Eu e Clarice Lispector



Eu e Clarice Lispector

 

Comecei a ler Clarice Lispector, lia uma linha, duas linhas, um parágrafo, de repente viajava com ela, não estava mais em mim, estava pensando nas discussões que havia tido com os colegas Rômulo, Frank, ... Voltei a ler Clarice Lispector. Lia alguma coisa em que ela dizia que seus personagens estão sempre as voltas com o cotidiano, aliás, não era ela que dizia isso, me enganei, era alguém que havia escrito sobre ela.

Parei um pouco e viajei, sai de mim novamente, e voltei a lembrar de Clarice Lispector. Lembrei que ela tinha participado de um Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá Colômbia, isto em 1975. De repente a minha mente fez algumas ligações e entendera o porquê que o câncer tinha lhe corroído as entranhas, coloco entranhas, pois não lembro na realidade em que lugar de seu corpo ou órgão que aquela doença maldita lhe corroia o corpo, como se fosse um ácido ascórbico.

Me levantei da cadeira e andava pensativo na prova que iria fazer daqui há 1 hora, prova esta de Literatura Brasileira III, peguei uma xícara de café, coloquei aquele líquido preto em uma xícara, e estava tão concentrado em buscar as palavras ideais, de repente, passa um maldito poluidor sonoro, fazendo divulgações políticas de um demagogo, volto a me estressar, tomo outra xícara de café, enquanto ando a passos lentos e pensativos, vejo que a minha escriba escreve tão velozmente, não quero lhe tirar a concentração, quero lhe deixar bem concentrada, esta por sua vez é tão meticulosa no tocante a ortografia da Língua Portuguesa.

O café acabou, vejo o horário são uma e dezesseis, deixo a xícara de lado e volto a pensar em Clarice Lispector. A prova é sobre ela, fico tentando ler alguma coisa. Não consigo me concentrar. Ah! Algo me chamou a atenção: “as criaturas de Lispector vivem em estado crítico de sensibilidade”.

Voltei a sair de mim, não consigo me concentrar, nem ao menos sei se é lícito ou não externar o que minha mente profana e insana pensa nesse momento... Sabe? Não! Não vou falar, é melhor pra você leitor nem ao menos ler, não, não vou falar não.

“Ah! O narrador de primeira pessoa desnuda-se; o de terceira desnuda a personagem e o fazem com a compaixão de quem domina a ciência da dor, de quem já desceu ou estar descendo aos próprios infernos”. Voltei a sair de mim, oh! Que miserável condição! Que distanciamento entre a riqueza e a pobreza! Que falta! Que isolamento! Não é sentimento de culpa, pois se fosse estaria na igreja ouvindo discursos melosos e alienadores, é a falta do ter, não quero me enquadrar neste momento na melancolia em que os autores boêmios se encontravam, esses se juntavam, acendiam seus charutos, falavam sobre política, sobre prostitutas, trocavam de poemas, se submetiam um ao outro, não, não é isso que vem no momento, é a falta de ter “Possession” “até quando? Agora lembrei de Carlos Drummond de Andrade, e agora José? E agora você? Não estou sem discurso, ainda tenho doce palavras, não quero morrer, não sou de Minas, não estou nem ai para falsa Vienense. Graças a Deus, não estou com câncer e nem tuberculoso, só tenho falta do ter.

Não é falta de mulher, é a falta do ter. Lembrei! Preciso de Clarice Lispector, “ a compreensão de sua obra, é um esforço continuo e cada vez mais instigante para estudiosos do mundo inteiro, que se debruçam sobre o seu mistério. Hoje ainda vou me debruçar sobre a Ucraniana, sim, preciso estudar sobre a “Hora da Estrela” amanhã haverá um seminário. Ela escreveu assim “ não aguento ser mim mesma, preciso dos outros pra me manter em pé” e eu não aguento ser eu mesmo tento me refugiar no eu lírico dos outros escritores, mas fazer o que? Eu não sou outrem eu sou eu mesmo, preciso sim do outro para me manter em pé, porem eu mesmo falando, escrevendo, sorrindo, andando, pulando, encenando, cantando, mas preciso da plateia. Minha escriba está a minha direita agora, e fica com seu olhar analítico pensando sabe lá Deus o que? E em que? Observando os devaneios deste insano que dá surtos gritantes para chamar a atenção de uma plateia.


Autor: Ednilson Dos Anjos Antunes


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