Procura-se



Procura-se

Você se lembra do seu primeiro dia na escola? É inesquecível, não acha? Deixe-me contar como foi o meu.

Dá pra acreditar que eu nem sabia qual era a minha escola, ninguém nem se deu ao trabalho de me mostrar onde era. Quase entrei na escola em que os meus irmãos estudavam, mas a minha era um pouco à frente.  Minha mãe conduziu-me até lá. Era um lugar simpático, calmo (inicialmente). Entrei em minha sala, já havia muitas crianças, todas elas em um silêncio absoluto. Sentei-me, minha mãe olhou-me da porta por um segundo, sorriu e foi embora, eu quase chorei, era assustador ficar em um lugar desconhecido com desconhecidos em volta.

Pois é, contando o primeiro dia de aula eu começo a minha busca; disse que contaria a minha história, esse é o grande problema; aquele menino que minha mãe levou à escola no primeiro dia de aula não era eu, não podia ser, mas digo; ele era um grande cara, tenho inveja dele.

Seu nome era Júlio César e, duas horas depois que a mãe o deixou ele começou a pensar que esse negócio de estudar era muito chato, então pediu a professora para ir ao banheiro.

-Ótima idéia!- disse ela. –Vamos todos conhecer a escola.

E todos foram. Daí a quinze minutos já era a hora do recreio. Júlio se reuniu com alguns garotos no pátio, decidiu escolher um menino que seria o seu grande amigo. Olhou para aquele que parecia mais simpático.

-Qual é o seu nome?

-Rafael! E o seu?

-Júlio!

Mas a amizade com Rafael não deu certo, Júlio acabou tornando-se um grande amigo de Aline. Eles ficavam sempre juntos, mas um dia tudo acabou. Ninguém sabe direito por que.

E Júlio foi crescendo, revelando-se a cada dia um garoto muito inteligente, alegre e amigo de todos. Na escola tornou-se um líder, adorava assumir a responsabilidade nos trabalhos em grupo.

Ele virou amigo de Keity, os dois estavam sempre juntos, mas aí essa amizade também acabou. Não porque eles quisessem, o que aconteceu foi o seguinte; o pai de Keity decidiu mudar-se da cidade e a menina nunca mais viu o amigo.

Júlio não ficou triste por muito tempo, para espantar a saudade ele dançou quadrilha e interpretou o personagem principal em uma peça teatral. Logo arrumou uma nova amiga, era Mariane, e os dois ficaram juntos por muito tempo.

E nas férias? Júlio tinha a amizade das primas Alessandra e Elenís. Ele nunca estava só, ele jamais ficava triste.

Era um grande cara esse Júlio. Mas então veio o momento fatal; Júlio desapareceu em uma sexta-feira dia vinte e sete de julho de 2007. Mas há quem afirme tê-lo visto depois dessa data, dizem que ele continuou tendo a mesma rotina, mas parecia doente. Infelizmente em uma noite sombria de novembro de 2009, Júlio realmente desapareceu, sem deixar rastro, sem deixar nenhum bilhete.

Há quem diga que eu sou o Júlio, mas isso não é possível, eu não tenho a mesma alegria e a mesma coragem, não tenho amigos e tenho medo das pessoas.

Eu quero encontrar esse grande cara. Às vezes penso que ele morreu, outrora imagino que poderei achá-lo escondido atrás de um sofá ou dentro de uma casa abandonada.

Júlio tem que aparecer por que eu assumi o lugar dele sem querer e estou destruindo tudo o que ele construiu, manchando o seu nome. Por favor, se você tiver alguma informação me avise, ajude-me a encontrar esse garoto que eu fui um dia.

J.C. Gonsalves da Rocha

 

 

 

 


Autor: Júlio César Gonsalves


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