Velho Centro-Oeste - 14 História



O senhor Moura* e sua família eram vizinhos da minha em Ponta Porã, moravam a uns 300 metros de distância, as duas em partes altas sendo que uma avistava a casa do outro. Na época minha mãe se encontrava grávida do quarto filho, no caso filha. A esposa do senhor Moura era de boa índole e sempre visitava nossa casa quando podia, de longe cuidava minha mãe gestante e quando não a via logo pedia para que um dos filhos, fosse até nós para verificar se não estava doente ou em trabalho de parto. Eram uma boa família, era bom tê-los como vizinhos, mas o resto da vizinhança não achava o mesmo. Eram tidos como bandidos e quando deram minha irmã para que apadrinhassem, os parentes mais próximos diziam que era por medo. Mas não, era mesmo de boa fé. Todos na localidade tinham medo deles por tê-los como bandidagem que até a polícia da época tinham medo deles. Para outros não, os tinham como justiceiros. Mas como justiceiros? Qual a diferença entre os bandidos? A diferença é que faziam justiça com as mãos sem esperar a demora da lei. Como uma vez que homens seqüestraram a filha de um vizinho de uns 15 anos. A polícia não se empenhou em procura-los, quem fez justiça na época foi o sr. Moura, que se colocou no lugar da família e decidiu procurar a menina. Voltou pouco tempo depois com a garota.E os seqüestradores? Nunca mais se teve notícias.

Mas a vida, quanto tomada sem observar as conseqüências, dá seu retorno. Justa, não julgo, mas teve sim conseqüências. Não sei bem porque mas o sr. Moura e seu filho mais velhos nunca se deram e chegaram na realidade a se atracarem e em certo momento da vida, se estranharam dentro da própria casa, como já era de praxe da família e até mesmo da época, andavam armados. Trocaram tiros por uma noite inteira, nem um dos dois saiu ferido da casa. O filho mais velho se foi, não se sabe pra onde, deixando o pai e todos da família inseguros.

Certa vez, o velho sempre cuidava pela janela pra não ser pego pelo primogênito ou por quaisquer outros que o ameaçavam, verdade que já não enxergava bem e se deparou com um estranho a chegar no portão. Sem muito o que pensar atirou de longe. Ao chegar perto pra ter certeza que acertara, reconheceu seu próprio filho, mas não aquele que lhe ameaçava, e sim o mais novo, o caçula que era seu orgulho. Final das contas, ele que já não era bem certo, perdeu todo o juízo e numa tocaia os polícias o acertaram. Bem finalmente fizeram alguma coisa. Mas já era tarde. Bem tarde.

*nome fictício


Autor: Márcia Ferreira Marques


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