Queimem os carros!



QUEIMEM OS CARROS!

Faço de mim para mim uma pergunta que talvez o meu bondoso leitor jamais terá feito a si mesmo: se todos os canos dos escapamentos de todos os veículos do mundo fossem juntados num só, qual seria o diâmetro do escapamento assim formado? De quantos quilômetros seria essa boca de tão mau hálito que envenena o mundo? Todos os vulcões reunidos da Terra ficariam pequenos a par do superescapamento por onde escapa a morte na forma de gases tóxicos. No entanto, não faltaria quem fosse ficar entusiasmado com a roncada de um escape como esse. Decerto algum garotão apaixonado por motocicletas, o jovem que sonha em ter o próprio carro... Vê-se já daí a verdade assustadora: a indústria automotiva não é movida a dísel ou gasolina; na verdade, o que move os carros é a idiotice de seus compradores.

Essa indústria infernal, entretanto, coloca em sua dependência toda a indústria nacional. Na natureza, a vida depende da morte, mas por que deveria ser assim também na sociedade? A morte roda nas estradas e ruas, desgraçando milhares de famílias a cada ano. Milhões de toneladas de grãos saem de Mato Grosso sobre rodas, muitas rodas, encarecendo a distribuição da produção, poluindo os ares, deixando no caminho sangue, destroços e lágrimas. No entanto, o nosso PIB depende das montadoras, milhões de empregos dependem delas. Quando vieram ao Brasil, pareciam trazer o futuro, um futuro que já passou, um futuro que ficou no século XX. Em nosso século XXI ficaram as sequelas da indústria automotiva, indústria louca, assassina, parasitária, assim como são os seus detentores gringos.

Faltam ferrovias, faltam hidrovias, mas não faltam rios, nem faltariam trilhos, se a bandidos não fosse entregue a “administração” da infraestrutura ferroviária, a exemplo do que aconteceu com a Ferrovia Norte --- Sul. Esta obra, que seria motivo de orgulho para o Brasil, perdeu-se na ampla, bem pavimentada e segura rodovia da corrupção, que alcança todo o território nacional, não, talvez, as reservas indígenas. Sua “execução” foi dada à responsabilidade (?) de um grande bandido que dela defraudou dezenas de milhões de reais. O larápio esteve à frente da gestão do empreendimento por vários anos. Não lhe faltou tempo para adquirir mansões e carros de luxo com  o quantioso numerário desviado da grande obra viária. A enormidade do crime teve por agente figura de nome no diminutivo e bem simpático: Dr. Juquinha. Cidadão honorário (!) de Barreiras (BA), Dr. Juquinha representou a contribuição dada à República pelo Partido da República (PR). 

Quantos Juquinhas haverá na Ford, na Volkswagen, na General Motors e em todas as outras montadoras? É verdade que esses não roubam, no sentido estrito desse verbo. Eles apenas exportam capitais. Ganham numerário por meio de isenção fiscal e financiamento, além de mil e um artifícios de desoneração tributária para... quê? Para enviar toda a pila ao país de George Bush e da alemoa Merkel. Coitadinhos... Será que a Otan precisa mais dos dólares do que o povo do Brasil? Esse é um aspecto pertinente: ferrovias a menos, carros a mais, mais ferro-velho aqui, mais blindados e outras armas lá. O Brasil e outros países do Sul financiam seus inimigos do Norte. As armas que lhes pagamos voltar-se-ão contra nós. Uma questão de tempo. A dominação do negócio aqui, representa lá o negócio da dominação.

E a produção de automóveis não pára. Cada idiota quer o seu. O carro é o brinquedo do adulto. A clientela das concessionárias não terá brincado o suficiente em sua infância? Será que a massa consumidora de automóveis nunca teve um autorama, um carrinho de rolemã? Ou, ao contrário, influenciada por esses brinquedos, deixou-se idiotizar pela propaganda das montadoras e acabou estendendo a infância no que deveria ser a fase adulta da vida? 

Carro é mesmo coisa de bandido ou idiota. Todo traficante adora automóveis. Também os grandes jogadores de bola têm o carro como o mais desejado objeto de seus sonhos de consumo, depois da loira é claro, e nisto podem ter razão. E as motocicletas? Matam quantos pilotos por dia? Quanto custam à Previdência Social?  Os motomoços dizem que só querem trabalhar. Morto trabalha? Esses não pensam mais como homens livres. São peças da engrenagem capitalista e giram fazendo funcionar a indústria da morte sobre rodas. 

Os consumidores de automóveis rodam, poluem, matam e morrem por uma necessidade artificialmente criada. A aberração representada pelo automóvel só se tornou possível porque o Brasil não se organizou como sociedade, mas como simples mercado. O mercado satisfazia a necessidade individual de transporte de forma irracional, embora lucrativa.  A tal ponto chegou a escala de produção que agora já não há mais espaço nas cidades para tantos veículos. Mas as montadoras continuam a receber subsídios para aumentar a produção, e mais futuros ferros-velhos seguem atravancando as ruas, atropelando pedestres e ciclistas, sufocando a todos, empestando os ares...

A imbecilidade de cada motorista mostra-se pela simples observação de seu comportamento, na ação quase sempre estúpida de um para com outro. Não cedem a vez, mesmo diante do sinal vermelho. Isto é metáfora da indústria veicular rodoviária: o coletivo não importa. Cada motorista julga-se senhor de si, autônomo, independente, como um neoliberal ao ler a revista Veja. Ao controlar um carro, o motorista acha que controla a vida. O motorista pensa que dirige, mas na verdade é dirigido. Ele quer sempre chegar lá e chegar a tempo, é o que ele quer.  O motorista, cego de sua própria estupidez, não vê que há um carro em seu caminho.

Antes, a liberdade andava a cavalo. Agora, pedala bicicletas em São Paulo e alhures. Nos ciclistas encarna-se o espírito humano em luta contra a louca máquina industrial do transporte motorizado individual. Abram para eles o caminho! São Paulo não pode parar. Queimem os carros!      


Autor: Chauke Stephan Filho


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