Uma metodologia para a transferência de tecnologias



Uma Metodologia para a Transferência de Tecnologias –

O Caso Wiltmeter

 

A Methodology for the Technology Transfer -
The Case Wiltmeter

 

Embrapa Instrumentação – Transferência de Tecnologia

 

Resumo

O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma metodologia que viabilizasse o repasse ao setor privado de uma tecnologia desenvolvida na Embrapa Instrumentação – o Wiltmeter. De acordo com a metodologia desenvolvida, inicialmente são elaborados documentos com a visão de mercado e selecionadas empresas mais alinhadas com a tecnologia. Fundamentado nesse processo o licenciamento da tecnologia propriamente dito é então realizado em rodada de negócio especifica, com a demonstração da tecnologia aos potenciais fabricantes.

 

Abstract:

The objective of this study was to develop a methodology that would allow the transfer to the private sector of technology developed at Embrapa Instrumentation - the Wiltmeter. In accordance with the methodology developed initially documents are elaborated with the vision of the market and selected companies more aligned with the technology. Founded in the process of licensing the technology as such is then performed in specific business event, with a technology demonstration to potential manufacturers.

 

Palavras-Chave:

- Transferência de Tecnologia

- Inovação

 

Keywords:

- Technology Transfer
- Innovation

 

Introdução

 

1. O Processo da Inovação

A Inovação é uma estratégia, que pode ser utilizada pelas empresas para obter diferenciais competitivos, que aumentem o progresso tecnológico, o sucesso comercial e posicionem a corporação mais estavelmente no atual cenário.

Para o estabelecimento efetivo do processo de Inovação há carência de metodologias que façam a ligação entre o objeto da inovação e a inovação propriamente dita. Sem metodologias eficazes, tecnologias com potencial para atender a demandas sociais e corporativas morrem, por falta de ações que possibilitem sua proximidade com os atores efetivamente capazes de fazer e vender.

A Inovação é um objeto de criação humana, que pode ser desencadeado pelo consumidor, pela indústria, ou pela pesquisa. Para que a Inovação se efetive ela precisa ser levada a quem faz e a quem usa, no processo há que existir metodologias de pesquisa e metodologias de transferência de tecnologia, para que a inovação atinja as necessidades humanas

Não necessariamente uma inovação precisa da pesquisa para chegar ao consumidor, por vezes ela chega através de demandas de adequações simples, em que a própria indústria se incumbe de transformá-las em produtos e serviços. Essas demandas são oriundas das necessidades dos usuários, não envolvendo a área de pesquisa para que se chegue a um produto inovador.

 

A Inovação é um processo que tem como objetivo a melhoria dos produtos e serviços de determinada organização. Quando ela se dá pela inserção de tecnologias, sem precedente no mercado, é denominada Inovação Radical. Esta normalmente ocorre com pouca freqüência, não apenas em termos tecnológicos, mas também na questão da sua utilização pelo consumidor, ou pela questão de resistência ao novo.

Também podem ser feitas alterações em produtos e serviços já existentes, não se criando algo inteiramente novo, mas trazem melhorias efetivas, que podem ser de pequenos detalhes ou substanciais. Esse tipo de Inovação é denominada Incremental, a mais freqüente, pois parte de algo concreto e acrescenta especificidades necessárias a um determinado grupo de consumidores.

Uma organização que freqüentemente em apresenta soluções inovadoras, tem toda uma gama de vantagens mercadológicas, seja na questão de valores, seja em monopólio temporário. Estabelecer e usufruir dessas vantagens são uma arte da gestão e parte da inteligência competitiva de grande valor.

 

2. AInovação Aberta

As formas de se vislumbrar a inovação e de geri-la é o grande ponto de dificuldades para a maioria das empresas. Crer que conseguirá por muito tempo dominar um determinado segmento ou fará frente à concorrência sem esforços direcionados, é um engano.

Uma das ferramentas preceituadas para que se consiga estar engajado, de forma minimamente adequada ao processo, é a pratica da inovação aberta. Trata-se de somar esforços com instituições de ciência e tecnologia, visando estabelecer parcerias para o desenvolvimento em conjunto de produtos e serviços.

A junção de capacidades inventivas, através da execução de projetos com a participação de atores da iniciativa privada com a área acadêmica, parece ser um caminho de grande viabilidade, tanto técnica como financeira para fazer frente aos desafios atuais. A conjugação de esforços é uma receita que apresenta elementos que nos levam crer ser o caminho mais objetivo para se conseguir inovar com sucesso, pois as competências já existentes dos atores envolvidos se unem para se chegar a um objeto de inovação vislumbrado, normalmente através de um projeto em que o trabalho conjunto da pesquisa e de um parceiro privado possibilita sua colocação em um ambiente produtivo real, verificando as adaptações e correções necessárias e dá uma maior velocidade para a inserção da tecnologia já como produto no mercado.

Nesse sentido estão inseridas universidades, centros de pesquisa e empresas que tem em suas missões a participação em projetos com empresas privadas, admitindo também que é necessário o apoio destas para que se aumente a chance de sucesso especialmente em processos que demandam desenvolvimento científico e tecnológico.

O exemplo emblemático dessa interação Institutos de Ciência e Tecnologia com a iniciativa privada foi o famosíssimo “Gatorade”.

Gatorade foi criado em 1965 por 4 médicos pesquisadores da Universidade da Flórida: Robert Cade, Dana Shires, Harry James Free e Alejandro de Quesada. Isso aconteceu porque o técnico da equipe de futebol americano da universidade (Os Florida Gators), Ray Graves, estava frustrado com o desempenho dos atletas de sua equipe durante jogos no verão. Ele pediu uma solução à equipe do Dr. Cade, que passou a trabalhar no desenvolvimento de uma bebida para a hidratação dos atletas.

A fórmula experimental desenvolvida pela equipe do dr. Cade foi testada pela primeira vez num jogo de futebol americano dos Baby Gators, a equipe de calouros dos Florida Gators, da Universidade da Flórida, em 1 de outubro de 1965, contra a equipa B da universidade. Os Baby Gators, que passaram o jogo inteiro hidratando-se com a nova bebida, venceram o jogo contra a equipa B, que não tinha a bebida.

 

No dia seguinte, foi a vez de testar a bebida com o time principal da universidade. Num jogo contra o favorito LSU Tigers, os Florida Gators venceram por14 a 7.

A mistura original de água, sais e carboidratos desenvolvida pela equipe do dr. Cade tinha um sabor pouco agradável. Durante os testes com os Florida Gators, para torná-la mais saborosa, os pesquisadores misturaram a bebida com suco de limão. O nome Gatorade surgiu da junção de Gators e da palavra lemonade (limonada), designando a "limonada dos Gators". O nome passou, posteriormente, a ser usado na comercialização da bebida, associando seu desempenho ao do time de futebol americano que utilizava o produto. Gatorade trata-se, então, de uma marca de repositor hidroeletrolítico ou isotônico produzida pela Quaker Oats Company, atualmente uma divisão da PepsiCo, e comercializada originalmente nos Estados Unidos e atualmente em vários países. A bebida foi formulada para ajudar a repor os líquidos e sais minerais perdidos com o suor e fornecer energia para os músculos em movimento, principalmente por sua composição conter água, carboidratos e sais minerais como sódio.[1] e potássio.(Fonte Wikipédia)

Estabelecendo-se assim um “campeão de vendas”, vindo de uma Instituição de Ciência e Tecnologia, sendo que as modificações com relação à saborização, para tornar o produto palatável e todos os esforços de marketing, para tornar o produto conhecido, foi feito em conjunto pelos dois atores, culminando em um caso de sucesso estrondoso. Exemplos do gênero são escassos, porém a sensibilidade para vislumbrar a inovação e envolver a interação entre organizações passou a ser entendida como algo necessário e saudável.

No caso do Gatorade houve a quebra de dois paradigmas, no primeiro na iniciativa privada era imaginado que as instituições de pesquisa eram morosas, acadêmicas e mercadologicamente inviáveis. Já nas instituições de ensino e pesquisa, a visão era que os organismos privados eram voltados apenas para aspectos financeiros e que por essa razão se apoderariam do conhecimento produzido pela academia sem qualquer contrapartida. Fatos que, desvios a parte, não retratam a realidade, existindo sim barreiras de preconceitos a serem vencidas.

Os objetos de inovação são de fato difíceis de serem trabalhados tanto no ambiente privado como no ambiente acadêmico, porem inovações vislumbradas em quaisquer dos segmentos considerados, em geral, são passiveis de desenvolvimento eficiente através de parcerias multi-institucionais, que utilizem metodologias apropriadas de comunicação, pesquisa e de transferência de tecnologia.

 

Desenvolvimento

 

3. O Processo de Inovação na Embrapa Instrumentação – O Caso Wiltmeter

Neste contexto de inovação está inserida a Embrapa Instrumentação, uma das unidades da conceituada empresa de pesquisa da agricultura tropical, que se diferencia por atuar em áreas pouco comuns as ciências do campo. Áreas como física, química, materiais, computação são contempladas por pesquisas, que trazem resultados significativos para o ambiente agrícola.

Temos então um cenário cientifico de grande competência e de produção expressiva, mas o desafio de estar inserido no processo de inovação é de como chegar ao ambiente produtivo, ou seja, como fazer com que as tecnologias atendam efetivamente a população.

Numa primeira visão pode parecer algo fácil de executar, porém ao se tentar operacionalizar as atividades para disponibilizar as tecnologias para a sociedade nos deparamos com uma série de possibilidades de modelos para realizar isso. Devemos ressaltar que a Embrapa é uma empresa de pesquisa e precisa se focar nesse sentido, pois existem empresas que tem experiência em produzir e a elas devem ser entregues as tecnologias, para que sejam produzidas e disponibilizadas.

 

Na linha dos modelos de negócios possíveis iremos nos concentrar num caso que ocorreu no ano de 2010, na Embrapa Instrumentação, quando foram realizados esforços para se transferir ao meio produtivo a tecnologia de um instrumento portátil para medir a pressão de aplanação ou firmeza de folhas e de fatias planas de órgãos vegetais. Trata-se de uma adaptação da técnica de aplanação, ou técnica de força externa (patente depositada – PI 0705830 – 6 A2), com a qual se mede, aproximadamente, a pressão de turgescência celular – o Wiltmeter.

O instrumento traz uma inovação radical, pois apresenta uma metodologia para se aferir a hidratação das plantas, através de suas folhas, sem a necessidade de analise laboratoriais, trazendo a possibilidade de se realizar o manejo da irrigação pela medição direta nas plantas, o que é algo totalmente inovador e traz vantagens competitivas inestimáveis.

 

3.1. Operacionalização

A partir da observação da maturidade da tecnologia para a transferência ao meio produtivo, foi escolhido o licenciamento para exploração de patente como modelo de negócio a ser utilizado. Neste a tecnologia é repassada a empresa interessada, tendo como contrapartida o pagamento de royalties sobre o valor das vendas, alem de outras especificidades a serem negociadas com as empresas interessadas.

Após algumas reuniões foram abordados aspectos de como ofertar a tecnologia, demonstrando que alem de ter uma competência técnica, teria também um posicionamento mercadológico que apresentasse vantagens as empresas, partindo-se para a elaboração de um Plano de Marketing para que se explorasse os pontos fortes da tecnologia e a comparasse com os produtos já existentes e que seriam os potenciais concorrentes.

As dificuldades foram sendo superadas por reuniões que tinham freqüência quase que diária, abordando pontos como vantagens e desvantagens competitivas, o que exigia um esforço do ponto de vista de se conhecer os produtos concorrentes a ponto de se efetuar as comparações e apontar as diferenciações, muitas vezes tendo um olhar extremamente critico, para não parecer um simples documento que trazia um mundo mágico e irreal a tecnologia, mas apresentando a realidade, ainda que não muito agradável por vezes.

As reuniões se sucederam e o resultado foi uma analise bastante coerente sobre as condições de competitividade e de potencialidade no segmento em que a tecnologia está inserida, além de ter sido produzido um documento que embasa ações mercadológicas e demonstra a viabilidade frente aos equipamentos existentes.

O passo seguinte foi o de selecionar empresas que apresentassem perfil necessário, pela avaliação da equipe da Embrapa Instrumentação, para ter a tecnologia transferida. Houve novas dificuldades, pois alem das empresas conceituadas e estabelecidas, existem empresas com pouco tempo de atuação, porém com pessoas de grande competência, profissionalismo e dedicação, que não fácilmente detectadas, mas que poderiam somar por suas características empreendedoras.

Foram selecionadas várias empresas e encaminhados convites para participação de um evento, qual foi denominado “Rodada de Negócios”, que tinha a função de trazer as empresas interessadas até a unidade da Embrapa, para que vissem a tecnologia em funcionamento e fosse apresentado o trabalho realizado sobre as questões de mercado.

 

Conclusão

 

3.2. O Resultado

Desse evento duas empresas, a Marconi equipamentos para laboratórios, com sede em Piracicaba , São Paulo, e a grande surpresa a empresa - a ICT International, com sede na Austrália, se dispuseram a serem licenciadas para produzirem a tecnologia Wiltmeter.

A seleção das duas empresas demonstrou um resultado pratico do trabalho realizado, pois na verdade foi uma metodologia de oferecimento diferenciada e por que não dizer inovadora, que alem da questão técnica abordava o quesito de mercado, algo que não era marcante nas relações com a iniciativa privada.

O fator positivo foi que passado menos de um ano do licenciamento, a tecnologia foi trabalhada pela empresa Marconi, que se empenhou em dar uma roupagem e trazer aspectos de produto comercial ao Wiltmeter, sempre com a supervisão do pesquisador responsável, que culminou no lançamento da tecnologia em feira que contempla equipamentos para pesquisa, já existindo encomendas realizadas para a compra do instrumento.

O trabalho para se chegar ao resultado da transferência demandou tempo, esforço e determinação e culminou com um caso de sucesso, na árdua missão da transferência de tecnologia. Afirmar que é um modelo pronto e que pode ser utilizado amplamente é um equivoco, porém é sim algo que se pode afirmar ser um ponto de partida para um caminho a seguir.

 

Referência Bibliográfica:

 

História do gatorade

Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Gatorade>. Acesso em 08 de ago. de 2011.


Autor: Carlos Pusinhol


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