O Lúdico na Alfabetização



FINOM- FACULDADE DO NOROESTE MINAS

SIRLEI DE SOUZA ANDRÉ

O LÚDICO NA ALFABETIZAÇÃO

MARCELÂNDIA

 2012 

FINOM- FACULDADE DO NOROESTE MINAS

SIRLEI DE SOUZA ANDRÉ  

O LÚDICO NA ALFABETIZAÇÃO

Artigo Científico Apresentado à Faculdade de Educação da FINOM, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Alfabetização e Letramento

MARCELÂNDIA

 2012

RESUMO 

O trabalho aqui apresentado se reporta ao “Lúdico na Alfabetização” e procurou verificar a importância do lúdico no processo de alfabetização, quais jogos e brincadeiras as crianças preferem nesta etapa de ensino e sua relação com o processo de alfabetização. O método abordado na pesquisa foi o de campo e bibliográfico, no qual questões dirigidas foram aplicadas a um grupo de cinco crianças, alunos da alfabetização que fizeram a educação infantil. Os questionamentos foram registrados e serviram de suporte para análise.  Para respaldo do estudo buscou-se embasamento teórico nos pensadores como Vygotsky, Kishimoto, Borba entre outros. O brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade, autonomia e a capacidade de representar papel na brincadeira, faz com que a criança desenvolva sua imaginação, a linguagem e ainda produz cultura. O estudo evidenciou o quanto é importante incluir na rotina da sala de aula o brincar, bem como conhecer quais brincadeiras fazem parte do cotidiano do aluno. 

Palavras-chave: Criança, Alfabetização e Brincar.

INTRODUÇÃO 

O presente artigo científico aborda a temática “Lúdica na Alfabetização” e procurou verificar a importância do lúdico no processo de alfabetização, quais jogos e brincadeiras as crianças preferem nesta etapa de ensino e sua relação com o processo de alfabetização.

Para contemplar esses objetivos partiu-se da problemática em que buscou verificar se as atividades lúdicas promovem ou não a alfabetização das crianças e se existe a possibilidade de relacionar jogos e brincadeiras no processo de ensino aprendizagem de crianças que serão alfabetizadas.

O método abordado na pesquisa foi o de campo e bibliográfico, na qual foram levantadas algumas questões dirigidas a um grupo de cinco crianças, alunos da alfabetização e egressas da educação infantil. Os questionamentos foram  registrados e serviram de suporte para análise.

 Para respaldo do estudo buscou-se embasamento teórico nos pensadores como Vygotsky, Kishimoto, Borba entre outros. Este tema se justifica pelo fato de que brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade, autonomia e a capacidade de representar papel na brincadeira, faz com que a criança desenvolva sua imaginação, a linguagem e ainda produz cultura.

           Vygotsky (1988) acredita que deve oferecer as crianças condições para que a aprendizagem ocorra em atividades cotidianas, como as brincadeiras e, também, naquelas provocadas por situações pedagógicas intencionais, orientadas e medidas pelo professor, tornando-as significativas. 

           Na perspectiva de Vygotsky, a criança, inserida no social é produto de um contexto cultural. Isto facilita a exploração da imaginação, a memória e o registro de sua experiência, afirma que é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança.

         A introdução do lúdico na vida escolar do educando, segundo o Referencial Curricular Nacional (RCN), é uma maneira muito eficaz de repassar pelo universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto, nossos conhecimentos e principalmente a forma de interagirmos.

             De acordo com o RCN, a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita à aprendizagem, do desenvolvimento pessoal, social e cultural e colabora para boa saúde mental e física.

         Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação, da utilização e da experimentação de regras e papéis sociais.

 

 

 

Desenvolvimento

"As brincadeiras são linguagens não verbais, nas quais a criança expressa e passa mensagens, mostrando como ela interpreta e enxerga o mundo". Brincar é um direito de todas as crianças do mundo, garantido no Princípio VII da Declaração Universal dos Direitos da Criança da UNICEF. É uma atividade de grande importância para a criança, pois a torna ativa, criativa, e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a faz feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária.

         Através da brincadeira a criança consegue vencer os desafios da vida com mais facilidade, consegue esquecer sua fadiga física, a doença, ter uma auto-estima equilibrada, pode tornar-se um homem determinado capaz de promover o seu bem estar e de outros.

        O brincar tem uma significação profunda na vida da criança. O professor deve estar atento à idade e a capacidade de seus alunos para escolher e deixar a disposição materiais adequados.

         Em relação ao jogo, Piaget (1998), acredita que ele é essencial na vida da criança. Existe o jogo de exercício onde a criança repete determinadas situações de prazer por ter apreciado seus efeitos, jogos simbólicos utilizados pelas crianças de2 a6 anos satisfazendo suas necessidades, onde não somente relembra o acontecido, mas executa a apresentação. O jogo é uma ponte que dá condições para trabalhar o desenvolvimento infantil em realidade.

Kishimoto, (2003) destaca a situação imaginária e as regras, como elementos importantes na brincadeira infantil, onde, nas situações imaginárias claras ou não, há regras implícitas e explícitas. Como exemplo, a criança ao imitar um motorista, segue suas regras implícitas, diferente do futebol, onde as regras são explícitas, variando conforme estratégias adotadas pelos jogadores.

(Kishimoto, 2003 p.43) acredita que “ao prover uma situação imaginativa por meio da atividade livre, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais”

          O brincar faz parte do mundo infantil e as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornarão seu nível básico de ação real e moralidade (Vygostsky). Em toda a vida da humanidade os jogos e brincadeiras sempre estiveram presentes, embora não tinham o sentido que tem atualmente, eram vistos apenas como distração e recreação.

Em se falando do brincar ROJAS (2007 p.19) afirma que “O brincar infantil constitui a forma básica mais importante e decisiva do ser humano, por fazer desabrocharem e ativarem as forças criativas da criança”.

Através da brincadeira, a criança desenvolve a atenção, a memória, a autonomia, a capacidade de resolver problemas, se socializa, desperta a curiosidade e a imaginação, de maneira prazerosa e como participante ativo do seu processo de aprendizagem.

Contudo, ao ingressar no ensino fundamental a criança deixa de ser criança e se torna um “aluno”, com responsabilidade em aprender o que impõe os livros didáticos ou os planos do professor. O brincar e visto como algo que não deve mais acontecer, agora a criança precisa aprender a “ler e a escrever”.

         Diante deste quadro o que se verifica é uma forte ruptura entre a Educação Infantil e o ensino fundamental, antes as ações pedagógicas envolviam o brincar e agora isso não pode mais. As crianças se tornaram adultas miniaturas.

A criança necessita do brincar para se constituir como sujeitos no mundo, neste sentido BORBA (2007) afirma que:

...a singularidade da criança nas suas formas próprias de ser e de se relacionar com o mundo;  a função humanizadora do brincar e o papel do dialogo entre adultos e crianças ;compreensão de que a escola não se constitui apenas de alunos e professores , mas de sujeitos plenos ,crianças e adultos , autores de seus processos de constituição de conhecimento ,culturas e subjetividades.   

 

Assim verifica-se que o brincar possui estreita relação com o desenvolvimento, aprendizagem, a cultura e os conhecimentos. O papel da escola  é o de disponibilizar  tempo espaço e recursos para que o brincar  aconteça  contudo  esta realidade  ainda é utópica BORBA (2007),acrescenta:

A brincadeira e uma palavra estreitamente associada a infância e as crianças. Porém ao mesmo nas sociedades ocidentais , ainda  e considerado ponto irrelevante  ou pouco valor do ponto  de vista da educação formal , assumido  freqüentemente  a significação  de oposição  ao trabalho, tanto no contexto  da escola quanto no cotidiano  familiar.

 

            Tanto a escola, como a família vêem o brincar como uma atividade sem importância, contudo, atualmente existe uma vasta produção que afirma a brincadeira como sendo importante no desenvolvimento e aprendizagem da criança.

 

As afirmações acima descritas que concebem a brincadeira como algo sem importância podem ser comprovadas a partir dos questionários aplicados às crianças.   Ao perguntar se as crianças brincam na escola, todas responderam que sim, e estas eram pega-pega, rela-juda, esconde-esconde, pique no ar, de boneca e casinha. Ainda disseram serem suas brincadeiras prediletas.

Durante o tempo de pesquisa o que verificou é que estas Brincadeiras são realizadas quando as crianças estão no intervalo, são brincadeiras livres e sem o monitoramento da professora.

Ao questionar se a professora brinca com eles, todos afirmaram que sim. As brincadeiras que a professora utilizava eram batata quente, forca e adoleta. Uma criança disse que a brincadeira da batata quente ensina que não pode mexer no fogo se não pode se queimar.Nota que as brincadeiras que a professor trabalha com a turma não são as que as crianças nomearam como as suas prediletas, assim pode se dizer que o repertório de atividades referentes ao brincar é pequeno e não condiz com  o desejo das crianças.

 A brincadeira da forca além de descontrair favorece o treino da leitura e escrita, talvez por isso não chame a atenção das crianças, pois ainda não dominam completamente o código escrito. As demais brincadeiras não fazem parte da cultura dessas crianças, então cabe ao professor investigar as brincadeiras que fazem parte do cotidiano de sua turma. Neste sentido, BORBA (2007) diz que:

Uma excelente fonte sobre o brincar e sobre as crianças e os adolescentes é observá-los brincando. Penetrar nos seus jogos e brincadeiras contribui, por um lado, para colhermos informações importantes  para a  organização  dos espaços – tempos escolares  e das  praticas pedagógica  de forma que possam garantir e incentivar o brincar.

                   

Partir do centro do interesse das crianças das crianças e ir paulatinamente implantando na rotina das aulas atividades que envolvam o brincar. Assim a aprendizagem se tornará mais prazerosa aos alunos. Vale lembrar que brincadeiras compreendidas apenas como recurso perdem o seu principal objetivo que é a ludicidade e possuem apenas a função de treinar e sistematizar conhecimento. BORBA (2007) acrescenta:

Isso não significa que não possamos utilizar a ludicidade na aprendizagem, mediante jogos e situações lúdicas que propiciem a reflexão sobre conceitos matemáticos, lingüísticos ou científicos. Podemos e devemos, mas é preciso colocá-la no real espaço que ocupa no mundo infantil.       

 

Existem inúmeras possibilidades de implantar a ludicidade na rotina da sala de aula, porém o que não pode perder de vista é o real sentido que as brincadeiras possuem para as crianças. É necessário que as atividades proporcione a decisão, a escolha, as descobertas, as perguntas e as respostas por parte das crianças. Ao incorporar a brincadeira no cotidiano escolar dos alunos estará ampliando as possibilidades de aprendizado.   

         Com relação ao jogo, Piaget (apud. Deslandes, 2006) acredita que ele é essencial na vida da criança.  De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos.

       Em torno dos 2-3  e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.    Isso comprova a importância do ato de brincar, pois alem de proporcionar prazer à criança é veículo de aprendizagem. além dos jogos existe outra possibilidade de brincar que é o faz-de-conta

  De acordo com Vygotsky (1998), o faz-de-conta é uma atividade importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois exercita no plano da imaginação, a capacidade de planejar, imaginar situações lúdicas, os seus conteúdos e as regras inerentes a cada situação.

 Para este autor, “a situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe da boneca e a boneca como criança e, dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento maternal” (VYGOTSKY, 1998:124).

 O faz-de-conta é apontado pelas crianças como uma das brincadeiras preferidas. O professor deve se atentar para estas preferências e ir ampliando as possibilidades de aprendizagem, haja vista, que esta é uma das principais intenções do Plano Nacional de Educação que assim cita:   

...a determinação legal do Ensino fundamental é de, Implantar progressivamente o ensino fundamental de nove anos, pela inclusão das crianças de seis anos de idade, tem duas intenções oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos alcançando maior nível de escolaridade (BRASIL, 2001, p.21).

 

                            Assim para que a criança tenha êxito no período inicial de sua escolarização sugere-se que as crianças em sua rotina escolar tenham o brincar como elemento norteador de sua aprendizagem, haja vista que um dos principais objetivos da implantação do ensino fundamental de nove anos é que a criança consiga atingir a  escolarização plena.

O momento crucial de toda a seqüência da vida escolar é o momento da ALFABETIZAÇÃO, que requer de todos nós um olhar especial na busca de estratégias de ensino que promovam os alunos, garantindo o seu desenvolvimento e participação na construção do conhecimento.

O processo de alfabetização ocorre de forma diferente em cada indivíduo e,cada um,alcança determinados níveis também em momentos diferentes,dentro do seu próprio ritmo e motivação.O alfabetizar/letrando,leva em conta os usos sociais e as funções da escrita na sociedade,as interações e as interlocuções do indivíduo com o outro e com o objeto do conhecimento e enfatiza as relações sociais,nos quais o conhecimento é produzido,vivenciado e apropriado pelo aluno.

 

            Torna-se muito importante que instituição de educação infantil e a família repensem seus papéis para que ambos promovam uma educação comprometida com o desenvolvimento da criança, afim de que a alfabetização e letramento na infância realmente aconteça.Sonia Kramer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, não distingue alfabetização de letramento. Para ela:

 

 A alfabetização, longe de ser um aprendizado mecânico, é uma produção cultural entre outras. E quanto mais os professores tra­balharem essa produção cultural inter-relacionada com as outras dimensões da cultura, mais forte­mente estarão contribuindo para abrir caminho rumo ao fim da ex­clusão social.

                                     (Kramer, apud. Goulart, Maria Inês Mafra, p.25, 2006).

 

 

 

 

 

 

Conclusão

 

 

O Lúdico no processo de Alfabetização é muito importante, pois faz parte do mundo infantil. No momento em que a criança brinca manifesta os impulsos internos; a brincadeira é uma atividade que toda pessoa realiza ou realizou, através dela a criança sente prazer, liberdade, criatividade, descanso, começando aí a construção de sua própria identidade.

As brincadeiras que as crianças preferem nesta etapa de ensino são  pega-pega, rela, esconde-esconde, pique no ar,  de boneca e casinha, elas não estão diretamente relacionadas com o processo de alfabetização, porém o ato de brincar desenvolve na criança várias habilidades.

Torna-se muito importante que a escola e família repensem seus papéis para que ambos promovam uma educação comprometida com o desenvolvimento da criança, afim de que a alfabetização realmente aconteça.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

BORBA,Ângela Meyer. Culturas da infância nos espaços-tempos do brincar: um estudo com crianças de 4-6 anos em instituições públicas de educação infantil. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Niterói.

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Plano Nacional de Educação. Lei n.10.172/2001. Brasília: MEC/SEF, 2001.

------------- Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), MEC/SEF, Vol 1, 1998.

 

DESLANDES, Keila. Psicologia: Uma Introdução a Psicologia. Cuiabá: EdUFMT, 2006.

 

KISHIMOTO, T. M. O jogo e a Educação Infantil.  In Kishimoto, T. M.  (Org).  Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

 

PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

 

ROJAS, Jucimara. Jogos, Brinquedos e Brincadeiras: o Lúdico e o Processo de Desenvolvimento Infantil. Cuiabá: EdUFMT, 2007. Fasc.1.

 

VYGOTSKY, L. (1998). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

http://198.106.103.111/cmdca/downloads/Declaracao_dos_Direitos_da_Crianca.pdf

 

 


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