Ensinar Pela Metodologia De Projetos De Pesquisa



RESUMO

O presente artigo foi elaborado com elementos conceituais e teórico-metodológicos destinados à investigação da natureza do saber-ensinar através da pesquisa focalizando o estudo da competência no ensino. Pedro Demo (1997), em sua obra "Educar pela pesquisa" frisa que o contato professor e aluno somente acontece quando mediado pelo questionamento reconstrutivo que é alimentado pela pesquisa como princípio científico e educativo que se funda na competência advinda do conhecimento inovador. Implica
a mesma matriz a ética da intervenção histórica. Para esse autor, a educação exige a metodologia de pesquisa, pois só um ambiente de sujeitos gesta sujeitos. A metodologia de pesquisa mantém a inovação, e a educação a usa para alicerçar uma história de sujeitos para sujeitos, enquanto o conhecimento oferece a base da consciência crítica constituindo-se em alavanca da intervenção inovadora.

DESENVOLVIMENTO

Sem pretender aqui recuperar uma extensa trajetória de discussão sobre a metodologia de ensino,a tentativa será estabelecer uma relação a respeito dos métodos educacionais e postura docente utilizados hoje.

Pretende-se estudar o professor capcioso que leva o aluno ao erro. Esse profissional acredita que está ativando uma parte do cérebro de seu aluno que não é usada,mas corre-se o risco de que o aluno intrinsecamente entenda que é incapaz de resolver situações tão fáceis, aparentemente. O professor capcioso geralmente usa esse tipo de frase para justificar sua superioridade.Coletou-se algumas frases,segundo experiências que vivenciadas em conselhos de classe: O aluno não aprende o conteúdo da minha disciplina porque não lê direito, não vai bem na prova porque não consegue ler bem os enunciados. O aluno não assume a metalinguagem de minha disciplina porque fala mal. Parece haver um consenso tácito que vê um antes (ensino de estruturas vazias -aluno) e um depois (preenchimento da estrutura com conteúdos-professor).

Desse consenso passa-se facilmente ao gatilho da culpa:a coisa vem lá de baixo, a alfabetização é mal feita. Não raro, a esses disparos se somam outros atavismos: as crianças de hoje não lêem, os alunos não sabem escrever, não dá pra ensinar.

O que não cabe mais na educação é ouvir desculpas de profissionais frustrados ou incapacitados,talvez a forma como está sendo abordada a temática seja pouco eufemista mas a educação precisa de um comprometimento maior, reconstrução, transformação e evolução.

Eu guardo um profundo respeito proposta piagetiana chamada construtivismo. Mas prefiro o termo reconstrutivismo,porque é culturalmente mais plantado. Normalmente, a gente não produz conhecimento totalmente novo, no sentido de uma construção nova. Nós partimos do que já está construído,do que já está disponível, do conhecimento que está aídiante de nós e o refazemos, reelaboramos. Eu penso que o termo econstrução é muito mais realista, só isso.(DEMO,2000,p.58).

De que forma os professores podem despertar a consciência de liberdade nos alunos? Ensiná-los a pensar seus próprios pensamentos? Professores instigados são mais criativos? Há possibilidades dessa instigação inovar o sistema educacional? O professor capcioso percebe-se nesse papel de suprema inteligência? O que são instrumentos metodológicos?Qual o objetivo da educação?Por que não ensina-se ao aluno sensibilidade? Por que esquece-se quase tudo que aprendemos na escola?

Muitos professores vão a Portugal ver a Escola da Ponte, ficam encantados com a metodologia que é de pesquisa mas não a aplicam nas escolas.Por quê?O que aconteceria se o vestibular fosse substituído por sorteio?Será que o método de pesquisa não é bom?Um pesquisador precisa ser alguém diferenciado?Há regras para um bom pesquisador? O colégio que trabalha Metodologia de Projetos de Pesquisa acredita que o processo educacional de ensino-aprendizagem é construído na relação entre sujeitos pensantes,construtores e construção da história.

O ser humano é um sujeito Histórico, Cultural, Social, Dialético e Ativo .Portanto,a produção do seu conhecimento se dá através de um Processo Integrado,Interdisciplinar e Interativo. A problemática está justamente em convencer educadores e pais da importância dessa metodologia.As pessoas não estão preparadas para algo que é tão antigo mas ao mesmo tempo tão inovador.

Está ocorrendo uma mudança mas ainda fala-se de educação como falava-se antigamente e o pior é que considerando quase mais ou menos a mesma coisa.

Quando desenvolve-se a metodologia de pesquisa há uma inteiração na educação. É muito óbvio que esse método é mais trabalhoso. O profissional precisa estar preparado,mas é encantador .

O sucesso como pesquisador está vinculado, cada vez mais, a sua capacidade de captar recursos, enredar pessoas para trabalhar em sua equipe e fazer alianças que proporcionem a tecnologia e os equipamentos necessários para o desenvolvimento de sua pesquisa. Quanto maior for o seu prestígio e reconhecimento, obtido pelas suas publicações, maior será o seu poder de persuasão e sedução no processo de fazer aliados.

Hoje o drama dos educadores é passar a vida a defender certas ideais,certas teses,certas inovações e,de repente,ser obrigado a dizer, não é bem isso que eu queria dizer.Esse é o drama de quem não quer fechar o pensamento de forma ortodoxa.Pelo contrário, querem que o pensamento esteja comprometido com uma postura social e política.

Para continuar pensante e inovador é necessário ser pesquisador. Um bom pesquisador precisa, além do conhecimento do assunto, ter curiosidade, criatividade, integridade intelectual sensibilidade social.São igualmente importantes a humildade para ter atitude autocorretiva, a imaginação disciplinada, perseverança, paciência e a confiança na experiência.(GIL,1999,p.128).

Esse professor pesquisador precisa mudar radicalmente sua prática docente. Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo,trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-os. (PERRENOUD,1998,p.98).

Para trabalhar na metodologia por pesquisa e precisa-se aprender muito mas entende-se que é importante que os questionamentos sejam significativos. Devem-se estabelecer pontes com a realidade e os conhecimentos e práticas dos envolvidos, encadeando-se na linguagem dos participantes. Nisso assume papel central a fala e o diálogo crítico de todos os envolvidos.

Primeiro, é preciso distinguir a pesquisa como princípio científico e a pesquisa como princípio educativo. Nós estamos trabalhando a pesquisa principalmente como pedagogia, como modo de educar, e não apenas como construção técnica do conhecimento. Bem, se nós aceitamos isso, então a pesquisa indica a necessidade educação ser questionadora, doemancipa através de sua consciência crítica e da capacidade defazer propostas próprias.(DEMO)

O problematizar está intimamente associado à argumentação e construção de novas hipóteses,capazes de substituírem os conhecimentos e práticas questionadas. A clareza das perguntas levantadas só vem com as respostas no processo construtivo e reiterativo que se completa no final de uma pesquisa.

O educar pela pesquisa necessita ter qualidade formal.Significa que necessitam serem fundamentados teórica e empiricamente,exigindo,além disto, formulação e envolvimento pessoal dos sujeitos questionadores.(DEMO,2000)

Ao contrário do que dão a entender a maioria dos livros de metodologia, o conhecimento científico não é algo pronto e acabado, indiscutível. Na verdade, o século XX foi palco de uma apaixonada discussão sobre o que é ciência, quais são suas características e sua relação com os outros tipos de conhecimento. Os pensadores que exploraram o tema discordam entre si e há até aqueles que defendem que um método científico é impossível. Outros têm denunciado a ideologia por trás do método científico, tais comoEdgar Morin e Hebert Marcuse, que acusam a ciência e a tecnologia de promoverem a transformação do homem em coisa e a compartimentação do saber.

Outros apresentam propostas que discordam completamente do que a maioria entende por ciência. Para esses pensadores, a única metodologia possível dentro da ciência é a observação participante.

O que é pesquisa?

Esta pergunta pode ser respondida de muitas formas.

Pesquisar significa, de forma bem simples, procurar respostas para indagações propostas. Minayo (1993, p.23), vendo por um prisma mais filosófico, considera a pesquisa como atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.

Demo (1996, p.34) insere a pesquisa como atividade cotidiana considerando-a como uma atitude, um questionamento sistemático crítico e criativo, mais a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em sentido teórico e prático.

Pesquisa é um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para um problema, que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem um problema e não se tem informações para solucioná-lo.

Para Gil (1999, p.42), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.

Pesquisa é o mesmo que busca ou procura. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma coisa. Em se tratando de Ciência a pesquisa é a busca de solução a um problema que o alguém queira saber a resposta. Não gosta-se de dizer que se faz ciência, mas que se produz ciência através de uma pesquisa. Pesquisa é portanto o caminho para se chegar à ciência, ao conhecimento.

É na pesquisa que utilizam-se diferentes instrumentos para se chegar a uma resposta mais precisa. O instrumento ideal deverá ser estipulado pelo pesquisador para se atingir os resultados ideais. Num exemplo grosseiro não poderia-se procurar um tesouro numa praia cavando um buraco com uma picareta; precisaria-se de uma pá. Da mesma forma que não poderia-se fazer um buraco no cimento com uma pá; precisaria-se de uma picareta. Por isso a importância de se definir o tipo de pesquisa e da escolha do instrumental ideal a ser utilizado.

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema pode ser:

Pesquisa Quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.).

Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científicos. Uma pesquisa terá resultados mais confiáveis se for conduzida utilizando-se conceitos, métodos e procedimentos bem definidos.

A Metodologia Científica procura colocar à disposição o instrumental científico metodológico básico para a iniciação na atividade de pesquisa.

Metodologia da Pesquisa é um conjunto de procedimentos aplicados para que se tenha uma investigação disciplinada das relações entre as variáveis de um problema. Cada tipo de pesquisa possui, além do núcleo comum de procedimentos, suas peculiaridades próprias.

Os procedimentos utilizados para os processos de aprender e ensinar constituem-se numa prática pedagógica denominada de projetos de pesquisa.

A aula que apenas repassa conhecimento ou a escola que somente se define socializadora do conhecimento, não sai do ponto de partida e,na prática,atrapalha o aluno,porque o deixa como objeto de ensino e instrução.É equívoco fantástico imaginar que o contato pedagógico se estabeleça em ambiente de repasse e cópia, ou na relação aviltada de um sujeito copiado(professor) diante de um sujeito apenas receptivo(aluno),condenado a escutar aulas,tomas notas,decorar e fazer provas.(Demo,2000,p.7)

De acordo com a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (1991,p.11)apesar das discussões,estudos e avanços pó que tem passado a educação brasileira nos últimos anos,ainda hoje deparamos com um ensino voltado para uma pedagogia que atende os anseios dos segmentos majoritários da sociedade e sim a um processo de seletividade e excludência deste mesmo segmento,privilegiando os segmentos minoritários.a não superação deste quadro significa permanecer a educação formal como repassadora de um conjunto de saberes prontos e acabados, o que vem a negar a educação como processo dinâmico.

Por acreditar que aprender e ensinar são processos dinâmicos ativos e interativos que implantou-se a prática de ensino via projetos de pesquisa, pois ensinar não é transferir conhecimentos,mas criar possibilidades para a sua produção(Paulo Freire,2002,p.25).

Acredita-se que com esse trabalho a relação professor X aluno torna-se uma relação entre pesquisadores do saber,e que ambos,são autores de processos de aprender e ensinar,são autônomos na relação e trabalham para produzir conhecimentos.

 Segundo Freire(2002 p.25 e 26).Não há docência sem discência,as duas se explicam e seus sujeitos,apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem a condição de objeto,um do outro.Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Ensinar inexiste sem aprender e vice e versa e foi aprendendo socialmente que,historicamente,mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.

O social é outro elemento relevante,pois com a prática de projetos de pesquisa,  o professor necessariamente,precisa criticar e recusar o ensino bancário(Freire,1995) que deforma a necessária criatividade do educando e também do educador.Portanto se faz urgente estabelecer outras relações fora dela ou com ela,produzir relações sociais com outros sujeitos,com outros conhecimentos,outras histórias,outras culturas e produzir outros conhecimentos significativos para a sua sociedade.

Este salto teve a colaboração efetiva de Vygotsky,pois este atribui grande importância ao papel das interações sociais no desenvolvimento do ser humano.

Na prática de pesquisa o aluno é importante,mas o professor e os outros são fundamentais para a concretização dos processos de aprender e ensinar.

Os projetos de pesquisa são elaborados em comunhão entre professor e alunos e devem ter os seguintes elementos:

1-Conteúdos Os conteúdos são os da Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, pelo MEC,PCNS e SAEM. A adoção desse conteúdo é decorrente da preparação desses alunos para o vestibular,pois é uma realidade presente no cotidiano deles. Esses conteúdos são entregues ao professor que os seleciona por bimestre.Além desses conteúdos pré-estabelecidos os professores e os alunos podem acrescentar outros de acordo com a sua realidade.

2-Problematização no cotidiano- sabendo os conteúdos a serem trabalhados, cada professor,com a participação do aluno,formula o máximo de questões-problemas relacionados ao cotidiano do aluno.Todos os conteúdos devem ser problematizados.Quanto mais questões forem formuladas,mais material e instrumentos o professor vai ter em sala de aula,  pois na verdade as aulas serão ministradas com base nessas problematizações.De modo que o aluno irá iniciar um conteúdo sempre com o seu cotidiano,algo que ele sabe,para me seguida,apropriar-se do conteúdo científico.Dessa maneira cada conteúdo será problematizado e terá ligação com o cotidiano.

3-Tema de Pesquisa- com os conteúdos e problematizações formulados,o professor conjuntamente com o aluno define o tema a ser pesquisado.O tema necessariamente tem ligação com a problematização e o conteúdo.O tema deve ser abrangente,curioso,desafiador e estimulante para que os alunos possam se sentir desafiados à investigação e produção de conhecimento.Às vezes o tema pode ser a própria questão-problema.Ele deve ser debatido à exaustão de modo que o aluno se sinta provocado a produzir mais.

4-Objetivos- São os objetivos que os alunos têm com a realização da pesquisa.Tais objetivos são importantes para uma análise avaliativa do processo,ou seja, para que no final da pesquisa, professor e a aluno avaliem se cumpriram ou não os objetivos.

5-Metodologia são os procedimentos adotados para a produção da pesquisa.Passo a passo o aluno deve organizar seu projeto pensando em todos os detalhes que irá necessitar para a realização da mesma.A metodologia é produzida também na relação professor e alunos.Na metodologia a aluno deve incluir um cronograma,pois o tempo é algo complicado nesse trabalho visto que as pesquisas são realizadas bimestralmente,Na metodologia também o aluno deverá organizar os recursos que utilizará,as formas de intervenção,os ambientes que observará e coletará os dados,enfim todas as atividades que desenvolverá para a produção da pesquisa.

6-Fontes de investigação- Essa é a parte do projeto onde professores e alunos deverão identificar as fontes de investigação/ produção de pesquisa.As fontes podem ser bibliográficas(livros,  revistas,gibis,documentos)que devem ser especificados com nome do autor(es),edição,número para que o aluno esteja tranqüilo na hora da produção:Internet,pessoas,museus,instituições,praças, natureza, enfim,o mundo é uma fonte inesgotável de saber e esse deve ser o caminho dos alunos e professores para o processo aprender e ensinar.

7-Intervenção social-A intervenção social é o desenvolvimento de uma ação prática que contribua para a melhoria da sociedade em geral.

Os resultados da pesquisa devem ser entregues em forma de um produto final que pode ser uma pesquisa escrita (manual ou digitado) contendo introdução,desenvolvimento, conclusão,bibliografia e anexos ou artigos:murais,jornais,enfim, a forma pode variar desde que os conteúdos,  resultados da pesquisa sejam apresentados.Todo o trabalho prioriza as inter-relações,portanto a pesquisa deve ser produzida em grupo,porém  respeitando a individualidade e a escolha dos alunos quanto ao modo de produção.

A pesquisa passa por procedimentos de evolução,crescimento ,investigação, mas hoje, o modelo informativo é modelo hegemônico da formação (MHF) que é um treinamento de habilidade, conteúdo descontextualizado da realidade profissional distância do objeto da profissão, onde as tendências racionalistas da formação academicista tradicional estão presentes.

Deseja-se um modelo emergente da formação (MEF) onde há um professor reflexivo, investigador, crítico, a ferramenta para o desenvolvimento profissional.

Precisa-se evitar o círculo vicioso mudar para não mudar e continuar com as velhas práticas representadas por novos discursos que mascaram as inovações e favorecem a continuidade dos processos formativos tradicionais.

O tempo urge e pede uma prática voltada à pesquisa. Na verdade você, estando em atividade de pesquisa participa de um processo permanente de transações e mediações comunicativas.

A discussão em torno da pesquisa ganhou hoje dimensões mais amplas e centrais. De uma parte, pesquisa continua significando o caminho para reconstruir conhecimento com mão própria. Erradamente, a universidade imagina que este desafio começa apenas no mestrado, quando o estudante é levado a produzir textos próprios, sobretudo uma tese. As teorias que marcam o caráter reconstrutivo do conhecimento, na esteira de Piaget (Becker, 2001), afirmam que reconstruir conhecimento é atividade humana comum, ocorrendo desde que a criança começa a duvidar, perguntar, querer saber, se confrontar. De outra parte, pesquisa é vista como estratégia pedagógica, para motivar o surgimento do saber pensar, da habilidade de questionar, já em nome sobretudo da formação da cidadania. Neste sentido, pesquisa deveria ser o ambiente da aprendizagem. Poderia ser definida minimamente como
questionamento reconstrutivo, colocando em jogo dois desafios: questionar (argumentar é, a rigor, questionar) e reconstruir (intervir de modo alternativo). Na universidade esta perspectiva pode ser facilmente observada nos programas que concedem bolsa para estudantes pesquisarem sob orientação dos professores. Já é voz corrente que tais estudantes realmente têm oportunidade de aprender e de se formar, enquanto os outros, que apenas escutam aulas, permanecem na vala comum. Os sucessores futuros dos atuais professores provêm naturalmente das fileiras desses estudantes pesquisadores.

No estudante, nem sempre se trata de forjar o pesquisador profissional. O caso mais comum é o profissional pesquisar, a saber, aquele que sabe lidar com pesquisa, seja para renovar permanentemente a profissão, seja para reconstruir conhecimento inovador, seja para manter-se contemporâneo dos processos inovadores na economia e na sociedade, seja para pratica a interdisciplinaridade e dar conta das complexidades, e assim por diante. Neste sentido, é mister reconhecer que pesquisa não pode ser apenas parte do curso, mas o ambiente do curso, vivificando-o do primeiro ao último semestre. O estudante que deslancha é aquele que pesquisa, além de ser provavelmente o futuro professor (Calazans, 1999)

Não se trata de fazer de cada estudante um pesquisador profissional, mas um profissional pesquisador, quer dizer, que sabe manejar as virtudes metodológicas e sobretudo pedagógicas da pesquisa. Para renovar adequadamente os reptos profissionais num mercado escorregadio e submetido a processos violentos e geralmente muito dúbios de inovação, é fundamental saber reconstruir a proposta profissional. Os conteúdos se consomem no tempo, enquanto a habilidade de saber pensar necessita manter-se viva, mais que nunca. Se não sabe pesquisar, não sabe questionar.

REFERÊNCIAS

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THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa - ação. 2. ed.
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Autor: Marcia Silva


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