Educação ambiental: trabalhando atitudes e valores no ambiente escolar



EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TRABALHANDO ATITUDES E VALORES NO AMBIENTE ESCOLAR
                                                               Eraldo Pereira Madeiro
D.Sc. em Educação Pela UPAP

RESUMO


A Educação Ambiental, segundo a Carta de Belgrado (1975) está constituída sobre seis princípios: conscientização, conhecimento, comportamento, competência, capacidade de avaliação e participação. No processo educacional a EA já faz parte na grade curricular como temas transversais, mas enquanto disciplina é um longo processo educacional a ser implementado. O objetivo deste, a partir de pesquisa bibliográfica é abordar sobre questões relativas ao meio ambiente, considerando os elementos físicos e biológicos e a interação do homem e natureza. Os encontros nacionais e internacionais como a ECO/92, a Conferência de Tbilisi e a Agenda 21 são alguns marcos que respaldam a Educação Ambiental como importante no contexto escolar. A escola é um local apropriado para a aprendizagem. Logo a educação ambiental em sala de aula é de suma importância, uma vez que o professor pode dinamizar o ensino, a partir de fatos relacionados à realidade do próprio aluno, despertando para o interesse de questões ambientais e motivando-o cada vez mais ao processo ensino-aprendizagem. É preciso conscientizar a população a começar pela classe estudantil, na aquisição de valores e atitudes responsáveis com a preservação dos recursos naturais. A educação ambiental deve orientar-se para a comunidade. Deve procurar incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas.

Palavras-chave: Educação ambiental. Escola. Valores.














ABSTRACT


The Ambient Education, according to Letter of Belgrade (1975) is constituted on six principles: awareness, knowledge, behavior, ability, capacity of evaluation and participation. In the educational process the EA already is part in the curricular grating as transversal subjects, but while it disciplines it is a long educational process to be implemented. The objective of this, from bibliographical research is to approach on relative questions to the environment, considering the physical and biological elements and the interaction of the man and nature. The national and international meeting as the ECO/92, the Conference of Tbilisi and Agenda 21 are some landmarks that endorse the Ambient Education as important in the pertaining to school context. The school is an appropriate place for the learning. Soon the ambient education in classroom is of utmost importance, a time that the professor can dinamizar education, from facts related to the reality of the proper pupil, despertando for the interest of ambient questions and motivating it each time more to the process teach-learning. She is necessary to acquire knowledge the population to start for the estudantil classroom, in the acquisition of values and responsible attitudes with the preservation of the natural resources. The ambient education must be oriented for the community. It must look for to stimulate the individual to participate actively of the resolution of the problems in its context of specific realities.

Keywords: Ambient education. School. Values.
INTRODUÇÃO

A questão ambiental tem sido amplamente valorizada pela sociedade, que se conscientizou de que o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis.
Porém, o conhecimento sistemático relacionado ao meio ambiente e o movimento ambiental é bastante recente. A própria base conceitual — definições como a de meio ambiente e de desenvolvimento sustentáveis, por exemplo — está em plena construção. Desde já temos presente que o assunto tem relevância internacional, nacional e local, uma vez que o homem é o próprio sujeito natural responsável pelo seu meio.
Na busca da conscientização ambiental, encontra-se no ambiente escolar, um local propício para se desenvolver uma reflexão em torno desta questão. Logo, o objetivo deste artigo é mostrar os princípios norteadores da Educação Ambiental no processo educacional, incluindo-a não somente como tema transversal dos currículos escolares, mas permeando toda a prática educacional, que diz respeito a formação dos professores e aulas de ciências mais dinâmicas utilizando até mesmo o ambiente extra-classe.
O caráter investigativo dessa temática que foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica em livros, revistas, e em artigos na internet serviu para dar mais valor a essa abordagem que ainda hoje é permeada de muitos desafios.
Portanto, por trás dessas linhas, a intenção desta temática é tratar das questões relativas ao meio-ambiente em que vivemos, considerando seus elementos físicos e biológicos e os modos de interação do homem e na natureza evidenciando as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida.
O presente trabalho justifica-se na observância do cotidiano escolar de alunos, professores e diretores. Assim os professores necessitam de treinamentos e aperfeiçoamentos específicos voltados à educação ambiental, de modo a beneficiar e facilitar o desenvolvimento do tema em sala de aula, preenchendo uma lacuna na área da educação que é a valorização da vida e do meio ambiente.

 A escola para desenvolver um trabalho adequado em Educação Ambiental deve ajudar os alunos a construir uma consciência global das questões relativas ao meio, a fim de que possam assumir postura adequadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para que isso aconteça, os alunos devem atribuir significado às noções trabalhadas sobre questões ambientais.
Segundo Edgar Morin (2001) a atitude de contextualizar e globalizar são qualidades fundamentais no espírito humano que o ensino parcelado atrofia e que ao contrário disso deve ser sempre desenvolvido. Logo, as noções trabalhadas sobre questões ambientais terão significado para o educando se fores contextualizadas. O aluno faz a ligação do que aprende e a sua realidade cotidiana, estabelece relações entre o que aprende e o que já conhece, e também dá possibilidade de utilizar o conhecimento de outras situações.
Cabe a escola criar meios e mecanismos viáveis para um processo educativo que envolva os métodos científicos e a ética. Com isso pretende-se investigar e identificar como as escolas vêm trabalhando os valores e atitudes para a preservação do meio ambiente.
Daí são abordados no capítulo I sobre aspectos históricos da educação ambiental no mundo e no Brasil, e seus avanços. Em seguida, o capítulo II trata acerca da biodiversidade e meio ambiente, diante das problemáticas ambientais que na atualidade assume alguns princípios e outras faces políticas, econômicas e sociais. E, o capítulo III apresenta uma reflexão e análise sobre a importância na educação ambiental nas escolas. Em suma, são apontamentos gerais da Educação que pode e deve ser utilizada como instrumento de transformação socioeconômica e cultural da atualidade.









CAPÍTULO I: ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Em apenas um ano após o contundente ensino de Thomas Huxley sobre a interdependência dos seres humanos com os demais seres vivos (Evidências sobre o lugar do homem na natureza, 1863), o diplomata George Perkin Marsh publicava o livro O homem e a natureza: ou Geografia Física modificada pela ação do homem, documentado como os recursos do planeta estavam sendo esgotados e prevendo que tais ações não continuariam sem exaurir a generosidade da natureza. Analisava as causas civilizações modernas, caso não houvesse mudanças (DIAS, 2000).
Ainda segundo o autor supracitado, a preocupação com o ambiente, entretanto, restringia-se ainda a um pequeno número de estudiosos e apreciadores da natureza – espiritualistas, naturalistas e outros.
Nesse período, o Brasil recebia a visita de ilustres naturalistas – Darwin, Bates (inglês que recolheu e levou 8 mil espécimes de plantas e animais da Amazônia), Warning ( dinamarquês que conduziu os estudos do ambiente de cerrado, em Lagoa Santa, Minas Gerais) -, despertando a atenção dos estudiosos para a exuberância dos recursos naturais, tão apregoada pelos colonizadores (DIAS, 2000).
Havia, entretanto, na época, uma excessiva preocupação com aspectos meramente descritivos do mundo natural, destacando-se a botânica e a zoomorfologia. As inter-relações eram poucas abordadas e a noção do todo ficava circunstancias a análises filosóficas.
Percebendo essa lacuna, o biólogo Ernst Haeckel, em 1869, propôs o vocábulo “ecologia” para os estudos de tais relações entre as espécies e destas com o meio ambiente.
A passo dessas manifestações, o livro de Marsh suscitara um movimento em prol da preservação, materializando a criação do primeiro Parque Nacional do mundo – Yellowstone National Park, nos Estados Unidos (1872). Enquanto isso, no Brasil, a princesa Isabel autorizava a operação da primeira empresa privada de corte de madeira (o ciclo econômico do pau-brasil encerra-se-ia em 1875, com o abandono das matas exauridas, e, em 1920, o pau-brasil seria considerado extinto).
Patrick Gueddes, escocês, considerado o “pai da Educação Ambiental”, já expressava a sua preocupação com os efeitos da revolução industrial, iniciada em 1779, na Inglaterra, pelo desencadeamento do processo de urbanização e suas consequências para o ambiente natural. O intenso crescimento econômico do pós-guerra acelera a urbanização, e os sintomas da perda de qualidade ambiental começavam a aparecer em diversas partes do mundo.
No Brasil, essa preocupação ainda não havia transporto o círculo restrito de poucos intelectuais que cuidavam do assunto – a exemplo de André Rebouças, que propusera a criação dos parques nacionais da ilha do Bananal e de Sete Quedas -, e nem mesmo a então recém-promulgada Constituição Brasileira de 1891 referia-se ao tema, apesar da forte pressão extrativista dos europeus sobre nosso recurso naturais (DIAS, 2000).
Entretanto, nesse mesmo ano, já se havia iniciado uma das práticas mais demagógicas utilizadas pelos políticos brasileiros, no que tange á gestão ambiental, comuns até hoje: anunciar a criação de unidades de conservação (parques nacionais, estações ecológicas, reservas biológicas, etc.) sem efetivá-las posteriormente, ou seja, sem dar a estrutura para o seu funcionamento, deixando-as apenas “no papel”. Assim, pelo Decreto 8.843 de 1891, criava-se a Reserva florestal do Acre, com 2,8 milhões de hectares, cuja implantação não ocorreu até os nossos dias, passado mais de um século. Era o prenúncio de como seria tratada a questão ambiental em nosso país.
No início de 1945, a expressão “estudos ambientais” começava a ser utilizada por profissionais de ensino na Grã-Bretanha e, quatro anos mais tarde, a temática ambiental passaria a ocupar o Country Sand Almanac, nos Estados Unidos, com os artigos de Aldo Leopoldo sobre a ética da terra. O trabalho desse biólogo de Yowa é considerado a fonte mais importante do moderno biocentrismo ou ética holística, tornando-o patrono do movimento ambientalista (DIAS, 2000).
A primeira grande catástrofe ambiental – sintoma da inadequação do estilo de vida do ser humano – viria a acontecer em 1952, quando o ar densamente poluído de Londres (smog) provocaria a morte de 1.600 pessoas, desencadeando o processo de sensibilização sobre a qualidade ambiental na Inglaterra, e culminando com a aprovação da Lei do Ar Puro pelo parlamento, em 1956. Esse fato desencadeou uma série de discussões nos Estados Unidos a partir de 1960.
Ali ocorreriam reformas no ensino de ciências, em que a temática ambiental começaria a ser abordada, porém de forma reducionista. A promoção da percepção dos efeitos globais, resultantes da ação local das atividades humanas, ainda era incipiente e ficava a algumas advertências praticadas no meio acadêmico.
A década de 60 começava, exibindo ao mundo as consequências do modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos países ricos, traduzido em níveis crescentes de população atmosférica nos grandes centros urbanos – Los Angeles, Nova Iorque, Berlim, Chicago, Tóquio e Londres, principalmente -; em rios envenenados por despejos industriais – Tâmisa, Sena, Danúbio, Mississípi e outros; em perda da cobertura vegetal da terra, ocasionando erosão, perda da fertilidade do solo, assoreamento dos rios, inundações e pressões crescentes sobre a biodiversidade. Os recursos hídricos, sustentáculo e derrocada de muitas civilizações, estavam sendo comprometidos a uma velocidade sem precedentes na história humana. A imprensa mundial registrava essa situação, em manchetes dramáticas (DIAS, 2000).
Descrevendo minuciosamente esse panorama e enfatizando o descuido e irresponsabilidade com que os setores produtivos espoliavam a natureza, sem nenhum tipo de preocupação com as consequências de suas atividades, a jornalista americana Rachel Carson lançava o seu livro Primavera Silenciosa (formato de bolso, 1962, 44 edições), que viria a ser tornar um clássico na história do movimento ambientalista mundial, desencadeando uma grande inquietação internacional e suscitando discussões nos diversos foros (DIAS, 2000).
Tais inquietações chegariam á ONU, seis anos depois, quando a delegação da Suécia chamada à atenção da comunidade internacional para a crescente crise do ambiente humano, constituindo a primeira observação oficial, naquele foro, sobre a necessidade de uma abordagem globalizante para a busca de soluções contra o agravamento dos problemas ambientais.

1.1 O surgimento do termo “Educação Ambiental”
Enquanto os governos não conseguiam definir os caminhos dos entendimentos, a sociedade civil movimentava-se em todo o mundo. Em março de 1965, durante a Conferência em Educação na Universidade de Keele, Grã-Bretanha, surgia o termo Environmental Educatin (Educação Ambiental).
Na ocasião, foi aceito que a Educação Ambiental deverá se tornar uma parte essencial da educação de todos os cidadãos e seria vista como sendo essencialmente conservação ou ecologia aplicada (sic). Nesse mesmo ano, Albert Schweitzer ganharia o Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento ao seu trabalho de popularização da ética ambiental. Em 1969, seria fundada na Inglaterra a “Sociedade para a Educação Ambiental”, e a BBC de Londres levaria ao ar o programa Reitb Lectures, apresentado pó Sir Frank Fraser Darling (ecologista), que promoveria debates sobre a questão ambiental, despertando o interesse de artistas, políticos e imprensa, em geral, para a necessidade premente de discussão e decisão sobre aquelas questões. Seria lançado também, nos Estados Unidos, o numero 1 do jornal da Educação Ambiental.
O Brasil, imerso no regime ditatorial, na “contramão” da tendência internacional de preocupação com o ambiente, mostrava ao mundo o Projeto Carajás e a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, iniciativas de alto potencial de alto potencial de degradação ambiental. Nesse contexto desfavorável, criava-se a “Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural” – Agapan -, precursora de movimentos ambientalista em nosso país, quando ainda não tínhamos nem mesmo uma legislação ambiental, como a maioria das nações.
O Clube de Roma, criado em 1968 por um grupo de trinta especialistas de diversas áreas (economistas, pedagogos, humanistas, industriais, e outros), liderado pelo industrial Arillio Peccei, e que tinha como objetivo promover a discussão da crise atual e futura da humanidade publica em 1972 o seu relatório Os limites do crescimento. Estabilidade modelos globais, baseados nas técnicas pioneiras de analise de sistemas, projetados para predizer como seria o futuro, se não houvesse modificações ou ajustamentos nos modelos de desenvolvimento econômico adotados.
O documento denunciava a busca incessante do crescimento material da sociedade, a qualquer custo, e a meta de se tornar cada vez maior, mais rica e poderosa, sem levar em conta o custo final desse crescimento.
As análises do modelo indicaram que o crescente consumo geral levaria a humanidade a um limite de crescimento, possivelmente a um colapso. Estava iniciada a busca de modelos de análise ambiental global.
Como era de se esperar, a classe política rejeitada as observações. Apesar disso, o relatório atingira o seu objetivo: alertar a humanidade sobre a questão. Hoje, é um clássico reverenciado na literatura da história do movimento ambientalista mundial.
O ano de 1972 testemunharia os eventos mais decisivos para a evolução da abordagem ambiental no mundo. Impulsionada pela repercussão internacional do Relatório do Clube de Roma, a Organização das Nações Unidas promoveria, de 5 a 16 de junho, na Suécia, a “Conferencia da ONU sobre o Ambiente Humano”, ou Conferencia de Estocolmo, como ficaria consagrada, reunindo representantes de 113 países como o objetivo de estabelecer uma visão global e princípios comuns que servissem de inspiração e orientação á humanidade, para a preservação e melhoria do ambiente humano.
Considerado um marco histórico-político internacional, decisivo para o surgimento de políticas de gerenciamento ambiental, a Conferência gerou a “Declaração dobre o Ambiente Humano”, estabeleceu um “Plano de Ação Mundial” e, em particular, recomendou que devesse ser estabelecido um Programa Internacional de Educação Ambiental. A Recomendação nº 96 da Conferência reconhecia o desenvolvimento da Educação Ambiental como o elemento crítico para o combate á crise ambiental.
A Conferência de Estocolmo, além de chamar a atenção do mundo para os problemas ambientais, também gerou controvérsias. Os representantes dos países em desenvolvimento acusaram os países industrializados de quererem limitar seus programas de desenvolvimento, usando as políticas ambientas de controle de poluição como meio de inibir a sua capacidade de competição no mercado internacional. A delegação brasileira chegou a afirmar que o Brasil não se importaria em pagar o preço da degradação ambiental, desde que o resultado fosse o aumento do seu Produto Interno Bruto.
As consequências da Conferência de Estocolmo chegariam ao Brasil acompanhado das pressões do Banco Mundial e de instituições ambientalistas, que já atuavam no país. Em 1973 a Presidência da República criada, no âmbito do Ministério do Interior, a Secretaria Especial do Meio Ambiente – Sema -, primeiro organismo brasileiro de ação nacional, orientado para a gestão integrada do ambiente.
Como reflexo da “simpatia” do regime político vigente pela causa ambiental, a Sema iniciava-se com apenas três funcionários. Tinha tudo para não dar certo e reafirmar a expressão de que fora criada para “inglês ver” (traduza-se, Banco Mundial). Entretanto, a abnegação e persistência dos seus membros a tornaram, em pouco tempo, uma instituição reconhecida internacionalmente, a despeito das suas compreensíveis limitações. O professor Paulo Nogueira Neto seria o titular dessa secretaria, de 1973 a 1986, deixando como legado as bases das leis ambientais e estruturas que continuam, muitas delas, até o presente; estabeleceu o programa das Estações Ecológicas (pesquisa e preservação) e ainda conquistas significativas em normatizações. Em termos de Educação Ambiental, porém, a sua ação foi extremamente limitada pelos interesses políticos da época.
Em respostas as recomendações da Conferência de Estocolmo, a Unesco promoveria em Belgrado, Iugoslávia (1975), o Encontro Internacional sobre Educação Ambiental, congregando especialistas de 65 países.
No encontro foram formulados princípios e orientações para um programa internacional de Educação Ambiental, segundo os quais esta deveria ser contínua, multidisciplinar, integrada ás diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais. Ficaria acertada a realização de uma conferência intergovernamental, dentro de dois anos, com o objetivo de estabelecer as bases conceituais e metodológicas para o desenvolvimento da Educação Ambiental, em nível mundial.
Outrossim, a discussão sobre as terríveis disparidades entre os países do Norte e do Sul, luz da crescente perda de qualidade de vida, gerou, nesse encontro, a Carta de Belgrado, na qual se expressava a necessidade do exercício de uma nova ética global, que proporcionasse a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da dominação e exploração humana.
A carta, um dos documentos mais lúcidos produzidos sobre o tema, na época, preconizava que os recursos do mundo deveriam ser utilizados de um modo que beneficiasse toda a humanidade e proporcionasse a todos a possibilidade de aumento de qualidade de via. Nesse período, já se configurava a matriz de graves desigualdades que iriam deflagrar um panorama de contrastes cureis, décadas adiante.
No âmbito dos setores competentes da Educação no Brasil, não se vislumbrava, até então, a mais remota possibilidade de ações de apoio à Educação Ambiental, quer pelo desinteresse que o tema despertava entre os políticos dominantes, quer pela ausência de uma política educacional definida para o país, como reflexo do próprio momento que atravessava.
Percebendo essa situação e sabendo da urgência ditada pela perda de qualidade ambiental, amplamente discutida na comunidade internacional, os órgãos estaduais brasileiros de meio ambiente tomaram a iniciativa de promover a Educação Ambiental no Brasil. Começariam a surgir as parcerias entre as instituições de meio ambiente e as Secretarias de Educação dos Estados.
Ao mesmo tempo, disseminava-se no país o “ecologismo” – deformação de abordagem que circunscrevia a importância da Educação Ambiental à flora e à fauna, à apologia do “verde pelo verde”, sem que as nossas mazelas socioeconômicas fossem consideradas nas análises – obliquamente incentivadas por instituições internacionais com sedes nos países ricos.
Por sua vez, o MEC e o Minter, como para reafirmar as suas inoperâncias, firmavam “Protocolos de Intenções”, com o objetivo de formalizar trabalhos conjuntos, visando à “inclusão de temas ecológicos” (sic) nos círculos de 1º e 2º graus. Tais “Protocolos de Intenções”, “pérolas” refinadas da idiossincrasia tecnocatra vigente, nunca sairiam realmente das intenções e seriam prósperos em fazer a conexão entre o nada e coisa alguma.
Entrementes, por força da pressão dos órgãos ambientais, a disciplina “Ciências Ambientais” passaria a ser obrigatória nos cursos de engenharia, e diversos cursos voltados à área ambiental seriam criados nas universidades brasileiras; porém, nas inúmeras faculdades de Educação do país, o assunto era simplesmente ignorado, como continua a sê-lo em sua maioria.
Os órgãos ambientais dos Estados passariam a intensificar suas ações educativas. Com destaque para a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), a fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Feema), a Superintendência dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente do Estado do Paraná (Surhema), a Companhia Pernambucana de Controle da Poluição ambiental e Administração de Recursos Hídricos (Cprh) e outros (DIAS, 2000).

1.2 Encontro importante sobre Educação Ambiental

Ocorreria, em 1977, o evento mais importante para a evolução da Educação Ambiental no mundo. Havia uma grande confusão sobre o que seria realmente “Educação Ambiental”. Defendiam-se conceitos e abordagens bem diferenciados em função das diversas visões, condicionadas aos interesses de cada país ou bloco de países. Os ricos não apoiavam abordagens que pudessem expor as mazelas ambientais socioeconômicas, políticas, ecológicas, culturais e éticas – produzidas pelos seus modelos de “desenvolvimento” econômico, praticadas durante décadas e impostos a muitos países pobres (DIAS, 2000).
A situação sinalizava para a necessidade de uma reunião internacional, na qual se resolvesse esse impasse, já previsto no “Encontro de Belgrado”, em 1975.
Assim, realizar-se-ia de 14 a 26 de outubro de 1975, em Tbilisi, na Geórgia (ex-União Soviética), a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela Unesco, em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma. Foi um prolongamento da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo, 1972), cujas implicações haviam de precisar, em matéria de Educação Ambiental. A conferência de Tbilisi – como ficou consagrada – foi o ponto culminante da Primeira Fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975, em Belgrado (DIAS, 2000).
A conferência reuniu especialistas de todo o mundo, para apreciar e discutir propostas elaboradas em vários encontros sub-regionais, promovidos em todos os países acreditados na ONU, e contribuiu para precisar a natureza da Educação Ambiental, definindo seus princípios, objetivos e características, formulando recomendações e estratégias pertinentes aos planos regional, nacional e internacional.
Lançou a conferência, ainda, um chamamento aos estados membros, para que incluíssem, em suas políticas de educação, medidas que visassem à incorporação dos conteúdos, diretrizes e atividades ambientais nos seus sistemas e convidou as autoridades de educação a intensificarem seus trabalhos de reflexão, pesquisa e inovação, com respeito à Educação Ambiental.
Também solicitou a colaboração, mediante o intercâmbio de experiências, pesquisas, documentos e materiais, bem como a colocação dos serviços de formação à disposição dos docentes e dos especialistas de outros países. Exortou a comunidade internacional a ajudar a fortalecer essa colaboração, em uma esfera de atividades que simbolizasse a necessária solidariedade entre todos os povos.
Para Minimi (2000), a Educação Ambiental é um processo que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado.
Para o desenvolvimento da Educação Ambiental, foi recomendado que se considerassem todos os aspectos que compõem a questão ambiental, ou seja, os aspectos políticos, sócias, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais, ecológicos e éticos. Que a Educação Ambiental deveria ser o resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas, que facilitam a visão integrada do ambiente; que os indivíduos e a coletividade pudessem compreender a natureza complexa do ambiente e adquirir os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades práticas para participar eficazmente da prevenção e solução dos problemas ambientais; que se mostrassem, com toda clareza, as interdependências econômicas, políticas e ecológicas do mundo moderno, no qual as decisões e comportamentos dos diversos países poderiam produzir consequências de alcance internacional; que suscitasse uma vinculação mais estreita entre os processos educativos e a realidade, estruturando suas atividades em torno dos problemas concretos que se impõem à comunidade e enfocando-as através de uma perspectiva interdisciplinar e globalizadora; que fosse concebida como um processo contínuo, dirigido a todos os grupos de idade e categorias profissionais.

1.3 Finalidades da Educação Ambiental

Assim, a Educação Ambiental teria como finalidade promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social e ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos socais e na sociedade em seu conjunto, tornando-a apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida.
Dessa forma, a Educação Ambiental acabara de estabelecer um conjunto de elementos que seriam capazes de compor um processo através do qual o ser humano pudesse perceber, de forma nítida, reflexiva e crítica, os mecanismos sociais, políticos e econômicos que estavam estabelecendo uma nova dinâmica global, preparando-os para o exercício pleno, responsável e consciente dos seus direitos de cidadão, por meio dos diversos canais de participação comunitária, em busca da melhoria de sua qualidade de vida e, em última análise, da qualidade da experiência humana.
Estavam lançadas as grandes linhas de orientação para o desenvolvimento da Educação Ambiental no mundo. Caberia a cada país, dentro das suas características e particularidades, especificar as linhas nacionais, regionais e locais, através dos seus sistemas educacionais e ambientais.
De forma surpreendente, porém, como se desconhecesse a existência da Conferência de Tbilisi, o MEC publicaria, no ano seguinte, o documento Ecologia – uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus. Tal proposta representava um retrocesso grotesco, dada a abordagem reducionista apresentada, na qual a Educação Ambiental ficaria acondicionada nos pacotes das ciências biológicas, como queriam os países industrializados, sem que se considerassem os demais aspectos da questão ambiental (sociais, culturais, econômicos, éticos, políticos, etc.), comprometendo o potencial analítico e reflexivo dos seus contextos – desde o local até o global -, bem como o seu potencial catalítico-indutor de ações.
O documento causaria um misto de insatisfação, frustração e escândalo nos meios ambientalistas e educacionais brasileiros, já envolvidos com a EA, uma vez que as premissas de Tbilisi continham os elementos considerados essências e adequados ao desenvolvimento contextualizado das atividades de Educação Ambiental, nos países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, e estavam sendo oficialmente desconsideradas. Se apenas os aspectos biológicos/ecológicos estavam sendo enfatizados, a quem interessaria essa abordagem?
Em 31 de agosto de 1981, a despeito de estarmos em plena ditadura militar, o então presidente da República João Figueiredo sancionava a Lei 6.938, que dispunha sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo de formação e aplicação e consolidação. Constitui-se nu importante instrumento de amadurecimento, implantação e consolidação da política ambiental no Brasil. A parti daí, os esforços para o desenvolvimento da Educação Ambiental no país seriam impulsionados, e os boicotes passariam a ser mais notáveis.
A Coordenadoria de Comunicações Social e Educação Ambiental da Sema, em 1985, publicaria um documento (“Educação Ambiental”, Brasília, junho de 1985) no qual reconhecia que, após quase dez anos de criação daquele órgão, a Educação Ambiental seria a área de atuação da Sema que menos teria se desenvolvido.
Acrescentava, ainda, que as diversas iniciativas de atividades de Educação Ambiental, desenvolvidas no âmbito dos órgãos estaduais e setoriais de meio ambiente, eram dispersas e heterogêneas, o que impedia uma avaliação de sua eficácia. Atribuía isso à ausência de conceituação e de políticas e diretrizes unificadoras dessas iniciativas. Considerando-se que as premissas de Tbilisi foram formuladas em 1977, o que então foi feito nesses oito anos que se seguiram à Conferência? Atribui-se a ineficácia das iniciativas à ausência de conceituação e de políticas (de conceituação, não; de políticas, sim). Na verdade, nem a Sema nem o MEC, por razões diversas, conseguiriam difundir sistematicamente as orientações básicas para o desenvolvimento da EA no Brasil, muito menos promover discussões e aprofundamentos epistemológicos e estabelecer as tais políticas. Foi um caso curioso de autofagia tecnocrata.
Esse mesmo documento reunia as propostas apresentadas pela Sema aos órgãos ambientais dos Estados, durante reunião realizada em Recife (de 27 de julho a 8 de agosto de 1984) e a histórica proposta de Resolução para o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), estabelecendo as diretrizes para a Educação Ambiental no país e definindo-a como “o processo de formação e informação social, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre a problemática ambiental; de habilidades necessárias à solução de problemas ambientais; de atitudes que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental” (p. 8 e 9). Não seria de admirar que tal resolução fosse boicotada. Afinal, as premissas de consciência crítica e participação das comunidades não eram exatamente as mais desejadas para os interesses políticos da época. Assim, tão logo a proposta foi apresentada ao Conama, pediram-se “vistas” do processo, e a apreciação da proposta foi retirada de pauta, nunca mais voltando ao plenário.
Boicotes por um lado, tentativas de estabelecimento do processo de desenvolvimento da Educação Ambiental por outro: num esforço conjunto da Sema, fundação Universidade de Brasília, CNPq, Capes e Pnuma, seria realizado, na Universidade de Brasília, o “1º Curso de Especialização em Educação Ambiental”, com o objetivo de formar recursos humanos para a implantação de programas, no Brasil.
O curso seria oferecido também em 1987 e 1988, quando seria extinto, após fortes boicotes oriundos das mais diversas fontes, principalmente políticas, devidamente mascaradas por supostas dificuldades financeiras. Em parte, os objetivos dos cursos foram atingidos, uma vez que preparam grupos de profissionais que exerciam papéis importantes nos seus Estados de origem e que, hoje, formam a “nata” da Educação Ambiental do país, com notável ação multiplicadora.
Transcorridos dez anos desde a Conferência de Tbilisi, o que o país havia produzido em Educação Ambiental devia-se em sua maior parte, à atuação dos órgãos ambientais e à iniciativa de alguns centros acadêmicos abnegados. O processo não fora estabelecido, e o que dependeu do MEC não foi executado. Perdido em incontáveis e sucessivas substituições dos seus titulares, embargados pela rotina de toneladas de papéis, em seus enfadonhos corredores, o MEC tinha mais ministros que anos de fundação.
Dessa forma, seria novidade que a abordagem “ecológica” se espalhasse pelas escolas. Afinal, os professores não tinham recebido nenhuma informação sobre a natureza da Educação Ambiental, e esta era confundida com ecologia.
Conforme ficara acordado em Tbilisi, realizar-se-ia, em Moscou (de 17 a 21 de agosto de 1987) o Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, promovido pela Unesco, em colaboração com  o Pnuma, com o objetivo de analisar as conquistas e dificuldades encontradas pelos países no desenvolvimento da Educação Ambiental e estabelecer os elementos para uma estratégia internacional de ação para a década de 90.
Fora solicitado que cada país elaborasse um relatório, descrevendo os sucessos e insucessos obtidos no processo de implantação da Educação Ambiental. Esse documento, a cargo da Santa e do MEC, não foi apresentado em Moscou, pois não houve acordo entre as partes.
Com a aproximação do Congresso de Moscou e sem que se vislumbrasse a possibilidade de entendimento entre aquelas instituições, o Conselho Federal de Educação aprovaria o Parecer 226/87, que considerava necessária a inclusão da Educação Ambiental dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus. Seria o primeiro documento oficial do MEC a tratar do assunto sob a abordagem recomendada em Tbilisi. Mesmo reconhecendo a importância desse ato, a comunidade ambientalista não aceitaria as razões pelas quais o MEC demoraria uma década para reconhecer a Conferência de Tbilisi.
De qualquer forma, esse parecer não ajudou a demover o tácito propósito de nada levar a Moscou.
O vexame que o Brasil passara no congresso de Moscou teria fortes repercussões internacionais e chegaria até o Banco Mundial e a outros organismos internacionais da área ambiental de alto potencial de pressão política.
A essa altura, o mundo convulsionava-se em crises sucessivas das mais diversas ordens: Chernobyl, Bophal, Three Miles Island, efeito estufa, diminuição da camada de ozônio, alterações climáticas e frustrações de safras agrícolas, acelerações do processo de desmatamento, queimadas, erosão e desertificação, crescimento populacional de desmatamento, queimadas, erosão e desertificação, crescimento populacional, diminuição do estoque pesqueiro mundial, poluição dos mares, do solo, do ar, surgimento e recrudescimento de pragas, surtos de doenças tropicais, perda de biodiversidade, AIDS e agravamento generalizado do quadro de pobreza internacional, acompanhados de atos terroristas, revoluções e fome.
Em termos ambientais globais, muito do que os especialistas preconizavam para acontecer a partir de 2020 já estava frequentando as manchetes da mídia em todo o mundo, impulsionado pelas exacerbações dos fenômenos meteorológicos. As instituições apressavam-se em assinaturas de acordos, com estratégia para a construção de regimes internacionais setoriais (“Protocolo de Montreal” sobre a proteção da camada de ozônio, dando seguimento á convenção de Viana – 1985¬ -, que viria a ser aperfeiçoada na ementa de Londres, em 1990).
Em 1988, as associações ambientalistas europeias divulgavam, na Itália, um documento que apontava as pressões para o pagamento da dívida externa, contraída pelos países subdesenvolvidos, como ambiente dos devedores.
Na verdade, o sistema financeiro internacional havia devorado as perspectivas de desenvolvimento das nações endividadas e promovera um distanciamento cruel entre as classes sociais. Dessa forma, sendo estabelecidos ambientes socialmente insustentáveis, com uma continua e crescente perda de estabilidade política de qualidade de vida. Até então, essas constatações não estavam levando preocupações consistentes sobre as consequências de ações locais para a biosfera, como um todo, em grande parte das sociedades mais ricas. A ameaça dos sistemas que asseguravam a vida no planeta não extrapolava da eco-bisteria para o cotidiano das pessoas, instaladas em suas confortáveis casas, bem equipadas em com farto sortimento e quantidade de alimentos à disposição, sempre renováveis.
Nesse mesmo ano, por força das articulações dos ambientalistas, a constituição brasileira, então promulgada, trazia um capítulo sobre o ambiente e muitos artigos afins e, em especial, sobre o papel di Poder Público em “promover a Educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (Capítulo VI, Artigo 255, parágrafo 1, item VI). Esse artigo e outros concernentes a aspectos específicos dos vários instrumentos de gestão ambiental eram constantemente modificados, durante o processo de constituinte. Muitas vezes uma vírgula ou troca de palavras comprometida a sua eficácia. Essas manobras eram executadas por dezenas de políticos, que queriam ver afastada da carta constitucional a consideração das questões referentes ao ambiente. Eram os fiéis representantes de grupos nacionais e transnacionais, acostumados a utilizar os recursos naturais sem nenhuma responsabilidade e que viam, nesses dispositivos constitucionais, a diminuição dos seus lucros.
Felizmente, alguns parlamentares, sensibilizados, liderados pelo deputado Federal Fábio Feldmann, conseguiram consolidar, na Constituição, anseio claro da sociedade brasileira.
Em 1989, seguindo as recomendações nascidas e articuladas no Programa Nossa Natureza, cria-se-ia o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama – com a finalidade de formular, coordenar e executar a política nacional do meio ambiente. Competia-lhe a preservação, a conservação, o fomento e o controle dos recursos naturais renováveis, em todo o território federal, proteger bancos genéticos da flora e da fauna brasileiras e estimular a Educação ambiental nas suas diferentes formas, Formou-se pela fusão de quatro órgãos que, direta ou indiretamente, que estavam relacionados com a temática ambiental (Sema, IBDF, Sudepe e Sudhevea). Dessas instituições, apenas a Sema tinha recursos humanos capacitados em gestão ambiental, porém o seu quadro era muito reduzido, em termos proporcionais. O IBDF, reconhecido na época como “escritório dos madeireiros”, sede de incríveis falcatruas, salvava-se pelos profissionais ligados à área de conservação. A Sudepe preocupava-se com os peixes e a Sudhevea, com a borracha.
Um dos grandes erros cometido, após a criação do Ibama, foi não-investimento em capacitação profissional de seus servidores, conforme recomendado pela Constituição Interministerial, criada para propor a sua estrutura. O outro seria em relação à Educação Ambiental e significou a quase inoperância desse órgão, em relação a essa área.
Na época, ficou entendido que a Educação Ambiental, pelas suas próprias características e pelas peculiaridades do Ibama, não poderia ficar restritas a uma “caixinha”, circunscrita num espaço físico definido, limitado. Deveria constituir-se numa espécie de coordenadoria, dotada de alta permeabilidade e plasticidade, capaz de integrar todas as diretorias da instituição, meabilidade e plasticidade, capaz de integrar todas as diretorias da instituição, assegurando a sua presença em todos os campos de atuação.
Por um mesquinho jogo de interesses políticos que forçava, dentre outras coisas, a criação de cargos comissionados, a estrutura do Ibama foi sendo fragmentada de diretoria peara departamentos, destes para divisões e, nestas, as gerencias, desfigurando a sua fluidez e formatando um organograma extremamente denso, propício ao estabelecimento do lento, antiquado, retrogrado e ineficiente reino da burocracia purulenta.
Dessa forma, a Educação Ambiental terminaria sendo colocada numa divisão, consolidando a falta de compromisso e seriedade do governo e seus asseclas nacionais e transnacionais com as questões ambientais. O que esperar de uma divisão, sem autonomia, em relação ao gigantesco trabalho de resgate de institucionalização das ações de Educação Ambiental, em todo o pais?
As iniciativas de ações em Educação Ambiental continuavam a ser esporádicas, sem a menor apoio das instituições encarregadas da sua promoção. Um exemplo seria o curso de Ecologia, promovido pelo programa Universidade Aberta, mantido pela Fundação Demócrito Rocha, em convênio com quinze universidades nordestinas e diversas outras instituições de pesquisa e difusão tecnológica. O curso levava informações de pesquisa e difusão tecnológicas. O curso levava informações, na forma de encartes, em treze jornais brasileiros e através de programas de rádio.
Após um certo período, o programa foi suspenso por absoluta falta de apoio e interesse dos diversos setores do governo brasileiro, inclusive do Ibama e do MEC, o que não seria novidade. A despeito de o curso receber a denominação de “ecologia”, trazia uma abordagem holística, integradora e analisava as nossas mazelas ambientais sob diferentes aspectos, oferecendo às pessoas uma reflexão política, social, econômica, cultural, ecológica e ética das principais questões ambientais que nos afligiam e que continuam, até hoje, muitas delas agravadas de Brasília pelos políticos de outras novas.
Banido da universidade de Brasília pelos políticos entreguistas de plantão, o curso de Especialização em Educação Ambiental, promovido pela Pnuma, CNPq, Capes e Ibama (substituindo a Sema) encontraria abrigo na Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá. O curso seria oferecido quatro vezes, ate esbarra nos mesmos entraves de Brasília e ser extinto. Enquanto pôde, o curso operacionalizou um exercício interdisciplinar de analise das questões ligadas à introdução da dimensão ambiental, no processo de desenvolvimento, sob uma visão crítica, referenciando o desenvolvimento auto- sustentável e elevação da qualidade de vida, sob uma ótica analítica local, regional e global. Formou especialistas que, hoje, detêm atuação importante nos diversos setores de gestão ambiental no Brasil.
Em 1991, passados quatorze anos da Conferência de Tbilisi, as premissas básicas da Educação Ambiental, corroboradas pela Conferencia de Moscou, em 1987, ainda não tinham chegado à sociedade brasileira. O decantado Protocolo de Intenções entre os setores ambientais e educacionais não tinha ido além das celebrações festivais e de um amontoado de processos esquecidos nas gavetas da burocracia, alimentados pelas intermináveis trocas de chefias, secretários e ministros, ou seja, pela descontinuidade administrativa.
Diante de tal deficiência, um grupo de pessoas do MEC e do Ibama elaborou um proposta de divulgação/informação das premissas básicas da Educação Ambiental, dirigida a professores de 1º grau, na forma de um encarte que seria veiculado pela revista Nova escola, contendo ainda um questionário do tipo resposta-postagem paga, o documento seria criticado durante nove meses dentro do Ibama, sem que nenhuma linha fosse escrita nas folhas do processo  como sugestão dos “especialistas” (exceto a sugestão do procurador-geral do Ibama, inclusive incorporada ao documento).

1.4 Educação ambiental: novos rumos e perspectivas

É por meio da educação ambiental em todos os níveis sociais, intelectuais, técnicos e científicos que poderemos atingir a meta do desenvolvimento sustentável, criando condições para uma sobrevivência futura, pois a atuação individual do ser humano se somará à coletiva, após assimilar conscientemente as conseqüências da degradação ambiental.
Em 1968 foi realizada em Roma uma reunião de cientistas dos países desenvolvidos para se discutir o consumo e as reservas de recursos naturais não renováveis e o crescimento da população mundial até meados do século XXI. As conclusões do “Clube de Roma” deixam clara a necessidade urgente de se buscar meios para a conservação dos recursos naturais e controlar o crescimento da população, além de se investir numa mudança radical na mentalidade de consumo e procriação.
O ponto essencial da questão não é somente a sobrevivência da espécie humana, porém, ainda mais, a sua possibilidade de sobreviver sem cair em um estado inútil de existência.
Um dos méritos dos debates e das conclusões do Clube de Roma foi colocar o problema ambiental em nível planetário, e como conseqüência disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em 1972, em Estocolmo, na Suécia, a Primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano.
Uma resolução importante da conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais. Podemos então considerar que aí surge o que se convencionou chamar de educação ambiental.
A educação ambiental é o grande motor de modificação de práticas sociais danosas, pois é possível mostrar ao cidadão comum, que sua forma de agir no dia-a-dia pode ser importante para a preservação do planeta. A degradação do meio ambiente e a utilização irracional e de forma predatória dos recursos naturais, tem nos últimos tempos sido a grande preocupação de toda a humanidade. Mais do que nunca, justifica-se a necessidade de se buscar a conservação e a preservação da biodiversidade. O grande desafio é o de se construir uma sociedade sustentável, o que exige a aquisição de conhecimentos, habilidades e mudança de valores, postura, hábitos e costumes. Como sabemos “a educação ambiental é parte permanente na grade curricular das escolas públicas e que os temas transversais têm ganhado cada vez mais espaço nas salas de aulas, mas na prática muito pouco se cumpre”. (Lei 15.441, de 11 de janeiro de 2005).
É consenso que a educação ambiental deve estar presente em todos os espaços que educam o cidadão e a cidadã. Freire (1979, p. 10), diz com sabedoria:
 
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que o é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se.

Belgrado, na então Iugoslávia em 1975, foi realizada a reunião de especialistas em educação, biologia, geografia e história, entre outros, e se definiu os objetivos da educação ambiental, publicados no que se convencionou chamar “A Carta de Belgrado”.
 A Carta de Belgrado (1975), pautada na Recomendação da Conferência de Estocolmo (1972) sobre o Ambiente Humano elege o desenvolvimento da Educação Ambiental como um dos elementos críticos, ao combate da crise ambiental mundial, além dos mais, esta nova proposta da educação ambiental deve ser baseada nos princípios explícitos na Declaração das Nações Unidas.
Na Carta de Belgrado foram definidos seis objetivos indicativos da educação ambiental, são os seguintes:
1.    Conscientização: consiste em levar os indivíduos e os grupos associados a tomarem consciência do meio ambiente global e de problemas conexos e de se mostrarem sensíveis aos mesmos. Significa que a educação ambiental deve procurar chamar a atenção para os problemas planetários que afetam a todos, pois a camada de ozônio, o desmatamento da Amazônia, as armas nucleares, o desaparecimento de culturas milenares etc. são questões só aparentemente distantes da realidade dos alunos.
2.    Conhecimento: pretende-se com isso levar os indivíduos e os grupos a adquirir uma compreensão essencial do meio ambiente global, dos problemas que estão a ele interligados e o papel e lugar da responsabilidade crítica do ser humano. Assim, a educação ambiental não deve ser transmitir só o conhecimento cientifico, mas todo tipo de conhecimento que permita uma melhor atuação frente aos problemas ambientais.
3.    Comportamento: é levar os indivíduos e os grupos a adquirir o sentido dos valores sociais, um sentimento profundo de interesse pelo meio ambiente e a vontade de contribuir para sua proteção e qualidade. Não adianta só falar do meio ambiente, mas também mudar os comportamentos individuais e sociais.
4.    Competência: consiste em levar os indivíduos e os grupos a adquirir o savoir-faire necessário à solução dos problemas. Nem todos têm capacidade técnica para resolver os problemas ambientais. Reconhecer essa deficiência é um primeiro passo para superá-la. A educação ambiental pode auxiliar a sua superação, buscando elaborar meios técnicos com a ajuda de especialistas e conhecedores autodidatas dos problemas.
5.    Capacidade de Avaliação: é levar os indivíduos e os grupos a avaliar medidas e programas relacionados ao meio ambiente em função de fatores de ordem ecológica, política, econômica, social, estética e educativa.
6.    Participação: pretende levar os indivíduos e grupos a perceber suas responsabilidades e necessidades de ação imediata para a solução dos problemas ambientais.
Esses objetivos servem assim, de fundamento na formulação de tratados futuros. Outro documento que traça diretrizes para a educação ambiental (EA) é a Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental (1977), amplamente conhecida como Conferência de Tbilisi da Geórgia, que estabelece os princípios norteadores da EA e enfatiza o caráter interdisciplinar, crítico, ético e transformador.
Recomenda, portanto, que a EA é o resultado de uma orientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada de meio ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais. Além de ser um suporte na confecção de outros documentos internacionais.
Já a AGENDA 21 GLOBAL (1992), no capítulo 36, trata da “Promoção do Ensino, da Conscientização e do Treinamento”, mas frise-se que os princípios norteadores são pinçados da Conferência de Tbilisi patrocinadora pela UNESCO.








CAPÍTULO II: UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE BIODIVERSIDADE E O MEIO AMBIENTE

    Após encerrar o primeiro capítulo tratando sobre a face social da educação ambiental, é de suma importância ampliar os horizontes e observar a realidade mais sistêmica no aspecto ambiente. Portanto, cabe a seguinte reflexão: Como as comunidades interagem com o meio ambiente para estabelecer seu próprio modo de viver, sua qualidade de vida?
    Nesse sentido é necessário compreender a diversidade cultural e a diversidade ambiental, para podermos tomar iniciativas, impondo os limites da ação humana em termos quantitativos e qualitativos. Isso acontece a partir de um olhar sobre as principais características do ambiente e/ou paisagem da região em que se vive; as relações pessoais e culturais dos alunos e de sua comunidade com os elementos dessa paisagem.
    Lembra-se aqui que o ser humano é parte integrante e indissociável da natureza. Por isso sua ação se processa de forma transformadora em seu meio ambiente. Surgindo assim a necessidade de se conhecer algumas formas de manejar, isto é, lidar de modo cuidadoso e adequado com aos recursos renováveis, visando a conservação de sua qualidade e quantidade; que se detectem formas inadequadas que porventura estejam ocorrendo na região, desenvolvendo o sendo crítico e oferecendo oportunidade para a discussão de medidas que pode ser tomadas pelos alunos, pela escola e pela comunidade para a reversão de quadros indesejados.
Os seres humanos não são intrinsecamente “bons”, mas são capazes tanto de grandes construtivos e de generosidade quanto de egoísmo e de destruição. No entanto, a sociedade humana só é viável quando o comportamento das pessoas se baseia numa ética. Sem ela, não é possível a convivência. E sem convivência, sem vida em comum, não há possibilidade de existência de qualquer sociedade humana, muito menos de uma sociedade saudável. Um grande equívoco seria associar qualidade de vida somente com riqueza material. A qualidade de vida do homem está diretamente vinculada à qualidade da água que se bebe, do ar que se respira e da saúde que se obtém por desse conjunto. Sem isso, nada adiantará toda riqueza. A dura realidade econômica não justifica a destruição e a poluição, quando se sabe que há processos de produção mais adequados. Também não se justifica que, para poucos acumularem mais riquezas, muitos tenham que se submeter à destruição, ao dano à saúde e, muitas vezes, à pobreza.
A educação ambiental deve orientar-se para a comunidade. Deve procurar incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas.
Os cidadãos do mundo, atuando nas suas comunidades, é a proposta dos ambientalistas que almejam um Pensamento Global e ação local, ação global e pensamento local. Mas claro que a educação ambiental por si só não resolverá os complexos problemas ambientais planetários. No entanto pode influir decisivamente para isso, quando forma cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres. Tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade, haverá uma mudança no sistema, que se não é de resultados imediatos, visíveis, também não será sem defeitos concretos.

2.1 As problemáticas ambientais

Um dos inúmeros problemas ambientais tem a ver com a poluição, que é uma palavra muito comum nos dias de hoje. O seu significado é muito claro e visível pelos resíduos deixados na Natureza. A gestão dos resíduos está a tornar-se um problema complexo que requer a participação de todos. Tornar-se necessário aumentar a consciência global de pessoas relativamente às questões relacionadas com o ambiente e tentar dar um novo sentido à responsabilidade individual.
A síntese de algumas idéias como a de Wenk (2010) nos remete à direção oposta da idéia atual de problemas ambientais. Apesar da destruição visível do planeta e problemas ambientais existentes, há quem diz que não é preciso preocupar com o meio ambiente. A questão do aquecimento global, por exemplo tem preocupado o mundo todo devido aos seus sinais, como o aumento do nível do mar, o derretimento das calotas polares, o aumento da temperatura, as mudanças climáticas, enchentes, entre outras.
Quanto ao exercício da diversidade da educação ambiental, segundo Sanchez (2008), a Educação Ambiental, que hoje é tratada como tem paralelo, saindo da esfera transversal, e não é simplesmente um ato de conscientização, é um conjunto de atos das melhorias no ambiente, entre teorias e práticas. A Educação Ambiental pode ser considerada uma vertente da educação tradicional, pois é voltada para questões ecológicas, de caráter ambiental e social.

2.2 Equilíbrio versus desequilíbrio ambiental

Tratar acerca do meio ambiente no campo da pesquisa é muito importante, contribuindo assim para conscientização da sociedade em que vivemos, onde é preciso um alerta mundial para a falta de equilíbrio ambiental.
Mas o que é mesmo meio ambiente? “Cientificamente, meio ambiente é a soma total das condições externas nas quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou objeto existe, daí a grande insensatez de não levarmos em conta que o respeito pela Natureza: é a nossa garantia de sobrevivência (BRASIL e SANTOS, 2004, p. 20).
 Realmente não está nada fácil conviver em um planeta cujas condições ambientais e o desrespeito a natureza sejam práticas constantes. Devemos nos inteirar de como ser essa convivência, através do conhecimento de fatores que provocam agressões à natureza, e como remediá-los caso já tenham ocorrido ou possa vir a ocorrer em caso de acidentes ambientais.
Às vezes fica-se espantado com o agravamento dos impactos ambientais como o desmatamento da floresta amazônica. São práticas destruidoras do nosso planeta, causando poluição atmosférica, das águas, dos rios e oceanos e também do solo, fazendo com que medidas severas sejam tomadas nos últimos anos como vem acontecendo. O intuito é coibir os abusos e criar uma nova consciência ambientalista.
Segundo Brasil e Santos (2004, p. 20) “o consumo cada vez maior de energia e matéria pela humanidade, provoca uma degradação cada vez mais crescente, pois, com o passar dos séculos, a população humana foi crescendo, consumindo cada vez quantidades maiores de alimentos, procurando mais conforto, segurança, lazer, melhores condições de saúde, etc.”
O conforto desta vida moderna faz com de fato as pessoas consumam mais energia e matéria, porém se esquecem de que dispõem apenas da matéria que é encontrada no planeta Terra, a qual não pode ser criada, apenas transformada. Alguns recursos naturais são renováveis, como os vegetais, porém temos também os não-renováveis, como o petróleo e o carvão mineral, que levaram milhões de anos para serem produzidos pela Natureza, sendo que deles não haverá reposição, porque as condições climáticas que os produziram não se repetirão mais.
Até meados do século XX nem se cogitava em falar em economia de recursos naturais, na falsa convicção de que eles seriam inesgotáveis, como foi e ainda continua sendo o caso do desmatamento da Amazônia para a utilização da madeira, o desmatamento da Mata Atlântica visando o uso do solo pela agricultura, moradias e indústrias.
Áreas imensas de terras desmatadas indiscriminadamente em todo nosso país para utilização agrícola sem a preservação necessária de áreas com plantas nativas para garantir o equilíbrio ecológico. Há, também, o caso da poluição dos rios e oceanos, represas, mares, que foram sendo contaminados por despejos de esgotos domésticos e resíduos industriais, matando muitos rios e represas. Isto tornou grande parte da água inservível para o ser humano e para os animais, além da destruição de muitos ecossistemas.
A poluição do ar atmosférico e também do solo, causada pelos produtos químicos usados na agricultura, pelos resíduos industriais, e também pelo lixo recolhido nas cidades, faz com que a degradação do meio ambiente seja visível, e que os efeito sejam sentidos por todos os seres vivos.
Em todo o planeta existe o desequilíbrio ecológico, como pode-se notar pela extinção de espécies animais e vegetais, falta de água potável, contaminação do solo, água e ar, por produtos químicos, aquecimento do globo, provocando o efeito estufa, seca em determinadas regiões, inundações em outras e assim por diante.
Hoje a atenção do mundo está voltada para tais questões, sendo investidos milhões de dólares pelos governos, órgãos internacionais de proteção ambiental e indústrias, para tentar minimizar os danos já causados ao meio ambiente, em muitos casos de forma irreversível, comprometendo em muito a qualidade de vida do ser humano.
Acredita-se que só será possível reverter todos esses problemas, no instante em que toda a Humanidade se conscientizar de que o único caminho é o desenvolvimento sustentável.



2.2.1    Alterações Bióticas

As principais alterações bióticas que podem provocar desequilíbrio em um ecossistema são representadas pela introdução de espécies ou pela eliminação de espécies.
A natureza, quando em equilíbrio, impõe resistência às populações, de forma que há um controle das densidades populacionais. Dentre os fatores de controle pode-se mencionar competição, predação, parasitismo, restrição de alimento e diminuição de território para a reprodução.
Quando é introduzido no meio ambiente uma espécie de outro ecossistema ou bioma, essa resistência da natureza pode acabar não ocorrendo, seja por não haver predadores dessa espécie no novo ambiente ou por haver grande oferta de território para reprodução, de alimento farto ou de outros fatores. Isso faz com que a espécie introduzida aumente sua população e provoque desequilíbrios ecológicos.
Existem vários casos de introdução de espécies no Brasil e no mundo, com conseqüências danosas ao meio.
No Brasil, existem vários exemplos recentes, há do molusco conhecido por gigante-africano ou escargot-africano (Achatina fulica), e o do mexilhão dourado.
Como se sabe as espécies pode extinguir-se por processos naturais ou em decorrência da atividade humana, tanto por meio de modificações artificiais impostas ao ambiente como pela ação predatória descontrolada e irresponsável.
A extinção natural sempre ocorreu e continuará ocorrendo, já que é resultado das constantes modificações dos ecossistemas e da seleção adaptativa. Provas evidentes da existência no passado de formas vivas atualmente inexistentes são os fósseis.
Quanto à ação humana no sentido de contribuir para a extinção de espécies, merece ênfase a caçada indiscriminadamente e criminosa de diversos animais, principalmente daqueles que já encontram grande resistência do meio e apresentam eventualmente baixo potencial biótico. A baleia é um exemplo de animal que vive diante destas duas dificuldades, às quais teve de somar a caça impiedosa imposta pelo ser humano com intenção de lucro.
    De acordo com Lopes (2004, p. 573):

A ação educativa faz-se necessária aliada à ação fiscalizadora e punitiva. Não se pode permitir que o número de representantes de uma espécie atinja seu limiar, abaixo do qual não há mais poder de recuperação, e a espécie se extinga. Naturalmente esse número mínimo de representantes varia de uma espécie para outra, pois depende de diferentes fatores, sempre relacionados com a resistência do meio e o potencial biótico.


As principais medidas legais de ordem geral que visam à proteção dos animais proíbem sua captura, pesca ou caça em época de reprodução, sua exportação e, em alguns casos, a caça em qualquer época.


2.2.2    Alterações abióticas

Toda e qualquer alteração ocorrida no ambiente, que provoque desequilíbrio e prejudique a vida, é considerada poluição ambiental.
A poluição ambiental pode ser causada tanto pela liberação de energia quanto pela liberação de matéria no ambiente.

•    Poluição sonora
A poluição gerada pela liberação de energia, como luz, calor e som, é particularmente grave para o ser humano e geralmente observada nas grandes cidades. Afeta principalmente a saúde mental, pois causa irritação, nervosismo, fadiga e outros sintomas relacionados com o sistema nervoso e com os órgãos dos sentidos.
O barulho ou o alto volume de aparelhos de som ou outros aparelhos produz o que chamamos poluição sonora. A curto e a médio prazo esse tipo de poluição provoca irritação nas pessoas, determinando alterações de comportamento; a longo prazo provoca diminuição da audição e até surdez (LOPES, 2004, p. 574)


     A poluição sonora é um importante fator de desarmonia nas grandes cidades, onde o constante barulho de carros, máquinas, buzinas gera perturbação comportamental e auditiva nas pessoas.
Em certas fábricas o problema da poluição sonora é tão grave que os funcionários precisam usar protetores auditivos para operar determinadas máquinas barulhentas. Se não se protegerem, podem ficar surdos em curto espaço de tempo.
•    Poluição térmica

O aumento da temperatura do ar ou da água, provocando alteração no meio, é denominado poluição térmica. Em certos lagos e mares o aumento da temperatura deve-se principalmente à ação de usinas elétricas e atômicas, pelo uso de sistemas de resfriamento dos reatores durante a geração de eletricidade.
Os efeitos mais graves da poluição térmica são sentidos na água. A elevação da temperatura propicia o desenvolvimento de fungos e bactérias, muitos dos quais causam doenças em peixes e em outros organismos, aumentando a taxa de mortalidade.
Colabora Lopes (2004, p. 574) “Outro importante efeito do aumento da temperatura é a diminuição do teor de O2 dissolvido na água (quanto mais quente, mais o O2 é perdido para o ar). Com isso, os organismos que dependem de O2 para sua respiração não conseguem sobreviver.”

•    Poluição do ar

A poluição do ar pode ser causada pelo aumento do gás carbônico, pela introdução de partículas que ficam em suspensão no ar e pela introdução de gases poluentes tais como monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2) e hidrocarboneto, liberados por diversos agentes poluidores.
“Um dos principais agentes poluidores da atmosfera é o automóvel. Seu motor a explosão libera monóxido de carbono (CO) quando a combustão da gasolina é incompleta, pois a combustão completa produz dióxido de carbono (CO2)” (LOPES, 2004, p. 574).

O monóxido de carbono é um gás extremamente perigoso, inodoro, que se mistura ao ar e acaba sendo inspirado também. Então passa para o sangue e associá-la à hemoglobina, formando um composto relativamente estável: o carboxiemoglobina. A hemoglobina, ocupada pelo monóxido de carbono, não pode transportar oxigênio, causando um tipo de asfixia que pode comprometer a vida. É sempre necessário extremo cuidado com os gases liberados por veículos parados com o motor em funcionamento em garagens, túneis e outros lugares com ventilação limitada.
Os motores a explosão não são os únicos agentes poluidores da atmosfera. Indústrias siderúrgicas e as queimadas de florestas são também importantes fontes de poluentes.

As combustões incompletas de alguns combustíveis podem produzir, além de monóxido de carbono, alguns hidrocarbonetos gasosos e óxidos de nitrogênio. Este dois subprodutos combinados na atmosfera em presença de luz solar, produzindo outras substâncias mais tóxicas: o ozônio (O3) e o nitrato peroxiacetílico (PAN). Essas duas substâncias provocam nos humanos desconforto respiratório e irritação nos olhos seguida de lacrimejamento. (LOPES, 2004, p. 574)


O excesso de O3 determina aumento na taxa respiratória das plantas, que acabam morrendo por consumir desnecessariamente a glicose armazenada. Para piorar a situação, o PAN inibe a fotossíntese, causando a morte da planta, uma vez que ela não pode mais sintetizar seus alimentos. Certas variedades de plantas são muito sensíveis a esses fatores, e seu cultivo não tem sido mais possível em áreas próximas a grandes cidades.
Além da gasolina, a queima de outro derivado do petróleo, o óleo diesel, e a queima do carvão mineral pelas indústrias também liberam produtos tóxicos na atmosfera. É o caso do dióxido de enxofre (SO2) e do dióxido de nitrogênio (NO2), gases que causam distúrbios respiratórios no ser humano, como bronquite e asma. Esses gases reagem com o vapor de água da atmosfera, originando, respectivamente, ácido sulfúrico e ácido nítrico, que caem sobre a terra formando a chamada chuva ácida. Além de destruir monumentos, mármore, grades metálicas e carrocerias de carros, essa chuva provoca acidentes ecológicos mais graves: destrói a vegetação e contamina o solo e a água. O aumento da acidez da água de certos lagos, por exemplo, tem causado grande mortalidade de peixes.





CAPÍTULO III: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO EDUCATIVO: TRABALHANDO VALORES E ATITUDES

A escola é um dos locais privilegiados para a realização da educação ambiental, desde que se dê oportunidade à criatividade. Outro aspecto consensual sobre a educação ambiental é que não há limite de idade para os seus estudantes, tendo um caráter de educação permanente, dinâmica, variando apenas no que diz respeito ao seu conteúdo e à metodologia, procurando adequá-los às faixas etárias a que se destina.
Em meados da década de 80, houve um importante debate nos meios educacionais, onde se discutia se a educação ambiental deveria ser ou não uma disciplina a mais no currículo escolar.
O Conselho Federal de Educação optou pela negativa, assumindo as posições dos principais educadores ambientalistas brasileiros da época, que consideram a educação ambiental como uma perspectiva de educação que deve permear todas as disciplinas.
Atualmente, ouvimos com freqüência, principalmente dos políticos apressados, que o ensino de ecologia deve ser disciplina obrigatória nos currículos.
A Lei nº 9.795, de 27 de Abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Ela afirma:
“A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. (Art. 2º, Lei nº 9.795, de 27 de Abril de 1999).

É muito comum vermos nos ensinos das escolas pelo país, que ecologia e educação embora diferentes, serem vistos e tratados como sinônimos. Embora a ecologia, como ciência, tenha uma importante contribuição a dar à educação ambiental, ela não está mais autorizada que a história, o português, a química, a geografia, a física etc.
A educação ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades.
O autor Morin (2001), diz que “uma convivência harmoniosa com a natureza só se torna possível através da aprendizagem dos conteúdos científicos”. Já Machado (1982) afirma que “só cuidamos, respeitamos e preservamos aquilo que conhecemos, e que a ignorância traz uma visão distorcida da realidade.”
Na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de 1992, alguns professores comentaram que a educação ambiental provocou nos alunos um grande interesse pelos temas abordados e participação nas atividades propostas, elevando consideravelmente o nível de aprendizagem. Outros comentaram o envolvimento ocorrido entre os professores de várias disciplinas e entre eles e os alunos, não na escola, mas também na comunidade.
Já com relação à importância de trabalhar o meio ambiente, preconizam os PCNs (Temas transversais e ética, 2001, p. 33):

Ao longo da história, o homem transformou-se pela modificação do meio ambiente, criou cultura, estabeleceu relações econômicas, modos de comunicação com a natureza e com os outros. Mas é preciso refletir sobre como deve ser essas relações socioeconômicas e ambientais, para se tomar decisões adequadas a cada passo, na direção das metas desejadas por todos: o crescimento cultural, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental.

Na educação ambiental escolar deve-se enfatizar o estudo do meio ambiente onde vive o aluno, procurando levantar os principais problemas da comunicação, as contribuições da ciência, os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles.
Para muitos professores, pais alunos etc., a educação ambiental só pode ser feita quando se saí da sala de aula e se estuda a natureza in loco. Esta é uma atividade pedagógica muito rica de possibilidades, mas corre-se o risco de tê-la como única atividade possível, quando na verdade é apenas mais uma.
Para que um trabalho com o tema Meio Ambiente, por exemplo, possa atingir os objetivos a que se propõe, é necessário que toda a comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e pais) assuma esses objetivos, pois eles se concretizarão em diversas ações que envolverão todos, cada um na sua função.
Por isso surge a necessidade de refletir no contexto escolar sobre os impactos causados pelo homem à natureza. Deve-se fazer isso a partir da nossa realidade local, sendo, portanto a escola um ambiente propício a discussão e análise de vários aspectos relevantes.
É muito importante colocar a Educação Ambiental como parte integrante do currículo escolar, em que os professores se interessem e de fato, ainda mais por que já vem sendo preconizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e os outras leis voltadas a educação.
Segundo Dias (1993), deve acontecer Educação Ambiental nas escolas, porque:

“É indispensável que um trabalho de educação em questões ambientais, dirigido tanto às gerações jovens como aos adultos, para expandir as bases de uma opinião pública bem informada e propiciar dos indivíduos, das escolas e das coletividades, inspirada no sentido de responsabilidade quanto á proteção e melhoria do meio em toda sua dimensão humana”.

    Podem ser trabalhadas várias atitudes e mudanças de comportamento, por meio de projetos pedagógicos ambientais na escola tais como: Reciclagem, Coleta Seletiva, Preservação dos Recursos hídricos etc. Cabe a cada escola articular propostas inovadoras e criativas a partir das problemáticas existentes em torno da comunidade escolar. Pode se trabalhar por meio da interdisciplinaridade e do trabalho comunitário, envolvendo pais de alunos.


3.1 As diferentes faces da Educação Ambiental

Apesar da Educação Ambiental ser inicialmente direcionada à conscientização das problemáticas do planeta, existe correntes de pensamentos que intitulam a Educação Ambiental como uma modalidade mais complexa, com mais responsabilidades sociais do seu parecer, logo nos é impressa a função multifacetada desta vertente educacional.
De acordo com Odum (2006) a Educação Ambiental desencadeia processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competencias voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

3.1.1    A face ambiental

A Educação ambiental é uma modalidade da educação, já praticada em alguns países, e começou a ser proposta aqui no Brasil em 1999, tendo por objetivo expandir o conhecimento sobre o ambiente. Sua principal função é conscientizar uma sociedade para a preservação do meio ambiente, sua utilização sustentável, proteção e diminuição de conflitos entre homem e natureza.
A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente e precisa dele mais do aparenta. Ela tenta ultrapassar a visa antropocêntrica, que fez com o homem se sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte constituinte. Desde muito cedo na historia humana para sobreviver em sociedade, todos os indivíduos precisavam conhecer seu ambiente. O início da civilização coincidiu com o uso do fogo e outros instrumentos para modificar o ambiente, devido aos avanços tecnológicos, esquecemos que nossa dependência da natureza continua.

3.1.2    A face social

No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olha à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades altamente sustentáveis. Mais do que um segmento da Educação, a Educação em sua complexidade e eficiência.
Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Devem assumir uma clara responsabilidade social. Pois não vivem num mundo a parte: são inseridas numa determinada sociedade, com um Estado que dita leis, se situam num determinado ecossistema e são pressionadas por uma consciência cidadã que cada vez mais cobra o direito à uma boa qualidade de vida para a sociedade atual e gerações futuras.

3.2    A formalidade na propagação

A educação ambiental tornou-se lei em 27 de abril de 1999. A Lei n° 9.795- Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da intermulti e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.

Segundo a concepção de Leonardo Boff (1999), a educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relação que os homens estabelece entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.
De acordo com o pensamento de Reigota (1994), a educação ambiental, considerada como um processo de reconhecimento de valores e assimilação de conceitos, enfoca o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biogeofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a responsabilidade das tomadas de decisões e descoberta de soluções, e ainda a ética, que conduzem para a melhoria das ações cotidianas.


3.3 A educação ambiental como instrumento de transformação

Os projetos de educação ambiental são momentos especiais onde este tecido formado pela comunidade e pelo espaço pode ser trabalhado em toda complexidade, fazendo esta intervenção não apenas transformações no espaço físico, mas inevitavelmente transformações nas relações sociais. Assim sendo, uma das respostas centrais deste trabalho é a promoção de uma educação para o ambiente solidário, onde a comunidade se sensibiliza com seu espaço.
        A solidariedade não precisa de grandes eventos para acontecer; seu “terreno” mais fértil é o contato próximo, é a relação íntima de um povo com seu lugar, de pessoas que constroem e são construídas pelo espaço em que habitam.                Assim, segundo a professora Marilena Loureiro da Silva no livro “Múltiplas Falas, saberes e olhares” (2005) da Secretaria de Meio Ambiente do Pará, apresentam-se aqui alguns princípios considerados fundamentais para o desenvolvimento da educação ambiental, entendida como educação para a construção de sociedades sustentáveis:
•    A educação ambiental para ser realizada em consonância com os interesses de conservação da vida em sua plenitude e complexidade impõe a revisão da separação dicotômica entre sociedade e natureza. Somente a partir da compreensão das interdependências existentes entre os sujeitos humanos e os recursos naturais, sob o enfoque da racionalidade comunicativa é possível a emergência de práticas educativas para a sustentabilidade.
•    A educação formal realizada nas escolas das cidades precisa reaprender a relacionar-se com os problemas sócio ambientais locais e globais, para tanto, professores e alunos precisam reaprender a dialogar criticamente com os elementos presentes em sua realidade, para pensá-los com os elementos presentes em sua realidade, para pensá-los como elementos integrantes de seu universo de interesses.
•    Por educação ambiental deve ser entendida a dimensão da educação geral preocupada com a continuidade da vida no planeta, preocupada ainda com a construção de relações mais solidárias entre as pessoas e destas com o seu outro natural, ou seja, com a natureza física exterior aos homens e mulheres e aquela natureza que lhes é interior, que lhes constitui enquanto seres relacionais. Nesse sentido, não há nenhuma novidade na proposição teórica da educação ambiental, na medida em que essa integra a educação geral, concebida como educação para a formação integral dos sujeitos.
•    A educação ambiental deve permitir a aproximação das práticas culturais realizadas em diversos ambientes. Na medida em que essas práticas estão determinando o fazer pedagógico a ser desenvolvido nas escolas, é a aproximação entre as culturas diferentes que cria possibilidades de ampliação da tolerância às diferenças. De certo modo, é isso que falta às iniciativas de educação ambiental: uma compreensão ampliada dos processos naturais e de sua relação com a manutenção da vida. Algo que supere a mera retórica discursiva e amplie-se para o campo da sensibilidade humana em relação aos fenômenos multidimensionais que compõem a vida.
•    A efetiva articulação entre os princípios teóricos e as indicações metodológicas para a educação ambiental não depende unicamente do grau de escolaridade ou formação teórica dos professores integrantes de projetos de educação ambiental, e mais de seu envolvimento pessoal com a conscientização acerca da necessidade de realizar ações nesse campo, ações essas que podem ser inseridas no dinamismo das ações pedagógicas de um modo geral como articuladoras de conteúdos formais trabalhados à luz das práticas sócio-culturais dos alunos e comunidades envolvidos no processo educativo.















CONSIDERAÇÕES FINAIS

Formar uma consciência ambiental ética mostra-se como única alternativa para viabilizar a vida num planeta sujeito a tantas degradações, por isso este trabalho sobre Educação Ambiental foi de suma importância. Vivemos cada dia mais num mundo em que as relações do homem e o meio estão voltadas para os interesses particulares, onde se percebe a nítida destruição do meio ambiente.
É preciso conscientizar a população a começar pela classe estudantil, da real necessidade da preservação dos recursos naturais. Os estudiosos em suas proposições recomendam investir numa mudança de mentalidade, conscientizando os grupos humanos para a necessidade de se adotarem novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas e das constatações feitas.
    Por ocasião da Conferência Internacional Rio/92, cidadãos representando instituições de mais de 170 países assinaram tratados nos quais se reconhece o papel central da educação para a “construção de mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado”, o que requer “responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetário”.
Faltam de fato responsabilidade e mudança de hábitos das pessoas, que precisam devem ter ao seu dispor uma informação precisa, completa e confiável, sobre a preservação do meio ambiente tendo em vista as futuras gerações.
A educação ambiental deve orientar-se para a comunidade. Deve procurar incentivar o indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas.
Os cidadãos do mundo, atuando nas suas comunidades, é a proposta dos ambientalistas que almejam um Pensamento Global e ação local, ação global e pensamento local. Mas claro que a educação ambiental por si só não resolverá os complexos problemas ambientais planetários. No entanto pode influir decisivamente para isso, quando forma cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres. Tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade, haverá uma mudança no sistema, que se não é de resultados imediatos, visíveis, também não será sem defeitos concretos.



REFERÊNCIAS

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REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental – São Paulo: Brasiliense, 2004. – (Coleção Primeiros Passos: 292).

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Autor: Eraldo Pereira Madeiro


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