Notebook de Xangai China: O gás de Putin muda os acordos geo-políticos



por Alberto Forchielli*

Não faltaram os habituais aspetos comerciais na visita que Vladimir Putin fez a Pequim. A sigla foi um propósito conjunto com o Presidente Hu Jin Tao sobre os acordos para uma variedade de setores: segurança, energia, promoção do turismo, aviação comercial, helicópteros. Foi dado seguimento à criação de um fundo de quatro biliões de dólares direcionado inicialmente para a madeira, a logística, as infraestruturas. A assinatura do acordo foi inevitável, corolário frutuoso para uma delegação russa que contava até com os seus ministros e os presidentes da Gazprom, Rosneft e Tansneft, empresas ativas na extração e no transporte de combustíveis. Tudo deixa prever que esteja eminente o acordo sobre o fornecimento de gás entre os países que têm mais reservas e os que têm maior consumo de energia no mundo. A longo prazo, sobretudo pela disputa sobre o preço, a sua conclusão é provávelmente agora só uma questão do acerto de alguns detalhes. As suas repercurções parecem evidentes e invadem o campo da geo-estratégia.
A visita cimentou também outras relações favoráveis entre os países. O intercâmbio comercial duplicou nos dois últimos anos e a Russia é agora a décima fornecedora da China. O fluxo é dominado pelos produtos energéticos e das matérias primas dos quais a Sibéria é rica. No que diz respeito ao investimento chinês é dirigido para um nord container de mercadorias, sobretudo de bens de consumo. As duas economias aparecem-nos como complementares e não concorrentes. Esta base de partnership estende-se a àreas mais delicadas e insidiosas. Entretanto prosseguem as manobras navais conjuntas. Depois de seis dias de exercícios no Mar Amarelo no passado mês de Abril, foram estabelecidos novos acordos, que compreedem as operações contra as incursões de submarinos e a pirataria marítima. Nas palavras de Putin revela-se a importância da partnership: “ Somos a favor da criação de uma arquitetura comum para a cooperação na região, baseada nos princípios do direito internacional”.
Tudo isto surge contemporaneamente da iniciativa americana no Pacífico. A Casa Branca, através do Ministro da Defesa Leon Panetta, declarou que até 2020 a maioria dos navios de guerra americanos estarão no Pacífico (entre 50 a 60% do total da frota), enquanto que no plano mais estritamente político Washington está a promover a Trans-Pacific Partnership que suscitou reações de preocupação de Pequim e Moscovo. No teatro asiático as alianças seguem portanto um percurso marcado pelo pragmatismo.
A nova amizade entre a China e a Russia – que os analistas avaliam ao nível mais alto dos últimos decénios – é indubitavelmente mais forte que no passado. Há algumas décadas atrás quando a uniformização ideológica parecia inoxidável, as tensões eram explosivas, prestes a redundar numa guerra aberta. Agora os interesses prevalecem, mas baseiam-se em conveniências táticas. Não será eterna porque não se trata de ideais comuns. A longa fronteira que divide os dois países envolve demasiados interesses para dizer-se pacificada, dois estados fortes e autoritários consideram a amizade instrumental e por isto é transitória. Por enquanto prevalece o intercâmbio de mercado, um tráfico que ainda não esconde a presença dos contrastes não mencionados, por agora, nos comunicados oficiais.

*Presidente de Osservatorio Asia

11 de Junho de 2012


Autor: Osservatorio Asia


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