Migração aos Grandes Centros: Terra de Ninguém



“Achei que aqui era lugar de ganhar dinheiro, muito dinheiro!”

Essa frase pode ser ouvida em todos os bares de periferia das grandes cidades, principalmente de São Paulo, para onde acorrem inúmeros nordestinos fugitivos das secas e intempéries climáticos que assolam aquele povo, sofrido desde que o Brasil ainda era Ilha de Vera Cruz. Mas não é esse o problema. É a ilusão de vida melhor em grandes centros que é o problema.

A saída e a chegada de migrantes nos grandes centros trás sempre uma interrogação em comum: - vale a pena? Sim e não.

Sim pelo que passam em suas terras originais. Como não ter esperança de dias melhores e sustento fácil da família, ou até de si só em um lugar que na telinha da TV tudo parece fácil, grandioso e lindo? É esta a imagem que carregam em seus íntimos os fugitivos ou aventureiros, a expectativa de fazer parte de um mundo que só se vê na ficção, mas que ninguém se atreveu a dizer a eles. Vende-se uma imagem surrealista de um mundo nada acessível ou que não tange para os menos favorecidos. Claro que isso não é uma regra generalizante. Existem os que se fazem e bem na cidade grande e nem são tão raros, mas fazem parte da minoria com certeza. Então é possível? Sim, é. Desde que esteja a pagar por isso. Pagar com sacrifício, entrega, abnegação e coragem, muita coragem de encarar desafios que parecem sobre humano, como desafiar o sistema e o preconceito.

Por outro lado existe o “não valer a pena”. Sair de um lugar por pior que seja é sacrificante e desafiador. Sair às cegas e sem ponto de referência ou porque simplesmente ouviu falar de um eldorado onde o dinheiro rola fácil e o salário é maior, onde todos trabalham e tem casa onde morar, com tudo perto e que, principalmente, não tem seca e nem fome é um tremendo engano. Viver em cidade grande tem tudo isso e muito mais. Onde no interior você precisa se preocupar com uma bicicleta que está nos fundos de casa ou ter que levantar de madrugada para passar a tranca na porta porque alguém pode entrar? Isso é normal em cidade grande. Pior. É comum porque muitos se aventuraram sair de seus lugares um dia e não encontraram uma mina de ouro como prometido nos comerciais de TV e tiveram que se engajar em outro ramo “mais” fácil e convidativo: quem não tem tira de quem tem. Não justifica, claro, de forma alguma tais ações. Porém explica a raiz do problema, que, aliás, já vem desde os primeiros imigrantes portugueses que aqui chegaram, eram banidos ou excluídos sociais que queriam usurpar nossos índios em seus tesouros que achavam ter, sem saber que o maior tesouro dos nossos originais era a própria terra, sem cerca e sem grileiros.

Uma coisa é certa em todos os que chegam e saem dessa situação aventureira, todos deixam ou fazem amigos verdadeiros. Amigos que passam ou passaram por situações idênticas e que por isso sabem onde tocar na ferida para curar a dor, ou ao menos aliviar.

A solidariedade é impressionante no meio dos excluídos, dos imigrantes, migrantes, dos foragidos da miséria além fronteiras, dos conterrâneos e de todos os que se simpatizam com esses “pobres coitados” que de “pobre coitados” não tem nada. São vitoriosos que pensam em ter algo para oferecer aos seus pares, suas famílias e que um dia pensam voltar para suas terras com a certeza de poder ajudar aos que não tiveram coragem para partir em busca de uma solução. Mesmo os que nada levam, levam a certeza de que podem ajudar a outros a tomarem uma decisão: vale a pena? Não sei. Gostaria de saber.

Não há culpado por tal situação. Como culpar Deus por pedaços isolados de terra que são diferentes de outros? Também não se pode culpar o homem porque está destruindo a terra. O Nordeste, por exemplo, já era assim antes do descobrimento do Brasil. E mudanças climáticas sempre ocorreram desde que a terra é terra, são as glaciações e interglaciações, ou seja, a diminuição ou aumento da temperatura terrestre, como a que estamos vivendo atualmente. Concordo que o homem pode estar acelerando a interglaciação atual, mas não é o único responsável. Portanto, não tem como apontar um culpado pela desgraça alheia em terras estranhas. Um dia o Nordeste já foi mar e hoje nem água direito tem. Ache um culpado e questão resolvida. Haja solidariedade para tantos que já estão de malas prontas!


Autor: Jomar Alves


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