Análise da organização social na América colonial



Análise da organização social da América colonial a partir do texto “O Trabalho Indígena na América Latina Colonial: Escravidão e Servidão Coletiva” de Fabiano Almeida Matos.

Iniciaremos nossa análise, levando em consideração que o autor, descreve a compreensão do trabalho humano durante a sua existência, usando as definições de trabalho segundo John Locke e Karl Marx, contudo a vertente usada pelo autor foi a de Karl Marx com suas categorias históricas como modo de produção, forças produtivas, meios de produção entre outras.

A sociedade colonial na América Hispânica estava assim estruturada: os chapetones, espanhóis que vinham para a colônia e ocupavam os cargos burocráticos e administrativos; os criollos, constituída por espanhóis nascidos na América. Eram os grandes proprietários de terras e escravos, formavam a elite econômica, muito embora ficassem excluídos das funções políticas; os mestiços, resultado da miscigenação do branco com o índio e os escravos.

Segundo o autor, as áreas colonizadas por espanhóis na América do Sul e Central a base da economia era o trabalho indígena. As áreas sobre o controle de Castela, diferente do Brasil, eram mais povoadas, excetuando-se Cuba, Indo - América, os Andes, parte da Amazônia e Paraguai. Para explicar esse fato, Fabiano cita Ciro Flamarion Cardoso, em “O trabalho na América Colonial.

De acordo com Fabiano, esse fato ainda não explicava a submissão indígena, e o autor utiliza-se do trabalho de Stanley Stein e Barbara Stein “A Herança Colonial da América” onde descreve alguns fatores fundamentais para o processo de colonização: o recrutamento e o financiamento de bandos militares, e a conivência dos caciques e da Nobreza Ameríndia.  Diz que o decisivo para essa prática foi o fato de que em territórios espanhóis, os índios estavam acostumados ao trabalho, principalmente nos territórios dos Incas, Astecas e Maias. No Brasil as tribos nunca desenvolveram as forças produtivas além da subsistência, o trabalho forçado não era aceito, e as revoltas freqüentes.

Analisa o choque de culturas durante a chegada do europeu, e descrevendo seu espanto com avanços técnicos as edificações, artesanato, o trabalho em ouro e principalmente com as técnicas produtivas, o modo de produção asiático. As técnicas de produção em sistemas hidráulicos reduziam o trabalho, o que permitia como na cultura Asteca um tempo mais livre. Os Incas trabalhavam durante todo ano revezando nas terras do Estado, nas suas e ainda no artesanato e na fabricação de tecidos. Incluindo no trabalho mulheres e crianças. Essa mentalidade comum ao trabalho e de produção de excedentes foi muito útil aos espanhóis nos primeiros anos de dominação.

A escravidão indígena ocorria nas fronteiras onde se caçavam índios bravos, pois estes se recusavam a trabalhar para os espanhóis. O autor esclarece as classificações de escravidão, usando o trabalho de Jacob Gorender “O escravismo colonial”, dizendo que para a escravidão completa dois fatores são essenciais: a propriedade e sujeição pessoal, e destes derivam mais dois: a perpetuidade e a hereditariedade.  

A encomienda era uma forma de exploração em que os índios deveriam pagar tributos em gêneros ou prestações de trabalhos. Outra maneira de exploração era o repartimiento, onde equipes de índios trabalhavam em alguma propriedade por certo período. Nesse sistema o índio não era separado da sua comunidade, e para isso seria necessária a conivência dos lideres indígenas. Para essa afirmação o autor recorre mais uma vez a Stanley Stein e Bárbara Stein, que dizem que: (...) A efetiva preservação, organização e manipulação das comunidades indígenas necessitaram de correspondentes processos de urbanização, cristianização e incorporação das mesmas a economia da Europa ocidental (p.5).

Segundo Fabiano, os ramos onde se utilizou o trabalho indígena foram a agricultura e a mineração. Onde as terras eram tomadas e os índios eram obrigados a trabalhar nas propriedades particulares recebendo adiantamentos, como alimentação, bebidas, sacramentos de batismo e morte, como não conseguiam pagar se tornavam escravos por dívida. Na agricultura prevaleceu a hacienda, que eram grandes propriedades rurais com único dono com mão de obra dependente. O modo de trabalho era o repartimiento ou mita. A agricultura era o setor primário da economia, e a mineração era o setor secundário, sendo que na mineração o trabalhador recebia maior remuneração.

Surge outro agente histórico, o mestiço. Da união de espanhóis nascidos na América (criollos), com as filhas da nobreza ameríndia com o intuito de pacificar os índios, e o fruto dessas uniões não eram considerados índios, e, portanto, desobrigado ao trabalho escravo. Porém essa terceira classe não era aceita pelas duas classes anteriores, e trabalhavam no artesanato ou se tornavam vagabundos e desocupados. Com o desenvolvimento das haciendas esses mestiços passaram ao cargo de capatazia controlando as massas trabalhadoras, o que elevou o papel dessa classe no mundo do trabalho colonial.

Segundo o autor a Igreja administrava a colônia, era responsável por reunir os índios em reduções ou aldeamentos facilitando o seu uso como trabalhadores. Esse controle da Igreja tornava os índios dóceis sem revoltas. Entretanto, a igreja não era conivente em todos os aspectos, a ordem jesuíta, por exemplo, lutou contra os exageros do trabalho indígena.

As missões dos jesuítas nas áreas de fronteira eram para evangelizar, catequizar e livrar os índios da escravidão. Essas missões no século XVIII lutaram ao lado dos índios para evitar que os mesmos fossem transferidos das suas terras.

Referencias:

MATOS, Fabiano Almeida. O TRABALHO INDÍGENA NA AMÉRICA LATINA COLONIAL: ESCRAVIDÃO E SERVIDÃO COLETIVA, disponível em: http://www.amerindia.ufc.br/Amerindia/index.php?option=com_content&view=article&id=109:test&catid=36:vol3&Itemid=55

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Autor: Everaldo Rufino Da Silva


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