Sexualidade, poder na visão de Focault



A HISTÓRIA DA SEXUALIDADE – O CULTO DE SÍ  (FOUCAULT)

Foucault analisa o desenvolvimento das tecnologias de si, as formas éticas de vida e a verdade filosófica, na antiguidade greco-romanae na era cristã, demonstrando do ponto de vista da ontologia do presente nos limites do discurso da modernidade e as possibilidades de recobrá-las para problematizar os atuais modos de existência, em especial aqueles que se instituem como estados de dominação. Para isso, descobre nas análises as práticas  que compreendem as tecnologias, na busca do cuidado de  si mesmos, criados originalmente por filósofos como Sócrates e Platão e, posteriormente, desenvolvidas por filósofos estóicos, epicuristas e cristãos, uma dimensão ética e política que poder ia colocar em xeque o conceito de sujeito, de poder e de verdade no qual se assentou o discurso filosófico da modernidade. As tecnologias são descritas por Foucault (2008) em quatro modalidades, cada uma delas contemplando uma matriz do comportamento e da razão prática:1) as tecnologias de produção, que nos permitem produzir, transformar e manipular coisas; as tecnologias de sistema de signos utilizadas para significar, simbolizar e dar sentidos as coisas; 2) as tecnologias de poder,que determinam a conduta do individuo, submetendo-o a formas de dominação e de assujeitamento específicos, objetivando-o enquanto sujeito; 3) tecnologias de si, que permitem o trabalho do indivíduo, por conta própria ou a ajuda de outrem, sobre si mesmo se transformando em vistas da realização de certo estado de felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade.

Cada uma dessas tecnologias, que não atuam separadamente, atuaria no sentido de modificar o indivíduo e implicaria em certas formas dea prendizagem. Foucault (2008) admite que, embora já tivesse analisado as duas primeiras modalidades de tecnologias, estaria mais interessado nas duas últimas ness momento de sua obra, pois, como diz ele estariam associados ao que denominou de governamentalidade. Se até então tinha insistido mais nas relações desta com a dominação e com o poder,agora, passa a privilegiar o governo de si, explorando as tecnologias que compreendem o trabalho de si sobre si mesmo e a sua relação com o governo dos outros. A governamentalidade, em princípio, envolveria questões a respeito de “como se governar, como ser governado, como fazer para ser o melhor governante possível, etc.” Tal designação procura compreender, historicamente, nosséculos XVI e XVII, a passagem de uma forma de governo estatal centrada na figura do soberano para a sua descentralização e repartição por diversasa rtes que adentram os capilares da sociedade civil (como as artes médicas, jurídicas, religiosas, pedagógicas) e caracterizam a emergência do Estado Moderno. Essas artes de governo existiam desde o exercício do poder soberano, dividida em suas dimensões morais - que implicaria no governo que se exerce sobre si -, econômicas, que envolve a ciência do bem governara família -, e política, que compreende a ciência do bem governar o Estado,havendo entre elas uma relação de continuidade ascendente e descendente.O exercício das práticas de si a seu ver deveria ser considerado como a busca por práticas de liberdade, isto é, práticas que possam ser escolhas éticas no sentido da potencialização da vida e do aprimoramento da existência. Isso porque, segundo Foucault (2004a, p. 267), a liberdade é a “condição ontológica da ética” que, por sua vez, é a “forma refletida da liberdade.” Nesse sentido, tais práticas seriam consideradas por ele como práticas de liberdade, isto é, como um modo de existência que se contrapõeà imobilidade das relações de poder e à sedimentação dos estados de dominação, visando resistir a elas, por meio do ensaio de novas relações eda experiência da recriação de si, por meio do cuidado para consigo e paracom os outros. Para tanto, é necessário que os sujeitos participantes de tais relações e estados se ocupem de si mesmos, como um imperativo ontológicoe ético imanente, fazendo-os voltarem os seus olhares e os seus pensamentos sobre as verdades e valores morais assimiladas em sua existência, para que possam  escolher os seus melhores guias e aprenderem a cuidar dos outros. Assim, não é pelo fato de aprender a cuidar dos outros que esses sujeito estabeleceriam as suas ligações com a ética, mas é justamente porque eles cuidariam de um si, que lhes é anterior ontologicamente. Dessa perspectiva, Foucault (2004b) problematiza toda tradição filosófica que, desde a sua gênese, interpretou o conhece-te a ti mesmo(gnôthi seautón) socrático para assentar na consciência de si, as relações entre o sujeito e a verdade, como desenvolvidas a partir da modernidade. Ele faz isso trazendo a baila o cuidado de si (epiméleia heautoû) e defendendo a sua primazia em relação ao conhecete a ti mesmo, revertendo uma interpretação canônica da história da filosofia sobre o pensamento socrático e afirmando que ela se sustentou numa analítica da verdade como a cartesiana, na qual se fundou a filosofia e as ciências modernas.

Portanto, o cuidado de si seria uma atividade necessária às relações entre os jovens e os seus mestres ou entre eles e os seus amantes). Michel Foucault defende que o corpo é local onde se manifestam os efeitos do poder e também território para resisti-lo. Suas considerações permitem verificar o modo como as relações de poder moldam e adestram os corpos para o consumo diário no mundo moderno. acelerado pelo intenso processo de relações econômicas globalizadas.O  a atualidade , recomendar a ocupar-se de nós mesmos poderia soar de forma estranha e e até paradoxal. Sugerindo sentimentos de  “egoísmo” e “volta sobre si”, segundoFoucault (2004a p. 17), durante séculos ela significou, ao contrário, “um princípio positivo matricial relativamente a morais extremamente rigorosas.”Aliás, esse princípio de morais extremamente austeras, assentadas no cuidado de si, teria sido readaptado pelos  códigos e pelas regras do cristianismo e d a modernidade para que se constituíssem em morais não egoístas, de obrigação para com os outros, gerando complexos paradoxos e concorrendo para que ocupar-se consigo fosse desprestigiado como constituinte de uma ética. O que Foucault  denominou de “momento cartesiano” que o cuidado de si foi praticamente esquecido para a  requalificação filosófica do conhece-te a ti mesmo, ao estabelecer como a primeira certeza necessária ao procedimento filosófico, a evidência de uma consciência entendida como conhecimento de si e, concebendo  o sujeito como aquele que tem acesso à verdade . Assim,  essa  requalificação do  conhece-te a ti  mesmo ,ditada por Sócrates, o cuidado de si consistiria em uma atitude geral para consigo, para com os outros e para com o mundo; deslocando oolhar de fora  para si mesmo, o que implica na atenção “ao que se pensa e ao que passa no pensamento”e que deve transcender em “atitudes” .Foucault, entende o corpo como local onde se manifestam os efeitos do poder e também território para resisti-lo. Suas considerações permitem verificar o modo como as relações de poder moldam e adestram as pessoas e como essas reagem em suas relações, tanto de afetos, quanto de consumo no mundo moderno. acelerado pelo intenso processo de relações econômicas. 


Autor: Lednalva Oliveira Cordeiro Batista


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