Preconceito



A questão da igualdade é, foi e sempre será uma temática que incita as mais diversas opiniões. Grandes personalidades humanas tentaram defini-la atribuindo-a critérios filosóficos, psicológicos, biológicos, antropológicos, éticos e religiosos sem, contudo, conseguirem chegar a uma definição qua consiga albergar toda estas esferas do conhecimento humano com aceitação unânime das mais diversas sociedades.  

A título de exemplo se pode elencar a questão da Lei 11.340/06 que recebeu o nome de Maria da Penha de 7 de agosto de 2006, em homenagem a farmacêutica Maria da Penha Maia que por mais de duas décadas, sofreu violência doméstica inclusive com tentativa de homicídio em duas tentativas, por parte de seu marido.

A priori se tem a convicção de que justiça foi feita; as mulheres de todo o país, principalmente àquelas que passavam pela mesma situação, se sentiram vingadas. Que a violência doméstica é um total absurdo ninguém tem dúvidas; o que quero pontuar está intimamente conectado á relação com as origens deste ou qualquer outra violência contra a mulher ou qualquer ser humano.

Aonde pode ser encontrado o epicentro do problema? Desde os primórdios da humanidade e em um grande número de povos, se podem observar facilmente os papeis trocados dentro da questão de gênero com uma carga mais valorativa ao viés masculino. Não se quer fazer um estudo antropológico ou social da questão, mais se torna fácil observar que a violência contra a mulher, surge da maneira de como ela é vista dentro de nosso ethos social. È muito mais uma questão de educação do que qualquer outra coisa. O artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 diz claramente que: “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.

Mais claro impossível; leis contra abusos de maridos, companheiros já existem; a mulher não pode ser tratada como um ser especial, aparte da humanidade. Os defensores dirão: o problema é que na prática não funciona; pergunto-vos: sabe por que existe uma grande distância entre a teoria e a prática? É muito simples: a nossa educação esta sedimentada em uma educação medieval, precária, assistencialista, e desconectada com a realidade mundial hodierna. E quando me refiro ao termo educação estou sendo o mais abrangente possível.

Em grande parte de nosso precário país, as filhas ainda são educadas para serem donas de casa e só; são ensinadas por suas mães para serem reprodutoras de papéis de subordinação que estas o foram. Este quadro é mais fácil de observar em famílias mais carentes aonde em alguns casos por mais absurdo que sejam as meninas ainda procuram o marido que possa lhes dar conforto financeiro independente de sentimento; em contrapartida, elas têm que se submeterem em alguns casos, aos desmandos deste marido.

Em outros casos, nas casas dos ricos ou nem tanto, elas têm que aceitar as traições do marido e não podem se rebelar principalmente se forem de lares pobres; alguns homens reproduzem o comportamento violento que aprenderam em suas casas; eles traem porque foram ensinados que o homem pode trair e que só será homem de fato se o fizer; e deve ser lembrado também que violência deve ser vinculada a palavrões e esculachos que algumas têm que ouvir ao se depararem com maridos e companheiros bêbados ou drogados ao chegarem tarde a suas casas, com os já conhecidos: quem manda aqui é eu! Isto aqui é meu! Esta casa é minha!

O que se precisa de fato é mudar a maneira de como a mulher é vista dentro de nossos lares desde a mais tenra idade, educando as nossas crianças a não terem preconceitos e a entenderem de fato, que homens e mulheres são seres humanos iguais e destarte, possuem os mesmos direitos e deveres; que não existe esta coisa de superioridade masculina no lar e de que é o homem que manda e sim o casal, depois de conversarem.

Os filhos precisam observar que será o casal que decidiram juntos o que é mais certo a ser feito. Quando se começa a tratar uma parte da humanidade como mais detentora de direitos do que a outra sem que para isso se encontre algum fator fisiológico ou psicológico em questão, isto é preconceito claro; o que é chamado de discriminação negativa. Temos que balizar por cima e não às avessas.

Se formos criados e educados em ambientes que proporcionem a compreensão de fato, real, que não podemos ser violentos com qualquer pessoa, independente de gênero, classe social, religião, preferência sexual ou ainda de fenótipo, a probabilidade de acontecerem atitudes violentas serão reduzidas. Não quero com isso me posicionar contra esta Lei específica; o que defendo se alberga em esferas mais profundas aonde a conscientização verdadeira com exemplos no cotidiano durante o processo de maturação humana, ainda é a melhor defesa.  


Autor: Alessandro De Azevedo Moreira


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