Stultifera navis, doce ilusão



A história da loucura segundo o filósofo Francês Michel Foucault é de antemão uma crítica muito forte à forma corno a sociedade ocidental do século XVII até meados do século XX que se relacionou com os desvios e os descontroles—comumente homogeneizados e enquadrados pela expressão loucura.

Foucault inicia sua crítica retratando a lepra, com suas denominações lingüísticas e repressivas ao mesmo tempo a partir dos significados como sendo a encarnação exemplar do mal e a representando do castigo divino, seu tratamento é a segregação forçada, no entanto a lepra se espalha causando pavor e sentenciando seus portadores a exclusão.

No tratamento da sociedade havia uma desumanidade na relação das cidades com a lepra. Do século XIV ao XVII, a lepra vai reivindicar uma forma nova de libertação, purificação e exclusão, uma vez que a doença era a encarnação do mal.

Os leprosários não são mais os lugares de exclusão e renúncia da vida, onde os leprosos eram levados embora, com a intenção de purificar as cidades, passa a ser aplicados métodos administrativos e médicos dentro dessas cassas de saúde (hospitais) salvando vidas. Onde varias regiões e lugares começaram a imitar o exemplo francês de administração dos leprosários.

Com o fim das cruzadas, ocorreu o desaparecimento da lepra, mas isso, não significa o efeito das práticas médicas na cura, mas foi a consequência de uma segregação espontânea.

As estruturas que serviam de abrigo para os leprosos permaneceram vazias a espera de um novo fenômeno social, para ocupar um lugar de destaque. Inicialmente a lepra foi substituída pelas doenças venéreas e depois sem dificuldade alguma nasce uma nova lepra, que toma o, lugar da primeira.

O fenômeno da loucura só vai reivindicar o seu lugar de fato e de direito, como uma reação de divisão, de exclusão e purificação dos ambientes sociais, por volta da metade do século XVII. No momento do enfoque da realidade do final da idade média até o momento do olhar médico sobre o fenômeno da loucura, extraindo um significado verdadeiro para o momento da patologia e do surgimento das instituições de exclusões.

A loucura teve um cenário real de exclusão, onde os loucos eram obrigados a embarcarem em uma grande viagem sem volta, em busca do seu destino ou de sua cura, a purificação moral. Os barcos levavam a insanidade humana de uma cidade para outra. Na tentativa de se livrar da existência errante dos loucos.

A Nau dos Loucos ocupava um espaço fundamental, ela transportava tipos sociais que embarcavam em uma grande viagem em busca da revelação dos seus destinos e de suas verdades. Esses barcos faziam parte do cotidiano dos loucos, que eram transportados para territórios distantes. Por que a sociedade vê na circulação dos loucos uma ameaça a segurança e a ordem e, com isso estabelece a exclusão como forma anti-social, visando a segurança dos cidadãos e evitando que os loucos ficassem vagando dentro da cidade.

A grande viagem dos loucos tinha como intuito de estabelecer a exclusão definitiva dos loucos das cidades, para evitar que eles ficassem vagando fora dos muros das cidades, por isso, que eram mandados para longe. O gesto de escorraçar os loucos encontra utilidade social e a segurança das cidades. Foi usado como um método de purificação e limpeza das cidades.

A exclusão exercida pela na Nau dos loucos era a verdadeira demonstração de insanidade moral que vivia a sociedade, ela tinha como objetivo esconder tudo o que era diferente e desigual dos padrões sociais criados a partir de princípios éticos judaico-cristãos.

Portanto, Foucault vai contestar a relação entre loucura isolamento moral e social a partir da nau e do internamento como desnecessária. Em torno disto foi criado um distanciamento entre a verdade moral imposta pela aristocracia e seu poder financeiro e as reais evidências patológicas dos excluídos pela razão.


Autor: Leonildo Dutras De Oliveira


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