Desafios Na Construção Da Identidade Humana



DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE HUMANA, E AFRO-DESCENDÊNCIA.

GUIMARÃES, Emilene de Jesus[1]

ANDRADE, José Benedito Oliveira de

ANDRADE, Vivian Santos

SOUZA, Antônio José de

RESUMO: Acreditando que a Educação tem a missão de propagar o respeito à integridade humana, em seus vários âmbitos: cultural, religioso, social e étnico, como educadores nos debruçamos sobre a intenção de promover a vida do alunado, isenta esta de preconceitos e discriminações.Por essa razão, buscamos a melhor forma de abordar esse tema e apresentar aos agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, sugestões de como abordar ou desenvolver atividades com os educandos sobre a "africanidade" através da confecção de máscaras, criação de cordéis, reproduções de músicas, encenações, confecções de jornais, entre outras produções. Será desafiador lutar contra o racismo e a descriminação, instaurada há séculos em nosso País, em toda e qualquer circunstância, principalmente aquelas que estão silenciadas na natureza humana. Com base nessas afirmações a realização dessa oficina tem como principal objetivo propor elementos que subsidiem o desenvolvimento do trabalho educativo, como rege a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que determina a inclusão e permanência, no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da efetivação do temário "História e Cultura Afro-Brasileira".

PALAVRAS CHAVE: IdentidadeNegra, Literatura Infanto-Juvenil, Inclusão negra na Mídia,Religiosidade afro-descendente.

Introdução:

A educação básica brasileira vem acumulando uma divida altíssima em relação aos conhecimentos que são transmitidos desde o nosso nascedouro, quando estávamos nos constituindo como povo brasileiro, no tocante aos acervos culturais, sociais, religiosos entre outros âmbitos dos povos negros. Essa etnia sempre foi atrelada a estereótipos chulos que remetem a idéias preconceituosas que legitimam a relação do negro a pobreza, miséria, morte, epidemias e fome. A partir da implementação da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, surgiu a necessidade de inserir ações afirmativas, no currículo oficial da rede de ensino, temas relacionados a história e cultura afro-brasileira.

Por conta disto, cabe salientar questões e sugestões de práticas pedagógicas que permitam ao docente o livre exercício da conscientização dos discentes, sem esquecer, que este processo se inicia com o professor. Não é aceitável, ainda em nossos tempos, uma escola alienada e submersa a segregação étnica.

Identidade racial: "Eu sou negro, você é negro, somos todos negros!".

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

Essas são perguntas que fazemos para provocarmos um autoconhecimento e para reconhecer as pessoas que estão ao nosso derredor. Também servem para criar um sentimento de pertencimento a um grupo ou vários grupos. Somos brasileiros vivendo em um caldeirão com caras, cores e jeitos diferentes, com características socioculturais, religiosos, artísticas, musicais, culinários diversos.

Todos queremos ser aceito em grupos, mas, antes disso é necessário se reconhecer como filho de uma cultura, neste caso a cultura afro-brasileira. Isso acontecerá quando a Escola passar a revelar o negro fora da senzala, a desenhar o negro longe das amarras, a cantar o negro na sua resistência, na sua coragem e beleza de ser negro. Acontecendo isto, não veremos mais alunos negros querendo ser branco negando a sua ancestralidade.

Educação de portas abertas para a inclusão cultural e religiosa

A Escola precisa se desapegar do preconceito do preconceito. As Instituições deensino são chamadas a reconhecer suas fraquezas e mudar de postura. Tantos profissionais de ensino constroem trincheiras em suas salas de aulas reafirmando "a segregação de corpos" como nos alerta Frei Beto:

"A segregação de corpos de corpos. "Uma rosa é uma rosa é uma rosa." Ninguém discorda. No entanto não há consenso de que "uma pessoa é uma pessoa é uma pessoa". Nazistas negam a judeus o direito à vida, assim como há judeus que se julgam superiores aos árabes, e árabes que assassinam cristãos que não comungam com suas crenças, e cristãos que excomungam espiritualmente judeus, mulçumanos, comunistas, homossexuais e adeptos do candomblé."

(Frei Beto, Folha de S. Paulo, 13/02/2000)

Reger uma sala de aula, obrigatoriamente exige compreender que uma pessoa é seu corpo com sua forma de crer, traços, cores e expressões que são heranças de uma cultura, de uma etnia de uma história. Ao passo que trancamos as "portas" das nossas escolas, vedamos as fendas das janelas para impedir que o ar novo entre e refresque o lugar, estamos sucumbindo o debate aberto e franco, estaremos negando a pessoa do nosso aluno em sua plenitude, estaremos confirmando a postura preconceituosa e criminosa que assistimos noticiadas pela mídia. Nossos alunos não são o que são, mas são o que aprenderam a ser a cada instante da vida escolar. Escola é lugar de inclusão, de acolher as diferenças. Escola não combina com exclusão. Dou a palavra a Pablo Gentile.

"Excluídos há e por todos os lados: pobres, desempregados, "inempregáveis", sem-teto, mulheres, jovens, sem-terra, idosos/as, negros/as, pessoas com necessidades especiais, imigrantes, analfabetos/as, índios/as, meninos/as de rua... A soma das minorias acaba sendo a minoria maioria."

(Pablo Gentile, Educar na esperança em tempos de desencanto, 2005 p. 31-32)

Nas letras do faz de conta, descobrimos nossa negritude.

Literatura Infantil componente básico para uma educação libertadora e livre de preconceitos.

A infância é um período marcante na vida de qualquer ser humano e dela depende o futuro da sociedade. Tomando isto por base, e com o objetivo de alertar para que se cuide dos conceitos que são criados na escola e que serão perpetuados na vivência destas crianças em seus meios sociais. Lembrando ainda que a primeira infância é a fase mais apropriada para o exercício do aprendizado. É essencial para a formação da criança no dia a dia da escola, que o professor respeite as concepções próprias de mundo que elas já internalizam (conjunto de valores culturais, raciais, étnicos, religiosos), e a partir daí comece a implantar nestes valores novos.

Porém cabe ao professor tomar um certo cuidado para não passar para o aluno a literatura-infantil como propagação de valores contrários, pois como lembra Abramovich (1989 p. 36) "isso é perigoso", isso porque existem em alguns livros questões que desenvolvem preconceitos, mentiras, distorções da realidade e antes de contar qualquer história, essa deve passar por uma analise crítica do professor contador. E nessa seleção de histórias vale lembrar o que aborda Lima:

Geralmente, quando personagens negros entram nas histórias aparecem vinculados à escravidão. As abordagens naturalizam o sofrimento e reforçam a associação com a dor. As histórias tristes são mantenedoras da marca da condição de inferiorizados pela qual a humanidade negra passou. (...) Geralmente, a queixa de crianças negras se sentirem constrangidas frente ao espelho de uma degradação histórica nos alerta que o mesmo mecanismo ensina para a não-negra uma superioridade. (Lima, 1994 p.98).

Cabe lembrar que é na infância que se começa a moldar conceitos, pois como afirma Piaget em suas pesquisas quanto ao desenvolvimento da criança:

Os primeiros conceitos da criança são preconceitos. Ativos e concretos, ao invés de esquemáticos e abstratos, eles não permitem à criança reconhecer identidade estável em circunstancias que se alteram ou, por outro lado, considerar diferentes indivíduos do mesmo tipo como qualquer outra coisa se não um único e mesmo. (Piaget, 1962 p. 127).

Ou seja, a criança não faz distinção, quem transmite a noção de diferença, e mais, o conceito de "melhor" ou "pior" na criança é o adulto educador.Com a finalidade de construir o entendimento das crianças e múltiplas noções de conceitos válidos que não discrimine ou distinga pessoas por suas etnias, religiões, culturas e que possam lhes favorecer uma vivência mais significativa no mundo, a escrita e a leitura a cerca da literatura infanto-juvenil tem em si uma tentativa de tornar o costume de ler em um ato de prazer e possui um caráter próprio de tornar possível um trabalho de incentivo a uma construção de um novo olhar sobre o elemento "negro" e suas derivações.

Educação midiática e o ritmo negro: como está a cara negra na mídia?

Assim, valerá dizer que o ato de ensinar exige compromisso social, para que a ancestralidade negra seja respeitada, contada e sentida em todas as culturas. Para que isso se concretize, precisamos romper com práticas escolares arcaicas que remetem as atenções somente para o negro escravizado no tempo do Brasil Colônia. É urgente a toma de novas posturas que desconstruam as propostas de massificação de identidades para que consigamos assegurar uma multiculturalidade a partir da diversidade.




Autor: ANTÔNIO SOUZA


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