Despedida De Caboclo



Amô, descurpa a franqueza,

Mais devo falá com crareza.

 

Nas vórta que o mundo dá,

Sei que um dia a gente ainda vai se encontrá.

E o nosso amô, vai de novo se realizá.

 

Nesse dia, o Sol vai pará. 

A lua curiosa, chegá bem perto prá espiá.

E os passarinho feliz, vão daná de cantá.

 

Sei que inzagerei, quasi puis tudo a perdê.

Mais o qui fazê?

Fiquei lôco di ocê!

 

Sabe por que minha pomba de arribação? 

Doidêra assim de montão,

A gente só faiz quando gosta muito mêmo,

 

Só faiz quando a gente gosta mais

qui um amigo, mais qui um irmão.

Só faiz quando isquece di tudo,

Quando gosta di paxão.

 

Num faça disfeita prá esse cabôco,

Arruma uma caxinha bem mimosa.

Guarda lá os retrato, os presente,

Os verso e as prosa.

Guarda em quarqué lugá.

Se não achá, guarda dibaxo de um véio tôco.

 

Devôrvo tudo que é seu, tudo qui ocê quizé.

Retrato, biête, brinco arrancado no calô,

Lembra? Arrancado no calô do nosso amô...

 

Faço dito o redito, devôrvo  tudo

e mais ainda inté,

Só num devôrvo uma coisa:

A sardade do teu bêjo gostoso, muié!

 

Vô continuá a escrevê procê.

Si ocê num quizé lê, pacênça,

Prá mim, num faiz diferença.

 

Vô escrevê sempre com alegria de festança,

Por que gosto di ocê assim di graça,

Das veiz, parece até amô di criança!


 

Nota:

O texto acima foi escrito deliberadamente tentando imitar o linguajar dos tantos caboclos do interior do Brasil. Mesmo que falem um linguajar diferente daquele considerado correto, falam sempre com sinceridade e por isso, meu carinho e admiração por eles.

Ailton Ferreira
Autor: Ailton Ferreira


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