Cemitério de Elefantes



Ontem morreu um conhecido de apenas 41 anos.  No feriadão, no transito,  no Brasi,l morreram 160 pessoas. Em face a tanta morte resolvi escrever sobre a ela. Por que ela amedronta tanto e  gera tanto desencantamento.

Sêneca e Epicuro dois filósofos antagônicos concordavam  que se quisermos ser verdadeiramente livres temos que nos destemorizar ante a morte. Albert Camus escreveu "para ser feliz, pois temer a morte seria o mesmo que temer a vida.Conta a lenda que um general grego para entusiasmar os combatente gritava ‘viva a morte” daí os soldados se atracavam e se saiam melhor. Depois acontecia a soteria, a festa de comemoração de terem escapado da morte. Essa festa para eles era o ápice do êxtase. Não havia prazer comparado a esse. Daí que veio a desconfiança que não existe prazer o que existe é um alivio da tensão e da dor, por isso que a doutrina estóica permaneceu tanto tempo. Só nos últimos anos o hedonismo moderno tomou conta.

Não quero entrar em especulações   filosoficas. Eu penso que esse temor ante a morte é  uma forma de protesto ante a irreversibilidade da vida, velhice doença e morte nos assustam. Temos o desejo e ficar e medo de mudar e quando as coisas não mudam ficamos entediados. Sabemos que a morte é grande mudança a grande transformação. Mas o que nos assusta é o desconhecido, o pó o nada. Mas nessa luta não temos como vencer, porque se descobrirmos tudo sobre ela será pior, ficaremos entediados por sua simplicidade.

Se derem duas opções a um homem; atirar-se a um precipício onde a morte é certa e outra em um valo onde a escuridão predomina, onde não se pode enxergar o fundo. É peremptório  que o homem escolhe o primeiro precipício. Mas, se esse valo escuro tivesse somente dois metros de profundidade e no fundo fosse um jardim? Ante a morte o pensamento racional é inócuo é paralisado. Há um rio inversível debaixo de nossos pés. A correnteza nos leva e não tem jeito. Resignação e humildade ante esse grande mistério sem nome é o melhor antídoto para esse temor.

Vou falar da minha experiência pessoal de de pessoas que foram par a grande partida. Ou usando e eufemismos foram para o aposento eterno, ou popularmente bateram as botas. No  uma vez meu  patrão me perguntou “tu já viu a página dos que não podem mais comprar no Carrefur?” eu disse “isso não é possível é contra lei publicar no jornal uma lista assim”. Daí ele me mostrou a pagina dos falecimentos. Ele ria como um louco, e eu tive que concordar com ele, aqueles não podiam mais comprar no carrefur.

O primeiro velório que fui foi do primo, depois o  avõ e  avó e  meu  sogro. Mas o caso que mais me chamou atenção foi a de um vizinho. Seu Adão , um homem de seus 80 anos. Pai de seis filhos, antigamente homem forte de e posses pra aquele local. Seu irmão matara seu cunhado,  Morreu  sua esposa. Deu a beber depois de velho.  Eu conversava com o velho. Ele sempre contava o mesmo caso. Lembrança das  uma localidade da colônia velha. Contava como  carneava os porcos, até mostrava, com os dedos, a espessura do toicinho. Sua voz era grave como a de um iluminado, parecia que vinha de um outro mundo. Mas pensando bem, ele estava iluminado pela lembrança do que lhe fazia sentir bem. Mas depois quando desespero atacava e sentia o inconveniente de estar vivo, ele ia para o vilarejo beber no bolicho. o Adão tivera o primeiro automovel da região, as benfeitorias denunciavam uma  época de prosperidade, agora tudo decadente.Ele não tinha a pior velhice. Considero a pior velhice aquela que o Ser nem se lembra de ter sido jovem, outrora.  O pobre velho queria se refugiar da correnteza do tempo, na ilha da memória. Eu sei, e todos que não estão alienados sabem que a memória é uma tranqueira aglomerada, que o a correnteza leva junto. O melhor que um homem pode fazer é construir seu observatório da consciência em cima de uma rocha a beira do rio, daí poderá perceber que ele é água e é fluxo e ainda que, ajuda a movimentar o grande rio da existência. Ele talvez não tivesse saudade do tempo que carneava os porcos ele tinha saudade da sensação de liberdade que sentia naquele tempo. Esse recuo nostálgico era de ser livre, depois todas as preocupaçoes competiçoes de adulto  tiraram lhe a liberdade. Estava definhando de sede espiritual. Não sabia ele que podia beber o vento e o sol, contemplar a brandura plácida de um açude que tinha em sua propriedade.

 

Chegou o dia que o velho morreu. Rosto inchado de cirrose,seqüelas dos tombos que levara nas caminhadas até  o bolicho. Tudo quieto no velório. Não saiu elogio fúnebre. Coisa mais hipócrita é um elogio fúnebre. Aquele corpo inanimado iria servir de palco de outras formas de vida, já estava sendo fermentado por essas vidas. Os olhos cerrados. Pupilas vitrificadas refugiadas em si mesmas.

"O que há depois? Depois?....

O azul do céu? um outro mundo?o eterno nada?

Um abismo? um castigo?uma guarida?

Que importa? que importa?. O moribundo!!!

-Seja o que for, será melhor que o mundo."

A mulher que escreveu essa poesia se suicidou.

A morte propriamente dita. Eu penso que  ela não exista, o que existe é vida, usando uma metáfora bem moderna; morte e vida são como os pólos negativo e positivo da energia elétrica. Do contrario que se pensa, uma não é supressão da outra, elas ocorrem simultaneamente. É como a energia que vai para um televisor não a enxergamos, mas sabemos que existe. Nós somos o televisor a morte é atroca de capitulo,  segunda parte. Essa parte depende da primeira, talvez tenha vários capitulo. Talvez...

Mas  a grande pergunta; onde está a grande Usina ou a turbina que gera essa energia. Penso  que negar essa energia já é uma forma de morte que é a letargia da morte em vida. Temores e crendices  mesquinhas e prazeres insignificante provocam a morte da percepção das coisas realmente patentes  e significativas da vida. Sem contar que, muitas vezes, no intuito de se livrar das crendices e preconceitos, o homem cai no fosso do materialismo, fazendo com que a morte lhe represente o fim de tudo: da existência, do ego, da individualidade.


Autor: Romeu Willers


Artigos Relacionados


A Vida De Quem Morre E A Morte De Quem Vive

Para Vencer A Morte

NinguÉm Pode Afirmar

Solidão

O Sétimo Coveiro

Morrer

Se A Morte é Um Processo Natural, Por Que Temos Medo De Morrer?