Óbito gestacional e abortamento gemelar associados à leptospirose: relato de caso



ÓBITO GESTACIONAL E ABORTAMENTO GEMELAR ASSOCIADOS À LEPTOSPIROSE: RELATO DE CASO

 Autores: Maria Elizabeth Herdy Boechat, Christiane Fernandes Alvarenga, Vânia Glória Silami, Luiza de Jesus Seixas, André Luiz de Souza Braga, Márcia Moises, Janice Coelho, Debora Cynamon Kligerman.

 Contato: [email protected]

INTRODUÇÃO:

     A Leptospirose é uma grave infecção bacteriana aguda causada pela Leptospira interrogans, uma espiroqueta com grande mobilidade, infectividade e virulência1, 2, 3, 4, 5.

    Sendo que o lixo sem acondicionamento e destino adequados é fonte de alimentação nos espaços urbanos do seu principal vetor, os roedores domésticos, com destaque para as ratazanas e também camundongos e ratos de telhados4. Ainda lembramos que a falta ou deficiência de cobertura de saneamento ambiental para as coletividades, como também a inexistência de ações de educação em saúde junto à população sobre sua prevenção são fatores de favorecimento para sua ocorrência5.

    Esta infecção não poupa sexo, faixas etárias e condições sócio-econômicas3, 5.

    Somando-se a isso, a Leptospirose pode manifestar-se clinicamente por quatro formas: assintomática; similar a um estado gripal; anictérica e a mais conhecida pelos profissionais de saúde, a Síndrome de Weil, com apresentação íctero-hemorrágica3.

    E devido estes profissionais terem mais conhecimento com esta última apresentação, propicia à subnotificação destas outras três formas clínicas. E consequentemente, não gerando por parte das instâncias de vigilância epidemiológica municipais às possíveis ações de desratização e anti-ratização nos locais de ocorrência dos seus casos.

    Esclarecemos ainda, que em virtude do grande número de sorotipos que a Leptospira interrogans pode apresentar, um mesmo indivíduo ao longo de sua existência pode ter mais de um episódio de Leptospirose3.

    Por último, lembramos que devido ser uma doença multissistêmica pode apresentar, por exemplo: encefalite, insuficiência respiratória aguda e renal, rabdomiólise, hepato e esplenomegalia, pancreatite, plaquetopenia, parto prematuro e abortamento. Condições já vivenciadas em nossa unidade hospitalar.

    O presente estudo é um exemplo desta última condição clínica.

 OBJETIVOS:

     Alertar aos colegas obstetras para a necessidade de inclusão no arcabouço de possibilidades clínicas das infecções do período gravídico-puerperal a Leptospirose. Visando assim, contribuir na redução da sua morbi-mortalidade e subnotificação de casos.

 MATERIAL E MÉTODOS:

     Pesquisa documental na Ficha do Sistema de Informação de Agravos de Notificação de Leptospirose do Núcleo de Vigilância Hospitalar do Hospital Estadual Azevedo Lima-Niterói-RJ (HEAL), e no prontuário deste caso no seu Setor de Documentação Médica.

 DESCRIÇÃO DO CASO:

     D. R. S., 19 anos, primeiro trimestre de gestação gemelar, parda, escolaridade: fundamental incompleto, do lar, residente no Saco das Flores-Maricá-RJ, localidade com precário saneamento ambiental. Início dos sintomas em 01/02/2007 com febre, vômitos, desorientação. Internação: 03/02/2007 no hospital público desta cidade e transferida em 08/02/2007 para o HEAL já em coma pós-parada cárdio-respiratória. Nesta última unidade é admitida no centro de tratamento intensivo (CTI) cursando com persistência do quadro neurológico, com instabilidade hemodinâmica, manutenção de respiração assistida mecanicamente, febril, leucocitose, anictérica, anemia, discrasia sanguínea, infecção pulmonar, sangramento transvaginal. Ocorrendo a eliminação espontânea de conceptos, com cerca de 10 cm cada um e acompanhados de placenta, sem odor e ou aspecto de infecção. Posteriormente foi realizado wintercuretagem com saída de restos placentários e coágulos. Paciente nesta internação recebeu transfusão de hemoderivados, antibioticoterapia e foi submetida à hemodiálise. Questionou-se: Sepse urinária? Endometrite? Leptospirose? Evoluiu com choque séptico e óbito em 14/02/2007. Porém, apresentou urinocultura negativa; Sorologias para HIV, Sífilis e Hepatite A, B, C negativas, e Sorologia para Leptospirose positiva (IgM+).

 CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES:

     Ocorreram neste caso critérios clínico-laboratoriais e epidemiológicos sugestivos de Leptospirose.

    E notamos que se houvesse a inserção desta infecção nas hipóteses clínicas na primeira unidade hospitalar poderia ter contribuindo na minimização das complicações deste caso.

   Lembramos ainda, que expressiva parcela da população no país reside nos entornos urbanos, regiões com grande vulnerabilidade sócio-ambiental para contrair esta doença, não estando assim, isentas da Leptospirose as gestantes.

    Portanto, sua inclusão no conjunto de hipóteses diagnósticas do período gestacional se faz necessário, visando auxiliar na redução de morbi-mortalidade e mesmo a sua subnotificação.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 1. TAVARES, W.; MARINHO, L. A. C. Rotinas de diagnóstico e tratamento das doenças infecciosas e parasitárias. - 2a Edição - São Paulo: Atheneu, 2007. 1216p.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6a Edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 816 p. – Série A. Normas e Manuais Técnicos.

 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Controle de Leptospirose: aspectos epidemiológicos e de controle. Brasília: Ministério da Saúde, 1989.

 4. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Controle de Roedores. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il.

 5. BOECHAT, M. E. H. Pesquisa social em saúde ambiental: um estudo da Leptospirose na área de abrangência do Pólo Sanitário Rio do Ouro, São Gonçalo, 2005. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Plínio Leite, Niterói, 2005. xiii, 91 p.

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Autor: Maria Elizabeth Herdy Boechat


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