REFLEXÃO SOBRE: “O PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE"



REFLEXÃO SOBRE: “O PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE”1

Luiz Carlos Ferreira Braga Júnior 2

Resumo: O presente trabalho pretende, com bases no pensamento de Hans Jonas, discutir o problema da ética da responsabilidade, dando um cunho coletivo para a ética, tangendo também, a tecnociência.

 Palavras-Chave: Jonas; ética; responsabilidade; coletividade; tecnociência. 

Dotado de inteligência e de talentos extraordinários, ora caminha em direção ao bem, ora ao mal... Quando honra as leis da terra e a justiça divina ao qual jurou respeitar, ele pode alçar-se bem alto em sua cidade, mas excluído de sua cidade será ele, caso se deixe desencaminhar pelo Mal” (Sófocles).

 

A escolha desta epígrafe foi para orientar a direção de tal reflexão, que terá como base o pensamento de Hans Jonas, onde ele trata, com propriedade, de um assunto que está em voga, que é o próprio titulo de sua obra: O princípio responsabilidade. O pensador ora em estudo, trabalha em seu livro vários temas dignos de atenção, entretanto, tomar-se-á parte de sua obra onde ele trata da ética-responsabilidade na tecnociência.

Hans Jonas explana, nesta parte de sua obra, sobre as ações do homem na natureza e suas conseqüências. Dessa forma, a epígrafe, como já foi salientado, da rumo à reflexão. Sendo assim, o homem atua de forma errônea sobre a natureza, não se importando com as conseqüências. Isso se deve ao fato de que, como o ser humano é dotado de capacidade intelectual incrível, pensa poder dominar a natureza de forma desregrada, sem nenhum cuidado. Isto é, cautela com as reações naturais. Neste sentido, o homem não se da conta de sua pequenez diante da grandeza da natureza e, com isso, usa de forma desregrada, a sua capacidade cognitiva, pensando ser o dono de tudo. Aliás, até poderia ser o possuidor da natureza, todavia, o grande problema vigente, é a falta de responsabilidade que o próprio homem tem para com sua “propriedade”. Falta, dessa forma, a “consciência de que, a despeito de toda grandeza ilimitada de sua engenhosidade, o homem, confrontado com os elementos, continua pequeno” (JONAS, p. 32). E isso resume tudo o que foi dito e abre espaço para maiores reflexões.

O filósofo alemão diz que o homem é capaz de solucionar inúmeros problemas, e completa que o único sem solução é a morte. E isso faz com o homem seja um pouco mais cauteloso com suas ações. Dessa forma, faz com que a humanidade reflita um pouco mais sobre as conseqüências de seus atos atrocidas, pois é quando a natureza se revolta sobre o autor da ação, que é o próprio homem, que ele para, em certa medida, com a destruição, ou seja, surge nele uma consciência ética, isto é, a responsabilidade.

 Sendo assim, poder-se-ia perguntar sobre a origem da ética. E como resposta, tem-se a cidade. A ética refugia-se na cidade, pois a natureza por si, não precisava de regras, ou seja, ela estava aí sem problemas. No entanto, o homem, com seu desejo de humanizar a vida, trouxe novos meios de vida. Isto é, novas obras que não eram naturais, e sim artificiais. Hans Jonas afirma que a “vida desenvolveu-se entre o que permanecia e o que mudava: o que permanecia era a natureza, o que mudava eram suas obras” (Ibid. p. 33). Sendo assim surgiu a técnica. E com ela várias conseqüências. E é por isso que se defende que a ética mora na cidade, pois é nela que existe o progresso artificial. Com isso, faz-se necessário retomar o que foi dito anteriormente, sobre o quesito consciência, pois foi o homem que trouxe a tecnologia, sendo assim, ele deve cuidar para que a natureza não sofra, ou seja, ele deve ter controle de tudo o que faz.

 O pensador defende que o mundo hodierno clama por uma nova ética da responsabilidade, pois a tradicional não consegue mais resolver os problemas vigentes. Jonas diz isso, porque a ética clássica é antropocêntrica, ou melhor, é egoísta. Isto é, tudo é pensado de forma individual. Com isso, o autor toma como alvo para críticas, o filósofo moderno Kant, com a sua famosa máxima: “age de tal forma que a sua ação possa se tornar uma lei universal” (Itálico nosso). Nesse sentido, a ética clássica não pode continuar sendo considerada válida, pois, o centro de tudo é o homem em sua individualidade. Por isso Jonas propõe um novo imperativo: “Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a terra” (Ibid. p. 47, itálico nosso). Dessa forma o que deve tornar válido é a coletividade, pois numa visão individual, o que se faz pode perecer facilmente e, no entanto, a nova ética deve, também, ter em mente a visão de durabilidade. Nas palavras de Jonas, quando ele critica a ética tradicional: “O alcance efetivo da ação era pequeno, o intervalo de tempo para previsão, definição de objetivo e imputabilidade era curto, e limitado controle sobre as circunstâncias” (Ibid. p. 35). Isto é, deve-se ter em mente uma ação sábia e duradoura.

Hans Jonas clama por um novo saber que, como já foi tratado, cuide da natureza, tendo em vista os coisas extra-humanas, ou seja, a própria natureza.  O filósofo ora em estudo diz: “Reconhecer a ignorância torna-se, então, o outro lado da obrigação do saber, e com isso torna-se uma parte da ética que deve instruir o auto controle, cada vez mais necessário, sobre o nosso excessivo poder” (Ibid. p. 41). Noutras palavras, o saber não é mais o da pura contemplação, mas deve ser a reflexão embrenhada na ação. Dessa forma, não haverá tanta destruição da natureza, e os projetos poderão ser de cunho duradouro, pois a natureza permanecerá viva.

Analisando o caráter tecnológico e reflexivo do homem, o filósofo alemão defende que a tecnologia aprisiona o homem, ou seja, ela se torna a senhora de suas vontades e, conseqüentemente, o homem escravo. O homem é tentado “a crer que a vocação dos homens se encontra no contínuo progresso desse empreendimento, superando-se sempre a si mesmo, rumo a feitos cada vez maiores” (Ibid. p. 43). Neste viés, Jonas defende que a tecnociência passou a fazer parte do subjetivo humano, isto é, o ser humano não “é” sem tecnologia e, também, ele, com seus feitos, faz com que não exista mais a diferença entre o natural e o artificial, tudo foi tragado pelo pela esfera do artificial. Sendo tudo artificial, é criação do homem, com isso, o dever de proteger é de todos. E para finalizar Jonas nos diz: “Até aqui demonstramos a pertinência das pressuposições: o nosso agir coletivo –cumulativo– tecnológico é de um tipo novo, tanto no que se refere aos objetos quanto à sua magnitude. Por seus efeitos, independentemente de quaisquer intenções diretas, ele deixou de ser eticamente neutro” (Ibid. p. 66). Enfim, pode-se afirmar que de forma geral, o que foi proposto por Hans Jonas em seu trabalho intelectual, foi exposto neste.

1 Título retirado do livro de Hans Jonas, intitulado O Princípio Responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica.

2 Graduando em filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

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Autor: Luiz Carlos Ferreira Braga Junior


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