Os Meandros Da Política



Quase num clichê inenarrável, a cada dois anos me vejo escandalizada com os caminhos políticos que são tomados em nosso país.

Dessa vez em escala menor, sobressalta minha indignação a nível municipal, que após escândalos repercutidos nacionalmente, tem como candidatos ao cargo mor do executivo as velhas e conhecidas hegemonias da região.

As propostas de governo já não são mais formas de se avaliar o candidato, de maneira geral elas funcionam como uma espécie de adereço ao horário político, aliás, cada dia mais insuportavelmente corruptível e tedioso.

Os mesmos candidatos colecionadores de mandatos se mostrando perfeitos administradores, como se a população já não os conhece, bem pelo nome e pelas falhas cometidas no passado ocupando o mesmo cargo; ou novos candidatos, alguns atleticamente preparados pra esse mundo de falcatruas que se tornou a política da cidade; ou ainda, rostos antigos que encaram com a maior naturalidade passos maiores do que as próprias pernas.

Descendo na esfera hierárquica, infere-se repercussão análoga. Ao cargo de vereadores vê-se uma mesma situação armada, os já conhecidos e morosos candidatos só fazem número num patético horário eleitoral, onde as cartas já estão marcadas e bem pagas.

Num plano de fundo redundantemente trágico, ditos candidatos, estão ali somente para fazer número ao show.

Antiqüíssimo esse discurso, já nem se torna tão necessário, a grande esperança que nos resta não está na falha dos candidatos, mas na abertura da mente da população, teimosa em delegar ao acaso ou ao 'tanto faz' sua responsabilidade e direito de se avaliar nas urnas, sendo ou não merecedora de boa administração e reconhecimento.

Deplorável termos tal posição diante de algo tão importante como o poder, o fato é que politicamente, como aliás tantos outros setores de nosso povo, somos defasados.

Não acreditamos nela como parte imprescindível de nossas conquistas, como única impulsionadora da evolução de um povo, e peça chave na concretização de ideologias pagáveis e prósperas.

Aliás, abro um parêntese ratificando a necessidade urgente de educação. Mister bater na única tecla que vale realmente a pena um país lutar e investir.. Porém enquanto a mentalidade e as ações, como um todo, estiverem voltadas a retornos de curto prazo, jamais se verá mudanças.

A questão aqui não é incentivar programas sócio-educacionais eleitoreiros, é uma conscientização em massa da importância de se cultivar a leitura, o raciocínio e a psico-valência de nosso povo desde a infância. É estimular a busca de conhecimento, uma análise epistemológica de si mesmo e valoração o ser humano perante ele próprio.

É fato não ser de interesse dos feudalistas a expansão burguesa, pois a situação culmina na ruína de sua própria subsistência. Analogamente repercuti-se nos tempos atuais a desinteressante excitação intelectual do povo, que viria ser uma ameaça à estrutura político-social edificada ao longo de tantos anos, culminando num controle absoluto sobre a sociedade.

Sem pensamentos próprios somos obrigados a assimilar instituições terceirizadas, daqueles que ilusoriamente nossa psique admite como ideais e socialmente nos sentimos inferiorizados. Numa confusão sócio-juridica nos sentimos coagidos a seguir padrões, seguindo ritos ordinários sem o mínimo entendimento prático de nosso destino.

Ficamos relegados às decisões de pessoas que elegemos, seja pelo voto direito ou pelo simples silêncio nas urnas.

Voltando a questão municipal, particularmente detesto pensar na abdicação do voto. Sinto profundamente ter essa atitude, porém ao mesmo tempo me vejo sem escolha diante das opções oferecidas pelo horário eleitoral. Crueldade estar diante de coalizões tão sortidas e putrefatas. Um jogo de luzes onde o mago da vez se aloja nas intenções ilícitas desses fantoches de um sistema arruinado.

Nulidade do voto ou simples renúncia do direito de se mostrar politicamente. Cruz e espada, uma contundente escolha que só tende a arrastar mais amarguras no cenário.

Solução? Um espectro distante, uma miragem? Talvez a curto prazo sim. A resposta está nas nossas escolhas diárias, na forma como exercemos nossos direitos, como cumprimos nossos deveres. É ser verdadeiramente patriota, carregar com orgulho nosso nome e nossa força.

É entender nossa história saber o que dá certo ou não, é apostar na cultura e colher frutos do próprio suor.


Autor: SUE ELLEN SALES


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