Um breve estudo sobre a inquisição e seus desdobramentos sociais na idade média.



Prof. Esp. Juvenal Martins Neto[1]

Resumo.

Desde a gênese do Cristianismo houve doutrinas contrárias aos seus ideais. A religião cristã sempre foi ameaçada pelo paganismo, pelas filosofias antigas, pela cultura romana que ora negava, ora assimilava a doutrina católica. Desse modo, a Igreja Católica necessitava de métodos de persuasão contra as argumentações que negavam seus princípios.

Palavra chave. Igreja, inquisição, heresia 

Dessas divergências, ou mesmo contestações à autoridade da Igreja, nem sempre se convertiam em heresias. Segundo Queiroz, “para a configuração de heresia é necessária uma conjunção de elementos e circunstâncias que ameaçassem cabalmente o equilíbrio das relações comandadas pela Igreja”.[2]

Heresia significava escolha. Sua origem advém da palavra grega AIRESIS e na latina ELECTIO. No entanto, ela torna-se vaga diante do complexo fenômeno social e mental que envolve a heresia na Europa durante a Idade Média. Nesse período, optar por uma “escolha” divergente da qual a comunidade era ideologicamente orientada a seguir, tornava-se um desvio que perturbava toda a ordem social. “É herético aquele que se recusa a partilhar dessa comunhão estabelecida institucionalmente, que procura e escolhe uma verdade desruptiva do todo. A dinâmica da fé pode comportar esse desafio, a fé institucionalizada, jamais”.[3]

A heresia então significava uma ruptura do indivíduo com a comunidade cristã, significava desordem. Era preciso evitá-la a qualquer preço: pregação, discussão, excomunhão, ou mesmo através da destruição do inimigo.

Ao longo da Idade Média, entretanto, a definição de heresia foi modificando-se, mas esteve amplamente ligada ao cristianismo. De acordo com a fórmula de Isidoro de Sevilha: é herético aquele que não mais aceita, ou critica os dogmas cristãos e recusa o magistério da Igreja romana que antes reconhecia.

Nos textos medievais a figura do herético sempre foi associada ao louco, insano. Também havia a relação entre heresia e imoralidade. No entanto, todas as categorias de sociedade podiam ser encontradas nas listas dos heréticos, inclusive o clero.

Para combater as heresias o Papa Gregório IX criou em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar os heréticos. Os condenados pela Inquisição eram entregues às autoridades administrativas do estado, que se encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas iam desde a confiscação de bens até a morte em fogueiras.

A ação dos tribunais inquisitoriais estendeu-se por vários reinos cristãos: Itália, França, Alemanha, Portugal e especialmente a Espanha. Nesse último país a Inquisição penetrou profundamente na vida social

Pressionada por monarcas católicos, a Inquisição desempenhou um papel político e social, freando os movimentos contrários às classes dominantes. Assim acabou indo além de sua finalidade declarada, que era somente combater as heresias religiosas.

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Autor: Juvenal Martins Neto


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