por Yasser Arafat em 1964, e hoje liderada por Mahmoud Abbas.

 

            Seguindo os passos do seu fundador e líder espiritual, o Hamas não está comprometido apenas com a luta armada. O seu foco é voltado também para suprir as  necessidades materiais básicas da população na Faixa de Gaza, onde esse movimento atua (o Al-Fatah, grupo rival, por sua vez controla a Cisjordânia). E de fato, não é só de luta que vive um povo. A população palestina precisa e muito de tais cuidados, visto que a Faixa de Gaza é uma verdadeira prisão, cercada por muros e bloqueada por mar pela marinha israelense, onde os suprimentos mais básicos são escassos. O Hamas mantém creches, escolas, bibliotecas, hospitais e outros serviços básicos[3], o que garante mesmo com ataques de Israel a Faixa de Gaza, o apoio da população ao Hamas. Para termos uma idéia de como essa ajuda é tão valiosa para essa população, cabe ressaltar que a Faixa de Gaza é pequena em relação a Ilha e capital de Santa Catarina, Florianópolis, e que sua população é duas vezes maior do que essa capital brasileira. Segundo dados, a Faixa de Gaza tem 360 km², e sua população é de 1.500.202, segundo dados de 2007,[4] sem contar que é uma região de menor índice de desenvolvimento humano, mas que conta com uma população em idade produtiva economicamente.  Em comparação, a Ilha catarinense, Florianópolis, tem 433,317 km² [5] e apenas 427 298 habitantes, segundo dados do IBGE de 2011. Segundo o pesquisador palestino Zaki Chehab, autor de “Inside Hamas - The Untold Story of the Militant Islamic Movement”* (Por dentro do Hamas – A história não contada do movimento islâmico de militância, não publicado no Brasil), “mais de três quartos da população palestina vive abaixo do nível de pobreza. Mais de um milhão de pessoas vive numa situação precária na Faixa de Gaza, dependendo de comida racionada, doada por organizações internacionais. Toda a população de Gaza vive sob bloqueio israelense. Centenas morrem por não poderem sair para receber tratamento médico apropriado”.[6] Para os habitantes de Gaza, completa Chehab, a segurança da Faixa de Gaza por parte do Hamas, mesmo sob tremendas privações materiais e ataques israelense, melhoraram muito: “ a segurança melhorou bastante na Faixa de Gaza (sob controle do Hamas). Antes, as pessoas não podiam sair de casa, porque não havia segurança. Atualmente, apesar dos ataques israelenses, os palestinos da Faixa de Gaza se sentem muito mais seguros de que os da Cisjordânia” (sob as mãos do outro grupo palestino e rival do Hamas, a Al- Fatah).[7]

 

            Porém, a posição israelense quanto ao fato da população da Faixa de Gaza passar por angústias devido a carência para suprir suas necessidades básicas, não é exclusivamente culpa da sua política de isolacionismo e enfraquecimento tendo como objetivo o Hamas, às custas do sofrimento palestino. Segundo o embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, em entrevista dada no Jornal O Globo de 5 de fevereiro de 2009, Israel colabora em muito com a entrada de alimentos na Faixa de Gaza, porém o Hamas confisca estes alimentos para si próprios. Defendendo Israel das acusações de que este impede a entrada de alimentos em Gaza, Becher disse:

“Mesmo durante a  operação militar (quando Israel atacou a Faixa de Gaza em dezembro de 2008 e início de 2009), uma quantidade maciça de ajuda humanitária entrou em Gaza.  Mesmo antes do final do conflito, 40.000 toneladas de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza por Israel.  O CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) mandou uma carta a Israel agradecendo por sua ajuda.  Agora, com o final do conflito, Israel está interessado não apenas em continuar a facilitar a entrada de ajuda, como também em ajudar na reconstrução de Gaza, em total coordenação com os órgãos internacionais envolvidos.

 Uma das razões pela qual a ajuda nem sempre chegou à população civil em necessidade apesar dos melhores esforços de Israel, foi porque o Hamas confiscava esta ajuda. Isto aconteceu regularmente durante o ultimo ano (em fevereiro de 2008, o Crescente Vermelho da Jordânia – equivalente à Cruz Vermelha – condenou o Hamas por confiscar um carregamento inteiro de ajuda humanitária da Jordânia), e isto continua ocorrendo.  Desde a operação, tem havido um número cada vez maior de reportagens da mídia (mais recentemente, da Jordânia de novo), concernentes ao confisco de ajuda  humanitária como também sobre violentos ataques, incluindo disparos e execuções pelo Hamas contra seus oponentes. A comunidade Internacional deveria tomar medidas cuidadosas para assegurar-se que a ajuda enviada para Gaza chegue às mãos certas e que esta não seja confiscada pelo Hamas, que está manipulando a aflição da população civil em proveito próprio”.[8]

 

Em fim, o Hamas possui estruturas bem definidas, onde mantêm “braços” ocupados com atividades assistencialistas (contestadas pelo embaixador israelense como nós vimos acima) e outra de caráter combativa. Sobre este último, a organização do Hamas encarregada das ações militaristas são as brigadas Izz ad-Din al-Qassam, em homenagem ao xeique sírio, Muhammad Izz ad-Din al-Qassam, de formação sunita, morto como mártir em 1935 após confronto com o exército israelense.    

 

A ideologia do Hamas

           Melhor do que conhecer um grupo ou partido ouvindo o que os outros dizem, é conhecer na íntegra o que os seus integrantes pensam. Foi por isso que logo após a sua fundação, no ano seguinte, em 1988, o Hamas elaborou o seu estatuto e fê-lo conhecer para o mundo todo.  Traremos brevemente á tona, alguns dos pontos mais importantes desse estatuto. O artigo 1º do capítulo I deixa bem claro que o Hamas é um movimento de tendência teocrática. É dito no primeiro artigo: “É do Islã que derivam suas idéias, conceitos e percepções a respeito do universo, da vida, e do homem, e todas as suas ações levam em conta o julgamento do Islã. É do Islã que busca orientação bem como guia de seus passos”.[9]  Essa tendência teocrática é contrário do seu rival o Al-Fatah, de tendência secular e não religioso.

 

            Inspirado na Irmandade Muçulmana, o Hamas até hoje simpatiza com tal entidade, conforme o artigo 2º, por ver a sua “co-irmã” seguir preceitos islâmicos “em todos os aspectos da vida, em idéias e crença, na política e na economia, na educação e assuntos sociais, em matérias judiciais e em matérias de governo, na pregação e no ensino, na arte e nas comunicações, no que deve ser secreto e no que deve ser transparente, bem como em todas as áreas da vida”.[10]

 

         Um outro ponto que nos chama a atenção no estatuto do Hamas, é o seu ultra-nacionalismo. De acordo com os seus integrantes, o caso da palestina só será sanado quando o Estado de Israel não existir mais. O caso entre palestinos e judeus não será resolvido através de reuniões ou conferências, mas através das armas, quando os palestinos expulsarem o último israelense. É sobre isso que tratam os artigos 12 e 13 do estatuto do Hamas. O artigo 12 diz: “Nacionalismo, segundo o Movimento de Resistência Islâmica, é parte do credo religioso (islâmico). Não existe nada que fale mais eloqüentemente e mais profundamente de nacionalismo do que se segue quando o inimigo usurpa território muçulmano, quando travar a Jihad e confrontar o inimigo se torna um dever pessoal de cada muçulmano, homem e mulher. Uma mulher pode sair para lutar contra o inimigo (mesmo) sem a permissão do marido e um escravo sem a permissão do seu senhor”.[11] Já o artigo 13, em complemento ao que foi falado salienta: “As iniciativas, as assim chamadas soluções pacíficas, e conferências internacionais para resolver o problema palestino se acham em contradição com os princípios do Movimento de Resistência Islâmica, pois ceder uma parte da Palestina é negligenciar parte da fé islâmica. O nacionalismo do Movimento de Resistência Islâmica é parte da fé (islâmica). É à luz desse princípio que seus membros são educados e lutam a jihad (Guerra Santa) a fim de erguer a bandeira de Alá sobre a pátria”. [12]

 

            O Hamas é crítico feroz principalmente ao Al-Fatah, pois este último traiu o seu povo por fazer acordos com Israel, reconhecendo o Estado judeu permitindo que os israelenses ocupem uma terra que ao olhar do Hamas é de direito único e exclusivamente do povo palestino. Para aumentar ainda mais a afronta entre as duas organizações palestinas, Hamas e Al-Fatah – esta última se funde também com a OLP, sob a liderança atual de Mahmoud Abbas -, notícias dadas ultimamente vem tratando da alta corrupção da Al-Fatah. Em uma entrevista, Mustafá Barghouti, líder da Iniciativa Nacional Palestina (uma outra organização que também luta em prol do povo palestino na palestina, em alternativa a Al-Fatah e ao Hamas), criticou bastante a Autoridade Palestina (Al-Fatah) de ser corrupta: “Sim, temos denunciado uma grande corrupção. Corrupção que, indiscutivelmente, é encorajada por Israel, que deu à Autoridade palestina o monopólio de inúmeros serviços e obras. Isto, inevitavelmente, levaria, como levou, a fraudes, extorsões, enriquecimentos ilícitos. Então, muitos cidadãos desiludiram-se e voltaram-se para o Hamás, organização que, sim, é fundamentalista, mas que, a partir de uma posição de integridade, denunciava a desonestidade e o aviltamento moral da Autoridade Palestina”.[13]

 

            De fato, muitos jovens desiludidos com o fracasso de medidas “democráticas” e nada moral de líderes seculares como é a Al-Fatah, logo se entregam às idéias ditas “fundamentalistas” e aquelas ações que realmente parecem surtir efeito nos seus inimigos, que são os atos armados e atentados contra alvos civis e militares israelenses, em vez de reuniões e conferências que parecem patinar nas suas propostas.

 

O Hamas no cenário geopolítico

 

            Já vimos no tópico acima, que o Hamas é visto pela população palestina (diga-se que não de todos), como uma alternativa a inação e corrupção de certos grupos, frente a um objetivo que é recuperar as terras sob as mãos dos israelenses. O apoio que o Hamas recebe não vem apenas das pessoas mais sofridas e necessitadas da Faixa de Gaza. Intelectuais palestinos de renome internacional mostram também a sua simpatia por essa organização. Esses pensadores acreditam que enquanto Israel continuar a ver o Hamas como uma organização terrorista, e não reconhece-la como uma das porta-vozes do povo palestino, a luta não terá fim. Para uma ala pensadora pró-Hamas, é necessário não só que Israel reconheça essa organização, como também os EUA, único aliado de Israel naquela região do Oriente Médio, e que mantêm na sua lista o Hamas como uma organização terrorista, no mesmo patamar que a Al-Qaeda. Abrindo um parente-se rapidamente, poucos países reconhecem de fato o Hamas como um canal de voz dos palestinos para a busca de seus sofrimentos. Entre esses países inclui-se o Brasil, que mesmo sobre pressão de Washington, não reconhece nem o Hamas nem o Hezbollah (grupo de resistência Libanês), como organizações terroristas.[14] Além do Brasil, a Noruega (anfitriã do pacto de Oslo - capital desse país -  em 1993, mediadora de uma solução pacífica entre israelenses e palestinos) também não inclui o Hamas como um grupo terrorista. Prova disso, foi o convite de representantes noruegueses feito à parlamentares do Hamas, para um diálogo em Oslo, o que deixou furiosos o governo de Tel Aviv.[15] A Rússia foi outro país que também recebera em seu território o Hamas, no dia 03/03/2006, com o objetivo de ‘iniciar o diálogo, sem pressões nem condições prévias’, disse na época da visita o chefe da delegação e dirigente do escritório político do Hamas no exílio em Damasco, Khaled Mashaal.[16] Assim como Brasil, Noruega e Rússia, a África do Sul também acredita que o Hamas pode fazer muito mais para chegar num acordo com Israel, que não só o conflito armado.[17] É bom deixar claro porém, que os quatro países descritos apesar de não verem o Hamas como um grupo terrorista, não toleram portanto seus métodos violentos contra cidadãos israelenses, muito menos os métodos radicais militaristas usados por Israel sobre a população palestiniana.

 

           Em contraste com esses países, o Hamas carece de apoio de outras nações, como também dito pelo embaixador israelense no Brasil GioraBecher. Além de citar as razões do porque Israel vê o Hamas como uma organização terrorista (Becher cita o artigo 7 do Estatuto do Hamas para firmar sua tese), ele ainda explicita outras ações perpetradas pelo grupo palestino. Becher ainda diz o que o Hamas poderia fazer para deixar de ser visto como organização terrorista, seguindo o primeiro passo que é reconhecer o Estado israelense. Por que Israel vê o Hamas como terrorista, e como isso pode ser mudado, Becher responde:

 “Além de sua longa história de ataques suicidas, tiros e disparos de foguetes direcionados contra alvos civis, a carta do Hamas conclama ao extermínio violento do Estado de Israel e o assassinato de judeus – simplesmente por serem judeus.  O artigo 7 desta carta diz:  “O Dia do Julgamento não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando-os), quando os judeus se esconderem atrás de pedras e árvores.  As pedras e árvores dirão: ‘Oh muçulmanos, Oh Abdula, há um judeu atrás de mim, venha e mate-o’”.  Não é possível negociar com aqueles que – baseados em justificativas religiosas extremistas – bradam por sua destruição. 

           Realmente Israel não é o único país que define o Hamas como um grupo terrorista.  A União Européia, EUA, Canadá, Austrália e outros Estados, já classificaram o Hamas como uma organização terrorista.   No dia 12 de setembro de 2003 – após uma série de atentados terroristas do Hamas que violaram a hudna (cessar-fogo) -  a União Européia adicionou o “braço político” do Hamas à sua lista de terroristas, tendo já incluído anos antes o seu “braço militar”.

          A comunidade Internacional tem dado ao Hamas a oportunidade de se tornar um parceiro legítimo para negociações, colocando três condições simples: reconhecer Israel, aceitar acordos prévios entre Israel e a Autoridade Palestina e o término das atividades terroristas. Estas condições foram formuladas pelo Quarteto Internacional (EUA, União Européia, Nações Unidas e Rússia), e enquanto aceitos por Israel, foram repetidamente rejeitadas pelo Hamas. Por estas razões, negociar com o Hamas não é apenas rejeitado por Israel, mas pela comunidade Internacional”.[18]

  

 

            A comunidade acadêmica palestina tem esperanças que os países que olham para o Hamas como um grupo violento, também deixem de ter tal conceito negativo sobre este grupo. O pesquisador palestino Zaki Chehab, em uma entrevista ao G1, disse que “não se pode comparar a al-Qaeda com o Hamas”, e completou dizendo que “a ONU tem uma resolução que dá ao povo o direito de lutar contra ocupação estrangeira. O Hamas está lutando pela liberdade. Isso não é terrorismo”. [19] Assim como muitas outras organizações consideradas criminosas (e isto fica a cargo do leitor concordar ou não com esse adjetivo), como por exemplo, a atual FARC (Colômbia), ETA (Espanha), EPP (Exército Popular Paraguaio)  Exército Zapatista de Libertação Nacional (México) entre outros, o Hamas (assim como o seu homólogo o Hezbollah) é visto como fruto de um conflito que existia antes da sua criação, e não como a causa desse conflito.

 

            Por ouro lado, a força do Hamas não é carregada apenas por mero simbolismo. Mesmo não tendo um braço armado muito forte (constituídas das brigadas Izz ad-Din al-Qassam), capaz de se colocar á frente com o exército israelense, o seu apoio financeiro advindo de países daquela região – alguns o apóiam explicitamente como é o caso do Irã, e outros não tão explicitamente assim, como é o Egito – mantém-no de pé. O que faz com que alguns países do Oriente Médio apóiem tal grupo, podemos dizer sem muita vacilação, é o conceito da Umma (irmandade de pertencimento á religião islâmica, ou muçulmana) que existe entre elas. Em outras palavras, esses países que apóiam o Hamas (e também o Hezbollah) não estão pensando só na organização em si, mas nos seus irmãos palestinos (e libaneses) que são guiados por esses grupos. Mosab Hassan Yousef, filho do xeique e um dos fundadores do Hamas, Hassan Yousef, diz no seu livro[20] que o Irã é um dos grandes patrocinadores dos terroristas, mas não o único. Há muitos doadores no Catar, na Arábia Saudita, na Síria e no Egito. Porém, pretender acabar com o Hamas não é tão fácil como se pensa. Os tentáculos que o sustentam são de muito peso. Isto, talvez em longo prazo será bom para os seus líderes -Ismail Haniya é o homem chave hoje pela liderança política do grupo Hamas, enquanto o líder supremo religioso da mesma organização é o Sheikh Hassan Yousef – mas preocupante para os seus adversários. Além do apoio financeiro, o Hamas está também bem visto diante da população palestina tanto de Gaza como da Cisjordânia. Em uma pesquisa de opinião pública realizada pelo Centro Al-Mustiqbal em Gaza, e que saiu no jornal israelense Haaretz (A Terra) no dia 14 de abril de 2005, [21] constatou-se que “52 por cento dos entrevistados disseram que votariam no Hamas nas próximas eleições para o Conselho Legislativo Palestiniano. Apenas 13 por cento dos entrevistados disseram que votariam no Fatah. Todas as pesquisas de opinião pública que têm sido realizados recentemente na Cisjordânia e Gaza indicam essa tendência”.[22] As eleições referidas pelo jornal israelense aconteceriam no dia 17 de julho daquele mesmo ano. E de fato, o grupo Hamas ganhou os votos na Faixa de Gaza, tomando o controle dessa região, ficando o Al-Fatah apenas com a tutela da Cisjordânia. Mais uma vez, para relembrar os leitores, não existe apenas dois grupos majoritários na palestina, que é o Hamas e o Al-Fatah, embora eles ganhem o “monopólio” da atenção da mídia local e internacional. Existe por exemplo o FPLP, FDPLP e a Jihad Islâmica,[23] grupos minoritários na região mais não muito conhecidos.  

 Conclusão

            O assunto Oriente Médio não tem e não terá fim. Mesmo que acontecesse um milagre, e nunca mais tivesse guerra naquela região, muito menos conflitos internos entre facções locais, o Ocidente encontraria outros assuntos para continuar falando sobre a riqueza cultural, política e religiosa que está imbricada naquelas terras. Da mesma maneira, temas e trabalhos como, por exemplo, o Hamas, Palestina, Israel, democracia ou islamismo no Médio Oriente, ou Imperialismos no mundo árabe, continuarão a existir. E por mais que tais trabalhos tenham a pretensão de explanar essas problemáticas de maneira que “esgote” essas questões, vamos ficar com a sensação de que uma lacuna ainda não foi preenchida.

 

            Uma outra coisa ainda mais complicada (e não sabemos se conseguimos alcançar tal objetivo), é ser neutro quando nos deparamos com assuntos tão fora da nossa esfera de vivência, e quando já recebemos as notícias tendendo a defender um ou outro lado. De qualquer maneira, se depois da leitura, o leitor começar a refletir e tirar as suas próprias inferências do que escrevemos nesse artigo, seja criticando (uma crítica construtiva), concordando ou até mesmo conferir e pesquisar o que colocamos nesse papel, já sentiremos  que o nosso trabalho não foi em vão.

 

    

Bibliografias:

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[1] www.cfr.org/israel/hamas/p8968   Acesso em 21/04/2012

.

[2] http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html  Acesso em 21/04/2012.

 

[3]"Palestinian election raises varying opinions within U". The Minnesota Daily. January 31, 2006. Acesso em 21/04/2012.

[4]http://pt.wikipedia.org/wiki/Faixa_de_Gaza  Acesso em 21/04/2012.

 

[5] IBGE (10 out. 2002). Área territorial oficial. Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02).

 

* CHEHAB, Zaki. Inside Hamas - The Untold Story of the Militant Islamic Movement. Universidade de Michigan; Nations Books, 2007. 244 p.

 

[6] http://www.jornallivre.com.br/22469/academicos-palestinos-defendem-hamas.html  Acesso em 21/04/2012.

 

[7] http://www.jornallivre.com.br/22469/academicos-palestinos-defendem-hamas.html  Acesso em 21/04/2012

 

[8]http://brasilia.mfa.gov.il/mfm/web/main/document.asp?SubjectID=5802&MissionID=8&LanguageID=211&StatusID=0&DocumentID=-1 Acesso em 23/04/2012.

 

[9] http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html Acesso em 21/04/2012

.

[10] Ibdem.

 

[11]Ibdem 

 

[12] http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html Acesso em 21/04/2012

 

[13] http://diplo.org.br/imprima2404 Acesso em 21/04/2012.

[14]http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=195&IdCanal=8&IdSubCanal=&IdNoticia=15100&IdTipoNoticia=1 Acesso em 23/04/2012.

 

[15] http://www.estadao.com.br/arquivo/mundo/2006/not20060418p44965.htm Acesso em 23/04/2012.

 

[16] http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/03/02/ult1808u60121.jhtm Acesso em 23/04/2012.

 

[17] http://www.dfa.gov.za/docs/speeches/2007/paha0220.htm  Acesso em 23/04/2012.

 

[18]http://brasilia.mfa.gov.il/mfm/web/main/document.asp?SubjectID=5802&MissionID=8&LanguageID=211&StatusID=0&DocumentID=-1 Acesso em 23/04/2012.

 

[19] http://www.jornallivre.com.br/22469/academicos-palestinos-defendem-hamas.html Acesso em 23/04/2012. Acesso em 21/04/2012

 

[20] YOUSEF, Mosad Hassan. O filho do Hamas. Rio de Janeiro: Sextante, 2010, 288 p.

 

 

[21] http://www.haaretz.com/news/hamas-leader-you-can-t-get-rid-of-us-1.155935  Acesso em 23/04/2012.

 

[22] Ibdem

 

[23] http://xa.yimg.com/kq/groups/6883038/823892135/name/Quest%C3%A3o+Palestina+-+2%C2%AA+atualiza%C3%A7%C3%A3o.pdf Acesso em 23/04/2012.

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Autor: Jefté Brandão Januário


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