Transformação



Transformação

Maria Arabela Sampaio Campos

 

         As poucas aulas do semestre anterior ressoavam ainda em forma de lembranças ruins, trazendo a sensação de não ter produzido quase nada durante aquele período, e, além disso, o tempo e dinheiro gastos pareciam perdidos por considerar não ter atingido o principal objetivo que era absorver conhecimentos.

Não quero falar de trauma, mas confesso que estava decepcionada por não termos aprendido muita coisa, creio eu que as minhas expectativas e de tantos outros alunos, haviam sido frustradas, por que esperávamos muito mais do que vimos no segundo grau ou cursinhos pré-vestibulares.

            O fato de ouvir de uma colega que teríamos a nossa primeira aula de Língua portuguesa III, me embrulhou o estômago, bah!  Seria mais uma daquelas improdutivas!... Pensei: quando teremos uma aula que realmente valha à pena e venha refletir o que esperamos de um curso acadêmico?

Até agora tínhamos brincado de universidade. A maioria das aulas tinham deixado a desejar. Ao invés de nos encantar e incentivar a busca por conhecimento, por se tratar de algo novo, pela sua repetitividade, só nos afastava. Com a prática de métodos arcaicos, sem criatividade, obsoletos... Os quais engrandeciam os professores em detrimento dos alunos.

Algumas vezes, presenciei orientadores orgulhosos de si mesmos, mas sem se darem conta disso. Ironicamente e no sentido amplo da palavra, agiam como estrelas em relação ao sol (aluno), o qual, metaforicamente falando, é o grande motivo que impulsiona tudo em uma sala de aula. Tendo em vista que um professor egocêntrico jamais perceberá as deficiências de seu aluno para tratá-las, e em conseqüência jamais conseguirá ser um bom professor. Essa atitude transforma-se em uma “faca de dois gumes”.

Será que estou generalizando, sendo injusta ou cobrando mais do que realmente os professores podem nos oferecer? Não sei como deveria classificar essa frase, se interrogativa ou afirmativa, mas juro que prefiro no sentido que a coloquei, por acreditar no potencial de nossos profissionais. Na expectativa de que façam jus ao papel que se propõem a desempenhar: papel de orientador. 

No atual momento falo como aluna que sou na esperança de que esses questionamentos sejam entendidos não como críticas, mas como desabafo e reflexão.

            Tinha decidido não assistir a primeira aula, mas resolvi marcar presença na aula seguinte por não querer acumular faltas. Para minha grande surpresa, eu estava diante de uma obra prima! Uma das mais belas e produtivas aulas que já havia participado! Pela facilidade como o assunto foi passado, pela interação com os alunos e o retorno imediato da classe com o aprendizado. Pensei: Nossa! Esse é o exemplo que quero seguir caso venha a optar pela arte de ensinar. Arte essa que não é pra qualquer um! É necessário ter dom, domínio e muito amor, e essas qualidades só encontramos em poucos.

Por incrível que pareça passei a amar aquela disciplina que até então odiava por não dominar o assunto e por ter criado certa resistência pelo fato de ter encarado vez por outra, ao longo de minha vida de estudante, orientadores marionetes sem criatividade que enfiavam goela abaixo um português insosso sem muito raciocínio e entendimento.

Pobres alunos que, assim como eu, empurraram o português com a barriga a vida inteira, na base do “enroleicion” e, conseguiram ingressar num curso superior por sorte ou por uma dedicação sobrenatural! Sem falar daqueles que desistiram de prosseguir os estudos por achar que a deficiência era sua, que o Q.I.  Era baixo ou que talvez não tivesse jeito para o estudo...

Hoje faço parte da sala, literalmente. E vejo as aulas fluírem quase como imaginei... Eu disse quase! Continuo assistindo todas as aulas com os ouvidos abertos, absorvendo tudo que posso, e pedindo a Deus que o semestre não acabe tão rápido, para que possamos aprender um pouco mais... E assim, vou degustando cada palavra como quem degusta um raro e saboroso vinho...

Ah! Vejo-me com uma taça de vinho na mão, degustando o seu líquido bem devagar, saboreando cada gole, mas de olho nas garrafas que ainda estão na adega.  Tim tim!

 

Feira 02/10/2009


Autor: Maria Arabela Sampaio Campos


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