O movimento pacifista de Martin Luther King pelos direitos civis dos negros entre as décadas de 50 e 60 do século XX nos Estados Unidos



UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
DH: DEPARTAMENTO DE HISTÒRIA






O MOVIMENTO PACIFISTA DE MARTIN LUTHER KING PELOS DIREITOS CIVIS DOS NEGROS ENTRE AS DÉCADAS DE 50 E 60 DO SÉCULO XX NOS ESTADOS UNIDOS











Tânia Maria Carvalho Do Santos




Vitória Da Conquista
2011
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

Tânia Maria Carvalho Dos Santos





O MOVIMENTO PACIFISTA DE MARTIN LUTHER KING PELOS DIREITOS CIVIS DOS NEGROS ENTRE AS DÉCADAS DE 50 E 60 DO SÉCULO XX NOS ESTADOS UNIDOS









Monografia apresentada para conclusão do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Orientador: Prof. Adilson Amorim de Sousa.



Vitória Da Conquista
2011
 

EPÍGRAFE


















Suba o Primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.
Martin Luther King.


 
AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus por ter revelado a sua graça em meu coração, por ter me dado entendimento e sabedoria para alcançar essa vitória. Pelos maravilhosos pais a mim concedidos o Sr. Osvaldino Santos e Sra. Eliete Carvalho dos Santos, pelo amor e paciência que eles tiveram para comigo durante a elaboração deste trabalho. A meus irmãos, cunhados, sobrinhos, tios, primos, colegas, amigos e meus irmãos na graça de Deus, os quais através de palavras, obras e orações me ajudaram a acreditar nessa conquista. A meu orientador, o professor Adilson Amorim de Sousa, o qual devotou o seu conhecimento a meu favor ajudando na minha construção acadêmica e profissional.


Que Deus abençoe a todos.

 
ABSTRACT

The purpose of this monograph is to address the peace movement of Martin Luther King for civil rights for blacks between the 50 and 60 of the twentieth century in the United States considering the main aspects that contributed to its occurrence, and why the adoption of a peaceful struggle for such rights. Will look first at the period when blacks were enslaved and freed witnessed important changes related to them, such as the design of the American Colonization Society, which aimed to buy African territories in order to house the free blacks. During this period we have the development of the abolitionist movement, where the literature and newspapers played an important role in the fight against slavery. Major events like the Civil War and the abolition of slavery, have definitely changed the lives of enslaved black this time. Then we present an analysis of the period in which racial segregation has uploaded the emancipated blacks to a sad reality caused by racism, extremism, especially in the states of the South in the Southern states segregation laws gained strength after reconstruction of the South, while in states North segregation without the consent of the law happened to forming ghettos. Finally will highlight the important path of Martin Luther King as a pacifist leader of a movement that gained strength in face of violence of racism, laws that segregated, where attitudes highlight figures of great importance for the emergence and outcome of this movement. This was a period when racial segregation had become untenable provoking the extremism of other groups that fought for these rights. But the peaceful character of Martin Luther King led the movement led by him won more supporters.
Keywords: civil rights, racism, segregation.

 
RESUMO

O objetivo desta monografia é abordar o movimento pacifista de Martin Luther king pelos direitos civis dos negros entre as décadas de 50 e 60 do século XX nos Estados Unidos considerando os principais aspectos que contribuíram para sua ocorrência, e o porquê da adoção de uma luta pacifica por tais direitos. Veremos inicialmente o período em os negros escravizados e libertos presenciaram importantes transformações a eles relacionadas, tais como o projeto da Sociedade Americana de Colonização, a qual tinha como objetivo comprar de territórios africanos com a finalidade de abrigar os negros livres. Nesse período temos o desenvolvimento dos movimentos abolicionistas, onde a literatura e os jornais desempenharam um importante papel na luta contra a escravidão. Grandes acontecimentos como a Guerra de Secessão e a abolição da escravidão, mudaram definitivamente a vida do negro escravizado nessa época. Em seguida apresentaremos uma analise do período em que a segregação racial submeteu os negros emancipados a uma triste realidade provocada pelo racismo extremista, principalmente, nos estados do Sul. Nos estados do Sul as leis segregacionistas ganharam força após a reconstrução do Sul, enquanto nos estados do Norte a segregação sem o amparo da lei aconteceu dando forma aos guetos. Por fim será destacada a importante trajetória de  Martin Luther King como líder pacifista de um movimento que ganhou força diante da violência do racismo, das leis que segregava, onde destacamos atitudes  de figuras de grande importância para o surgimento e desfecho desse movimento.  Foi este um período em que a segregação racial havia se tornado insustentável provocando o extremismo de outros grupos que lutavam por tais direitos. Mas o caráter pacifista de Martin Luther King fez com que o movimento por ele liderado ganhasse cada vez mais adeptos.
Palavras chaves: direitos civis, racismo, segregação.

 
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8

CAPÍTULO I - BREVE HISTÓRICO: DA PROIBIÇÃO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS À EMANCIPAÇÃO DESTES..................................................................................................11
1.1. A mão-de-obra escrava e a emancipação...........................................................................11
1.2. Os abolicionistas...................................................................................................................12
1.3. A Escravidão no Contexto da Guerra de Secessão.........................................................13
1.4. A Emancipação.....................................................................................................................15
1.4.1. A política do serviço de libertos.......................................................................................17
1.4.2. Lideranças Negras.............................................................................................................18

CAPÍTULO II - EMANCIPADOS E SEGREGADOS..........................................................19
2.1. As Leis Segregacionistas e o racismo..................................................................................19
2.2. O Caso Plessy V. Ferguson de 1896....................................................................................21
2.3. Organizações Racistas: a emblemática Ku Klux Klan....................................................24

CAPÍTULO III - MARTIN LUTHER KING E O MOVIMENTO PELOS DIREITOS CIVIS DOS NEGROS ESTADUNIDENSES.......................................................................27
3.1. Um Líder Pacifista...........................................................................................................21
3.2. Rosa Parks: o Boicote aos Ônibus em Montgomery.......................................................29
3.3. Luther King e os estudantes pacifistas.............................................................................33
3.4. As Grandes Marchas........................................................................................................34
3.4.1. O voto legítimo e o  Ato dos Direitos Civis de 1964....................................................36
3.4.2. Pacifismo X Violência..................................................................................................38
3.5.“Finalmente livre”............................................................................................................40

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................42

ANEXOS..................................................................................................................................45

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................46
 
 
INTRODUÇÃO

A presente monografia apresenta uma analise do movimento liderado por Martin Luther King pelos direitos civis dos negros entre as décadas de 50 e 60 do século XX nos Estados Unidos, enquanto forma de luta pacifica contra a segregação racial que havia sido imposta uma década após o fim da Guerra de Secessão em 1865.
Para a realização do referido trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica, onde se procurou levantar dados documentais, em livros e artigos, assim como em sites de organizações governamentais e não governamentais. Entre os sites pesquisados existem aqueles que foram criados a partir de fontes documentais sobre os movimentos pelos direitos civis dos negros destacando ativistas e líderes considerados importantes nesta causa.
Nos Estados Unidos, especialmente, nos estados do Sul o racismo apresentou-se inicialmente como condição para subjugar e escravizar os negros, depois da emancipação destes, o racismo serviu de base para segregar provocando uma situação que se tornou insustentável depois da Segunda Guerra Mundial. No entanto, a luta de Luther King foi de cunho pacifista frente à violência e injustiças provocadas pelas leis segregacionistas do Sul, e pelos crimes de homens brancos e organizações racistas. Para Luther King a luta pelos direitos civis dos negros não devia ser contra os homens brancos , mas contra o racismo que segregava e humilhava, violentando os direitos civis dos negros. Contudo os negros deveriam ser considerados, levando em conta a Constituição Americana de 1787, iguais aos brancos em direitos e deveres, já que eram também cidadãos estadunidenses.
Sendo a segregação racial o motivo pelo qual insurgiu o movimento pacifista de Luther King pelos direitos civis dos negros fez-se necessário apresentar no referente trabalho dois capítulos que versam sobre temas e contextos que antecederam tal movimento. O primeiro capítulo versa sobre os motivos que levaram a abolição da escravidão, e a forma como esta esteve inserida no contexto da Guerra Civil norte-americana. No segundo capítulo apresentamos a fase em que a segregação racial tomou forma de lei. E no terceiro capítulo abordamos a figura de Martin Luther King como importante líder negro, e sua luta pacifica pelos direitos civis dos negros estadunidenses.    
A escravidão nos Estados Unidos havia sido combatida desde o inicio do século XIX, onde imposições britânicas foram feitas para que o tráfico de escravos vindos da África fosse abolido. Ao consultar a obra de Mary Junqueira (2001) constatamos que nas primeiras décadas do século XIX a situação dos negros escravizados e libertos passou por importantes transformações. Entre tais transformações estava à criação da Sociedade Americana de Colonização, e o desenvolvimento e força alcançados pelo movimento abolicionista, principalmente, através dos meios literários.
No que diz respeito à Guerra Civil norte-americana de 1861 esta fez parte de um período muito importante para os negros, pois foi durante a Guerra que estes alcançaram a emancipação, no entanto, foi ela também determinante para que os vencidos, ou seja, os estados do Sul criassem as Leis Segregacionistas. Destacamos o período de reconstrução do Sul, onde parte das políticas adotadas em relação aos libertos demonstrou a participação de líderes negros. Uma importante obra foi consultada acerca desse assunto, o livro “As Almas da Gente Negra” de William Edward Burghardt Du Bois, onde, segundo ele foi criada a política do Freedmen’s Bureau (Serviço de Libertos).    
No segundo capítulo procuramos apresentar o período em que as Leis segregacionistas foram impostas no Sul, assim como um resumo do seu decorrer ao longo dos anos onde destacamos o “Caso Plessy Ferguson” . Preocupamo-nos também em destacar um pouco a questão da violência praticada contra os negros pela organização racista Ku Klux Klan, e a  formação dos guetos no norte como uma forma de segregar negros e brancos.
A segregação racial foi instituída nos estados do Sul sobre a égide da lei, onde de acordo com a obra de Ellis Cashmore eram dois os tipos de segregação, a segregação de jure e a de fato. Todavia, a segregação racial passou a ser combatida por negros, e brancos não racistas, sobe forma de protestos, manifestações, e por meio jurídico, este último muito utilizado pela NAAPC (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor).
No terceiro e último capítulo abordamos a figura de Martin Luther King como um líder pacifista, que teve como principal ideal a forma pacifista de luta de Mahatma Gandhi , e  que lutou pelos direitos civis dos negros desde inícios dos anos de 1950 até a sua morte em 1968. Entre as principais obras consultadas nesta pesquisa podemos destacar as produzidas pelos autores Valerie Schloredt e Pam Brown, os quais nos proporcionaram um estudo bem detalhado sobre a vida de Luther King como negro segregado, e a sua luta pacifica pelos direitos civis dos negros.
As Marchas pelos direitos civis dos negros estiveram entre as principais estratégias de luta pacifica adotada por Luther King, sendo a Marcha sobre Washington, ocorrida em 28 de agosto de 1963, uma marcha de grande alcance e popularidade naquele período histórico. Foi nessa marcha que Luther King proferiu o seu famoso discurso “I Have A Dream” (Eu Tenho Um Sonho) lhe promovendo como um importante líder negro, um líder pacifista.
Ainda que Luther King tenha morrido pela forma qual ele mais abominava, ou seja, pela violência causada pelo ser humano, cabe destacar que a sua luta pacifica não foi em vão, pois muitos objetivos da luta foram alcançados. Ao assistirmos, depois de 40 anos de sua morte, um negro estadunidense ser eleito presidente dos Estados Unidos da América, podemos considerar que aquela luta ente os anos de 1950 e finais de 1960  produziram efeitos surpreendentes na sociedade estadunidense.  
     
 
 
CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRICO: DA PROIBIÇÃO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS À EMANCIPAÇÃO DESTES

1.1. A Mão-De-Obra Escrava e a Emancipação

No século XIX a vida dos negros escravizados passou por importantes transformações, as quais afetaram a economia, o campo social e o campo político dos Estados Unidos. Todavia, as principais transformações ocorreram a partir de meados deste século, onde a Guerra Civil acabou proporcionando aos negros a sua emancipação.
 Segundo Mary Junqueira (2001), medidas como a proibição em 1808 do tráfico de escravos vindos da África levaram os nortistas a acreditarem no enfraquecimento do sistema escravocrata no Sul, o que não aconteceu de imediato. Com o aumento da exportação de algodão para Europa tornou-se necessário aumentar também a produção, e isso dependia da mão-de-obra escrava. Outra medida interessante em relação aos negros escravizados nos Estado Unidos ocorreu em 1816 com a criação da America Colonization Society  (Sociedade Americana de Colonização) por um grupo da Virgínia, onde, tal projeto pautou-se na compra de territórios africanos com a finalidade de abrigar os negros livres. Algumas figuras conhecidas, da História dos Estados Unidos, como James Monroe entre outros apoiaram esse projeto. Libéria  foi o nome dado ao território comprado por tal projeto, aonde em 1822 chegaram os primeiros negros “norte-americanos” livres.
Norte e Sul viam os negros como uma raça inferior à branca. Mesmo entre os que lutavam pela abolição, havia muitos que também não acreditavam na igualdade das raças. [...] A maioria dos brancos não tolerava a idéia de que os negros pudessem votar e tivessem os mesmos direitos que eles. Liberdade, igualdade e democracia eram, portanto, princípios criados para os brancos. [...] O sistema escravista não deu ao negro a possibilidade de alfabetizar-se, a liberdade de ir e vir e a autonomia pessoal. Apesar disso, os negros resistiam à escravidão de várias maneiras no seu cotidiano. Sendo assim, muitos brancos procuravam formas de inibir ou livrar-se dos negros que se rebelavam contra a condição escrava e fomentavam a resistência em outros. (JUNQUEIRA, 2000, p. 75-76)  

De acordo com Junqueira (2001), dos 4 milhões de negros nos Estados Unidos 15 mil ex-escravos tinha sido deslocados para a Libéria em 1860. A utilização da mão-de-obra escrava nos Estados do Sul foi uma das principais causas dos conflitos que desencadearam a Guerra Civil Americana. Enquanto o Sul pretendia, a partir da conquista do Oeste, manter e aumentar o número de negros escravizados, O Norte se posicionava de forma muitas vezes contraria a tal ação sulista, embora, em alguns casos entre os nortistas houvesse algumas divergências acerca desse assunto. Para os Estados do Norte, a formação de novos Estados nos territórios conquistados era preocupante do ponto de vista político. Tais estados ao se tornarem Estados da União passariam a eleger deputados e senadores e isso poderia aumentar o poder político do Sul, pois o sistema de mão-de-obra escrava também poderia ser adotado pelos novos estados.

1.2. Os abolicionistas

Anterior a Guerra Civil, outros fatos relacionados à escravidão foram alcançando cada vez mais notoriedade, como a questão abolicionista. Segundo Junqueira (2001), as idéias abolicionistas ganharam força a partir de 1830, entre tais idéias se destacavam as dos transcendentalistas ; de jornais como o “O libertador” (1831), do diretor Willian Lloyd Garrison , o qual defendia a abolição rápida e definitiva dos negros escravizados, se colocando assim contrario a idéia em discussão naquele momento no país, ou seja, a idéia de uma emancipação gradual. Entre as divulgações de escritos sobre a escravidão estavam livros de abolicionistas, onde, pode ser destacado um livro que alcançou enorme sucesso, o livro “A Cabana do Pai Tomás”   (Uncle Tom’s Cabin) de Hariet Bucher Stowe, publicado em 1852. Tal romance tratava a questão da escravidão narrando o cotidiano de negros escravizados com os seus proprietários brancos, uma vida de injustiças e violências. Este romance cooperou para o desenvolvimento da luta abolicionista, pois a questão da abolição da escravidão ganhou espaço entre os principais assuntos discutidos naquela época.
Para Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais (2007), Garrison considerava que a abolição deveria ocorrer sem paralelos e sem condicionantes que emperrassem o seu desdobramento. Tal comportamento de Garrison fez com que o jornal, O libertador, só parasse de circular em 1865. Devido à cultura religiosa do protestantismo os negros aprendiam a ler, pois ao serem alfabetizados estes passariam a ter acesso às leituras da Bíblia, e isso era importante para os fieis. E foi devido a essa cultura religiosa,  no início da circulação do Jornal de Garrison, que a maioria dos assinantes eram negros.
Garrinson, defensor da abolição imediata, afirmava que os escravos deveriam ser livres do mesmo modo como nasceram. Para denunciar a situação do escravo, utilizou a metáfora da ‘casa em chamas’ e instou que um assunto como esse não poderia ser tratado com moderação. Ele foi um abolicionista radical e chegou até mesmo a queimar a Constituição norte-americana. (FERNANDES & MORAIS, 2007, p. 123)

A American Ante-Slavery Society (Sociedade Norte-Americana Anti-escravidão) foi fundada por Garrison, o qual se uniu ao ex-escravo Frederick Douglas  na luta pela abolição. E foi pela luta contra a escravidão que Douglas fundou um jornal abolicionista, o The North Star (A Estrela do Norte), e  prestou ao então presidente Abraham Lincoln uma ajuda muito importante durante a Guerra Civil, pois recrutava tropas de soldados negros para os exércitos da União.
Embora o movimento abolicionista do Norte ganhasse espaço na sociedade, parte da elite nortista estava comprometida com o negócio da escravidão. Tocar na escravidão, para alguns comerciantes e industriais do Norte, era mexer no próprio bolso. (FERNANDES & MORAIS, 2007, p. 78)


1.3. A Escravidão no Contexto da Guerra de Secessão
Com a vitória de Abraham Lincoln em 1860, nas eleições para presidente dos Estados Unidos a situação dos escravos do Sul começou a mudar, pois o Partido Republicano do presidente eleito se encontrava em defesa da abolição. De acordo com Junqueira (2001), para Lincoln em 1858, em seu discurso “Casa Dividida” , seria impossível um só governo primar pela sobrevivência de dois modelos econômicos antagônicos. Diante da vitória de Lincoln, os Estados do Sul acharam por bem promover a Assembléia Constituinte em Montgomery, no Alabama, instituindo assim os Estados Confederados da América com constituição própria, baseada na Constituição de 1787 . A escravidão seria mantida, no entanto, os Estados do Alto Sul continuariam a fazer parte da União. As posições tomadas pelos Estados Confederados provocaram embates, entre estes e os Estados do Norte, pois a secessão não seria admitida pela União, assim como a tomada de posse dos fortes militares, pelos Confederados. O estopim da Guerra foi então o bombardeio ao forte Sumter em Charleston, na Carolina do Sul, sob a ordem dos Confederados do Sul, e em abril de 1861 se instaurava a Guerra Civil nos Estados Unidos.
A Guerra de Secessão provocou mudanças econômicas e sociais tanto vida dos negros quanto na vida dos brancos, nos Estados Unidos. A questão da escravidão sempre se fez presente nos embates correntes entre os estados do Sul e do Norte provocando divergências a esse respeito, no entanto, até entre os próprios nortistas essa questão ao ser levantada, ainda provocava conflitos.
O Sul estadunidense tinha na mão-de-obra escrava uma das principais bases de sua economia, o mercado produtor de uma das principais matérias-primas da época, o algodão. Este mercado encontrava-se em pleno vapor, sendo assim, o Sul não queria ceder, ou seja, não fazia parte de seus planos emanciparem os escravos, pois isto representaria um enorme prejuízo para sua economia, cultura e modo de vida pomposo. (JUNQUEIRA, 2001)
Os fazendeiros sulistas acreditavam estar defendendo a própria terra, seu estilo de vida e suas tradições. Como esses fatores dependiam da manutenção da escravidão, não admitiam que essa instituição fosse ameaçada e buscaram garantir sua independência política. Embora apenas uma minoria dos brancos da região fizesse parte de famílias possuidoras de escravos, os interesses dos poderosos escravocratas – que comandavam de fato a política e a sociedade sulista – prevaleceram, conduzindo o Sul a uma guerra arrasadora. (FERNANDES & MORAIS, 2007, p. 8)

Segundo Peter Louis Eisenberg (1982), entre todos os conflitos relacionados à Guerra Civil foi o da escravidão que teve maior responsabilidade no que diz respeito à culminância da Guerra, e desencadeou muitas divergências. Os demais conflitos chegaram a ser negociados pelos partidos políticos, os Whigs e os Democratas, no entanto, a questão da escravidão provocou divisão de pensamentos, pois eram vários os debates que envolviam essa questão antes, e durante a Guerra.
O fato de a escravidão ter sido um dos principais pontos, ou até mesmo o de maior peso na Guerra de Secessão, nos leva a entender o porquê da problemática relação entre negros e brancos, mesmo depois de um século após a abolição.
O problema do século XX é o problema da barreira racial – a relação das raças mais escuras com as raças mais claras na Ásia e na África, na América e nas Ilhas Oceânicas. Foi uma fase desse problema que causou a Guerra Civil [...] a questão da escravidão negra foi causa real do conflito. (DUBOIS, W. E. R. 1999, pg. 64)
Iniciada a Guerra Civil Americana, em 1861, o Sul não hesitou em colocar a sua mão-de-obra escrava nos frontes de combate, muitos negros foram recrutados, onde, até mesmo os Estados do Norte recrutavam ex-escravos para defender a União. Segundo DUBOIS, W. E. R. (1999), faz-se necessário enfatizar a existência, naquele período, de uma oposição de pensamentos acerca da utilização de escravos e ex-escravos como força militar, onde, a propriedade escrava de um lado era considerada contrabando de guerra, e do outro, como reserva militar.
Ben Buther, na Virgínia, rapidamente declarou que a propriedade escrava era contrabando de guerra, e pôs os fugitivos para trabalhar; enquanto Fremont, em Missouri, declarou os escravos livres sob lei marcial [...] Evidentemente, os escravos eram por outro lado uma fonte de força para a confederação e estavam sendo usados como operários e artificies. ‘Eles constituem uma reserva militar’, escreveu o secretario Cameron ao final de 1861. (DUBOIS, W. E. R. 1999, p. 66-67)
Em 22 de maio de 1862 a Ordem da Guerra Departamento Geral 143 estabeleceu a criação das tropas coloridas . A respeito desses regimentos podemos destacar o abolicionista Frederick Douglass como um dos principais colaboradores para uso efetivo dessas tropas na Guerra de Secessão. De acordo com Charles Waddell Chesnutt (1899/2002), antes mesmo de ser estabelecida pelo Departamento Geral 143 a criação de tropas coloridas, Douglass já havia sugerido a participação dessas tropas no exército da União. Entretanto, a causa abolicionista defendida por ele era o que o movia e o direcionava a tomar tais medidas. O empenho de Douglass a esse respeito era tanto, que ele procurou ajudar convencendo os negros a se inscreverem para fazer parte dos regimentos.

1.4. A Emancipação
Em 1862 a situação da guerra se agravou, pois, esta se prolongara promovendo vários problemas. Entre tais problemas estavam à falta de políticas fortes e efetivas para a resolução da situação dos escravos e ex-escravos, da participação destes como força militar ao lado da União, e da força que a luta abolicionista ganhou devido a esse prolongamento. Diante dessa situação Abraham Lincoln não viu outra saída se não a abolição da escravidão.
Contudo, foi em 1863 que todos os escravos se tornaram livres com a promulgação da 13ª Emenda à Constituição Americana, era proclamada a Emancipação dos escravos nos Estados Unidos. De acordo com a 13ª Emenda de 1º de janeiro de 1863 a partir daquele dia as pessoas mantidas como escravas estavam libertas, e isto era valido em qualquer estado sendo reconhecido tal direito de liberdade pelo poder executivo, militar e naval dos Estados Unidos.
A emancipação foi o primeiro passo para que os negros estadunidenses alcançassem a liberdade de fato, pois, a segregação racial passaria a partir daí a ocupar um lugar de destaque no cenário político, econômico e social. Enquanto no Sul a segregação racial ocorria por meio de leis, no Norte era pela forma como os brancos se referiam aos negros, ou seja, como seres inferiores. Até mesmo os nortistas que vieram para o Sul após a Guerra manifestavam um tratamento diferenciado para com os negros, o racismo imperava.
Os milhares de brancos nortistas que se mudaram para o Sul depois da guerra, seja por razões econômicas ou humanitárias, entendiam que estavam estendendo a “civilização” ao que consideravam uma região bárbara, e o caminho para isso devia contar com a ajuda dos libertos. Entretanto, mesmo entre estes nortistas havia racismo e, assim, não chegavam a um consenso sobre qual a participação dos negros na nova Nação. (FERNANDES & MORAIS, 2007, p. 130)
Após o fim da Guerra Civil em 1865 com o Sul derrotado pelo Norte, escrevia-se uma nova e terrível fase do racismo nos Estados Unidos. De acordo com Junqueira (2001), na ocupação dos estados do sul pela União com o objetivo de reconstruí-lo, medidas foram tomadas pelo governo federal, onde, a igualdade era a base, promoveu-se a ascensão dos negros a cargos públicos, e muitos chegaram a ascender-se economicamente. Em combate a ajuda do governo federal aos negros, oito estados do Sul procuraram de forma legal intervir quanto ao acesso dos negros a boas ofertas de trabalho. Tal situação levou o governo federal a introduzir duas emendas adicionais, como seria garantida a proteção igual para todos, e também o direito de voto igual a todos os homens.
De acordo com Fernandes e Morais (2007), o então presidente na época Andrew Johnson procurou afastar os fazendeiros sulistas do poder convocando governos provisórios, os quais por sua vez convocariam Convenções Constitucionais para eleger dirigentes, depois que tais etapas fossem cumpridas o Sul estaria reconstruído. Contudo, a situação do negro pós-guerra civil foi muito difícil, e entre as dificuldades estavam as de como conseguir trabalho, terras para plantar, o reconhecimento igual pelo trabalho a ser prestado, e lugares para moradia.
As convenções sulistas foram eleitas, e Johnson, para desilusão dos republicanos radicais, parecia disposto a dar carta branca para que elas determinassem o estatuto civil e político dos escravos libertos. Dessa forma, foram aprovados os ‘Códigos Negros’ (Black Codes), que restringiam a liberdade dos negros em diversos aspectos. Entre essas leis, estavam as de vadiagem, que obrigavam os ex-escravos a trabalhar sem poder escolher seus empregadores. Em alguns estados, os negros não tinham permissão para se reunir, casar-se com brancos, beber álcool, possuir armas de fogo, ou atuar em ofícios especializados. Aqueles que cometessem alguma infração podiam ser vendidos em leilão. Na Carolina do Sul, uma lei definiu os contratos de trabalho: os negros só poderiam trabalhar em serviços rurais ou domésticos. No Mississipi, poderiam lavrar a terra, jamais possuí-la. Até mesmo alguns sulistas brancos acharam que essas medidas eram muito provocadoras para os nortistas, que as consideravam uma ‘escravidão disfarçada’. (FERNANDES & MORAIS, 2007, p. 142)


1.4.1. A política do Serviço de Libertos

Segundo William Edward Burghardt Du Bois (1999), O governo federal passou a querer colocar o negro emancipado sob tutela, e isso lhe acarretou algumas obrigações, como medidas para atender as necessidades destes. Entre as políticas adotadas pelo governo dos Estados Unidos em relação aos negros estava a Freedmen’s Bureau  (Serviço de Libertos), o qual se baseava em tentativas para resolver tanto os problemas de raça, quanto os problemas ligados a condição social. A figura 1 mostra uma das características dessa política, ou seja, assentamento de libertos em terras abandonadas.
 
Figura 1 - Libertos trabalhando NA Plantação de Hopkinson James, em Edisto Island, Carolina do Sul. Fonte: (http://www.archives.gov/research/african-americans/freedmens-bureau/)

O Freedmen’s Bureau foi uma política importante no governo do Sul, antes deste ser totalmente reconstruído, pois se considerava que medidas de emergência eram necessárias e deveriam ser logo implantadas e executadas. Essa política obteve êxito em relação à educação através da instituição de escolas gratuitas “entre os negros”. Du Bois destaca a respeito do Freedmen’s Bureau, de forma enfática e precisa, o seguinte:
O legado do Freedmen’s Bureau é a pesada herança desta geração [...] apesar das soluções conciliatórias da Guerra, da luta, o Negro não esta livre [...] Nas cidades e nos setores mais cultos do Sul, os Negros são uma classe servil segregada, com direitos privilégios restritos. [...] E o resultado de tudo isso é, e naturalmente assim deveria ser, a marginalidade e o crime. (DUBOIS, W. E. R. 1999, p. 90)
Com o Sul ainda em reconstrução, em 1875 a Declaração dos Direitos Civis que garantia a todos os cidadãos acesso aos recursos públicos ainda não era o bastante, pois, no que se refere à participação do governo em relação à delegação de direitos aos negros, esta se mostrou fraca e restrita. Uma determinação da Suprema Corte dos Estados Unidos deu aos Estados com leis segregacionistas, a liberdade de executá-las. De acordo com Ellis Cashmore  (2000, p. 285) “A Suprema Corte dos Estados Unidos determinou que a Declaração de 1875 não se aplicasse a ‘atos pessoais de discriminação social’.” Diante dessa determinação as leis segregacionistas se apoiavam na Constituição, ainda que de forma errônea, onde, os direitos civis eram subordinados à forma delegada pelos Estados.

1.4.2. Lideranças Negras
Com a emancipação dos escravos as lideranças negras se tornaram mais importantes nesse contexto histórico, entre as quais podemos destacar Frederick Douglass e Booker T. Washington . De acordo com Du Bois (1999), Frederick Douglass apresentava-se como um líder que guiava multidões, no entanto, as transformações dos ideais negros mudaram os rumos da luta, o que levou a evocação de um novo líder, seria então a vez de Price  liderar. Contudo, a figura que realmente se destacou nesse período foi a de Booker T. Washington, ainda que este tenha encontrado uma forte oposição dos negros à sua política de negociações, teve este um papel importante desde 1876. “Booker T. Washington surgiu essencialmente como líder, não de uma raça, mais de duas – um conciliador entre o Sul, o Norte e o Negro”. (DU BOIS, 1999, p. 107)
A política de Washington tinha como fundamento um programa de educação industrial, o Tueskegu Normal no Instituto Industrial, onde, preocupado em por em prática esse programa, passou por cima de reivindicações que até o momento eram as bases principais do movimento pelos direitos dos negros. Tais reivindicações baseavam-se principalmente no acesso ao poder político, aos direitos civis e a educação universitária.
O Sr. Washington distintamente pede que a gente negra abra mão, pelo menos por ora, de três coisas - em primeiro lugar, do poder político, em segundo, da instância nos direitos civis, em terceiro, da educação universitária para juventude negra – e que concentre todas as suas energias na educação industrial, na acumulação de riqueza e na conciliação do Sul. (DUBOIS, W. E. R. 1999, p. 107)
A terrível fase do racismo nos Estados Unidos ganhou força somente após o término da ocupação militar no Sul. A partir desse momento uma triste realidade passou a fazer parte da história dos Estados Unidos, a segregação racial mostrou ao mundo o quanto um ser humano pode ser cruel com outro tendo com base para tal ato a cor e a etnia.





















CAPÍTULO II
EMANCIPADOS E SEGREGADOS

2.1. As Leis Segregacionistas E O Racismo
Após a emancipação dos negros vieram às leis segregacionistas criadas nos estados do Sul, as quais separavam negros de brancos. Nos Estados Unidos entre finais do século XIX até meados do século XX a relação entre negros e brancos apresentava situações na qual o racismo provocava embates e discussões frequentes na política econômica e social do país.
 De acordo com Valerie Shloredt e Pam Brown (1993), Mesmo nos estados do Norte, onde, os negros procuravam refugio contra os maus tratos e perseguições dos racistas brancos do Sul, ainda assim encontravam dificuldades em relação à educação e ao trabalho, pois eram vitimas de racismo.
Os Estados do Sul ao perderem a Guerra Civil tiveram que ceder às condições impostas pelos Estados da União, entre as quais estava à abolição dos negros, principal mão-de-obra empregada nas plantações de algodão, algodão este de grande importância para as indústrias têxteis da época. Foi a partir desse momento que os Estados do Sul resolveram, sob o ponto de vista racista, empregar um sistema de separação entre negros e brancos, criando assim as leis segregacionistas conhecidas como “Jim Crow”. Segundo Ellis Cashmore (2000), Jim Crow era o titulo de uma canção de Thomas Rice , o qual se pintava de preto fazendo uma sátira da figura do negro. Esse termo passou a ser utilizado como uma forma pejorativa e racista de referência aos negros.   
A segregação racial acontecia em lugares dos mais diversos, onde, para determinados homens brancos era impossível conceber que os homens negros frequentassem os mesmos lugares que eles, pois, até mesmo nas igrejas, banheiros públicos, lanchonetes e bebedouros, a separação era, indiscutivelmente, perceptível, como podemos constatar na figura 2.
Nenhum negro podia freqüentar um restaurante reservado a brancos ou sentar em lugares reservados a eles. Em alguns lugares era crime encontrar brancos e negros jogando cartas juntos. Os religiosos consentiam a presença dos negros nas igrejas, de preferência bem distantes dos brancos. Era como se Deus também não os considerasse iguais.  (Sholeredt & Brown, 1993, p. 7)



 
Figura 2 - Negro bebendo em bebedouro para pessoas de cor no terminal de bonde em Oklahoma City, Oklahoma. Fonte: (http://www.loc.gov/pictures/item/fsa1997026728/PP/)

Existiam dois tipos de segregação correntes nos Estados Unidos nessa época, ou seja, a segregação de jure e a segregação de fato. Segundo Cashmore (2000), a segregação de jure ocorre quando as diferenças raciais étnicas imagináveis são levadas em conta e servem como base para que determinados grupos atuem em favor dessa separação, os quais são amparados por lei, enquanto a segregação de fato não ocorre de forma legal, isto é, amparada por lei.
Os níveis de segregação racial entre as comunidades negra e branca aumentaram depois da abolição do regime escravocrata. A maioria dos analistas apontou tal situação como resultada do medo de uma relação igualitária entre os escravos libertos e os seus antigos senhores: manter a diferença era, certamente, um modo de prolongar o sistema de subordinação, enraizado na nação de uma hierarquia ‘racial’ étnica. (CASHMORE,2000, p. 505-506)

De acordo com Cashmore (2000), no Sul dos Estados Unidos a segregação racial ocorreu de forma muito forte, pois, o isolamento era cada vez mais evidenciado pelas disposições legais e não legais. Em relação à situação de segregação racial nos estados do Norte apresentou-se a questão dos guetos . Os guetos eram lugares onde os negros se concentravam e moravam, ao analisarmos esse fato percebemos que a condição de segregação ocorria também nessa região, pois os negros passavam a morar em lugares, embora urbanos, mas pobres e sem a devida assistência por parte do governo.
Segundo Löic Wacquant (2004), os negros iam para o Norte tentando fugir da segregação racial a que eram subjugados nos estados do Sul, mas ao chegarem nesta região, onde o crescimento urbano era uma constante devido à industrialização, eles passavam a formar os chamados guetos.
Inicialmente, na última metade do século XIX, o termo era usado para referir-se a concentrações residenciais de judeus europeus nos portos do Atlântico e era claramente distinto de slum enquanto área de moradia precária e de patologia social. O conceito expandiu-se durante a Progressive Era e passou a incluir todos os distritos urbanos degradados onde imigrantes exóticos juntavam-se – mais especificamente, imigrantes pobres do Sudeste europeu e afro-americanos fugindo do regime Jim Crow de submissão de castas no Sul dos EUA. Na medida em que o termo refletia preocupações da classe dominante com relação à assimilação desses grupos ao padrão anglo-saxão predominante no país, o "gueto" referia-se, nesse contexto, à intersecção entre bairros étnicos e slums, em que a segregação juntava-se ao abandono físico e à superpopulação, exacerbando assim males urbanos como a criminalidade, a desintegração familiar, a pobreza e a falta de participação na vida nacional. (WACQUANT, Löic, 2004, p.156)



2.2. O Caso Plessy V. Ferguson de 1896
Como vimos, a segregação racial acontecia em lugares diversos, sendo que a depender da localidade a segregação poderia estar amparada por lei. Podemos destacar um tipo de segregação racial um pouco comum nos estados do Sul em finais do século XIX, a qual ocorria nos vagões de passageiros nos trens, onde, os assentos eram separados de acordo com a cor da pessoa.
Um dos casos mais conhecidos envolvendo segregação em vagões de trens ocorreu no Estado de Loisiana, caso este que demonstra como a justiça norte-americana agia frente a determinadas situações envolvendo questões raciais. O caso Ferguson denota os conflitos que as leis segregacionistas causavam na vida das “pessoas de cor”. O argumento defendido pelo peticionário Homer Plessy no caso Plessy v. Ferguson de 1896 estava relacionado ao fato de que ele tinha em sua combinação genética, sete oitavos de sangue branco e um oitavo de sangue negro. Esta condição apresentada por Plessy lhe dava o direito de pagar por uma passagem de primeira classe em um trem. Era esse um direito garantido aos cidadãos da raça branca nos Estados Unidos, ou seja, com apenas um oitavo de sangue negro Plessy teria então condição para declarar-se um homem branco. Todavia, o Supremo Tribunal validou a lei segregacionista nos transportes ferroviários do Estado de Loisiana. Ainda assim, nos meios jurídicos existiam pensamentos e opiniões diferentes a respeito desse assunto, e isso pode ser comprovado em uma cláusula do parecer final do caso Ferguson, onde o juiz Brown cita o seguinte:
 Se males que resultam da mistura das duas raças em vias públicas estabelecidas para o benefício de todos será infinitamente menor do que aqueles que certamente virão da legislação estadual  que regulam o gozo dos direitos civis em cima da base da raça. Nós nos orgulhamos da nossa liberdade de que gozam as pessoas acima de todos os outros povos. Mas é difícil conciliar os que se vangloriam com um estado de lei que, praticamente, coloca a marca de servidão e degradação em cima de uma grande classe de nossos concidadãos, nossos iguais perante a lei. O disfarce de "iguais” acomodações para os passageiros nos autocarros da estrada de ferro não vai enganar ninguém, nem reparar o mal feito neste dia. ( BROWN. Transcrição de Plessy v. Ferguson, 1896, tradução nossa)
O caso Plessy V. Ferguson de 1896, onde, a Suprema Corte acabou dando parecer favorável à lei do Estado de Loisiana que amparava a segregação de assentos nos trens demonstra as contradições existentes nas questões que envolviam tais assuntos. ‘separados, porém iguais’ era a doutrina que se levantara para dar respaldo a tais leis.
Após pouco mais de uma década do parecer final do Caso Plessy Ferguson, uma associação inter-racial foi instituída com o objetivo de auxiliar as pessoas de cor. De acordo com Michael Jay Friedman (2007), em 1909 a NAACP (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor) foi estabelecida com o intuito de travar batalhas judiciais em defesa dos homens de cor. A luta desta associação pelo fim da segregação e discriminação contou com a colaboração de varias pessoas, sendo que algumas se destacaram devido à participação em vários processos importantes, nos quais alcançaram a vitoria. Os estadunidenses Charles Hamilton Houston  e Thurgood Marshall , ambos fizeram parte da NAACP,  como advogados e como conselheiros especiais,  os quais por meios legais conseguiram derrubar leis segregacionistas.
Houston e Marshall estavam determinados a reverter a decisão do processo Plessy nos tribunais americanos provando que, no mundo real, "separado nunca era igual". Sua estratégia exigia uma paciente coleta de fatos que apoiassem seu argumento. Eles também perceberam que levaria tempo para se livrarem de Plessy. A idéia era derrubar a segregação legal pouco a pouco, um processo por vez. (FRIEDMAN, 2007, p.4)
Segundo Friedman (2007), entre as mais importantes vitórias judiciais de Marshall em favor dos direitos civis dos negros e contra a segregação racial nos Estados Unidos está o Caso Brown v. Board of Education de 1954, o qual começou a ser discutido em 1952. A ação na cidade de Topeka no Kansas foi determinante para os argumentos defendidos por Marshall, processo em que esteve envolvida Linda Brown, uma aluna do ensino fundamental, a qual não podia frequentar uma escola perto de sua casa por ser negra, pois a escola era somente para crianças brancas. Esta ação teve como requerente o pai de Linda, o Rev. Oliver Brown. Marshall teve que apresentar vários argumentos e provas contra a ilegalidade da segregação nas escolas, pois o Tribunal de Primeira Instância indeferiu o pedido de Oliver Brown argumentando que as escolas para brancos e para negros apresentavam qualidades comparáveis. Com perspicácia e importante ajuda da NAACP, Marshall conseguiu através de evidencias comprovar o quanto a auto-estima e o bem-estar dos afro-americanos  era comprometidos pela segregação.
Particularmente significativo foi um estudo no qual os psicólogos Kenneth e Mamie Clark tentaram determinar como a segregação afetava a auto-estima e o bem-estar mental dos afro-americanos. Algumas de suas dolorosas constatações: As crianças negras com idade entre três e sete anos preferiam bonecas brancas a bonecas negras, idênticas sob todos os demais aspectos. (FRIEDMAN, 2007, p.9)
No entanto, o argumento maior de Marshall estava baseado na Constituição dos Estados Unidos, onde a doutrina, “separados mais iguais” era considerada inconstitucional, e, portanto não restava outra decisão se não a dessegregação das escolas. Segundo Friedman (2007), a  Suprema Corte  em maio de 1954 apesar de ter tomado a decisão favorável a Marshall não estipulou prazo para a dessegregação das escolas, e isto gerou conflitos.
A segregação racial nas escolas fez parte de uma das piores fases em que o racismo reinou nos Estados Unidos. A decisão da Suprema Corte desagradou não só civis, mas também autoridades dentre elas o governador da Geórgia, Herman Talmadge, e o repudio do governador em relação a tal decisão foi noticiado no Brasil através do jornal Folha da Manhã, na quarta-feira, 19 de maio de 1954 . Os lugares onde a segregação se destacava, principalmente, em relação aos jovens e crianças eram nas escolas, e isso se tornou evidente também em Montgomery.
A posição dos negros em Montgomery era típica do que acontecia em muitas outras regiões do Sul. O sistema de segregação significava que crianças negras e brancas tinham que freqüentar escolas diferentes, e as escolas dos negros eram bem mais pobres do que a dos brancos. A justiça dos Estados Unidos, representada pelo Supremo Tribunal, havia decidido, em 1954, que a continuação desse estado de coisas não mais seria permitida. A lei dizia que todos os americanos deveriam ter as mesmas oportunidades. (Shloredt e Brown, 1988, p. 17-18)

Em 1957 em Little Rock, Arkansas, estudantes negros foram impedidos de frequentarem a Escola Central de Ensino Médio. Tal situação levou Marshall a mais um processo, o qual dessa vez não só o parecer foi favorável, mas também a decisão da Suprema Corte em promover, imediatamente, a dessegregação das escolas públicas de  Little Rock.
A vitória de Marshall nesse processo abriu caminho para a declaração feita pelo Presidente Dwight Eisenhower em 24 de setembro: ‘Promulguei hoje um ato do Executivo ordenando o uso de tropas sob controle federal para ajudar na execução da lei federal em Little Rock, Arkansas. Não podemos permitir que o governo das massas ignore as decisões de nossas cortes’. (FRIEDMAN, 2007, p.11)

2.3. Organizações Racistas: A Emblemática Ku Klux Klan
A segregação racial no Sul teve o suporte de algumas organizações que surgiram logo após o fim da Guerra Civil, entre as quais estavam os Cavaleiros da Camélia Branca, a Irmandade Branca, a Associação 76 e a Ku Klux Klan . Esta ultima era uma organização com origem datada de 1865, final da Guerra Civil nos Estados Unidos, a qual perseguia judeus, católicos e comunistas, no entanto, estes não eram as suas principais vitimas, mas os negros era o foco dessa organização. (JUNQUEIRA, 2001)
A Ku Klux Klan defendia a supremacia branca e fazia uso de diversos mecanismos de repressão constrangendo e violentando fisicamente e moralmente os negros, procuravam dessa forma dificultar ou até mesmo impedir a inserção destes na sociedade estadunidense da época. Segundo Cashmore (2000), tal organização apresentou-se durante um período de quase 100 anos, ou seja, de 1865 a 1963, algumas oscilações, mas durante esse período os ataques aos negros não deixaram de ocorrer, ainda que de forma “disfarçada”.
Para Cashmore (2000), a filosofia religiosa defendida pela KKK, segundo a qual Deus tinha um olhar e cuidado diferenciado para com os brancos, e esta condição sustentava a tese da superioridade, de supremacia em relação aos demais povos, inclusive os negros. Para a KKK, os indígenas, e em especial os negros, jamais deveriam ter sido libertados da escravidão, sendo assim, tal pensamento dava respaldo a perseguição e aniquilação dos negros. Segundo Willian P Randel (1965, apud Cashmore, 2000) em um manifesto da KKK estava escrito o seguinte:
Nosso principal e fundamental objetivo é a MANUTENÇÃO DA SUPREMACIA DA RAÇA BRANCA nesta república. A história da psicologia nos ensina que pertencemos a uma raça que a natureza imbuiu de evidente superioridade sobre todas as outras, e que o criador, elevando nós acima do padrão humano da criação, nos deu um domínio sobre as raças inferiores, que nenhuma lei pode nos tirar permanentemente. (RANDEL, 1965 apud CASHMORE, 2000, p. 293)    
Devido à forma de perseguição adotada pela KKK, era esta considerada como uma sociedade secreta , pois os crimes praticados por essa organização a fazia agir na clandestinidade. Os rituais organizados pela Klu Klux Klan apresentavam atos de extrema crueldade e com características emblemáticas, onde, a utilização de capuzes, roupas brancas, fogueiras e cruzes, pelos membros da organização, formavam um cenário aterrorizante para os negros. A figura 3 mostra uma das passeatas organizadas pela KKK, onde procuravam intimidar os negros.

 
Figura 3 A Ku Klux Klan em desfile na Avenida Pensilvânia, 1928. Fonte: (http://arcweb.archives.gov/arc/action.)

Um tribunal, na maioria das vezes, era formado pela KKK, a qual tendo como base a sua filosofia incumbiu-se do direito de acusar e condenar os negros. Algumas dessas condenações chegavam ao extremo, ou seja, a pena de morte, pois ser negro e ocupar espaço “destinado” ao branco  era  crime.
    Como vimos tal organização defendeu a segregação racial ao extremo, com atitudes radicais que chegaram à barbárie, em determinados momentos a atitude de segregar o negro não era o bastante, este deveria ser julgado e punido por qualquer atitude que denotasse desrespeito aos racistas brancos. Em seus tribunais a KKK julgava e condenava aqueles que eram vistos como uma ameaça a supremacia branca, ou seja, um homem negro jamais poderia ser igual ao homem branco. A figura 4 mostra uma das barbáries cometidas pelos racistas brancos para com os negros no período de segregação.
    
 
Figura 4 - Cartão postal exibe o linchamento de Lige Daniels, no Texas, 3 de agosto de 1920. O verso diz: "Isso foi feito no jardim do tribunal, em Center, Texas. Ele era um rapaz negro de 16 anos. Ele matou a avó dos Earl. Era a mãe da Florence. Fonte: (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lynching-of-lige-daniels.jpg#filehistory)





CAPÍTULO III
MARTIN LUTHER KING E O MOVIMENTO PELOS DIREITOS CIVIS DOS NEGROS ESTADUNIDENSES

3.1. Um Líder Pacifista
Em 15 de janeiro de 1929 nasceu em Atlanta na Geórgia, extremo sul dos Estados Unidos, Martin Luther King, um homem negro que marcou a história mundial entre as décadas de 50 e 60 do século XX. Luther King foi durante esse período um dos mais importantes e influentes lideres negros na luta pelos direitos civis, e isso se deve, principalmente, ao caráter pacifista de luta adotado por ele.
Luther King era filho de um pastor evangélico que ocupava uma posição importante na comunidade negra, sendo também muito respeitado dentro desta comunidade. Os valores ensinados a King pelo seu pai marcou sua vida, no entanto, as principais atitudes de caráter pacifista que deram a Luther King notoriedade mundial foram influenciadas pelo indiano Mahatma Gandhi. Mas a luta de Luther King contra as inúmeras injustiças, às quais os negros eram submetidos devido às leis segregacionistas nos estados do Sul, não foi fácil e se tornou muito mais difícil sendo ele um líder pacifista. (SHLOREDT & BROWN, 1993)
Alguns líderes negros exasperaram-se a tal ponto que passaram a pregar a violência e os levantes armados contra a injustiça. Mas um grande líder, Dr. Martin Luther King, sabia que estas manifestações levariam muita gente a creditar que os negros não eram melhores do que os brancos que continuavam a discriminá-los; seria agir como se os negros não fossem dignos do respeito e da igualdade que reivindicavam. (SHOLEREDT E BROWN, 1993, p. 8)
A infância e adolescência de Luther King não foram diferentes daquelas vividas pela maioria dos negros sulistas, onde segregação, racismo, violência física e moral ultrapassaram os direitos de igualdade e fraternidade enfatizados pelo governo norte-americano. De acordo com Shloredt e Brown (1988), ‘O Negro e a Constituição’ foi  o titulo de um trabalho escolar de Luther King na sua adolescência, trabalho pelo qual ele recebeu um prêmio. Ao viajar de volta para casa depois de terminado o debate escolar em que este trabalho foi apresentado, Luther King e o seu professor que também era negro foram obrigados, sob muita humilhação e contra a sua vontade, a ceder seus lugares a dois homens brancos porque o ônibus havia lotado. Diante das atrocidades da segregação racial Luther King jamais esqueceria as palavras de seu pai a esse respeito. Segundo Daddy King citado por Shloredt E Brown (1988), ‘Não importa quanto tempo vou ter que viver com esse sistema. Eu nunca vou aceita-lo. Lutarei contra ele até morrer’(p. 12.)
Conforme crescia, Martin aprendia que a segregação – duas raças vivendo completamente separadas – era um fato da vida no Sul. Como negro, tinha o direito de utilizar certos bebedouros e banheiros públicos; nos outros, havia placas de sinalização que alertavam: ‘somente para brancos’ [...] Brancos e negros não iam à escola juntos, não usavam a mesma biblioteca ou os mesmos parques. Negros nunca moravam nas áreas dos brancos. (SHOLEREDT E BROWN, 1993, p. 11)
Conforme Shloredt; Brown (1993), ser um pastor evangélico era o que o pai desejava para King, mas as profissões de advogado e médico eram por ele consideradas mais úteis a comunidade negra. Para alcançar tal objetivo King aos 15 anos de idade entrou para Faculdade Morehuose College pertencente a uma comunidade negra, em Atlanta, no entanto, pouco depois Martin decidiria ser pastor. O primeiro sermão de Martin Luther King foi na Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta, sendo este sermão promovido pelo seu pai. Esse novo rumo que King deu a sua vida o levou para o Seminário de Crozer na Pensilvânia, onde, a partir de 1948 ele teve acesso a obras de famosos teólogos e filósofos, dentre os quais lhe chamou a atenção os pensamentos de Henry Thoreau, um abolicionista. Mas foram as idéias do indiano Mahatma Gandhi que influenciaram Luther King em sua luta contra a segregação racial, idéias estas que viam na filosofia da não violência, a principal “arma” contra tais injustiças.
Gandhi disse que, embora estivessem dispostos a morrer pela independência, os indianos não deveriam matar para conquistá-la, mesmo que tratado com extrema brutalidade. A partir da experiência dos indianos, Martin começou a acreditar que o que ocorrera na Índia poderia ocorrer também nos Estados Unidos [...] Não imaginava que um dia iria liderar um vasto movimento pelos direitos civis [...] tendo como principio a não violência. (SHOLEREDT E BROWN, 1993, p. 14)
Segundo Sean Purdy (2007), o período pós Segunda Guerra Mundial foi um período em que os negros ainda eram submetidos a uma segregação racial desumana. No entanto, tal condição aumentava a vontade destes por mudanças,  pela abolição das leis segregacionistas dos estados do Sul e pela conscientização das pessoas brancas do ideal de igualdade que rege a constituição norte-americana.
Segregação formal e informal, linchamento e violência policial, discriminação no emprego, na educação e nos serviços públicos, falta de direitos políticos, pobreza extrema – tudo isso caracterizava a vida de negros nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Eles, porém, não foram vítimas passivas. Importantes organizações políticas negras haviam atuado na primeira metade do século, mas as condições dos anos 1950 e 1960 propiciaram o estouro de um movimento em massa. ( PURDY, 2007, P. 243)
A partir de 1953 mudanças e transformações passariam a ocorrer tanto na vida de Luther King quanto na dos demais homens negros do Sul. Segundo Shloredt e Brown, (1988), nesse mesmo ano King voltou ao Sul para assumir o cargo de pastor na Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Alabama. A volta ao Sul trouxe recordações, e trouxe também o terror, a violência e a injustiça, as quais os negros ainda eram submetidos, principalmente, nessa região.

3.2. Rosa Parks: O Boicote Aos Ônibus Em Montgomery
A partir de 1955 sob a liderança pacifista de Martin Luther King a luta pelos direitos civis dos negros ganhou força diante da atitude de Rosa Parks . Rosa Parks foi um dos principais pivôs do movimento pacifista de Luther King, e isto devido a sua atitude frente ao tratamento a qual os negros eram submetidos, ou seja, frente à segregação que humilhava, constrangia e os condenavam a uma vida de restrições e injustiças. Parks foi mais uma vítima das leis segregacionistas, as quais em pleno século XX ainda resistiam e eram de se fazer cumprir a risca.  
A situação em que Parks se envolveu era comum naquele momento histórico, no Sul dos Estados Unidos, onde, os assentos dos ônibus eram separados de forma a atender brancos e negros, desde que nenhum branco ficasse em pé. Em 1º de dezembro de 1955 um acontecimento marcou a vida de Rosa Parks e dos negros estadunidenses, principalmente daqueles que queriam ser tratados como iguais em direitos e deveres perante os brancos.
Depois de um dia de trabalho Parks voltava para casa em um ônibus com assentos segregados, os negros não poderiam em hipótese alguma sentar nos lugares separados para os brancos, sendo essa norma defendida por lei. Todavia, Parks não se preocupou em respeitar tal lei, pois o cansaço do trabalho e o repudio a segregação eram mais fortes perante aquela situação, onde, o motorista ao avistar um homem branco em pé dentro do ônibus, logo se prontificou arrumar um lugar para este. A situação chegou ao extremo quando Parks foi obrigada a ceder o seu lugar e se recusou a sair do assento. (SHLOREDT & BROWN, l993)
Um branco permaneceu em pé, e o motorista virou-se para os lugares onde Rosa Parks e três negros sentavam, dizendo: ‘Eu preciso desses assentos’. Nenhum dos negros se levantou. Então o motorista voltou-se mais uma vez para eles e rugiu ameaçadoramente: ‘É melhor que vocês me ouçam e deixem esses assentos livres’. Os outros três negros se levantaram, mas Rosa Parks manteve-se sentada. (SHOLEREDT & BROWN, 1993, p. 19-20)

De acordo com Shloredt e Brown. (l993) tal atitude de Rosa Parks acabou colocando-a na prisão, pois o motorista deixou bem claro que se ela não saísse do lugar ele chamaria a polícia para prendê-la, em resposta Parks respondeu o seguinte ‘Então, vá em frente. Prenda-me’. Rosa Parks foi presa por um policial, o qual alegou estar cumprindo apenas a lei estabelecida para este tipo de caso. A partir desse acontecimento a luta dos negros estadunidenses contra a segregação racial tomaria impulsos jamais vistos anteriormente.
Foi nesse contexto que Martin Luther King propôs o boicote ao ônibus em Montgomery, em defesa de Rosa Parks e em repudio á segregação racial a qual os negros eram submetidos. Enquanto nos estados Sul a segregação racial ocorria, muitas vezes, amparada por lei, nos estados do Norte a segregação acontecia gerando os guetos, lugar que parecia cada vez mais um local de confinamento.
Dias depois da prisão de Parks, pastores e lideres negros, entre eles Luther King, os quais viam esse fato como uma espécie de impulso na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, decidiram a data em que o boicote aos ônibus ocorreria. Para que o boicote acontecesse de forma mais homogênea foram distribuídos panfletos nas igrejas e bairros negros noticiando a prisão, convocando e incitando os negros a não utilização dos ônibus. Também foi firmado um acordo com os taxistas para que estes prestassem o serviço deixando que os passageiros ratearem a corrida pagando cada um o mesmo valor que era pago aos ônibus, e isso ficou claro no panfleto do protesto. (SHLOREDT & BROWN, l993)
Não utilizem ônibus para irem ao trabalho, nem à cidade, nem à escola ou a qualquer lugar na segunda-feira... Se você trabalha, pegue um taxi ou rateie a corrida ou ande a pé. Venha a um encontro com a população, segunda-feira, às 19 horas, na Igrja Batista da Rua Holt para mais instruções. (1955 apud SHLOREDT & BROWN, 1993, p. 22)
O plano de Martin Luther King obteve êxito já no primeiro dia do boicote aos ônibus em Montgomery. De forma pacífica e organizada, o boicote aos ônibus demonstrou que era possível conseguir lutar contra a segregação racial e a discriminação, assim como a favor da igualdade defendida pela Constituição norte-americana. De acordo com Shoredt e Brown (1988), Uma organização foi formada para ajudar na concentração dos negros em apoio ao boicote, a Associação pelo Progresso de Montgomery sobe a liderança de Luther King
A reunião enunciada no panfleto do boicote contou com a participação de cerca de 4 mil pessoas, onde Luther King e Rosa Parks, a qual já havia sido libertada da prisão, compareceram. Luther King consagrou-se naquele dia 5 de dezembro de 1955 como um verdadeiro líder do movimento pacifista pelos direitos civis dos negros. Em seu discurso enfatizou questões acerca dos maus tratos, da humilhação diante das Leis segregacionistas, da ação da justiça dentro desse contexto, e da necessidade de união entre os negros, como forma de fortalecer a luta. A Associação pelo Progresso de Montgomery apresentou à comunidade negra, naquela reunião, reivindicações que deveriam ser feitas às autoridades e a empresa de ônibus. Dentre tais reivindicações estava a de que a Companhia de transporte coletivo contratasse motoristas negros para trabalhar nos ônibus que fizessem linhas em bairros negros. Toda essa situação causada pelo boicote chamou a atenção da imprensa nacional e internacional, o que proporcionou a difusão do movimento pacifista de Martin Luther King pelos direitos civis dos negros estadunidenses. (SHOREDT & BROWN, 1993)
A atenção do mundo se voltou para aquele protesto quieto, humilde e pacífico. O alvo da cobertura da imprensa, do rádio e da televisão não era apenas a questão dos ônibus de Montgomery, mas toda a opressão racial nos Estados Unidos. E Martin Luther King começou a ser visto como o mais forte líder da causa negra. (SHLOREDT & BROWN, 1993, p. 29)
Em repressão ao boicote as autoridades policiais e os civis racistas de Montgomery não hesitarão em atacar os manifestantes, mesmo que para isto fosse preciso usar de violência, e foi o que aconteceu na maioria dos casos de repressão ao boicote. Nem mesmo Luther King escapou de tais ataques, ainda que na forma de correspondências, o ódio racista era evidente nas cartas enviadas a King e sua família.
A polícia poderia estar usando a lei apenas para intimidar, mas alguns extremistas brancos não pareciam estar com suas mãos amarradas por qualquer lei. Em janeiro, Luther King e sua família foram bombardeados por correspondências repletas de ódio [...] Eram as primeiras ameaças de morte recebidas por Coretta e Martin. (SHLOREDT & BROWN, 1993, p. 30)
Ainda que as ameaças a Martin e sua família se tornaram reais, ele não deixou de lado a sua ideologia de lutar pacificamente pelos direitos civis dos negros. A todo o momento grupos de manifestantes eram presos e autuados, e dentre um destes grupos  estava Luther King, o qual juntamente com outros manifestantes teve que responder a  processos submetendo-se ao julgamento de um júri formado por pessoas brancas. Diante dessa situação o recurso mais viável para a libertação dos presos estava em conseguir provar que a Constituição dos Estados Unidos era contra a segregação nos ônibus. Era esta uma estratégia de defesa formada pela Associação pelo Progresso de Montgomery em favor dos manifestantes presos. Tal forma de estratégia já havia sido utilizada em outros processos de segregação racial, onde podemos citar a importante atuação de Thurgood Marshall e da NAACP em defesa dos direitos civis dos negros. A NAACP também colaborou na defesa de alguns desses manifestantes.
A participação dos automóveis particulares que ajudavam os negros servindo como meio de transporte durante o boicote aos ônibus foi duramente repreendida no Tribunal. Segundo Shloredt e Brown (1993, p. 34), as dificuldades em relação aos objetivos com o boicote aumentaram ao longo do período de manifestações, mas uma importante vitória chegou às mãos de King, durante uma audiência no Tribunal, era um telegrama que versava o seguinte: “O Supremo Tribunal dos Estados Unidos confirmou hoje uma decisão do Tribunal Distrital declarando inconstitucionais as leis e regulamentos do Alabama impondo a segregação dentro dos ônibus.”
Após a decisão do Supremo Tribunal acerca da inconstitucionalidade das leis e regulamentos de segregação nos ônibus do Alabama, os ataques de grupos racistas se intensificaram de modo a cometerem até mesmo atentados, onde igrejas foram incendiadas e passageiros negros foram surrados. Todavia, os primeiros ônibus integrados começaram a circular e dentro do primeiro ônibus estava Martin Luther King. O progresso alcançado em Montgomery a respeito da dessegregação dos ônibus rendeu a King fama e diversos convites, encontros e palestras, principalmente, depois da instituição da SCLC (Conferência da Liderança Cristã do Sul) em 1957, e do seu livro Stride Toward Freedom (A Caminho da Liberdade). Depois King se mudou para Atlanta se tornando co-pastor de seu pai. A figura 5 mostra um dos primeiros ônibus integrados, o qual se teve como passageira a ativista Rosa Parks.    

 
Figura 5 - boicote aos ônibus de Montgomery: Rosa Parks passeios em um ônibus recém-integrado em Montgomery, Alabama, após o fim do boicote dos ônibus de Montgomery, 1956. Fonte: (http://ic.galegroup.com/ic/uhic/ImagesDetailsPage/Images)

Os anos de 1950 e 1960 foram anos de manifestações e protestos pela causa dos direitos civis dos negros estadunidenses, e importantes tanto para o movimento pacifista liderado por Luther King quanto para os movimentos mais radicais e extremistas.

3.3. Luther King E Os Estudantes Pacifistas

 A segregação racial ocorria também em lugares aonde a maioria dos frequentadores eram os jovens, lugares como lanchonetes. Segundo Shloredt e Brown (l993), ações coordenadas por estudantes universitários ganharam notoriedade em 1960, como foi o caso do estudante universitário negro que com mais dois colegas protestaram contra o não atendimento aos negros no balcão de uma lanchonete no terminal de ônibus. Tais protestos eram feitos de forma pacífica, sem o uso da violência, pois os estudantes tomaram como exemplo os movimentos pacifistas de Luther King. Nesse contexto foi formado um comitê (SNCC) Comitê de  Coordenação Estudantil Não Violento, o qual recebeu o apoio presencial de Luther King, apoio este que rendeu a Luther King  prisão com quatro meses de trabalhos forçados na penitenciária do Estado em Atlanta.
Como destaca Shloredt e Brown (l988), o movimento pacifista pelos direitos civis dos negros, defendido e liderado por Luther King, ganhava cada vez mais força. Foi durante o período de reclusão na prisão em Atlanta que Luther King recebeu uma importante ajuda de cunho político, onde na época o então senador John F. Kennedy  candidato democrata à eleição para presidente dos Estados Unidos ofereceu ajuda a família de King para tirá-lo da prisão. A família aceitou a ajuda e pouco depois king estava livre da prisão. A atitude de Kennedy em favor de king e da luta deste pelos direitos civis dos negros fez com que o apoio e o voto de muitos negros fossem direcionados a ele.
Em 1961 os protestos nas lanchonetes continuaram, e foi  no Sul que os ‘Viajantes pela Liberdade’  enfatizaram o repudio a segregação racial nesses locais. Embora estes protestos fossem pacíficos por parte dos estudantes, do lado racista a situação era enfrentada de forma muitas vezes violenta. Ao saírem em protestos, os estudantes foram atacados violentamente e esses ataques se estenderam até contra as igrejas nas quais King havia pedido apoio para os estudantes. Devido a tais acontecimentos o governo teve que intervir tomando medidas de combate a essas ações fazendo uso da força dos soldados da Guarda Nacional em Montgomery. Todavia, tal situação trouxe benefícios ao movimento pelos direitos civis dos negros e contra a segregação racial nos Estados Unidos, pois os abusos e ataques racistas foram registrados pela imprensa mundial. Diante da perplexidade dos fatos noticiados pela imprensa mundial nesse período, em que pessoas do mundo todo ouviram e viram os ataques racistas no Sul, o governo dos Estados Unidos aboliu a segregação nos terminais de ônibus. (SHLOREDT & BROWN, 1993)
3.4. As Grandes Marchas
A partir de 1963, Luther King procurou lutar pelos direito civis dos negros através das Grandes Marchas, mas as dificuldades não deram tréguas e entre elas estavam às prisões de King. As Marchas foram armas pacificas e poderosas no combate ao racismo, onde podemos destacar a Marcha sobre Washington pelo Trabalho e a Liberdade, como uma das mais importantes marchas liderada por King. A Marcha sobre Washington ocorrida em 28 de agosto de 1963 no Lincoln Memorial em comemoração ao centésimo aniversário da abolição mostrou a King a dimensão da vontade dos negros e dos brancos não-racistas, de lutarem pacificamente pelos direitos civis dos negros. Podemos constatar a grandiosidade desse evento na figura 6.

 
Figura 6 - Em 1963, o discurso foi o ponto culminante dos Direitos Civis na Marcha sobre Washington, projetada para fazer pressão sobre a administração de Kennedy para aprovar a legislação dos Direitos Civis. Fonte: (http://www.mlkonline.net/martin-luther-king-pictures)

Essa Marcha também foi marcada pelo famoso discurso de Martin Luther King “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho), onde nesse discurso podemos identificar a forma de luta pacífica tão enfatizada por ele, assim como sua formação teológica e familiar. A igualdade, a fraternidade, a liberdade e a unidade, pontos defendidos na Constituição dos Estados Unidos foram por King instituídos como base para o seu discurso.
Digo a vocês, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustações do momento eu ainda tenho um sonho. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o real significado de seu credo: ‘Nós sustentamos essas verdades para ficar evidente que todos os homens são criados iguais’.
Eu tenho um sonho que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos proprietários de escravos serão capazes de se sentarem juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia até o Estado do Mississipi se tornará um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que um dia meus quatro filhos viverão em uma nação em que não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. (LUTHER KING apud Shloredt & Brown, 1988, p. 48-49)

  De acordo com Luther king a presença do sentimento de igualdade e fraternidade entre negros e brancos era necessário para que houvesse liberdade e justiça de fato. Segundo  Shloredt e Brown (l993),  o evento e o discurso promovidos por Luther King demonstravam o grau de aproximação que ele conseguira estabelecer com uma multidão de 250 mil pessoas. O discurso envolvia as pessoas de tal maneira que os aplausos, as aclamações e o entusiasmo denotavam aceitação ao que estava sendo referido por Luther King.
E, se a América quiser se tornar uma grande nação, isto precisa se tornar verdade. Então, deixemos a liberdade ecoar no topo das prodigiosas colinas de New Hampshire. Deixemos a liberdade ecoar nas poderosas montanhas de Nova York. Mas não apenas de lá. Deixemos a liberdade ecoar em todas as colinas e montículo do Mississippi...  
Quando nós deixarmos a liberdade ecoar em cada cidade, vila ou vilarejo, em todos os Estados e em todas as metrópoles, seremos capazes de apressar o dia em que todos os filhos de Deus, brancos e negros, judeus e não judeus, protestantes e católicos, poderão apertar as mãos e cantar as palavras daquele velho canto religioso negro: “Finalmente livres! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos finalmente livre”. (LUTHER KING apud Shloredt & Brown, 1993, p. 49-50)
Luther King clamava em seu discurso pela unidade dos americanos, sendo brancos ou negros todos eram estadunidenses. Após esse discurso ações racistas ainda perseguiam os negros, King e a igreja se tornaram alvos de ataques violentos. Estes acontecimentos deram a Luther King ainda mais fama, e isto devido a sua capacidade de liderar de forma pacífica a luta pelos direitos civis dos negros. Era grande o número de pessoas que se concentravam sob a liderança Luther King, em passeatas, marchas, reuniões e nos locais onde proferia seus discursos, suas palavras encorajava os negros que acreditavam na luta pacífica por seus direitos como cidadãos norte-americanos. King se tornou um líder de multidões, pessoas que acreditaram e passaram a lutar seguindo os mesmos ideais.
Naquele dia, muitos jornais anunciaram que Martin Luther King havia se tornado o não oficial ‘Presidente da América Negra’. Era agora, reconhecidamente, o líder do movimento pelos direitos civis, um homem que tinha o amor e a confiança de seus seguidores e o respeito das pessoas de toda parte. Havia sido um grande dia em sua vida e na história dos Estados Unidos. (Shloredt & Brown, 1993, p.50)

3.4.1. O voto legítimo e o  Ato dos Direitos Civis de 1964.
Mas um acontecimento, em especial, marcou a história de violência nos Estados Unidos nesse período, o assassinato do presidente John Kennedy, tal acontecimento comprometeu as forças políticas que apoiavam a luta pelos direitos civis dos negros. Para Shloredt e Brown (l993), esse fato somado a onda de violência que se instaurou na sociedade estadunidense preocupou Luther King. Sabendo sobre a importância de sua representação tanto no meio político quanto no social, e como era visto pelos negros que defendiam a luta extremista, pelos brancos racistas e pelas autoridades que eram contra a luta pelos direitos civis dos negros, King realmente se preocupou. A morte de Kennedy trouxe aos negros novamente a necessidade de apoiar e votar em políticos que tivessem defendendo a causa dos direito civis.
Em relação aos direitos dos negros como cidadãos estadunidenses, os prejuízos a eles relegados foram preocupantes, pois ainda que os negros pudessem votar, barreiras eram impostas para dificultar tal direito. Para Shloredt e Brown. (l988, p. 18) o pagamento de taxas e a comprovação de alfabetização eram exigências feitas aos negros, “embora constituíssem uma comunidade de 40 mil pessoas aptas a votar, em Montgomery, somente mais ou menos 2 mil tinham títulos de eleitor”.
Lyndon Johnson  o vice de John Kennedy assumiu a presidência, e pouco tempo depois concorreu à presidência dos Estados Unidos tendo como adversário político Barry Goldwater um ultraconservador. Por ser Goldwater um político ultraconservador ficou claro para os negros, que a melhor opção era votar em Lyndon Johnson, o qual pretendia dar continuidade as ações de Kennedy a favor dos direitos civis dos negros.
Em 1964 os crimes de racismo continuavam, e um crime brutal ocorreu contra três jovens, sendo um negro e dois brancos. Por tentarem assegurar que eleitores negros fossem inscritos para votar, estes jovens foram presos e depois sem explicação alguns encontrados mortos. Os acusados por tal crime, o xerife Lawrence Rainey e seu comissário Cecil Price foram julgados, no entanto, Rainey foi absolvido e Price pegou apenas 6 anos de prisão. Esta situação de negligência, de proteção a pessoas que cometeram tais atrocidades mostrou que a luta contra o racismo ainda penduraria por mais tempo.  (SHLOREDT & BROWN, l993)
Em 2 de julho de 1964 o presidente Johnson assinou o Ato dos Direitos Civis, sendo este um importante passo no combate ao racismo e em favor dos direitos civis dos negros norte-americanos. Johnson (1964, apud Shloredt e Brown, l993, p.53) relatou em um pronunciamento na TV a respeito desse Ato o seguinte: “Aqueles que antes eram iguais perante Deus serão agora iguais nas seções eleitorais, nas salas de aula, nas fábricas e nos hotéis, nos restaurantes, cinemas e outros lugares que prestem serviços ao público.”
A Lei dos Direitos Civis de julho de 1964 assinada por Johnson estabeleceu as normas a serem cumpridas, e os direitos a serem respeitados, os quais iam desde o direito ao voto até oportunidades iguais de empregos. Acerca do direito ao voto foram determinadas normas para registro em juntas eleitorais, as quais não poderiam estabelecer tratamento diferenciado entre negros e brancos, obedecendo sempre as Leis, tanto em eleições federais quanto estaduais. Em espaços públicos ficava vedada a discriminação, não podendo haver “segregação em razão da raça, cor, religião ou procedência nacional”. O direito de igual proteção das leis poderia ser exigido, respeitado e defendido por órgãos administrados pelo governo federal, estadual e de subdivisão, onde ao Procurador-Geral caberia esta parte. Sobre a dessegregação do ensino público foi instituído a atribuição de alunos às escolas públicas sem discriminação de raça, cor, religião e procedência nacional. A cargo do Comissário da educação ficava a tarefa de prestar assistência técnica aos candidatos, a preparar, adotar e implantar políticas de dessegregação nas escolas públicas, assim como auxiliar instituições de ensino superior em tal processo.
Neste documento dos direitos civis também foi instituída uma Comissão de Direitos Civis para cuidar dos assuntos de desrespeito e de sublevação a tais direitos, a qual deveria investigar e reunir provas contra a segregação apresentando relatórios ao Presidente e ao Congresso, mediante prazo pré-estabelecido. Entre as demais seções do documento estavam estas ligadas as determinações acerca do acesso a programas de apoio, e oportunidade iguais de emprego com apoio de uma comissão.
Uma lei [...] Para fazer valer o direito constitucional de votar, para atribuir competência aos tribunais distritais dos Estados Unidos para fornecer uma medida cautelar contra a discriminação em acomodações públicas, autorizar o Procurador-Geral de instituir ações para proteger os direitos constitucionais em instalações públicas e educação do público, para ampliar Comissão sobre Direitos Civis, para evitar a discriminação em programas federais assistida, criar uma Comissão para a Igualdade de Oportunidades de Emprego e para outros fins. [...] Seja ela promulgada pelo Senado e Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América em congresso, que este ato pode ser citado como o ‘Civil Rights Act de 1964’. (NARA, Transcript of Civil Rights Act, 1964, tradução nossa)

Em outubro desse mesmo ano a luta pacifica de Luther King pelos direitos civis dos negros foi reconhecida, King recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Esse reconhecimento deu a King mais força e animo para lutar em favor dos negros, e para dar continuidade a sua política de não-violência.
A luta dos negros pelo direito legítimo ao voto ganhou força em 1965 quando em Selma no Alabama King e seus cooperadores abriram uma campanha em favor desse direito. Os negros tinham o direito ao voto, mas para votar era preciso fazer registro na junta eleitoral, o que era quase sempre impossível. Os negros eram impedidos de se registrarem para votar sob a alegação de não preencherem os requisitos exigidos pela lei, no entanto quando detinha estes requisitos, ainda assim eram impedidos, o que deixava claro que o impedimento acontecia por vias racistas de discriminação e de desrespeito à Constituição. Aqueles que insistiam em registrar-se na junta eleitoral eram presos como provocadores de desordem. Mas tais problemas não fizeram King desistir de incentivar os negros a lutar pacificamente pelo direito do voto, mesmo com o perigo de serem presos.  (SHLOREDT & BROWN, l993)
No papel os negros tinham o direito de votar, mas tinham que se registrar na junta eleitoral. Quando, porém, tentava o registro, os funcionários fechavam a repartição ou encontravam uma falha qualquer para anular os seus registros. No começo de fevereiro, 280 pessoas foram presas ao tentarem se alistar. Somente 57 conseguiram preencher o formulário. Nenhuma foi registrada. (Shloredt & Brown, 1993, p.52)
Em um desses protestos King foi preso junto com outros manifestantes depois de marcharem juntos até o tribunal da cidade para fazerem registros eleitorais. A situação se agravou para os manifestantes devido à violência com a qual foram surpreendidos, ocorreram ataques por parte do governo e dos racistas brancos. Com a intensificação da violência o presidente Lyndon Johnson tomou uma importante medida, a de preparar uma nova Carta dos Direitos de Voto. Depois de sair da prisão Luther King voltou a Montgomery e ali participou de uma Marcha pelo direito ao voto. (SHLOREDT & BROWN, l993)

3.4.2. Pacifismo X Violência
A forma pacífica com a qual Luther King planejava e colocava em prática nas Marchas, e em todas as lutas contra a segregação racial, não conseguiu o apoio de todos os líderes negros da época, principalmente, em relação Norte, lugar onde o cotidiano nos guetos negros era bem difícil. Shloredt e Brown (l993, p. 55) destacam que “Nas cidades do Norte existiam os guetos negros, com suas habitações miseráveis, pobreza, desemprego, falta de escolas. Com freqüência, tais condições levavam à violência, às drogas, às bebidas alcoólicas e, naturalmente, ao crime.”
 O uso da força foi um dos métodos acatados por determinados líderes negros na luta contra a segregação racial em favor dos direitos civis dos negros. Outros movimentos negros alcançaram fama e adeptos ao longo dos anos 50 e 60 do século XX, como foi o caso do Movimento Black Power  (Poder Negro), o qual foi muitas vezes criticado e acusado de defender a luta por meio de manifestações violentas. Este movimento esteve acoplado ao Partido dos Panteras Negras . Para Shloredt e Brown (1993), Luther King entendia que a vida nos guetos negros propiciava o crescimento da forma violenta de luta por tais movimentos, e isso tornava difícil conter os ataques violentos.
Durante esse período entre os mais importantes líderes negros a favor da causa dos negros podemos destacar Malcolm X , o qual passou a seguir um estilo de luta bem diferente do pacifismo de Luther King. Segundo Cashmore (2000), Malcolm X era um defensor do nacionalismo negro, um líder radical que não acreditava na integração entre, brancos e negros. Em um de seus discursos Malcolm X deixa clara a sua apatia ao pacifismo pregado por Luther King.
Eu acho que qualquer negro que vive atualmente no meio dos ‘pretos’, como são chamados os que estão sendo brutalizados, cuspidos e humilhados da pior maneira imaginável, e que ensine a esses pretos a dar a outra face, a sofrer pacificamente ou a amar o seu inimigo, é um traidor do ‘preto’, disse Malcolm. ‘Se o povo negro não vê nada de errado em ser arrastado e enviado para a Coréia, para o Sul do Vietnã, Laos, Berlim ou qualquer outro lugar para lutar e morrer pelo homem branco, então não há nada de errado com o mesmo homem negro quando ele faz a mesma coisa ao ser submetido à brutalidade neste país por parte do homem branco. (MALCOLM X, citado por CASHMORE, 2000, p. 334)

 Martin Luther King sabia que a violência se apresentava como um dos principais problemas a ser enfrentado, um problema que se manifestava não só por parte dos racistas brancos, mas também por determinados grupos negros, os quais faziam da violência uma das formas de luta por seus direitos. De acordo com Purdy (2007):
Muitos outros negros abraçaram a Nação do Islã, um movimento político e religioso muçulmano que pregava ideais militantes de auto-ajuda e separatismo. O “nacionalismo negro” se fortaleceu com a crescente popularidade de Malcolm X, um ex-líder da Nação do Islã, que argumentava em favor da autodefesa contra a violência racista. Defendia também a valorização das tradições afro-americanas, o apoio a movimentos revolucionários no Terceiro Mundo e, eventualmente, coalizões progressistas multirraciais. Conforme se pode ver na biografia cinematográfica feita pelo diretor Spike Lee (1992), Malcolm X veio a ser tão popular nas comunidades negras quanto Luther King, de quem ele se aproximou antes de também ser assassinado em 1965. (p. 247)


3.5. “FINALMENTE LIVRE”

Em meio a esse clima de violência ameaças de morte  haviam sido feitas a Luther King e sua família. Luther King não escondeu de seus seguidores tais ameaças, o que podemos comprovar em um discurso feito por ele à população de Memphis, lugar no qual foi dar seu apoio à luta de trabalhadores negros por igualdade salarial.
Assim como qualquer pessoa’, disse, eu gostaria de viver por muito tempo. Mas não estou certo de que isto possa acontecer. Quero apenas atender à vontade de Deus. E ele me permitiu subir à montanha. E eu olhei de lá e vi a terra prometida. Eu não posso estar lá com vocês. Mas quero que saibam, esta noite, que nós obteremos a terra prometida. Estou feliz esta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de ninguém. Meus olhos viram a glória que vem do Senhor. (LUTHER KING, apud SHLOREDT & BROWN, 1993, p. 56)
Para Shloredt e Brown (1993), nesse discurso Luther King parecia ter previsto o seu futuro, ou seja, o atentado que acabou levando-o a morte em 4 de abril de 1968. Luther King morreu aos 39 anos de idade uma hora depois de ter sido atingido, no terraço do hotel em estava hospedado, por um tiro vindo do terraço de outro edifício. Tal situação fez lembrar à sociedade estadunidense a forma como John Kennedy foi assassinado.
Martin Luther King acabou como vitima de um dos atos que ele mais condenava, a violência, sendo ele um homem conhecido pela forma pacifica de lutar pelos direitos civis dos negros. A forma violenta como King foi assassinado acarretou à luta pacifica pelos direitos civis dos negros vários problemas, pois determinados grupos passaram a promover manifestações violentas. Os grupos de lideranças mais radicais conseguiram atrair mais adeptos, os quais incentivavam lutas, onde muitas vezes se fazia tudo aquilo que Luther King procurou evitar ao longo de sua vida e luta pelos direitos civis dos negros.
Os oprimidos de todo o mundo ficaram profundamente chocados e entristecidos com o assassinato de Martin Luther King. Cerca de 120 milhões de americanos assistiram ao funeral. Sobre a sepultura, gravadas na lápide de mármore, as palavras de uma velha canção dos escravos: ‘Finalmente livre’. (SHLOREDT & BROWN, 1993, p. 58)


Após 40 anos da morte de Martin Luther King um afro-americano se candidatou a presidência dos Estados unidos e foi eleito, Barack Obama. Tal acontecimento marcou não só a história dos Estados Unidos, mas a história mundial, onde os negros conseguiram vencer mais uma batalha na luta contra o racismo. Esse momento trouxe à memória de todos àqueles que junto à Luther King lutaram pacificamente no movimento pelos direitos civis dos negros, a mensagem de um panfleto distribuído por racistas brancos no período do boicote aos ônibus em Montgomery. Segundo Shloredt e Brown (1993, p. 29) no panfleto dizia o seguinte: ‘Se nós não pararmos de ajudar esses canibais africanos, em breve acordaremos vendo o reverendo King na Casa Branca’.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os dados analisados entendemos que a segregação racial esteve entre os problemas mais difíceis de serem resolvidos pelos norte-americanos no século XX, e que o movimento pacifista liderado por  Martin Luther King na luta pelos direitos civis dos negros demonstrou força e alcançou objetivos importantes sem usar de violência.
Da emancipação da escravidão em 1863 durante a Guerra de Secessão, até a promulgação do Ato dos Direitos Civis em 1964 se passaram mais de cem anos, anos estes de segregação racial. Como vimos a segregação racial foi o preço cobrado pelos brancos racistas aos negros emancipados, onde o racismo arraigado das pessoas brancas foi muito mais evidenciado no estados do Sul com a criação das leis segregacionistas. Mas a realidade dos guetos formados nos estados do Norte durante a ascensão das indústrias também segregava.  
Percebemos que Luther King não foi o único negro a lutar pelos direitos civis, a NAAPC, assim como os movimentos extremistas liderados pelo Partido Pantera Negra em conexão com Malcolm X, e o Black Power também procuraram, de acordo com os seus ideais e condições, lutar por tais direitos. E que a respeito da luta pacifica adotada por Luther King, o qual se inspirou em Mahatma Gandhi podemos considerar que a NAAPC desempenhou um papel semelhante, ainda que esta não tenha promovido nem incentivado movimentos e marchas.
Entendemos ser imprescindível que todos se conscientizem de que durante as décadas de 50 e 60 do século XX, Luther King alcançou destaque mundial, justamente, por sua atuação pacifica motivo pelo qual ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi através dessa luta pacifica que ele conseguiu reunir multidões para ouvir seus discursos e participarem das Marchas pelos direitos civis dos negros. Luther King procurou sempre destacar em seus discursos e manifestações que a violência era uma forma inequívoca de luta contra o racismo. A questão não era saber, entre negros e brancos, quem era superior ou inferior, mas o importante estava em provar e acreditar na igualdade, ou seja, que brancos e negros acreditassem que eram iguais perante Deus e perante a Constituição dos Estados Unidos.
Martin Luther King foi um importante líder negro, não só pelos objetivos alcançados na luta pelos direitos civis, mas pela forma como conduziu todo esse processo, com seus ideais, marchas, prisões, discursos, organizações e pela influência que alcançou no meio político. Somos então levados a acreditar que em 2008 a vitória de Barack Obama nas eleições para presidente dos Estados Unidos mostrou que toda a luta pelos direitos civis, pelo voto legítimo, e contra a segregação racial nas décadas de 50 e 60 do século XX  formou as bases dessa conquista. Ainda que se tenha passado 40 anos da morte de Luther King, a ascensão de um negro a presidência dos Estados Unidos pode ser considerada como uma continuação dessa luta pacifica que Luther King tanto defendeu.
 
ANEXO 1
 
Transcript of Emancipation Proclamation (1863)
By the President of the United States of America:
A Proclamation.
Whereas, on the twenty-second day of September, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty-two, a proclamation was issued by the President of the United States, containing, among other things, the following, to wit:
"That on the first day of January, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty-three, all persons held as slaves within any State or designated part of a State, the people whereof shall then be in rebellion against the United States, shall be then, thenceforward, and forever free; and the Executive Government of the United States, including the military and naval authority thereof, will recognize and maintain the freedom of such persons, and will do no act or acts to repress such persons, or any of them, in any efforts they may make for their actual freedom.
"That the Executive will, on the first day of January aforesaid, by proclamation, designate the States and parts of States, if any, in which the people thereof, respectively, shall then be in rebellion against the United States; and the fact that any State, or the people thereof, shall on that day be, in good faith, represented in the Congress of the United States by members chosen thereto at elections wherein a majority of the qualified voters of such State shall have participated, shall, in the absence of strong countervailing testimony, be deemed conclusive evidence that such State, and the people thereof, are not then in rebellion against the United States."
Now, therefore I, Abraham Lincoln, President of the United States, by virtue of the power in me vested as Commander-in-Chief, of the Army and Navy of the United States in time of actual armed rebellion against the authority and government of the United States, and as a fit and necessary war measure for suppressing said rebellion, do, on this first day of January, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty-three, and in accordance with my purpose so to do publicly proclaimed for the full period of one hundred days, from the day first above mentioned, order and designate as the States and parts of States wherein the people thereof respectively, are this day in rebellion against the United States, the following, to wit:
Arkansas, Texas, Louisiana, (except the Parishes of St. Bernard, Plaquemines, Jefferson, St. John, St. Charles, St. James Ascension, Assumption, Terrebonne, Lafourche, St. Mary, St. Martin, and Orleans, including the City of New Orleans) Mississippi, Alabama, Florida, Georgia, South Carolina, North Carolina, and Virginia, (except the forty-eight counties designated as West Virginia, and also the counties of Berkley, Accomac, Northampton, Elizabeth City, York, Princess Ann, and Norfolk, including the cities of Norfolk and Portsmouth[)], and which excepted parts, are for the present, left precisely as if this proclamation were not issued.
And by virtue of the power, and for the purpose aforesaid, I do order and declare that all persons held as slaves within said designated States, and parts of States, are, and henceforward shall be free; and that the Executive government of the United States, including the military and naval authorities thereof, will recognize and maintain the freedom of said persons.
And I hereby enjoin upon the people so declared to be free to abstain from all violence, unless in necessary self-defence; and I recommend to them that, in all cases when allowed, they labor faithfully for reasonable wages.
And I further declare and make known, that such persons of suitable condition, will be received into the armed service of the United States to garrison forts, positions, stations, and other places, and to man vessels of all sorts in said service.
And upon this act, sincerely believed to be an act of justice, warranted by the Constitution, upon military necessity, I invoke the considerate judgment of mankind, and the gracious favor of Almighty God.
In witness whereof, I have hereunto set my hand and caused the seal of the United States to be affixed.
Done at the City of Washington, this first day of January, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty three, and of the Independence of the United States of America the eighty-seventh.
By the President: ABRAHAM LINCOLN
WILLIAM H. SEWARD, Secretary of State.
    















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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