Diálogo entre discípulos



Diálogos entre discípulos

  _  A Paz.  Surgiu-me um questionamento...

 Se Deus fala aos homens através do entendimento ,  ou seja, sem a “manifestação” de divindade, presumo que tem sido assim por todo o tempo, mas como explicar a aparição do anjo a Daniel, ou a Josué?

 

_ Ok, comunicação direta sem intermédio de ninguém.

  Divindade tem caráter simbólico. A primeira manifestação da divindade foi à natureza, representava  algo que precedia à existência humana,( existindo antes dele), longe de seu controle acima de sua capacidade de decifrar, ou seja, o lugar dos mitos . Foi então seu primário desafio: decifrar-lhe. Dando a possibilidade de inferir sobre causa e efeito, surgindo posterior a isso, o conceito de entendimento (homem apartado da natureza). Porém você deve se lembrar de que o conceito de ego ou de eu, é muito posterior, sendo então por este motivo (a não percepção do eu pensante) o fundamento   da lógica de Deus ou os deuses terem falado comigo. Ouço minha consciência e julgo ser Deus.

 

 OK, até aí?

 

Como explicar o conceito de anjo?

Angelo = portador de uma mensagem.  

 

 Josué 5:13  afirma “... viu um homem em pé portando uma espada...” A construção de um ser alado é por nossa conta, o que ele viu foi um homem que, tendo portado uma mensagem para ele, recebeu o a descrição de angelos.

As aparições angélicas são divididas em duas categorias simples: as que ocorrem sob efeito de um estado de êxtase e as que não. Josué se encontra no segundo caso, já Daniel no primeiro: Daniel 10:7 diz  “... perdi  os sentidos ...”     mas, ainda neste exemplo, o que foi visto era um homem. Nos dois casos os personagens estavam em um momento critico sem poder compartilhar com ninguém a pressão que sofriam. Ambos eram líderes diante de mais uma guerra que poderia destroçar pessoas próximas a eles, sem poder pedir conselhos sem ter com quem desabafar...  Talvez fosse esta a situação ideal para um contato com outro eu um real alterego bem diante dos seus olhos, ali prontinho para te tranquilizar e dizer tudo o que você gostaria de ouvir. E como quem conta a história é sempre quem vence acabavam por predizer o futuro.

  _ Mas amigo, como os judeus na época de Jesus e dos profetas se reuniam nos templos? _ O que era feito específicamente? Discutiam a lei ou o que?

 

_ Opa, ai precisamos de um rigor teórico maior, os judeus se encontravam nas sinagogas (agremiações locais usadas para reunião dos anciãos de uma comunidade) para discutir desde qual grão deveria ser plantado em maior quantidade naquele ano até para decisões de ordem politica e religiosas. Em paralelo a isto existia em Jerusalém em certo período histórico o templo de Salomão (um templo, várias sinagogas sacou a diferença???). Lei não se discute meu velho. 

_ Sei que devemos considerar a episteme,, a cultura, mas são um povo com cultura totalmente diferente do resto do mundo é provável que hoje suas reuniões tenham mudado muito pouco, em função da identidade? Mas como surgiu essa nossa forma de reunião?

_ Meu amigo a cultura judaica é um MIXX de várias culturas influências adquiridas em vários anos de escravidão de diversos povos um verdadeiro saco de gatos epistemológico...

Um exemplo, só para você perceber...

O aramaico é datado de 800 a.C.  a saída de Abrão de Ur é datada de +ou- 4000 A.c. . São, portanto 3200 anos de apropriação de tradição oral artística e cultural de tudo quanto é povo da antiguidade. Não é que eles foram autênticos, nós é que não nos aprofundamos no prisma da história e mantemos um foco histórico unidimensional.As reuniões se mantiveram com o mesmo vértice de discussões político/sociais eventos locais relacionados a comunidade, aos Sábados.

 Não tem nada a ver com a tradição judaica.

Nos primórdios do cristianismo séc. III d.c. várias praticas pagãs foram  adaptadas ao cristianismo. Você não pode se esquecer de que qualquer europeu, que não fosse cristão, era automaticamente um herege, (lembrando que a Europa naquela época também era um saco de gatos cultural (recebendo uma identidade helênica, ou seja, os gregos inventaram a Europa), pois fazia e ainda faz divisa com a Ásia. A África setentrional também está ali bem perto dando referencias de modo de vida (os egípcios eram africanos e influenciavam a astrologia europeia) ), assim sendo cada povo adaptou ao cristianismo da melhor maneira possível aos seus próprios ritos ancestrais entre a cruz e a espada, surgindo disto as mais diversas formas de culto e divindades  meio pagãs/cristãs. A tentativa de universalização católica funcionou de alguma forma, pois permitiu diversas vezes estas variações cultuais/culturais ou simplesmente fingiam que não viam (S. Cristovam como o gigante titã Atlas, Maria a mãe era Minerva a sábia, Maria a esposa era Afrodite a deusa, Pedro era Ares o deus da guerra, a serpente virou o dragão a figura do mal, Hades virou o diabo/inferno (em associação ao mito de Vulcano e Phaeton o filho da luz Lucifer), Jesus era Héracles, os Anjos semelhantes a Hermes, a visita dos anjos a Abraão e Sarai o mito de Filemon e Baucís ...).  As bulas papais serviam para tentar evitar o óbvio: o sincretismo não dando certo. Por diversas vezes eles desistiram e deixaram o barco andar até a santa inquisição mandar meio mundo pra fogueira.       

 _ Seria "tipicamente americana" então? 

_Sim e também tipicamente burguesa. Após o Iluminismo, valores artísticos foram acrescidos de dados matemáticos e uma busca do belo associado ao exato.  A música antes ambiente da volição de Dionísio o deus do vinho, agora será ambiente da perfeição matemática, sob inspiração divina, trazendo em seus motivos a exaltação da natureza como criação de Deus.

 O que antes era o local de silencio dos monastérios se tornou parlatório de protesto contra as decisões papais. Valores como humanidade, dignidade, conhecimento vem à tona após a revolução francesa e encontram ambiente propício nas igrejas protestantes do século XVIII.

 Os pastores naqueles tempos eram chamados de clérigos, e eram considerados homens das letras (intelectuais), as igrejas eram escolas, teatros, fóruns...  Tudo ao mesmo tempo sem nenhum estranhamento. O clérigo oficializava casamentos por que também tinha formação em direito, o que lhe auxiliava nas soluções de pendências locais, que também lhe cabia dar conta. Antes de ser um representante de Deus ele era, antes de tudo, um homem do conhecimento comprometido com a verdade com a razão e com a justiça.

 Esta descrição é válida para a Europa e a América do Norte, porém do lado de baixo do Equador, a coisa degringolou...

 Os representantes das igrejas tradicionais europeias mantiveram ainda certo padrão de qualidade com os missionários que vieram para cá no início do séc. XX, porém os que foram destacados para o ministério local tinham um enorme déficit de formação, 90% da população era analfabeta!!!

Como evangelizar?

Pra que evangelizar se podemos ritualizar?

 Ensinar uma música é muito mais fácil do que ensinar a ler... Foi o que fizeram. Várias canções, muitos hinários para os analfabetos, canções sobre um lindo lugar, um lindo país, que na verdade, era a Europa aos olhos dos calangos, e nada de criar encrenca com os donos da terra. Muito pelo contrário, vai com a maioria mesmo...

 O cristianismo nunca colou na parte mais culta da sociedade, a hipótese de Deus não é mais necessária para a explicação do mundo e seus conflitos. Quando o cristianismo protestante chegou ao Brasil, séc. XX, os conflitos sociais europeus estavam muito bem definidos. Lutas de classes, posicionamentos políticos, conhecimento filosófico não era novidade nenhuma em conversas de mesa de jantar. 

 Enquanto que aqui nada disso existia. Sequer chegava ao conhecimento da população pelos meios de comunicação. Um prato cheio para a implantação do discurso ideológico da elite. O cristianismo se tornou mais útil aqui do que no Europa, e o que assistimos foi uma revoada de organizações “pseudo cristãs” se instalarem no Brasil com o intuito de pregar a palavra de Deus com boas doses de anestesia intelectual.  

 As Congregações cristãs mais tradicionais se alinharam imediatamente aos aliados do imperialismo britânico de Churchill, logo após a decisão de Vargas que  coincidiu com a chegada dos imigrantes europeus a São Paulo. A grande maioria deles havia participado anos antes da I internacional Socialista de 1923 e sérios conhecedores do poder da organização social que desta resultava.

 Assim, como tática de para evitar uma organização politica, certos assuntos foram banidos da comunidade cristã, tal como certas leituras. E eu não estou falando de Marx, falo de Graciliano Ramos, Alvares de Azevedo ou uma simples leitura de jornais que poderia trazer informação para aqueles que precisavam dela. Antes de todos os jornais pertencerem à mesma pessoa, existiam grupos que queriam organizar um país mais justo.

O poder tinha então outro aliado além dos bancos: a religião protestante. Enquanto um calava a classe média o outro calava a classe miserável.

  A leitura da Bíblia foi se tornar habito mais comum nos anos 60. Ainda assim sem qualquer compreensão daquilo que se tinha lido. As pessoas se tornavam cristãs nas favelas por puro status quo, era uma forma de ascensão sócio cultural.

 Ir a uma reunião fora do ambiente da periferia conferia ao novo adepto certo ar respeitável, era um acontecimento que mobilizava todo um aparato necessário. Exigia-se roupa certa, comportamento adequado, tudo só para figurar entre os da classe média. Carregar a bíblia como um desodorante sob o braço, era como portar uma chave para um novo mundo de auto significância. Uma nova possibilidade de identidade que havia sido roubada, um pequeno acréscimo de estima por si mesmo que a muito não se fazia desfrutável.

 Ser parte de um grupo, ter certeza que isto vai lhe render um bom resultado ao fim da vida, e ainda poder se sentir superior as outras pessoas de sua comunidade.

 Sim, porque de vez em quando, você se senta próximo de gente de posses e eles te deixam chamá-los de irmãos. Cristianismo no Brasil sempre foi mais estética do que ética. Juntamos todos os diferentes por dentro e os igualamos por fora. Cristianismo no Brasil é niilísmo. É feio vezes feio.  

Depois disso o sermão era lido pelo pastor seguido da moral da historia pra boi dormir...   Depois de tantos anos de mascaramento da verdade e perda de sentido histórico, você pode deixar as pessoas com suas bíblias, pois elas já foram ensinadas a ler sem querer entender.

Á exemplo dos clérigos que seguem, é feio vezes feio.

O ambiente de ascensão econômica só torna o mascaramento mais eficiente. A roda da fortuna de hoje é o cobreiro do passado, que reafirmava a fé no milagreiro quando sarava em sete dias conforme fora previsto (pelo milagreiro e pela dermatologia). Hoje a teologia da prosperidade ganha força com a ajuda financeira dada aos bancos (com o intuito de aumentar o crédito). A redução dos juros evita temporariamente o que é o resultado disto... nós estamos todos ferrados só não podemos ver ainda. O lucro de um é a desgraça de muitos. Eles não vão parar e como um câncer vai tomar todo o sistema até aniquilá-lo por completo.

Em sua casa você tem mais livros ou mais CD´s?

Hinários para os analfabetos... cante!!  Por que quem canta, antes de morrer, vira uma anta. Você quer saber de onde vem a nossa forma de reunião? Vem direto do inferno!!! Feita para produzir com uso de amordaça, corpos dóceis que não interagem, repetem! não acordam... desdormem! Abanam a cabeça como mulas com o puxar do arreio, para tudo o que se diz com a entonação convincente e inflamada, mesmo que não faça o menor sentido.

 Ás vezes eu me pego com medo das minhas conclusões, faço minhas revisões e me assusto ainda mais e passo a noite sem dormir ...

E lá se vão anos...  eu me pergunto até quando meu Deus  ???????

 


Autor: Rafael Da Silva Tinoco


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