Método andragógico: Uma alternativa para a reflexão do ensino da EJA



MÉTODO ANDRAGÓGICO: UMA ALTERNATIVA PARA A REFLEXÃO DO ENSINO DA EJA

     Elisangela da Silva França[1]

     Laurimar Assunção Figueiredo da Silva[2]  

RESUMO:

Esta pesquisa, busca aprimorar os conhecimentos que temos sob as diversas formas, de como o adulto age em determinadas situações de sua vida, e de como enxergar o adulto em suas particularidades, utilizando de suas próprias experiências para enriquecer o processo de ensino aprendizagem. Então nos questionamos, porque não Andragogia e sim Pedagogia? Se são adultos, se são pessoas com experiências e bagagens de vida, se são consideradas adultas, porque não podem então ter uma educação especifica para tal? Quem é o adulto na ANDRAGOGIA?

É aquele que ocupa o status definido pela sociedade, por ser maduro o suficientepara a continuidade da espécie e auto-administração cognitiva (reconhecer,perceber, familiarizar), sendo capaz de responder pelos seus atos diante dela.O homem é o único ser de toda natureza que possui consciência de seus atose capacidade de buscar novos conhecimentos por vontade própria. Devido aesse fato, desde a pré-história, ele é o ser mais desenvolvido de todos. Faremos uma pequena abordagem sobre a questão da educação de adultos e da necessidade urgente de aprofundamento e conhecimento relacionado a esta nova ciência “Andragogia”, baseada em alguns teóricos e em nossa própria experiência como profissionais da Educação.

 

PALAVRAS CHAVES: Andragogia, ensino do adulto, aprendizagem.

 

 

     Em um país de enormes desigualdades sociais como o Brasil, o ensino de adultos é visto como a única saída para a escolarização de grande parcela da população já que a maioria delas não pode freqüentar as escolas na época certa.

     Desde a década de 40, educadores procuram por método eficaz para a educação de adultos. Em suas atividades detectaram a ausência de conhecimento específico sobre o processo cognitivo e afetivo que garantem a aprendizagem do homem adulto. No início da década de 1970, nos Estados Unidos, Malcolm Knowles apresentou a andragogia e a idéia de adultos e crianças aprenderem de maneira diferente.

     Andragogia (do grego: andros - adulto e gogos - educar), é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segunda a definição creditada a Malcolm Knowles, na década de 1970. O termo remete a um conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança).

Em 1950, Malcolm Knowles, começou uma tentativa de formular a Teoria de Aprendizagem de Adultos e mais tarde, em 1960, pela primeira vez, teve contato com a palavra Andragogia através de um educador iugoslavo. Foi então quando ele entendeu o significado da palavra e a adotou como a mais adequada para expressar a "arte e ciência de ajudar adulto a aprender". Quando Professor Dr. Knowles começou a construir o modelo andragógico de educação, ele o concebeu como a antítese do modelo pedagógico: "Andragogia versus Pedagogia". Mais tarde a escola secular começou a se organizar dentro do mesmo modelo, dando origem à Escola Pública no Século XIX. Desta forma todo o sistema educacional, incluindo a educação de alto nível, ficou congelado dentro do modelo pedagógico.(ARIEVALDO, 2006, p.4) 

     Cavalcanti (1999) afirma que estudantes adultos retém apenas 10% do que ouvem, após 72 horas. Entretanto serão capazes de lembrar de 85% do que ouvem, vêm e fazem, após o mesmo prazo. Ele observou ainda que as informações mais lembradas são aquelas recebidas nos primeiros 15 minutos de uma aula ou palestra. 

Segundo a Lei 9394/96 o Estado tem o dever de garantir o ensino fundamental gratuito inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria.

     A andragogia busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vida estimule e transforme o conteúdo impulsionando a assimilação. No ensino andragógico um dos fatores fundamentais é a motivação oriunda de estímulos internos, pois o adulto aprendiz terá mais satisfação pelo trabalho realizado, terá sua auto-estima elevada e melhorará sua qualidade de vida. O aprendizado deve ser relevante para que seja útil, os estudantes adultos quererem aulas mais dinâmicas e participativas, sendo o jovem/adulto com experiência de vida, pessoa crítica e motivada ao aprendizado ele tem um modo diferente de aprender e todo professor do jovem e adulto precisar conhecer/dominar este conjunto de métodos para o ensino de adultos. O professor possui como desafio primeiro, construir um projeto de ensino, levando a consideração o aspecto sociológico estrutural e cultural da região da instituição e do aluno, como objetivo de explorar as habilidades e riquezas do cotidiano possíveis de gerar conhecimentos e aprendizado, aspectos influenciam quantitativamente e qualificativamente na formação do individuo, favorecendo a formação do conteúdo.

     A Andragogia nasceu em contraposição a pedagogia, os princípios da pedagogia que deram surgimento as críticas e busca de superação por parte dos propositores da andragogia seria o ensino muito diretivo centrado na figura do professor, baseado em conhecimentos direcionados por este desprezando a experiência e vivencia dos alunos.

     O modelo andragógico é baseado em vários princípios que se seguem:

1-A necessidade de conhecer: Os adultos abem da necessidade de conhecer,eles investigam os benefícios que ganharão pela aprendizagem e as conseqüências de não aprender.

2-Auto-conceito de Aprendiz: O adulto aprendiz desenvolve uma profunda necessidade psicológica de serem vistos e tratados pelos outros como sendo capazes de auto direcionar-se de escolher seu próprio caminho.

3-O papel da experiência: É a partir da experiência dos adultos que ele se dispõem ou nega a participar de algum programa de desenvolvimento.

4-Prontos pra aprender: Disponibilidade do adulto aprender o que se decidiu aprender, com o objetivo de resolver efetivamente as situações da vida real.

5-Orientação para  aprendizagem: Os adultos são centrados na vida, nos problemas e na sua orientação para a aprendizagem diferente de uma mera retenção de conhecimentos.

6-Motivação: Baseada na própria vontade de crescimento do adulto(motivação interna) não em estímulos vindos de outras pessoas(motivação externa).

     Quando falamos de requalificação reciclagem profissional ou atualização de conhecimentos como práticas destinadas a aumentar o nível de empregabilidade dos trabalhadores, estamos falando de educação andragógica. O educador que trabalha com jovens e adultos, deve ter, portanto uma grande preocupação em ajudar o educando a lidar com sua própria existência, sobre o que ele é capaz de aprender, de saber fazer e experimentar, reconhece-se que para o homem adulto não existe um caminho pré determinado, mas sim a possibilidade da construção do seu próprio caminho.

     Vale lembrar constantemente que os princípios que norteiam o Ensino Andragogico é diferente dos que norteiam a pratica pedagógica. Para isso, nós citamos algumas distinções:

     O adulto possui extrema necessidade de saber e valorizam, investigam, analisam os benefícios que ganharão por ter adquirido tais aprendizagens e as conseqüências negativas por não tê-las aprendido. Por isso, a maioria dos adultos que estão inseridos na EJA comprometem-se consideravelmente no processo de ensino aprendizagem.

     Além desse ponto favorável, os adultos possuem o auto-conceito de serem responsáveis pelos seus atos, decisões, ou seja, pela sua liberdade de expressão, pela sua vida. Por se reconhecerem como sujeitos responsáveis, passam a compreender e valorizar a necessidade psicológica de serem vistos e tratados como seres capazes de se auto-direcionar, de aceitar sugestões assim como de recusá-las.

     Por outro lado, estamos em constante diálogo com as experiências vivenciadas por tais aprendizes no decorrer da vida. Ao realizar as atividades diárias em sala de aula, na maioria das vezes estabelecem relação entre a teoria que esta sendo abordada com sua prática diária, ou seja, sua vivencia.

     Os adultos estão sempre prontos para aprender aquelas coisas que precisam saber e capacitar-se para fazer, com o objetivo de resolver efetivamente as situações da vida real.

 Em contraste com a orientação centrada no conteúdo própria da aprendizagem das crianças e jovens, pelo menos no que se refere a escola, os adultos estão centrados na vida, nos problemas, nas tarefas, na sua orientação para a aprendizagem.

     Tendo em vista que os adultos atendem a inúmeros motivadores externos como melhor emprego, promoção no trabalho, salário satisfatório, o motivador mais constante são as pressões externas, como desejo de realizar-se profissionalmente, o que provavelmente lhe realizará também financeiramente, auto-estima em alta, melhor qualidade de vida, valorização profissional e dentre outros fatores que motivam sua permanência na Educação de Jovens e Adultos.

     No que se refere à relação estabelecida entre professor e aluno, razoes da aprendizagem, experiência do aluno e orientação da aprendizagem, a Pedagogia oferece a visão de que o educador é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem.  Tanto as crianças como os adultos devem aprender o que a sociedade espera que saibam com base no currículo padronizado, o ensino é didático, padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor. A aprendizagem acontece por meio de um determinado assunto ou matéria.

     No caso da Andragogia, a aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aluno, na independência e na auto-gestão da aprendizagem. Os adultos aprendem o que realmente precisam saber, ou seja, aprendizagem para a aplicação prática na vida diária. A experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo. A aprendizagem é baseada em problemas, o que exige elevado grau de concentração, envolvimento e conhecimentos para se chegar à solução. 

Como diz CAVALCANTI:

Adultos se sentem motivados a aprender quando entendem as vantagens e benefícios de um aprendizado, bem como as conseqüências negativas de seu desconhecimento. Métodos que permitam ao aluno perceber suas próprias deficiências, ou a diferença entre o status atual de seu conhecimento e o ponto ideal de conhecimento ou habilidade que ser-lhe-á exigido, sem dúvida serão úteis para produzir esta motivação. Aqui cabem as técnicas de revisão a dois, revisão pessoal, auto-avaliação e detalhamento acadêmico do assunto (1996, p.3).

     Diante dos pressupostos pedagógicos mencionados anteriormente, a Andragogia se dispôs a questionar a validade dos mesmos para o relacionamento educacional com adultos. Afinal das contas, o respeito à maioridade da pessoa madura é o ponto fundamental para se estabelecer uma relação de efetiva aprendizagem. Esse respeito passa pela compreensão de que o adulto é sujeito da educação e não o objeto da mesma. Daí a inconveniência do professor como principal referência da relação educacional e a fonte do conhecimento a ser depositado no reservatório do aprendiz, o que Paulo Freire denomina de "Educação Bancária". O indivíduo que intencionar trabalhar na educação de adultos tem que, antes de tudo, ser humilde para descer do pedestal da sua cátedra e se estabelecer no mesmo plano de aprendizagem, para, numa mútua relação de compartilhamentos, se desenvolverem com o aprendiz.

     A Andragogia traz melhores resultados práticos quando a adaptada de acordo com as particularidades doas aprendizes e da situação aprendizagem. A educação de adultos não é invenção dos andragogos de nosso tempo ela já existia sem ser idéia ou atividade especializada, cujos objetivos são:

·       Estabelecimento dos fundamentos de uma didática válida para realizar adequadamente o processo de aprendizagem.

·       Estabelecer princípios técnicos e metodológicos que permitam o tratamento didático dos diferentes programas da Educação de Jovens e Adultos.

     Migrar do ensino clássico para o ensino andragógico é no mínimo trabalhoso, os professores envolvidos nessa migração assume muito mais o papel de orientador, facilitador do processo de aprendizagem. O planejamento deve procurar superar situações de dependência e paternalismo ou maternalismo.

    A declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos, preconiza

“[...]A efetiva participação de homens e mulheres em cada esfera da vida é                                               requisito fundamental para a humanidade sobreviver e enfrentar os desafios do futuro. A educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça[...] (1999, p. 19)”

     As características de aprendizagem dos adultos devem ser exploradas através de abordagens e métodos apropriados produzindo uma maior eficiência das atividades educativas. A independência a responsabilidade serão estimuladas pelas simulações, apresentação de casos, atividades baseadas em problemas, bem como os processos de avaliação de grupo e auto avaliação.

     Algumas limitações são impostas alguns grupos de adultos, o que impedem que venham a aprender ou aderir a programas de aprendizagem. A disponibilidade de tempo, acesso a bibliotecas, laboratórios, serviços, internet entre outros são alguns dos fatores limitantes. O acesso destes fatores aos estudantes sem dúvida contribui de modo significativo para o resultado final de todo o processo.

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994 
 
LIMA, Arievaldo Alves de. Andragogia: A aprendizagem nos adultos. http://www.grupoempresarial.adm.br (31/01/2006 – p.1-12)..Acesso em outubro de 2009.
 
CAVALCANTI. Roberto de Albuquerque. Andragogia: a aprendizagem nos adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba Nº 6, Ano 4, (Julho de 1999).
 
Lei  Nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 1996
Confintea. Declaração de Hamburgo – Agenda para o Futuro. Brasília: SESI/UNESCO, 1999.

 

[1]Professora da Escola Estadual Desembargador Gabriel Pinto de Arruda, graduação em Pedagogia, e-mail:

 

[email protected]

[2]Professora da Escola Estadual Desembargador Gabriel Pinto de Arruda, graduação em Ciencias Biológicas, e-mail:

laurimar.assuncã[email protected]


Autor: Elisangela Da Silva França


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