Happy Hunger Games! And may the odds be ever in your favor.



Depois do sucesso de Harry Potter e Crepúsculo, chega à vez de Jogos Vorazes.  Com uma narrativa simples, Suzanne Collins encanta diversas faixas etárias e aborda diversos temas com uma linguagem simplista. Os livros são: Jogos Vorazes, Em chamas e A Esperança. O último responsável pelo desfecho da trilogia não terminou, confesso, do jeito que gostaria. Collins desenvolve um clímax chamativo, mas o desfecho não atendeu algumas expectativas. Outro ponto da narrativa é o triângulo amoroso entre Katniss, Peeta e Gale. Este já virou um clichê não sei o da porquê da insistência de alguns escritores acrescentarem sempre  um triângulo a suas tramas. Outro ponto a destacar é em A esperança, uma cena em particular me chamou a atenção, enquanto Katniss, Peeta e Gale estão escondidos no porão de Tigress, Katniss, supostamente dormindo, escuta uma conversa amigável entre Peeta e Gale, muito similar à cena da cabana no livro eclipse de Stephenie Meyer.

         Tirando de lado um romance muito bem estruturado, Collins aborda temas inquietantes como: liderança, formas de governo, abuso de poder, fome, miséria, riqueza, desperdício, bioética, organismos geneticamente modificado e aquecimento global. Temas tão diversos abordados em uma única trilogia da forma mais simples e sutil.

         Também, a trama se desenvolve em Panem, um país que se ergueu após o cataclisma global, em uma América futura, composta por 1 capital e 13 distritos, sendo que, o último foi destruído na tentativa de conter os rebeldes. A cada ano, dois jovens, de ambos os sexos e de cada distrito, são selecionados para participar dos Jogos Vorazes, mas apenas um jovem sobreviverá. Esses jogos têm por objetivo lembrar que a Capital está no comando. Mas a ironia da história é que a mesma não consegue sobreviver sem ajuda dos distritos. Uma espécie de metrópole com as suas colônias, onde o trabalho escravo, infantil e qualquer tipo de arbitrariedade são permitidos para garantir o sustento da Capital.

         Desenvolvendo a narrativa o presidente Snow governa Panem como uma mistura de absolutismo e ditadura. Ele segue o conselho de Machiavel, arrisca “antes ser temido do que amado; é mais fácil trair o amado do que o temido”. Snow não tem caráter. Ele passa por cima das pessoas, abusa do seu poder para conseguir o que quer.

         Seneca Crane e Plutarch Heavensbee ambos idealizadores dos jogos vorazes, comandam os mais tipos de monstruosidades para manter a distração da Capital. Eu os comparo com Adolf Eichmann. Claro que ninguém se compara a Eichmann, porque ele foi criador da "solução final" (Endlösung), responsável pelo extermínio de milhões de pessoas durante o holocausto. Se pararmos para pensar de uma forma bem cruel, a arena dos jogos não passa de um modelo de campos de concentrações, porque, em ambos os casos elas são submetidas à diversas atrocidades que, ao fina,l resultarão em morte. E a única diferença é que, na obra de Collin, há apenas um sobrevivente.

         Outro ponto inquietante da obra é o quanto a sociedade dá valor a coisas supérfluas, principalmente, a preocupação em demasia em relação à beleza. Para se ter uma ideia,  antes dos jovens irem para a arena, eles têm que ficar belos, passam por diversos tratamentos, até chegarem ao conceito de beleza.  O ponto mais interessante que a escritora aborda isso, de uma forma instigante, é fazendo uso do conceito de organismos geneticamente modificados. A população da Capital é descrita de forma bem extravagante, com perucas coloridas, bigode de gato, tatuagens, dentre outros. Ou seja, as pessoas se submetem aos mais diversos tipos de procedimentos para ficarem belos. Essa, é a busca inconstante da sociedade atual, o de não aceitar a envelhecer, o medo do feio. E a bioética entra justamente aí com a instigante pergunta: Até quando vamos continuar brincando de Deus? Pedro Almodóvar faz uma crítica brilhante em seu filme “A pele que habito”, o médico e o monstro da atualidade. Enquanto um médico transforma sem escrúpulos um homem em mulher, sem se preocupar as com consequências, e que, mais tarde se tornará seu objeto de desejo.  Collins mostra o dualismo de uma sociedade egoísta, nessa busca incessante para o que eles consideram o belo, enquanto a outra parcela busca incessantemente a sobrevivência, a não morrer de fome.

Na primeira vez que Katniss participa dos jogos vorazes, ela usa um broche com o símbolo do tordo gravado em ouro, na tentativa de salvar Peeta. Ela sem a intenção, engana a Capital, porque saem dois vitoriosos dos jogos voraes, e a Capital não gosta de ser feita de idiota. E desencadeia uma série de rebeliões nos distritos. De repente, ela vira o tordo, e o mesmo se torna o símbolo da revolução e, consequentemente, todos querem usar esse símbolo, mesmo sem saber o real significado. Isso me remete a história de Che Guevara, que liderou a Revolução Cubana. Pessoas tatuavam sua face, pregavam adesivos, idolatravam seu nome.  Tornou-se um importante ícone da contracultura. E muitos até hoje não sabem a real história de Che Guevara.

         Também a trajetória de Hitler agitava multidões devido a sua brilhante retórica. Ele conseguia prendê-las por horas a fio e as mesmas ficavam exaltadas diante das suas palavras. A retórica como melhor amiga de um líder. Collins mostrou isso de forma espetacular em seus livros, a multidão se exaltava quando Peeta falava, todos ficavam estonteados diante de suas palavras. Um líder nato.

         Uma das partes mais marcantes é quando Collins aborda o aquecimento global, o nosso descuido ao preservar o nosso planeta, a nossa falta de sustentabilidade. Katniss em dos livros diz: “os nossos ancestrais não se preocuparam com as futuras gerações”. Ela está certa, estamos explorando os nossos recursos sem pensar duas vezes, estamos desmatando, estamos destruindo o nosso planeta.

         Jogos Vorazes não é somente uma leitura juvenil. E centrada apenas no romance de Katniss e Peeta. Collins aborda de uma forma bem orquestrada temas que nos inquietam.

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Autor: Cristina De Oliveira Figueiredo


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