Uma Ópera de Wagner



Resumo : Ete artigo fala da cassação de José Dirceu.  Bloguei-o  pela primeira vez em 01.12.2005. Trago-o agora para cá com a intenção de sentir como se comporta às vésperas do julgamento final do “mensalão’. 

Uma ópera de Wagner 

O mandato de deputado federal do senhor José Dirceu foi cassado no dia trinta de novembro último.

Azar de quem o cassou ou ajudou a cassá-lo, porquanto, se o escândalo é necessário, ai daqueles que o causam.

 Assim se resume a avaliação do episódio, segundo o ponto de vista do senhor José Dirceu que, sobre tal entendimento, esbanjou triunfo e reivindicou para si um luzido posto no martirológio republicano.

 Como a cassação decorreu do parecer de uma comissão de ética e dos votos majoritários da Câmara dos Deputados, ou seja, decorreu ao amparo da ordem democrática, azar da democracia, azar da ética dos comissionados.  Azar, enfim, do povo a quem a Comissão de Ética e os Senhores Deputados representam.

Embora a noção de escândalo neste país venha perdendo o caráter de afronta universal aos princípios da moralidade, em proveito de bate-bocas e de certos flagrantes sexuais, o episódio da cassação do senhor José Dirceu revela a pulsação  de alguns valores da  identidade nacional.

Isto quer dizer que ainda vicejam neste país as pré-condições necessárias à eclosão de escândalos genuínos. E isto, convenhamos, é muito bom.

Com efeito, o episódio da cassação revela, de plano,  a existência de dois escândalos: um escândalo moral, consubstanciado no parecer da Comissão de Ética, e um escândalo verbal, consubstanciado na auto-defesa do senhor José Dirceu, esta elaborada a partir do parecer da Comissão.

O escândalo moral, como não podia deixar de ser, lida com dados catalogados historicamente e julgados afrontosos aos valores constituídos.

O escândalo verbal trabalha em outro plano, na medida em que começa onde o outro terminou.

Enquanto o parecer da Comissão fala de temas afrontosos, a auto-defesa fala da fala da Comissão. A fala do parecer é uma linguagem, a fala da auto-defesa é uma metalinguagem.

Ora, a metalinguagem é o regaço dos mitos artificiais, que não escondem o dado histórico, mas o deportam ao mundo da “naturalidade”.

 Fiel à própria origem ética, e à exemplaridade dos seus fundamentos, o parecer da Comissão gerou frutos históricos soberanos, imediatos.

Jungida a variáveis contingentes, dependente do humor volúvel da opinião pública, a auto-defesa poderá prosperar historicamente, ou não.

Prosperará com certeza se depender da opinião do Presidente Lula, que já se manifestou a favor do seu companheiro José Dirceu e, consequentemente, contra o mérito da decisão soberana da autoridade democraticamente constituída.

O posicionamento presidencial me chega com a pompa de um banquete cartesiano. Mas diante de tanta evidência lógica, que escancara a incoerência do Presidente, a minha inteligência titubeia.

Como entender que o Presidente Lula, o paladino carismático da democracia, acate uma decisão democrática, mas não lhe reconheça o mérito? Como entender isso sem violentar o raciocínio fundamental da coerência de princípios que se espera de Sua Excelência?  

Deve haver uma explicação curial, talvez formulada em outra estruturação, talvez literária, talvez  mitológica, talvez simplesmente poética.

Manuel Bandeira, para facilitar ao homem que vomitava os pulmões a compreensão da própria hemoptise  recomendou tocar um tango argentino.

Para compreender o humor do Presidente Lula, recomendo a mediação de uma ópera de Wagner, que via no mito “a poesia das profundas concepções da vida”.

O alvitre pode não ser uma rima, mas é a solução que nos poupará a todos nós dos ruídos da história e  de outros escândalos acaso ali sotopostos.


Autor: Osorio De Vasconcellos


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