A ponte do amor que permanece inacabada



Diz-se muito por aí o quanto é difícil ser amado, conhecer alguém que tenha por você e que sinta um amor grande, verdadeiro, arrebatador. Talvez seja difícil sim, mas talvez o que você esteja esquecendo é do quanto é essencial você amar. Não que um seja mais importante que o outro, não é isso. Nem que é possível ser completo apenas partindo de um lado, também não é isso. É como a construção de uma ponte: o “amar” está em um lado, o “ser amado” está do outro. E para que esse encontro seja realizado, como um sonho de todo dia, é preciso que ambos façam a sua parte. A travessia só será possível se a ponte estiver completa. Não adianta uma ponte pela metade, não resolve. É como ficar em si mesmo com um nutrindo e cultivando um sentimento por alguém. Mas sem ter recíproca, sem haver cumplicidade no sentimento. Não adianta. De nada adianta você ir até a metade da ponte se não existe a outra parte. Ou você chegará ao limite e cairá no próximo passo (é a próxima ligação, a próxima mensagem de celular, o próximo texto por e-mail, o próximo “eu te amo tá bom, estou aqui”, o próximo te vejo amanhã – e o amanhã nunca vem)... Enfim, é aquela próxima ação que fará você se machucar mais, se sentir um completo idiota, ter a falsa e ilusória esperança de que houve ou há alguém a tua espera do lado de lá. Ou ao invés disso, é você ficar no meio da ponte inacabada e ficar esperando, sabe-se lá por quanto tempo (uma vida inteira talvez) por algo que jamais acontecerá. Com o tempo “a tua parte da ponte” se deteriorará e logo ficará em pedaços e você cairá de uma nuvem de sonhos irreais, fatalmente vai se machucar profundamente, porque não há suporte para essa queda. É um castelo de areia que se desmancha com o tempo e com os ventos ruins (entenda isso como os momentos em que você se sente só, desanimado, sem poder conversar com ninguém, sem vontade de falar ou fazer qualquer coisa, sem ter alguém sequer para ligar, para conversar, para perguntar “ e daí, como vã as coisas”)... Enfim, essa é a ponte do amor que permanece inacabada. Não tem graça e dói, mas também pode ter para você outro significado. E é bonito você enxergar além do sofrimento (do teu sofrimento). É ver e conseguir tatear um futuro, se não o que você deseja, almeja e luta para acontecer (com as armas que possui e as ferramentas que dispõe), é estar saudável consigo mesmo, estar em paz, sabendo que não precisou desvirtuar o caminho, que não precisou alterar o caráter, não precisou jogar fora tua dignidade humana, que não necessitou gerar insatisfação a si próprio e a outra pessoa, não precisou se esconder do mundo, com medo, sendo cruel nos próprios julgamentos e se auto excluindo do mundo. De vez em quando você pode sim ter escolhido caminhos errados, pode ter contribuído para ser um ser humano de pouco brilho, mas ao final de cada dia de luta, de cada gesto de amor ao próximo (amor mesmo!), você ficou em paz consigo. Até sente-se feliz (sim, feliz porque não precisou desrespeitar, forçar a barra, não “pesou na vida dela”, mesmo sem ter sido alguém marcante). Esse é o bonito sabe, descobrir que mesmo perante as pontes inacabadas dessa vida, você preferiu descer e fazer um novo caminho, desceu do pedestal dos sonhos, saiu dessa “redoma de diferenças” que sempre houve na tua vida e fez, ajudou, amou, sentiu, chorou, sorriu... Enfim, foi você mesmo! Então, ainda que a ponte do amor continue inacabada na tua vida, não pare, não desista e essencialmente, nunca deixe de ser quem você é, mesmo que não crie ou cultive no coração dos outros nada de bom (na visão deles), nada de grandioso (para os padrões deles), nada de maravilhoso (para o ego deles). Vá você, siga consigo próprio e se orgulhe a cada manhã de ter a chance de ser quem jamais os outros poderão compreender e sentir, pois mesmo incompleto e inacabado (cheio de defeitos), você constrói a tua parte da ponte, não sendo amado (não como espera), mas amando, acima de qualquer intenção obscura e estranha, amando com clareza e transparência, com ternura, romantismo, com fervor, com doçura, e certo de que quer isso para o futuro, mesmo que os outros não consigam perceber que o presente faz parte desse futuro (não há como desvencilhar um do outro)... Jamais haverá como esquecer a história de vida, pois é a partir das tuas experiências que você faz o material dessa ponte. Desse lugar que tem guardado espaços especiais, e que já não ecoa tanto a solidão, mas tem um silêncio mais apaziguador.

 

Com vídeo da música To Know Him is To Love– Amy Winehouse – http://youtu.be/dy0k8GLYBG4

 


Autor: Johney Laudelino Da Silva


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