A elegância do curioso



    Marx acreditava que o motor social era a luta de classes. Bem, se estendermos o conceito de classe a algo maior do que apenas confrontos entre proletário e patrões, pode-se chegar ao ponto de considerar a primavera árabe uma luta de classes. Mas antes que isso torne-se um epílogo da etimologia da palavra classe, dissertemos sobre o ponto em questão:
    Discordo de Karl Marx (sem entrar em questões socialistas/capitalistas), quanto a mim, o que move a sociedade é a curiosidade.
    A curiosidade da criação fez com que todas as sociedades criassem seus mitos para tal; a curiosidade de novas terras trouxe o colonizador às Américas; a curiosidade faz com que se diga: "só uma olhadinha"; a curiosidade nos faz por em risco a vida apenas para satisfaze-la; a curiosidade justifica o "e se..."; a curiosidade permite experimentar; o que é a ciência, se não a curiosidade do fenômeno; a filosofia curiosidade do ser; a religião a curiosidade do pós-vida.
    Em verdade, a curiosidade traz benefícios e malefícios, mas ela é a essência humana. Veja, o homem só é um ser social, mediante a ela, mediante a curiosidade de se conhecer seus semelhantes. Tudo que se faz em prol de se saber o novo, é por meio dela. A própria lógica advém da curiosidade. Peguemos um exemplo, a matemática: atualmente as suas descobertas, que são lógicas, são feitas unicamente para o desenvolvimento da mesma, sem uma aplicação prática direta. Mas isso por que? Simples, porque se tem a curiosidade de se chegar além, dentro dos próprio números.
    Mas e daí?
    Daí que a curiosidade está perdendo sua importância, uma vez que não há mais o que se descobrir dentro deste planeta. Isso pode parecer uma afirmação generalista extrema, contudo que terras, que lugares há para se descobrirem? Mesmo que se desça há mais profunda fossa abissal, cedo ou tarde tudo terá sido descoberto, não que todo conhecimento será revelado, mas a curiosidade do povo como organismo social será saciada.
    E qual a consequência disso?
    A ociosidade. As pessoas não terão mais pelo que sonhar, não haverá aquele lugar mágico em que se sonha conhecer, o El Dourado, o Shangri-la já foram desmitificados.
    Se a solução da crise econômica seria uma guerra, a guerra é fruto da falta da curiosidade, a necessidade bélica se faz pela falta do curioso.
    Então a solução da humanidade é o retorno da curiosidade? Sim.
    O ser humano precisa ter um motivo para buscar, para querer descobrir, para ir além, que lhe faça crer em seus oráculos com suas profecias. Não um motivo que diga diretamente a uma necessidade imposta por uma situação, neste caso é óbvio que se deve buscar uma saída, como a cura para o câncer. Pelo contrário, algo que nos faça ir atrás pelo simples prazer da descoberta, que responda desde a ordinária pergunta infantil do "o que é isso?" a mais contundente questão existencial do "por que?".
    A ela elegante necessidade essencial de ser curioso.


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