As práticas integrativas e complementares na interface do processo saúde-doença-cuidado



 

AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA INTERFACE DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA-CUIDADO

 

Flazia Carvalho Gualberto Pereira Magalhães¹

Vanessa Barreto Pereira²

Marcos Antônio Oliveira de Santana³

Fabrício Simões4

 

RESUMO

 Na atualidade, a dinâmica da demanda do processo saúde-doença-cuidado inerente ao sistema de saúde já reconhece que a autonomia do usuário deve ser levada em consideração, especialmente para a necessidade de uma avaliação integral e posterior prática a ser realizada pelo profissional de saúde. A partir desta compreensão, este estudo foi realizado com o objetivo de analisar as contribuições da inserção das práticas integrativas e complementares no campo da saúde. Nesta perspectiva, optamos pelo estudo de base teórico-conceitual e, para isso, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica de natureza exploratória com base na literatura especializada. Observamos, assim, o crescimento da utilização e maior conscientização da população para as práticas integrativas e complementares, comprovando os benefícios e eficácias para a saúde do indivíduo. Portanto, apesar da evolução das diversas áreas que compõem a clínica e seus resultados efetivos para o tratamento, aliados ao contraditório das questões político-administrativas que envolvem o setor saúde, a inserção das práticas integrativas e complementares despertam a possibilidade de um olhar amplo e qualificado para o indivíduo usuário e o desenvolvimento do processo mais humanizado. 

 

Palavras-chave: Práticas Integrativas e complementares. Enfermagem. Educação em Saúde.

 

   

¹ Graduanda em enfermagem, Faculdade Anísio Teixeira, [email protected]

² Graduanda em enfermagem, Faculdade Anísio Teixeira, [email protected]

³ Professor, Mestre em Saúde Coletiva, [email protected]

4 Professor, Mestrando em Motricidade Humana, [email protected]

 

 


 

ABSTRACT

At present, the dynamics of the demand of the health-disease-care inherent in the health system already recognizes the autonomy of the user should be taken into consideration, especially the need for a comprehensive assessment and subsequent practice to beperformed by a health professional.
From this understanding, this study was to analyze the contributions of the integration ofcomplementary and integrative practices in the health field. In this perspective, we chose to study the basic theoretical and conceptual and, therefore, we used a literature searchof an exploratory nature-based literature. We see, therefore, the growth of use and increased public awareness for complementary and integrative practices, demonstratingthe benefits and efficiencies to the health of the individual. Therefore, despite the evolution of the various areas that make up the clinic and the actual outcomes for the treatment, combined with the contradictory political and administrative issues involvingthe health sector, the integration of complementary and integrative practices raises the possibility of looking at a wide and qualified for the individual user and the development process more humane.

Keywords: Complementary and Integrative. Nursing. Health Education

 

INTRODUÇÃO

As práticas voltadas apenas para a existência da doença e métodos curativos passaram a abrir espaço para os meios preventivos, que visam promover a qualidade de vida e a ausência do estado patológico. A insatisfação em relação à saúde está sendo evidenciada constantemente, conforme relatam os usuários, que se sentem “meros objetos”, com diagnósticos incompletos ou incertos, apenas com uma receita nas mãos para que seja realizado o uso da medicação.

As práticas integrativas e complementares incluem uma forma mais ampla em relação ao cuidado e a cura, por tratar de uma prática de caráter inovador, que demonstra efeitos benéficos, considerando o individuo em sua integralidade nos aspectos: físico, psíquico, emocional e social; exercendo a humanização e fortalecendo o vínculo, além de se  destacarem  por dispensarem a utilização de meios de alta complexidade, custos financeiros elevados, além de não expor os clientes a técnicas julgadas inúteis, por respeitar a democracia e sua autonomia.

            Este estudo teve como objetivo geral analisar as possibilidades e contribuições da inserção das práticas integrativas e complementares no campo da saúde com base na literatura especializada, pois como graduandas em enfermagem acreditamos que existe a carência de métodos que venham atender com equidade e resolutividade a população, e que os profissionais enfermeiros estão na linha de frente com a sociedade, possuindo a oportunidade de, também, ser educador e esclarecedor da utilização destas práticas que estão sendo cada vez mais procurada pelos usuários.

 

  FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICO - CONCEITUAL DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES

 O termo alternativo originou-se a partir do momento que eram realizadas inúmeras práticas que não se enquadravam no modelo biomédico ou medicina ocidental. Essa de­nominação foi criada em um contexto social de contra­cultura, mais especificamente nas décadas de 1960 e 1970, foi nesse período que vários grupos estavam lutando em busca da construção de uma sociedade que fosse alternativa, uma economia; educação; formas de organização social e política e comporta­mento alternativos; e, consequentemente, uma medicina também alternativa, ocorrendo exatamente no período de Guerra Fria.¹.

 De acordo com Tesser e Barros (2008, p.916)² as medicinas alternativas e complementares são: ”como um grupo de sistemas médicos e de cuidado à saúde, práticas e produtos que não são presentemente considerados parte da biomedicina.”

Barbosa et. al (2004, p.717) relatam que as atividades desenvolvidas pelos populares podem ser designadas como “[...] todos os recursos utilizados pela famílias, pessoas leigas e por terapeutas, onde a apreensão do saber se constrói no cotidiano e se transmite de geração a geração e cujo fazer não está ligado a serviços formais de saúde.”

No Brasil, estas abordagens foram legitimadas e institucionalizadas a partir da década de 80, após a implantação do SUS que, com a descentralização e a participação popular, os estados e os municípios passaram a ter uma maior autonomia no aspecto que define suas políticas e ações em saúde.³

A Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares é uma política que veio para contribuir para que seja realmente executado o fortalecimento dos princípios fundamentais do SUS, foi aprovada pelo Comitê Nacional de Saúde e publicada na forma de Portarias Ministeriais nº 971 em 03 de maio de 2006, e nº 1.600, de 17 de julho de 2006 e atua respeitando verdadeiramente as reais necessidades e implementando os princípios e diretrizes da universalidade, equidade, integralidade, resolutividade, participação comunitária e controle social.³

 

 AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

A educação em saúde como porta de entrada dos serviços de saúde, deve desempenhar inúmeras ações que venham prevenir as patologias que possam desencadear, fornecendo qualidade de vida aos indivíduos.  

Para Stoz e Albuquerque (2004, p.33) 4., os métodos de educação em saúde:

[...] são entendidos como ações educativas em que, tanto profissionais como usuários aprendem e ensinam, numa construção dialógica do conhecimento. [...] tanto no que se refere à postura dos profissionais quanto ao respeito ao saber popular e à busca da terapêutica mais eficaz pelos usuários.

 

Para realizar educação em saúde há necessita de um olhar ampliado e conhecimento de distintas ciências, caracterizando-se como um campo multifacetado, para o qual convergem diversas concepções e espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade.5.

 O Programa de Saúde da Família (PSF) permite a implantação de um novo modelo assistencial que substitui o modelo hegemônico, adotando novas práticas que serão desempenhadas por uma equipe multiprofissional, não perdendo o foco da promoção da saúde como seu eixo.6.

A educação em saúde não tem sido realizada de forma correta porque não está buscando a integralidade nas ações de saúde nem fornecendo o cuidado da promoção da saúde, motivo este que levou muitos profissionais a trabalharem com maneiras diversas e alternativas nesta área, destacando-se  aquelas que são de referência na educação popular.4

Portanto, torna – se  evidente a necessidade de se perceber a integralidade como princípio em vários níveis de discussões e práticas na área da saúde, tendo como objetivo principal um alicerce diferenciado , preparado para ouvir, entender e atender às demandas das pessoas, grupos e coletividades.7

Se faz necessário que os profissionais de saúde estejam aptos a informar e atender seus pacientes, tendo conhecimento sobre os efeitos colaterais, interações medicamentosas e quanto a prática segura da medicina complementar, isoladas ou associadas à medicina convencional.

  

ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS NAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES

 A enfermagem é uma profissão que exerce o cuidado aos indivíduos em sua integralidade e, por manter contato direto com estes, torna–se evidente que o homem é influenciado pela natureza e vem adicionando à sua prática modalidades terapêuticas complementares. O exercício dessas terapias está regulamentado pelas Resoluções 197/97 e 283/03 do COFEN, o que dá inúmeras oportunidades aos enfermeiros de utilizá-las nos diferentes contextos de atenção à saúde.8

O profissional enfermeiro deve assegurar a qualidade da assistência e do cuidado em enfermagem em seus diferentes níveis de atenção à saúde, atuando com ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação à saúde, na perspectiva de garantir a integralidade da assistência³

Para que os enfermeiros possam realizar as práticas que visem a integralidade do cuidado faz-se necessário que estes sejam bem capacitados com bagagem suficiente para que possa avaliar  os benefícios e os riscos de cada terapia.9

 

 METODOLOGIA

 Na perspectiva de realizar um estudo de base teórico-conceitual sobre a temática das Práticas Integrativas e Complementares na área da Saúde, optamos pela pesquisa bibliográfica de natureza exploratória11.As fontes de estudos foram do tipo primárias esecundárias, representadas por documentos como: relatórios, livros, revistas científicas, jornais científicos e demais publicações impressas e eletrônicas que tratem desta temática. 12

 

AMOSTRA

 A amostra foi composta por artigos científicos e livros que tratavam das práticas integrativas e complementares. Os livros foram selecionados obedecendo ao critério de abordar o tema do trabalho e os artigos submetidos a dois testes de relevância (BORGES; MENEZES, 2008). O teste de Relevância I foi aplicado aos resumos dos artigos, obedecendo aos critérios de serem publicados no período de 1996 a 2011 em língua portuguesa, que abordassem a temática em questão. O teste de Relevância II foi aplicado ao artigo na íntegra, obedecendo aos critérios de não disponibilização do artigo completo, não especificação do tipo de estudo e dos objetivos da pesquisa.

 

COLETA E ANÁLISE DO ACERVO BIBLIOGRÁFICO

 As técnicas que foram utilizadas para a realização deste caminho metodológico tem base na proposta de Cervo et al (2007). Os documentos usados para esta pesquisa foram coletados em fontes on line e impressas nas bases de dados scielo, Bireme e Google Acadêmico, considerando o critério de publicação no período 1996 a 2011 em língua portuguesa. As palavras-chave utilizadas para a busca foram: práticas integrativas e complementares, saúde e enfermagem. O período de pesquisa do material ocorreu de fevereiro a dezembro 2011. 

 

LOCALIZAÇÃO E SELEÇÃO DOS ESTUDOS

A pesquisa em fontes on line e impressas resultou em 25 resumos, submetidos ao teste de relevância I, que determinou quais artigos seriam inclusos e excluídos na pesquisa. O Teste de Relevância I foi aplicado aos 25 resumos por duas avaliadoras (F.C.G.P.M.) e (V.B.P.), que identificaram 15 resumos aprovados no teste de Relevância I e 10 reprovados no teste. Os resumos selecionados tiveram seus artigos lidos na íntegra pelas avaliadoras, que aplicaram o teste de relevância II aos 15 artigos, resultando em 10 selecionados e 05 excluídos devido a não especificação do tipo de estudo e objetivos.

 

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Portanto, os resultados esboçados demarcaram um universo dinâmico para a investigação das Práticas Integrativas e Complementares, especialmente na relação com a área de enfermagem, que os estudos desta natureza, entre outras possibilidades, advogam para a melhor compreensão desta temática. 

Pode ser evidenciado no material analisado que os benefícios das Praticas Integrativas e Complementares são reais, existindo o custo-benefício, dispensando a utilização de tecnologias de alta complexidade, e não expõem as pessoas a exames considerados desnecessários e excessivos. Porém existe a dificuldade de executar as práticas, seja por ausência de conhecimento dos usuários, ou dos profissionais que não as exercem até mesmo por não saberem que estas funções lhes competem, justificado pelo motivo de na graduação este tema ser pouco ou não ser abordado.

  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da literatura que aborda esta temática ser muito escassa e a carência de profissionais de saúde que utilizam ou indicam a utilização dessas práticas, através deste estudo podemos verificar que as práticas integrativas e complementares permitem obter uma mudança no estilo e na qualidade de vida, reduzindo os efeitos colaterais provocados pelo uso excessivo de medicamentos, criando uma esperança de cura e prevenindo para que não haja o aparecimento de novas patologias, contribuindo com a diminuição das superlotações nas emergências hospitalares, alertando para prescrições medicamentosas e rastreamentos sem utilidades. Portanto demonstrou que não são práticas inúteis, aleatórias nem tão pouco descabidas, não denominam os clientes por suas patologias, números de leitos, mas  levam em conta a humanização que é um fator  muito importante e infelizmente nem sempre é praticada.

Finalizando este processo, esperamos que novas pesquisas sejam desenvolvidas a respeito deste tema que desperta o desejo de inúmeras pessoas, porém pouco explorado.

 

 

REFERÊNCIAS

  1 BARROS, N.F. A construção da medicina integrativa: um desafio para o campo da saúde. São Paulo: Hucitec  2008.

 2 TESSER C. D, BARROS N. F. Medicalização social e medicina alternativa e complementar: pluralização terapêutica do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública; São Paulo, n. 42, p. 914, outubro 2008.

 3 BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativa e Complementar no SUS (PNPIC). 2006. Disponível: em:Acesso em: 26.05. 2011.

 4 ALBUQUERQUE, P.C., STOZ, E.N. A educação popular na atenção básica à saúde no município: em busca da integralidade. Interface (Botucatu), vol.8, n.15, pp. 259-274, 2004. Disponível em: Acesso em: 21.06.11

 

 5 CORRÊA, K. C. A. O pedagogo e o enfermeiro: representações identitárias e práticas educativas [monografia de graduação em enfermagem]. Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2009.

 6 NASCIMENTO, M.S.NASCIMENTO,M.A.A.Prática da enfermeira no Programa de Saúde da Família: a interface da vigilância da saúde Versus as ações programáticas em saúde.Ciência & Saúde Coletiva,v.10,n.2,p.333-345,2005.Disponível em . Acesso em: 05.09.11.

 7 SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. São Paulo (SP): Cortez; 2004.

 8 COFEN - Resolução COFEN-197/1997. Disponível em: Acesso em: 26.05. 2011.

 9  MEIRA, M.D.D.KURCGANT,P. Avaliação da formação de enfermeiros segundo a percepção de egressos.. enferm. v.21 n.4 São Paulo 2008.Disponível em:Acesso em : 20.08.11

 10 MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo :Atlas, 2006.

 11 FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

 12 CERVO, A. L. et al. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007

 

 

 

 

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Autor: Flazia Carvalho Gualberto Pereira


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