Nos tempos da onça.
No início do século passado, a terra aqui na região ainda tinha muita mata fechada e poucos lugares habitados. Para aqueles que se arriscavam a morar em lugares isolados sempre tinha o risco de topar com uma onça pelo caminho. E as pessoas estavam acostumadas com elas, achavam normal. Normal, e justamente por isso já tomavam seus cuidados para que não passassem por problemas com elas. Nunca andavam sozinhos, mas sempre tinha um o outro que se arriscavam.
As mulheres naquele tempo lavavam a roupa em rios e córregos, e uma delas, uma senhora tia da minha mãe se arriscava sozinha a ir lavar roupa nas pedras no rio. Ela tinha apenas um companheiro: o Valente. O Valente era um cachorro enorme, não sei a raça, mas dizem que era muito grande mesmo, mas só tinha tamanho, colocaram o nome de Valente, já porque não botavam muita fé nele, era grande e medroso, meio bobão, quem tem cachorro grande sabe do que eu estou dizendo, geralmente os maiores, daqueles que tem cara de bonachão, são brincalhões e a qualquer ordem baixam os olhos. O Valente era desses. Mas essa senhora não gostava dele, sempre o tratava mal, escorraçara quando ele a seguia para o rio, batia com galho, tacava pedra nele tentando fazer-lo voltar pra casa, mas mesmo assim, ele se escondia e pouco tempo ele aparecia na beira do rio pra fazer companhia. Ele deitava no sol e ficava lá se esquentando e só se levantava quando ela terminava o serviço, e novamente a seguia pra casa.
Numa ocasião, ela estava distraída nos seus afazeres quando o cão deu um urro, ela se virou, viu o cão ainda deitado e a onça em cima do barranco já para ataca-la. O cão rapidamente atacou a onça enquanto ela pulava na mulher. Ela correu enquanto o cão e a onça se enfrentavam e buscou ajuda no casebre aos gritos. O dono da casa ainda conseguiu chegar a tempo e acertou a onça com um tiro de espingarda, matando-a e salvando o cachorro. Ela tratou do cachorro, agora seu salvador, e dai em diante só o tratou com carinho e atenção, diziam que o tratava como um rei depois do ocorrido: rei Valente.
Autor: Márcia Ferreira Marques
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