Desempenho de borregos Barriga Negra em Roraima



Ovinos da raça Barriga Negra são originários da ilha de Barbados, no Caribe e vem sendo explorados desde o México, América Central, pelos países do mar do Caribe, Venezuela, Guiana e Brasil. O interesse dos criadores em utilizarem animais desta raça pode ser devido a alta prolificidade, tolerância a infestações por parasitas, boa habilidade materna e, a carne possuir menor teor de gordura, quando comparada com outras raças usadas para produção de carne (Patterson, 1976; Thomas, 1991). A Barriga Negra também é conhecida como Barbados Barriga Negra e Black Belly Sheep. A introdução de ovinos dessa em Roraima ocorreu pelas fronteiras com a Venezuela e Guiana. Tais animais eram observados nas fazendas com criação extensiva de bovinos nas áreas de savana de Roraima.

 

No início da década de 80, a Embrapa em Roraima avaliava o desempenho produtivo e reprodutivos de ovinos das raças Morada Nova e Santa Inês provenientes do nordeste brasileiro. Naquele trabalho, incluiu-se animais Barriga Negra, adquiridos em propriedades que possuíam criações desses animais, tendo em vista a rusticidade apontada por técnicos e criadores, além de ser uma raça inédita no Brasil.

 

Avaliações realizadas pela Embrapa Roraima, durante a década de oitenta, sob condições extensivas em pastagem nativa, a Barriga Negra apresentou prolificidade de 143%, enquanto que Morada Nova e Santa Inês esta foi de 122% e 109%, respectivamente. Por outro lado, a mortalidade foi menor na Barriga Negra em função da maior rusticidade da raça diante das condições em que os animais foram mantidos (Braga, 1998).

 

Com base nas avaliações realizadas naquela ocasião, a Embrapa Roraima formou um Núcleo de Conservação da Barriga Negra, o qual faz parte do Programa de Pesquisa em Recursos Genéticos da Embrapa. Atualmente os ovinos pertencentes ao Núcleo de Conservação encontram-se no Campo Experimental Água Boa pertencente a Embrapa Roraima.

 

Para a avaliação do ganho de peso dos borregos (ovinos desmamados) utilizou-se 16 machos e 13 fêmeas, com idade entre 4 a 6 meses, nascidos no Núcleo de Conservação. Os animais eram mantidos em pastagem de quicuio-da-Amazônia (Brachiaria humidicola) em pastejo contínuo. A desmama foi realizada uma semana antes do início do experimento e eram suplementados com ração comercial, com 18% de proteína bruta, 0,6% de P e 1,8% de Ca. A ração era fornecida na quantidade de 2% do peso vivo, sendo 1/3 pela manhã, antes dos animais serem soltos para a pastagem e, 2/3 ao final da tarde, quando os animais eram recolhidos para o aprisco. A avaliação sobre o ganho de peso foi realizada de 05 de abril a 08 de junho de 2011 (64 dias). O desempenho dos borregos é apresentado na Tabela 1. Por ocasião do início da suplementação, durante a pesagem dos animais, realizou-se a aplicação de antihelmíntico à base de albendazole 10% com cobalto.

Tabela 1. Ganho de peso de ovinos Barriga Negra submetidos a suplementação alimentar por 64 dias em 2011.

 

Sexo

Peso médio (kg)

Média do Ganho de peso (g/a/d)

Ganho de peso (g/a/d)

 

inicial

final

 

 

Macho

10,8

18,3

117

93 a 149

Fêmea

10,4

16,8

100

61 a 115

O peso médio dos machos foi superior ao das fêmeas no início e no final do experimento (Tabela 1). Salomon et al. (2006) utilizando ovinos Barriga Negra, em condições semi-intensivas na Guiana, observou que, aos 90 dias, o peso foi de 12,1 kg para os machos e, de 10,8 kg para as fêmeas. Na Venezuela, há relatos de que o peso aos 90 dias foi de 12 kg (Martinez, 1983) e, 12,5 kg (Bodisco et al.,1973). Para Rastogi (2001), o peso aos 56 dias foi de 10,8 e, aos seis meses de 19,2 kg, em Tobago, enquanto que em Barbados (Swartz; Hunte, 1991 apud Rastogi, 2001) encontraram 14,3 kg. No presente estudo observou-se que o peso aos 4 a 6 meses foi de 10,8 para os machos e 10,4 para as fêmeas, portanto, inferior aos encontrados na literatura (Tabela 1). Esta situação pode estar sendo influenciada por diversos fatores, dentre os quais se destaca o potencial genético dos animais, incluindo-se o provável efeito da consanguinidade, o baixo escore corporal das fêmeas por ocasião do parto, pela alimentação, tipo de parto, e as interações entre genótipo e ambiente.

Por outro lado, o ganho de peso observado foi, em média, 117 g/a/d para os machos e 100 g/a/d para as fêmeas (Tabela 1). Salomon et al. (2006) observou, em trabalho realizado na Guiana, que, após a desmama, o ganho era de 98 g/d e 81 g/d, para machos e fêmeas, respectivamente. Segundo aqueles autores o menor desempenho pode ser explicado, pelo longo período seco, ocorrido durante o período experimental. Na Venezuela, há relatos que, entre 103 e 197 dias de idade, os Barriga Negra ganharam entre 70 a 149 g/a/d (Chacon et al., 1970) e de 77 g/a/d/ (Bodisco et al., 1973).

Wildeus et al. (2005) utilizando animais Barbados Barriga Negra obtiveram ganhos de 56 a 73 g/a/d, devido a influencia pelo tipo de pastagem e da suplementação protéica fornecida. Horton and Burgher (1992) obtiveram 138 g/a/d, ao utilizarem suplementação com ração (16% PB) e, Ockerman et al. (1982) observaram 172 g/d, com o uso de dieta com concentrado. Em Roraima, experimento realizado com ovinos Barriga Negra, com oito meses de idade e, mantidos em confinamento, o ganho foi de 167 g/a/d (Muniz et al., 2008).

Analisando-se o ganho de peso, individual, para os animais utilizados no experimento, observou-se que dos dezesseis machos, 80% apresentaram ganho diário superior a 100 g/a/d e, para as fêmeas foi de 70%. Entretanto, observa-se, neste trabalho, a presença de animais que responderam a suplementação ganhando até 149 g/a/d. Os dados obtidos permitem concluir que o ganho de peso foi semelhantes aos encontrados para a raça, em diferentes condições de manejo e de alimentação.

Como parâmetro comparativo, ovinos mestiços Santa Inês cruzados com raças lanadas tipo carne (Suffolk, Texel e Ile de France), terminados em confinamento, ganharam 260 g/a/d (Veríssimo et al., 2002) e, 369 g/a/d quando utilizaram cordeiros Suffolk confinados (Ribeiro et al, 2005). Esses dados servem para demonstrar que as raças especializadas para produção de carne tem melhor desempenho produtivo em relação a Barriga Negra, entretanto, são mais exigentes quanto a alimentação, manejo e sanidade.

Se considerarmos que a maioria dos criadores em Roraima utiliza pastagens com baixo valor nutritivo e, quando fazem o uso suplementação alimentar esta ocorre de forma insuficiente ou inadequada, além de que as condições de manejo e sanidade são limitadas, a utilização de animais da raça Barriga Negra, se selecionados de forma criteriosa, poderão ser uma alternativa para pequenos criadores ou para utilização nos cruzamentos com raças especializadas para produção de carne, principalmente explorando a rusticidade que esta raça vem apresentando nas avaliações realizadas em ambientes com clima tropical.

Referências bibliografias

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Chacon, E.; Chico, C.; Schultz, T.; Clove, C.; Bodisco, V. Engorde comparative y valves hematicos de corderos de tres razes de ovinos tropicales y algunos de sus cruses. Agronômica Trop., p.163-172, 1970.

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Patterson, H. C. The Barbados blackbelly sheep. Bridgetown, Barbados:  Ministry of Agriculture Science & Tecnology, 1976. 19Pp

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Rastogi, R. K. Production performance of Barbados blackbelly sheep in Tobago, West Indies. Smal Rumin. Res., v.42, p. 171-175, 2001.

Solomon, J.; Cumberbatch, N.; Austin, R.; Gonsalves, J.; Seaforth, E. 2006: The production parameters of the Barbados Blackbelly and crossbred sheep in a controlled semi-intensive system. Livestock Research for Rural Development., v.18, mar., 2011. Disponível em: . acesso em: 05 abr. 2011.

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Autor: Ramayana Menezes Braga


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