Resumo da obra: "Sustentabilidade e Educação - Um olhar da ecologia política", de Carlos F. B. Loureiro



No livro “Sustentabilidade e Educação- um olhar da ecologia política”, Loureiro discute alguns termos que vêm sendo “ecoados” por todos os espaços, posicionando-se quanto aos mesmos e alertando sobre a necessidade de estes não serem tomados isoladamente, mas em seus contextos, a partir de determinados grupos e seus atores/disseminadores.

Defende a Ecologia Política, conceito relativamente novo, que tem na sua definição o entendimento de que há no ambiente, disputas desiguais de poder por diferentes agentes. Estes assim construiriam as suas práticas de acordo com interesses dos grupos dos quais fazem parte. Loureiro entende assim, que os conflitos se apresentariam como parte inerente nesse processo.

É trazido no livro um breve contexto da EA ao longo dos tempos e enfatizado que o “novo”, em se tratando de ambientalismo e Ecologia política, a partir dos anos 1960 foi a:

...incorporação do ambiente enquanto categoria estratégica e central para se discutir os estilos de vida e a estrutura social em um planeta pela primeira vez visto como limitado. Ou seja, o sentido inovador estava ma associação entre o ambiental e a política, em colocar a natureza como categoria fundamental da sociedade. (Dupuy,1980). (LOUREIRO, 2012, p.17).

O autor trás dados das disparidades mundiais sobre acumulação de riquezas, condições precárias de vida e exploração desenfreada da natureza, assuntos que começaram a ser discutidos e debatidos através da ecologia política e também por alguns ambientalistas. Assim, o autor critica a defesa por parte de outros de que a “solução” para o problema ambiental seria o fim da humanidade, argumentando que é preciso não tomar este “homem/mulher” como um ser genérico, sem historicidade. Entendendo que a exploração do ambiente e de tudo que nele está (inclusive outros seres), servem a algum tipo de interesse, o qual se faz necessário indagar. (p.25)

Loureiro trata também sobre a discussão de “ambiente uno” e “bem comum”, fazendo a defesa de que numa sociedade de classes, portanto desigual, os lugares no meio ambiente também são desiguais, identificando conflitos, disputas de poder e discursos falaciosos sobre “espaços para todos”, “natureza como bem de todos indistintamente”. Vê como necessária a participação popular e o acesso às riquezas naturais de forma justa em sua distribuição.

Posiciona-se quanto aos Novos Movimentos Sociais (NMS), além de contextualizar a “tardia” incorporação de temas ambientais pelos Movimentos Sociais (MS), compreendendo que este último no período dos anos 1970 (momento também em que o tema ambiental começou a ser discutido no Brasil), estava envolvido majoritariamente com a luta contra a ditadura militar e só a partir dos anos 1980, início da redemocratização, iniciou a incorporação do mesmo ao seu movimento.

Assim, quanto aos NMS, ele compreende e valida a sua importância, sobretudo na aquisição de novos temas para o debate sobre injustiças e etc., mas enfatiza que estes não devem excluir as questões de classe, ou seja, questões aliadas às lutas mais amplas na sociedade, como a justiça social e o direito à vida digna para todos e todas.

Em se tratando de “Sustentabilidade”, Loureiro afirma posição contrária ao modelo proposto pela ONU e seguida por governos membros das Nações Unidas, identificando nestes “o ideário das classes dominantes”. (p.56). Assim, ele explica a origem do termo (vindo das ciências biológicas, p.56) e defende que nos atentemos às intencionalidades do seu uso por diferentes grupos e agentes sociais.

Para o autor, ainda, a denominação “Sociedades Sustentáveis” pode aludir à diversidade de culturas, organizações sociais, a começar pela escrita no plural, porém tanto o primeiro termo, quanto este, são ainda para ele muito vagos em suas intencionalidades:

Assim, apostaria em uma terceira opção conceitual na construção do discurso crítico a qualquer proposta de sustentabilidade que naturalize as relações sociais sob a égide do capital, do eurocentrismo e do individualismo. Retomar o que parece de mais “surrado”, mas que continua sendo o que há de mais concreto em termos de construção histórica e conceitual: socialismo. Repensá-lo à luz do que há de novo trazido no debate sobre sustentabilidade me parece mais oportuno do que descartá-lo para ficar com termos que poucos sinalizam para movimentos de superação das relações do capital (fonte primária da degradação). (p.68)

Faz críticas ao que tem sido entendido enquanto “participação da sociedade civil”, denominando o aparente consenso de “confluência perversa” (p.68).

O que está posto objetivamente na sociedade em posição desigual vira parceiro em igualdade formal. Todos se abraçam, mas a dominação permanece, ou pior, sequer é explicitada. (idem).

Defende, assim, um projeto emancipatório em detrimento do liberal, argumentando que a “crença no indivíduo” como solução para os problemas ambientais despolitiza o tema e ignora classes, grupos sociais (p.71), e mais, pode contribuir para “criminalização dos movimentos sociais e a discriminação dos que pensam e formulam em uma perspectiva de superação societária” (p.72).

Sobre a EA brasileira é colocado um resumo da mesma e o autor indica algumas leituras para um possível aprofundamento: “Oliveira, 2003; Carvalho, 2004; Lima, 2005; Loureiro, 2009” (p.81).

Fala do caráter técnico-científico fortemente presente no entendimento das questões ambientais nos anos 1970 (porém não totalmente superado e ainda utilizado nos dias atuais). Compreende o uso do termo “socioambiental” como “errado” (p.83), mas legitima o seu uso como necessário para “demarcação de campo político” (idem). Cita os anos 1990 como período de redemocratização do Estado e as grandes influências no campo ambiental do autor Paulo Freire com a Educação Popular.

Loureiro enfatiza a diferença entre atitude e comportamento, argumentando que transmissão de informações, apenas, não é suficiente para criar atitudes ecológicas:

...Se desejamos uma EA que mude atitudes e comportamentos e não apenas este último, devemos compreender como são os ambientes de vida, qual a posição social ocupada pelos diferentes grupos e classes, como estes produzem, organizam-se, geram cultura, bem como as implicações ambientais disso, para que uma mudança possa ser objetivada. Sem que as condições sejam alteradas ou, pelo menos, problematizadas no processo de adoção de novos comportamentos, é difícil que novas atitudes aconteçam. (p.86).

Quanto à participação, especialmente a participação popular, Loureiro coloca:

...Não só a participação é fundamental, mas que a participação popular é determinante, posto que a construção de processos em que grupos expropriados e discriminados adquiram centralidade é a condição para que as contradições e os conflitos da sociedade sejam explicitados, enfrentados e superados pelo protagonismo daqueles que portam materialmente o que é distinto do poder hegemônico, portanto, a alternativa concretamente possível. (idem).

São colocadas algumas sugestões de atividades em EA, ressaltando que é preciso que se faça junto, uma contextualização das mesmas e uma reflexão sobre suas possibilidades, enfatizando a importância de uma leitura crítica nas ações citadas.

Por fim, Loureiro trás um glossário com quarenta e quatro conceitos que foram usados durante a leitura. Temas como Conflito e Justiça Ambiental, Ambientalização e Territorialidade fazem parte destes, e nos ajudam a entender a compreensão dos mesmos, segundo o referido autor.

 Referência:

LOUREIRO, C.F.B.Sustentabilidade e Educação- um olhar da ecologia política. São Paulo: Cortez,2012- (Coleções da nossa época; v.39).

 

 


Autor: Vânia Roseane Pascoal Maia


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