Inercia
Nasci não sei por quê ?
Vim pra esse mundo a revelia.
Durante o tempo que eu não era
Onde o meu ser ainda não havia sido
Foi um tempo de ausência sim
Sem marcas nem feitos, porem passivo
Se eu estava n’algum lugar?
Evidente! A procura de algum plasma seminal
Só poderia estar, pois sei, não ter vindo do nada
Meu gene vinha caminhando por entre gerações
Na fleuma do inconcusso, eu sei que estava
Letárgico sobre interino leito, além dos limites mundanos
Sem que nada danoso me chegasse
Ausente de um sociedade sem regras instável
Por vezes Imprudente, refém dos incômodos
Via-me incólume no curso do acaso
Longe de bravatas, herdeiro da calmaria
Sem forma sim! Porem eximido de seus males
Nada sabia dessa adversa vida
A dor da tristeza, nem o infortúnio da miséria
Isso sem falar da infelicidade macerada
Do desamor e da injustiça dentre os homens
Da incompreensão e do apego material
Eu nasci pra quê? Pra ver toda essa desumanidade?
Pra observar filhos matando os pais?
Mães sendo jogadas nas ruas por filhos?
Para ver Deus sendo rogada em vão
Vitima de blasfêmias sádicas?
Para testemunhar essa desigualdade desmesurada?
Pra ver o homem sevo saciar sua sanha?
Para assistir desfile de farroupas?
Em agonia, abarrotando as ruas?
Para ver crianças dormindo amontoados?
Sob marquises sujas e frias?
Não!.. Eu não devia ter nascido!
Envergonho-me da minha impotência
De minha languidez, minha falta de coragem
Em caminhar entre os indigentes
De não querer abraçar meu irmão como igual
De não conseguir estender-lhe as mãos
Com medo de enodoar as minhas
Pra que eu nasci?
Pra ficar parado olhando a vida passar sem prestes?
Pra lisonjear-me das benesses que usufruo?
Pra me ver melhor, especializado no não?
Pra me isolar dos problemas que me rodeiam?
Não! Eu não devia ter nascido mesmo!
Eu devia ter ficado na placidez do acaso
Onde esses problemas jamais me abordariam
Onde a vida não anda, empaca na renúncia
Sim, lá é onde eu deveria permanecer
No abrigo dos inermes, passivo, ausente
No conforto da inércia, e do descaso
Ali sim, é o lugar por onde transitam os medrosos
Apesar de ser a mesma estrada dos próceres
Prócere eu? Eu sou mesmo um TIMORATO.
Um COVARDE sem rumo, sem causa...
Por: Francisco Sobreira
Autor: Francisco Sobreira
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