A alfabetização e os saberes necessários à prática educativa



A ALFABETIZAÇÃO E OS SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA

BEZERRA, Silvia Maria Cavalcante Silva, professora alfabetizadora do CEFAPRO de Rondonópolis/MT/mestranda UFMT/CUR/PPGEdu, membro do Grupo de Pesquisa em Alfabetizaçao ALFALE

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            A proposta deste artigo é dialogar com o leitor sobre o papel do pedagogo e os saberes necessários à prática educativa. Segundo Libâneo (2006) o “peda” do termo pedagogia vem do grego paidós que significa criança. Então o que ensina crianças é pedagogo. Para além do termo precisamos buscar entender o papel que a sociedade espera do pedagogo. Sobre esta questão Freire (1996) afirma “Na formação docente dos professores o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática [...]. Por outro lado, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser, de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica.”

            Refletindo sobre a realidade educacional contemporânea e buscando entender as causas do fracasso escolar, embora não pretendamos aqui realizar um resgate delas, pela brevidade do artigo, intentamos discutir pontos  que consideramos bastante pertinentes e úteis para todos os professores,especialmente os pedagogos, no sentido mais de provocar inquietações e reflexões.

            Os índices de reprovação e repetência do estado de Mato Grosso são antigos e decorrentes  de uma escola constituída, sob a influência de várias correntes. Em 1940, a palmatória, a memorização, o autoristarismo eram características  presentes na escola seriada. A escola que ora se apresentava, era segregadora, excluía os já excluídos, dentre estes nossos pais e colegas de sala, que não alcançaram o sucesso escolar.   Segundo pesquisas, houve uma corrida intensa para o acesso escolar e ainda há, porém a maior luta é pela permanência com qualidade.

            Ancoramo-nos nos princípios de Gadotti (2007) quando  afirma que a escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. É um espaço que tem gente, é um espaço de relações, um lugar especial.  Em Freire (1992) quando afirma que a luta e a esperança tem que fazer parte da vida de quem precisa, mas que não nascemos esperançosos. Paulo Freire (1992) “Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas prescindir da esperança da luta para melhorar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, a pura cientificidade, é frívola ilusão”         

            Precisamos lutar por uma escola a qual não tenha a pretensão de transformar o mundo, mas intervir no mundo das pessoas que ali vivem. Gadotti (2007) diz que o poder do professor hoje está tanto na sua capacidade de refletir criticamente sobre a realidade para transformá-la, quanto na possibilidade de constituir um coletivo para lutar por uma causa comum.

            Muitos pedagogos vêm construindo no seu cotidiano, algumas práticas  ancoradas   somente em concepções  adquiridas durante a própria alfabetização  sem conhecer e aprofundar teoricamente, as quais muitas vezes não levam o aluno a pensar, a refletir sobre a aquisição da leitura  e da escrita. Assim,  que  professores formadores e pesquisadores da academia, possam  despir de alguns preconceitos e verbalizar “como fazer”, e dar suporte aos professores, coordenadores e a comunidade escolar, onde e quando  se fizer necessário.

            De acordo com Soares (2010) podemos afirmar que alfabetização não é uma habilidade, é um conjunto de habilidades, o que caracteriza como um fenômeno de natureza complexa, multifacetado.  Soares (2010) afirma ainda que “A formação do alfabetizador – que ainda não se tem feito sistematicamente no Brasil – tem uma grande especificidade, e exige uma preparação do professor que o leve a compreender todas as facetas (psicológica, psicolinguística, sociolinguística e lingüística) e todos os condicionantes (sociais, culturais, políticos) do processo de alfabetização, que o leve, a saber, operacionalizar essas diversas facetas [...] em métodos e procedimentos de preparação para a alfabetização e em métodos e procedimentos de alfabetização, em elaboração e uso de materiais didáticos, e, sobretudo, que o leve a assumir uma postura política diante das implicações ideológicas do significado e do papel atribuído à alfabetização”  

            O desafio é propiciar a todos uma Educação Básica de qualidade, como expressão do compromisso com a inclusão social. O estado de Mato Grosso incorpora de forma definitiva a organização estrutural através dos ciclos de formação humana, valendo-se do percurso histórico da rede que há mais de dez anos, trabalha com a organização de ciclos, condição que se avalia mais inclusiva e voltada para a promoção humana.

            Entende-se que a escola é local de promoção, não de retenção. Entretanto, toda promoção deve ser acompanhada da qualidade necessária para a vida cidadã. Portanto, a escola disporá dos elementos necessários para promover a superação das dificuldades apresentadas pelos alunos, condição essencial para que a organização por ciclos de formação humana apresente os resultados esperados.  

            Concebe-se a educação como elemento propiciador de conhecimento sobre a realidade, pelo debruçar-se sobre ela, a fim de extrair contextos significativos para a formação humana.        

            Há um longo caminho a ser percorrido e para finalizar proponho, que haja reflexões dos pedagogos sobre o que/como queremos ensinar, numa perspectiva pedagógica de alfabetização, que dê conta de sistematizar e explicitar os mecanismos presentes na relação pedagógica que se desenvolve entre quem realmente ensina e quem aprende. Conhecemos o trabalho  de alfabetizadoras em Guiratinga que fizeram e fazem histórias de sucesso, mas que precisam ser mais valorizadas. Não há ensinagem se não houver aprendizagem.

Prossigamos.


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