Barulhentos ou escutadores



BARULHENTOS OU ESCUTADORES:

O QUE SOMOS?

 

Idanir Ecco[1]

 

A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância. (Dalai Lama).

 

O ruído é uma das características do atual estágio da humanidade. Por conseguinte, somos uma civilização do barulho. E se aceitarmos como verdadeira a afirmação oriunda do senso comum de que “A lata vazia é a que mais faz barulho”, concluímos que somos uma civilização vazia: destituída de sentido, de sonhos, de perspectivas, de projetos; Oca de justiça, de ações humanizadoras; Privada do pensamento crítico reflexivo... Repleta de frivolidades. Mas, por que o vazio? Quem esvaziou a “lata”? Como? Por que e para quê?

Com consciência ou não, ouvidos são “tapados” com fones multiformes e multicores. E não faltam indivíduos ostentando parafernálias de última geração! Indaga-se: essa “moda” é para fugir da bulha que impregna todos os espaços ou é uma estratégia para selecionar o zumbido que impregnará os ouvidos?

Em decorrência do exposto acima, identifica-se uma reduzida capacidade para escutar. Sim, para escutar, não para ouvir. Qual a diferença entre ambos? Com o intuito em diferenciar conceitualmente os referidos verbos, transcrevo ipsis litteris, de Rufatto (2006, p. 37), em “O grupo como lugar da aprendizagem”, publicado na revista Vínculo (SP) a seguinte aclaração: “Ouvir é uma função fisiológica do corpo. Vibrações são captadas pelo tímpano e conduzidas até um determinado local do cérebro onde são codificadas. [...] Porém, se o estímulo sonoro não sofrer algum tipo de processamento teremos um receptor passivo. Quando o estímulo é codificado, abre-se a possibilidade deste sofrer uma transformação e adquirir um sentido. Desta maneira, podemos diferenciar o ouvir do escutar. Escutar pressupõe uma codificação, decodificação e elaboração do que está sendo ouvido. Passamos, assim, de um ato fisiológico para um processo elaborativo e subjetivo [...]”.

Frequentemente são ofertados cursos de oratória. Aliás, é de suma importância falar e falar bem. É imprescindível desenvolver e aprimorar aptidões para a comunicação. O discurso estruturado e com sólida argumentação, impõe-se sem lançar mão de artifícios sofisticados (entenda-se: dos sofistas). No entanto, onde estão os cursos de escutatória? Quais são as habilidades e competências necessárias para escutar?

A ausência do ruído é a contraface do barulho. Aprendemos desde a tenra idade que “O silêncio vale mais que mil palavras”. Que silêncio é esse que, calculado seu valor, soma cifras elevadas? Obviamente, não é o silêncio da submissão, nem o silêncio do “cala-te boca” e tão pouco o silêncio silenciado.

Silenciar não apenas rima com escutar. Aliás, escutar o silêncio é uma experiência fabulosa, indescritível! Sem sombra de dúvidas, é no silêncio que “brotam” ideias fascinantes e que são gestadas extraordinárias iniciativas. Parar para pensar é, verdadeiramente, a senha para liberar o acesso à criatividade, à ousadia, à capacidade de projetar e de construir estratégias de ação para dar formas ao planejado. E para pensar, é preciso escutar. Para escutar, faz-se necessário silenciar. Para silenciar, urge não barulhar.

O silêncio possibilita o encontro do ser humano para consigo mesmo. É a condição para que, enquanto humanos, possamos nos manter pensantes, críticos, perspectivos e escutadores.

 

 


[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim/RS. [email protected]

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Autor: Idanir Ecco


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