Assistência de enfermagem ao paciente portador de câncer de mama: estudo de caso



 

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE PORTADOR DE CÂNCER DE MAMA: ESTUDO DE CASO

 

 

 

LEONARDO DE SOUZA FROSSARD

 

 

                                                       

 

RESUMO

 

O presente estudo tem como objetivo geral descrever a patologia do Câncer e mais especificamente do Câncer de Mama, que foi evidenciado em uma paciente internada no hospital Maria José Baeta Reis – ASCOMCER – (cenário de nosso primeiro campo de pratica da disciplina Saúde do Adulto e do Idoso I). Foram destacadas suas causas, seus sintomas e suas possibilidades de tratamento. Utilizou-se para este instrumento de coleta de dados, proposta pela disciplina supracitada, o desenvolvimento de um plano assistencial elaborado a partir do levantamento dos diagnósticos de enfermagem pelo NANDA (2007-2008).

Palavras chave: Câncer, Câncer de Mama, Prevenção, Assistência de Enfermagem.

 

 

ABSTRACT

 

This study aims to describe the general pathology of cancer and specifically breast cancer, which was shown in a patient hospitalized in the hospital Baeta José Maria Reis - ASCOMCER - (scene of our first field of practicing the discipline of Health and Adult Aging I). Were highlighted its causes, its symptoms and its potential for treatment. Used for this data collection instrument, proposed by the above discipline, the development of a care plan developed from the survey of the nursing diagnoses by NANDA (2007-2008).

Keywords: Cancer, Breast Cancer, Prevention, Care Nursing.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

O número de casos de câncer tem aumentado de maneira abundante em todo o mundo, principalmente a partir do século passado, despontando-se, na atualidade, como um dos mais importantes problemas de saúde pública mundial em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano, abancando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo. Apesar das maiores taxas de incidência de câncer sejam encontradas em países desenvolvidos, dos dez milhões de casos novos anuais de câncer, cinco milhões e meio são diagnosticados nos países em desenvolvimento (Susser, 1998)

O câncer de mama é a principal neoplasia maligna que acomete o sexo feminino no Brasil, proporcionando taxa bruta de incidência estimada, para 2003, de 46,35 casos por 100 mil mulheres. Entre os Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul, é um dos que apresenta maiores taxas de incidência de câncer de mama em mulheres (52,2 casos por 100 mil mulheres em 2003). Taxas de incidência maiores são encontradas no Rio de Janeiro (103,89), São Paulo (78,69) e Distrito Federal (53,15). (BRASIL, 2002)

Essa patologia vem alcançando progressivamente um número maior de mulheres, em faixas etárias mais baixas, e com taxa de mortalidade também crescente no País. Entre 1979 e 1999, houve aumento de 69% na taxa bruta de mortalidade por câncer de mama no Brasil (5,77 para 9,75 óbitos por 100 mil mulheres/ano). Sendo assim, foi apreciada a principal neoplasia maligna feminina também em mortalidade, com taxa bruta de mortalidade estimada, para 2003, de 10,40 óbitos por 100 mil mulheres. De forma idêntica, entre 1980 e 2000, houve aumento de 60% na taxa bruta de mortalidade por câncer de mama no Rio Grande do Sul (10,5 para 16,5 óbitos por 100 mil mulheres/ano) (BRASIL, 2002).

Em razão disso, o câncer de mama é hoje uma doença de extrema importância para saúde pública em nível mundial, motivando ampla discussão em torno de medidas que promovam o seu diagnóstico precoce e, conseqüentemente, a redução em sua morbidade e mortalidade.

 

 

 

 

 

1-      CÂNCER OU NEUPLÁSIA MALIGNA

 

1.1   – Definição

 

O termo neoplasia é grego e refere-se a novo crescimento. Na literatura médica da Grécia antiga, encontram-se várias referências a tumores. Hipócrates criou os termos karkinos (para as úlceras neoplásicas não-cicatrizante) e karkinõma (para tumores malignos sólidos). Ambos os termos derivam do termo karkinos, que significa “caranguejo”. O termo “câncer” apareceu bem mais tarde, derivado da palavra latina cancrum, que também significa “caranguejo”. Os tumores cancerígenos têm esse nome por conta das veias que ficam largas e parecem patas de um caranguejo. Os vários tipos de neoplasia maligna são classificados de acordo com o tipo de célula de origem e a morfologia microscópica. (BRASIL, 2009)

Neoplasia Maligna é o nome dado a um conjunto de mais de cem doenças que tem em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo (BRASIL, 2009).

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acumulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas, disseminando para outros locais distantes do organismo (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

Estas propriedades malignas do câncer o diferenciam dos tumores benignos, que são auto-limitados em seu crescimento e não invadem tecidos adjacentes (embora alguns tumores benignos sejam capazes de se tornarem malignos). O câncer pode afetar pessoas de todas as idades, mas o risco para a maioria dos tipos de câncer aumenta com o acréscimo da idade. (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Outras características que diferencias os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes. (BRASIL,  2009).

 

1.2   – Fatores de Risco

Refere-se à probabilidade de um evento indesejado ocorrer, o termo é utilizado para definir a probabilidade de que os indivíduos têm certa doença, mas expostos a determinados fatores, adquiram esta moléstia. – (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

Os fatores que se associam ao aumento do risco de se contrair uma doença são chamados fatores de risco, como por exemplo, o tipo de alimentação, exposição a radiações ionizantes, radiação solar, tabagismo. Um fator de risco é o ambiental ocupacional (indústrias químicas e afins) a ambiente de consumo (alimentos e medicamentos), o ambiente social (estilo de vida). As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os "hábitos" e o "estilo de vida” adotado pelas pessoas, podem determinar diferentes tipos de câncer. São raros os casos de cânceres que se devem exclusivamente a fatores hereditários, familiares e étnicos, apesar de o fator genético exercer um importante papel à oncogênese. (BRASIL, 2009)

 

1.3   – Sinais e Sintomas

 

Os sinais e sintomas de um acometimento por câncer são causados, na maioria das vezes, pelo comprometimento do órgão ou estrutura que esta sendo acometido. (BRASIL, 2009)

 

1.4 – Epidemiologia

 

A maioria dos cânceres ocorre em pessoas com mais de 65 anos de idade, no geral a incidência do câncer é mais elevada nos homens que nas mulheres, bem como em regiões e países mais industrializados. (BRASIL, 2009)

 

1.5 – Fisiopatologia

 

O Câncer é um processo patológico que começa quando uma células anormal é transformada por mutação genética do DNA celular. Essa célula anormal forma um clone e começa a se proliferar de maneira anormal, ignorando os sinais de regulação do crescimento no ambiente que circunda a célula. (BRASIL, 2009)

 

1.6 – Tratamento

 

As opções de tratamento oferecidas aos pacientes com câncer devem ser baseadas em metas realizadas e atingíveis para cada tipo especifico de câncer. Múltiplas modalidades são comente utilizadas no tratamento do câncer. Diversas terapias, inclusive a cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia com modificador da resposta biológica, podem ser utilizadas em diversos momentos durante todo o tratamento. (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

A remoção cirúrgica de todo câncer permanece como o método de tratamento ideal e mais frequentemente utilizado. No entanto, a abordagem cirúrgica especifica pode varias por inúmeros motivos. (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

Na radioterapia, a radiação ionizante é empregada para interromper o crescimento celular, mais da metade dos pacientes com câncer recebem uma forma de radioterapia em algum momento durante o tratamento. A radioterapia também pode ser utilizada para controlar a doença maligna quando um tumor não pode ser removido por meio cirúrgico ou quando a metástase nodal esta presente, ou ainda, pode ser usada profilaticamente para evitar a infiltração leucêmica do cérebro ou da medula espinhal. A toxidade da radioterapia esta localizada na região onde esta sendo irradiada. A toxidade pode ser aumentada quando a quimioterapia concomitante é administrada. As reações locais agudas acontecem quando as células normais na área de tratamento também são destruídas e a morte celular excede a regeneração celular. (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

Na quimioterapia, os agentes antineoplásicos são usados na tentativa de destruir as células tumorais ao interferir como as funções celulares e a reprodução. A quimioterapia é usada principalmente para tratar a doença sistêmica em lugar de lesão que não são localizadas e combinadas a cirurgia ou a radioterapia, ou a ambas, para diminuir o tamanho do tumor no período pré-operatório, ou para tratar algumas formas de leucemia. A toxidade associada à quimioterapia pode ser aguda ou crônica, as células com velocidade de crescimento rápido são muito susceptíveis a lesão, podendo vários sistemas corporais ser afetados. (BRUNER E SUDDARTH, 2006).

 

2 – CÂNCER DE MAMA

 

2.1 – Definição

O câncer de mama ocorre quando as células deste órgão passam a se dividir e se reproduzir muito rápido e de forma desordenada. A maioria dos cânceres de mama acomete as células dos ductos das mamas. Por isso, o câncer de mama mais comum se chama Carcinoma Ductal. Ele pode ser in situ, quando não passa das primeiras camadas de célula destes ductos, ou invasor, quando invade os tecidos em volta. Os cânceres que começam nos lóbulos da mama são chamados de Carcinoma Lobular e são menos comuns que o primeiro. Este tipo de câncer muito freqüentemente acomete as duas mamas. O Carcinoma Inflamatório de mama é um câncer mais raro e normalmente se apresenta de forma agressiva, comprometendo toda a mama, deixando-a hiperemiada, edemaciada e com temperatura elevada em relação ao restante do corpo. (BRASIL, 2006)

2.2 – Ações de Detecção precoce

 

Segundo os Parâmetros Técnicos para Programação de Ações de Detecção Precoce do Câncer de Mama (BRASIL, 2006) é recomendado para o rastreamento de mulheres assintomáticas:

-                Exame Clínico das Mamas: para todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, com periodicidade anual.

-                Mamografia: para mulheres com idade entre 50 e 69 anos de idade, com intervalo de 2 anos a cada exame.

-                Exame Clínico das Mamas e Mamografia Anual: para mulheres acima dos 35 anos de idade e pertencente a qualquer grupo de risco de desenvolvendo do câncer.

 

2.3 – Fatores de Risco

 

São consideradas mulheres com risco elevado para desenvolvimento do câncer de mama: Mulheres com história familiar de, pelo menos, um parente de primeiro grau (mãe, Irma ou filha) com diagnostico de câncer de mama uni ou bilateral ou de ovário, em qualquer faixa etária; Mulheres com historia familiar de câncer masculino; Mulheres com diagnostico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ. É recomendação que alguns fatores de risco, especialmente a obesidade e o tabagismo, sejam alvo de ações visando à promoção à saúde e a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, em geral. (BRASIL, 2004)

 

2. 4 - Sinais e Sintomas

 

Em relação aos pacientes com câncer de mama avançado, os sintomas de maior freqüência, ressaltando que os demais não devem ser esquecidos, são:

- Astenia: Sintoma mais comum em pacientes com câncer avançado. Seu manejo se dá através do tratamento das causas reversíveis (anemia, infecção, distúrbio hidroeletrolítico, entre outros) e auxílio no estabelecimento de prioridades.

- Síndrome anorexia/caquexia: É o segundo sintoma mais comum em cuidados paliativos, ocorrendo em 65-85% dos casos. Seu manejo tem como objetivo a manutenção da integridade física e não a melhora do estado nutricional do paciente.

- Lesões tumorais de pele Infiltração da pele pelo tumor primário ou metastático com conseqüente desenvolvimento de ulcerações ou lesões “fungóides”, causando muitas vezes isolamento social e prejuízo emocional. A terapêutica compreende o tratamento oncológico paliativo (radioterapia e quimioterapia) e tratamento sintomático, possibilitando a regressão da lesão, controle de sangramento, da dor e de infecções secundárias.

- Dor Sintoma dos mais estudados em cuidados paliativos. Constitui o quinto sinal vital, ocorrendo em 60% 90% dos pacientes com câncer avançado. Sendo assim, torna-se mandatário o uso da “Escala Visual Analógica - EVA” durante a avaliação da dor em paciente com câncer de mama avançado.

Entre as principais causas da dor encontram-se: complicações do próprio tratamento curativo (cirurgia, radioterapia e quimioterapia), metástases ósseas, linfedema e compressão radicular pela doença.

Atualmente, dispõe de grande arsenal terapêutico incluindo tratamento medicamentoso, quando se segue a Escada Analgésica da OMS, guiando o uso seqüencial de drogas (incluindo os opióides), radioterapia, procedimentos invasivos (bloqueios, cateteres, alcoolização de plexo, Drez (destruição do corno posterior da medula)), acupuntura, psicoterapia, fisioterapia.

- Dispnéia Ocorre em 70% dos pacientes em cuidados paliativos, sendo que em 24% dos casos não há causas identificáveis.

- Causas relacionadas ao câncer: restrição por invasão da parede torácica, metástases pulmonares, derrame pleural neoplásico, linfangite carcinomatosa.

- Causas relacionadas ao tratamento: fibrose pulmonar por drogas ou radioterapia, comorbidades como doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca congestiva, infecções, tromboembolia pulmonar. Como medidas de tratamento temos a fisioterapia e o tratamento medicamentoso específico. 32

- Alterações neurológicas/ psiquiátricas A avaliação inicial das pacientes com câncer de mama avançado e alteração cognitiva inclui exame físico completo e exames laboratoriais. Não esquecer que desidratação é a causa mais comum de confusão mental e alteração de comportamento. A realização de exames de imagem é importante quando existe a suspeita de progressão de doença para Sistema Nervoso Central ou a necessidade de exclusão de outras possíveis etiologias dos sintomas. A radioterapia deve ser realizada na possibilidade de benefício.

- Depressão maior Os quadros de depressão maior, presente em 20% dos pacientes em Cuidados Paliativos e de ansiedade generalizada, devem ser tratados com terapia medicamentosa, psicoterapia, estímulo à atividade física e terapia comportamental.

- Delírio Manifestação neuropsiquiátrica encontrada com freqüência em pacientes com câncer avançado sendo inclusive descrito na literatura médica mundial como uma das principais indicações de sedação. Entre as possíveis causas destacamos a progressão da doença, incluindo metástases, associação medicamentosa, alterações metabólicas, comorbidades descompensadas. A abordagem deve ser feita visando também o cuidador, que na maioria dos casos encontra-se angustiado e impotente diante da situação. (BRASIL, 2009)

 

2.5 – Tratamento

 

Segundo o documento de consenso para controle do câncer de mama, O câncer de mama deve ser abordado por uma equipe multidisplinar visando o tratamento integral da paciente. As modalidades terapêuticas disponíveis atualmente são a cirúrgica, a radioterápica para o tratamento loco-regional e a quimioterapia para o tratamento sistêmico.

A indicação de diferentes tipos de cirurgia depende do estadiamento clínico (anexo 1) e do tipo histológico, podendo ser conservadora ressecção de um segmento da mama (engloba a setorectomia, a tumorectomia alargada e a quadrantectomia), com retirada dos gânglios axilares ou linfonodo sentinela, ou não-conservadora (mastectomia).

São modalidades de mastectomia::

-  Mastectomia simples ou total (retirada da mama com pele e complexo aréolo papilar);

-  Mastectomia com preservação de um ou dois músculos peitorais acompanhada de linfadenectomia axilar (radical modificada);

-  Mastectomia com retirada do(s) músculo(s) peitoral(is) acompanhada de linfadenectomia axilar (radical);

-  Mastectomia com reconstrução imediata;

-  Mastectomia poupadora de pele.

Carcinoma ductal in situ A mastectomia simples é um tratamento curativo em 98% dos casos, mas certamente representa procedimento excessivamente mutilante para considerável parcela dos casos. Nos Carcinomas ductais in situ pode-se ainda considerar a possibilidade do uso de hormonioterapia por cinco anos. Na neoplasia lobular in situ, considerada como um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama indica-se a biópsia excisional. Esta condição exige vigilância especial por meio de exame clínico semestral e mamografia anual.

A cirurgia conservadora preenche os pré-requisitos que norteiam o tratamento cirúrgico do câncer de mama, que são: máximo controle loco-regional, estadiamento, prognóstico semelhante com menor morbidade e mutilação.

Radioterapia, sendo o Consenso para Controle de Câncer de Mama, é utilizada com o objetivo de destruir as células remanescentes após a cirurgia ou para reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia. Após cirurgias conservadoras deve ser aplicada em toda a mama da paciente, independente do tipo histológico, idade, uso de quimioterapia mesmo com as margens cirúrgicas livres de comprometimento neoplásico.

A utilização de quimioterapia com antracíclicos no período após as cirurgias radicais ou conservadoras protelam o início da radioterapia para o término da terapêutica sistêmica, não devendo ser este período superior a seis meses desde a realização da cirurgia.

A Quimioterapia como terapia adjuvante sistêmica segue-se ao tratamento cirúrgico instituído. Sua recomendação deve basear-se no risco de recorrência. (BRASIL, 2004)

 

– METODOLOGIA

 

Este é um estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, objetivando identificar os diagnósticos de enfermagem em uma cliente com diagnóstico médico de neoplasia maligna de mama, utilizando-se para isto, a Uniformização da Linguagem dos Diagnósticos de Enfermagem da NANDA.

O mesmo foi realizado no Hospital Maria José Baeta Reis - ASCOMCER, na cidade de Juiz de Fora - MG, Cenário do nosso primeiro campo pratico da Disciplina Saúde do Adulto e Idoso I.

A amostra foi constituída por uma cliente internada na instituição, e selecionada através de um processo aleatório simples. A coleta de dados foi desenvolvida, seguindo-se um roteiro de entrevista proposto pela disciplina (Anexo). Foram coletados dados a partir da entrevista, da observação e do exame físico da cliente. Para a operacionalização do processo de enfermagem baseado no NANDA, foram realizadas visitas de enfermagem a cliente durante seu período de especialização. Esta operacionalização seguiu os seguintes etapas do processo:

1º etapa - realização do levantamento de dados através da entrevista;

2º etapa - planejamento das ações de enfermagem visando o processo educativo do cuidado;

3º etapa - execução e avaliação das ações de enfermagem no sistema escolhido.

Depois de concluída a fase de coleta de dados, foi iniciado o trabalho de análise das informações coletadas. Para se chegar aos diagnósticos, teve-se como base, as características definidoras e os fatores relacionados determinados pela classificação da NANDA e levantamento teórico usando vários autores.

Previamente à coleta, foi solicitada a assinatura de um termo de consentimento a cliente e enfermeira responsável pelo setor, autorizando sua participação no estudo, obedecendo, assim, os preceitos éticos e legais. Tornamos evidente à participante do estudo, que lhe seria assegurado o anonimato, resguardando-lhe o direito, inclusive, de escolha quanto a participação ou não do estudo.

 

4 – ESTUDO DE CASO

 

4.1 – HISTÓRICO

 

4.1.1 – Identificação

 

M.G.V.S, sexo feminino, 28 anos de idade, nascida aos 15 de julho de 1980, no município de Rio Pomba, onde reside na casa de uma tia. Ensino médio incompleto. Negra, 1,62m de altura e 42 kg. Relata ser católica. Trabalhava como domestica, entretanto atualmente encontra-se desempregada. Solteira, mãe de um filho de dois anos, e um falecido aos 20 dias de nascimento de causa desconhecida.

 

4.1.2 – História da doença atual

 

Paciente durante amamentação do seu segundo filho percebeu um enrijecimento da mama D, sendo que a criança não aceita a alimentação nesta mama. Passado alguns meses do período de amamentação, a mama continuava enrijecida, onde resolveu procurar o posto de saúde de Rio Pomba. Encaminhada para o hospital da mesma cidade foi diagnosticada com Mastite, ou seja, processos infecciosos que se instalam nos tecidos mamários. Apesar de poderem se encontrar em qualquer faixa etária e em todas as fases da vida feminina, as mastites agudas são mais comuns nas jovens e principalmente na gravidez e no puerpério. (BRUNER E SUDDARTH, 2006). Foi realizada, na mesma instituição, a pulsão da massa. Ao retornar ao lar, depois de algum tempo, percebeu não haver melhora, que agora alem de enrijecida, estava segundo a paciente, “inchada, avermelhada e mais quente que a outra”. Devido ao edema, hiperemia e a temperatura retornou a mesma instituição que a encaminhou a Maternidade Santa Terezinha, na cidade de Juiz de Fora, para realização de exames.

No dia 06/03/09 foi internada no Hospital Maternidade Santa Therezinha onde realizou mamografia e ultrassonagrafia, tendo indicativo de câncer de mama, realizou a biopsia, onde foi diagnosticado tumor maligno em Mama D, permaceu na instituição ate o dia 12/03/09, onde foi encaminhada ao Hospital Maria José Baeta Reis – ASCOMCER para seguir tratamento.

 

4.1.3 – Trajetória

 

Mediante o quadro de “emagrecimento súbito e crescimento intenso do tumor” paciente foi internada na ASCOMCER, dia 12/03/09, onde foi avaliado seu estado geral e traçado tratamento paliativo de quimioterapia.

Nos dados colhidos no prontuário, diagnóstico medico de tumor gigante em mama D com presença de secreção purulenta de odor fétido, realizado curativo com soro fisiológico e coberto com gaze IV. Aguardando inicio de quimioterapia paliativa (que se iniciaria na tarde deste mesmo dia) e que o tratamento se daria por sessões de quimioterapia semanais durante os próximos três meses.

 

4.1.4 – História da patologia pregressa

 

Relata nunca ter sido internada por motivos de doença, apenas quando foi realizada cesariana no seu segundo parto. Nega doenças psíquicas e traumatismos, bem como doenças cardiovasculares e diabetes. Não faz uso de qualquer medicação.

 

4.1.5 – Histórico de vida social

 

Cliente faz uso de álcool, não relatando a freqüência da ingesta. Tabagista, aproximadamente um maço a cada três dias. Não soube informar sobre alergias.

 

4.1.6 – Histórico familiar

 

Pais já falecidos de causas desconhecidas, mas relata ser o pai hipertenso. E que uma das tias tem câncer no fígado. O primeiro filho gerado veio a falecer de aos 20 dias de nascimento de causa desconhecida.

 

4.1.7 – Histórico gineco-obstétrico

 

Relata nunca ter realizado consulta ginecológica, não conhecendo a importância do preventivo. Menarca iniciada aos 14 anos, não faz uso de anticoncepcional oral, relata fazer uso de preservativo. Desconhece história de DST´s. Ao ser questionado sobre uso de alguma pomada por via vaginal, relata ter usado no ano anterior Nistatina, não sabendo especificar o motivo do uso da medicação Aos 24 anos, ficou grávida pela primeira vez, não realizou o pré-natal, o concepto veio a falecer 20 dias após o parto que ocorrer de forma natural, aos 26 anos engravidou-se novamente, optou-se por parto cesariano e seu encontra-se com 2 anos de idade. GESTA II e PARA II.

 

4.2 – Exame físico

 

Paciente M.G.V.S, lúcida, orientada no tempo e no espaço, deambulando, corada, hipohidratada, afebril (36,4º), ao exame físico apresentou peso de 42kg e altura de 1,62 m, face simétrica, atípica, relata emagrecimento, falta de apetite, perca de sono, desconforto com o peso da mama gigante. Cabelos normoimplantados, coro cabeludo integro sempre presença de lesões ou nódulos. Acuidade auditiva preservada, presença de cerume no pavilhão auricular. Pupilas isofotoreagentes, acuidade visual preservada. Narina e mucosa nasal integras. Mucosa oral integra e normocorada, sem lesão orofaríngea, ausências de alguns dentes superiores, os presentes de coloração amarelada, possivelmente pela nicotina. Região cervical sem evidencia de linfonodomegalia e tireóide impalpável.

Mamas assimétricas, mama D enrijecida, presença de sinais flogísticos e tumor gigante, sem relatos álgicos à palpação, mama E integra, sem presença de nódulos ou massas. Ausculta respiratória, apresentado murmúrios vesiculares presentes, bilateralmente, ausência de ruídos adventícios. Eupneica (FR: 20irpm), respiração espontânea em ar ambiente. Ausculta cardiovascular, ritmo cardíaco regular bulhas normofonéticas  em dois tempos, PA: 130x70mm/hg, normocárdica (68bpm).

Abdome escavado, livre, presença de ruídos hidroaéreos, indolor a palpação superficial e profunda, sem presença de cicatriz, dieta oral livre. Relata fezes em aspecto e volume normais, uma vez ao dia, aproximadamente, e diurese espontânea em volume e aspecto normais, duas a três vezes ao dia.

MMII e MMSS, pele integra,  sem edemas e panturrilhas livres.

 

4.3 – DIAGNÓSTICOS, METAS e INTERVENÇÕES

 

4.3.1 Domínio 2 / classe 1

 

Nutrição desequilibrada: menos que do que as necessidades corporais, relacionado a fatores psicológicos, caracterizado por falta de interesse na comida e perda de peso com ingestão adequada de comida. (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: orientar quanto a necessidade de alimentação diária atingindo suas necessidades básicas.

 

Intervenção: consultar o nutricionista para estabelecer as exigências diárias apropriadas e os tipos de alimentos para a paciente.

 

4.3.2 Domínio 4 / classe 1

 

Insônia, relacionado à ansiedade e desconforto físico, caracterizado por dificuldade de adormecer e estado de saúde diminuída. (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: proporcional conforto e tranquilidade a paciente para restabelecer padrão de sono.

 

Intervenção: instruir a paciente quanto à posição de conforto para repouso e incentivar convívio social.

 

4.3.3 Domínio 6 / classe 1

 

Disposição para aumento da esperança, caracterizado por expressar desejo de reforçar a resolução de problemas para alcançar metas e expressar desejo de reforçar o sentimento de sentido à vida.  (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: Proporcionar auxílio psicológico a paciente para que tome consciência de si mesma.

 

Intervenção: encorajar a paciente quanto à necessidade do tratamento.

 

4.3.4 Domínio 9 / classe 2

 

Ansiedade relacionada a morte, relacionado a antecipação do impacto da própria morte sobre os outros, caracterizado por preocupação quanto ao impacto da morte sobre as pessoas significativas e medo de sofrimento ao morrer. (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: Proporcionar auxílio psicológico a paciente e instrução quanto a doença e suas reações.

 

Intervenção: encorajar a paciente quanto à necessidade do tratamento.

 

4.3.5 Domínio 11 / classe 1

 

Risco de infecção, relacionada a doença crônica. (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: Previnir infecção.

Intervenções: instruir a paciente a observar e comunicar imediatamente qualquer sinal e sintoma de inflamação.

 

4.3.6 Domínio 11 / classe 2

 

Integridade da pele prejudicada, relacionada ao estado nutricional alterado (emagrecimento) caracterizado por comprometimento da superfície da pele. (NANDA, 2007-2008)

 

Meta: manter integridade da pele

 

Intervenção: investigar a pele e intervir quanto a fatores de risco que predispõe o rompimento da pele.

 

 

5. Plano de alta

 

O alto custo das internações para as instituições de saúde, o avanço tecnológico e das ciências médicas têm abreviado o período de hospitalização do paciente, levando a uma alta precoce. Para assegurar a continuidade do cuidado no domicílio e evitar as re-internações, que contribuem significativamente para elevar as despesas do cuidado em saúde, é necessário que a alta hospitalar seja planejada e sistematizada, garantindo um esclarecimento maior, tanto para o paciente como para a família. A orientação visa educar o paciente e familiar para o cuidado domiciliar, o que faz com que as orientações necessitem ser programadas de acordo com a realidade de cada paciente, buscando minimizar inseguranças, melhorar qualidade de vida, prevenir complicações e reinternações. (WALDOW, 1998)

Quanto à paciente em estudo, o plano de alta, visa cuidados com alimentação, pois a dieta desempenha papel importante tanto no desenvolvimento quanto na recuperação do câncer, o valor calórico da dieta é muito importante, um indivíduo adulto em boas condições necessita de 2.000kcal/dia, um desnutrido necessita de 3.000 a 4.000 kcal/dia, a ingestão protéica deve oscilar entre 80 e 100 g/dia, as vitaminas são essenciais na terapia nutricional, tais como A e a C, que são usadas na formação de tecido, sendo a A importante na imunidade celular protetora e na diferenciação celular e a C como antioxidante com funções enzimática e biológicas imunes. As vitaminas A, D e E, podem ser úteis na redução de certos oncogenes, a D também melhora a metabolismo do cálcio e do fósforo, a E protege a integridade das paredes células. A ingestão de líquidos em quantidade suficientes também é necessária. (FARRELL & L. NICOTERI). Outro cuidado importante é quanto ao curativo e o asseio com a mama, pois se fará necessário para evitar infecção e complicações. Seque em anexo o plano de alta programado para a paciente.

 

CONCLUSÃO

 

O diagnóstico abre possibilidades para o desenvolvimento da enfermagem porque cria uma linguagem própria para descrever os problemas do cliente que o enfermeiro tem competência para resolver, buscando e organizando os conhecimentos para a proposição de ações independentes do enfermeiro.

A análise de dados a partir de um referencial de enfermagem é um processo árduo, ao mesmo tempo é uma oportunidade de aprendizagem e de crescimento pessoal.

Espera-se que com esse trabalho possamos contribuir com o leitor em relação as características, tratamento, prevenção do câncer de mama, dando ênfase na sistematização da assistência de enfermagem; que possamos ter contribuído para com a paciente que tenha um tratamento humanizado e uma melhor qualidade de vida, e fundamentalmente, contribuir com nos -  acadêmicos de enfermagem - para possamos olhar o paciente com olhar humano e realizarmos ações de enfermagem com competência e responsabilidade com cada caso que venhamos a encontrar em nosso caminho de pedras, cuidados, sonhos e vida.

 

REFERÊNCIAS

 

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Instituto Nacional do Câncer [INCA]. Estimativas de incidência e mortalidade por câncer no Brasil. Rio de Janeiro; 2002.   

BRUNER E SUDDARTH, Tratamento de enfermagem médico-cirúrgico. 9ºed. Rio de Janeiro: Gunabara Koogon 2006, 4.v.

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