Educação no campo: análises dos dados coletados em martinópole/ce



  1. 1.      INTRODUÇÃO

O presente trabalho refere-se a uma pesquisa que teve como objeto de estudo a Educação no Campo, cujas informações colhidas e expostas acabam tornando-se úteis para um exercício de reflexão. O seu conteúdo estabelece um diálogo entre questões ligadas à Educação no Campo e os dados colhidos na Secretaria de Educação do município de Martinópole.

O referido município está localizado na região norte do Estado do Ceará, a cerca de 350 Km de Fortaleza. Em seus primórdios, chamava-se Angica e pertencia ao município de Granja. Sua formação tem raízes na construção da Ferrovia Sobral-Camocim e consta como seu fundador o Pe. Vicente Martins, vigário paroquial da jurisdição. Sua elevação à categoria de Vila, provém do decreto nº 56, de 4 de dezembro de 1933 e a Município, segundo Lei nº 3.560, de 26 de março de 1957.

O texto se destina aos profissionais da área da educação que buscam novas experiências, estudantes e demais interessados. O primeiro, pelo reconhecimento do papel central que desempenham na educação e no desenvolvimento humano. E, o segundo, com o objetivo de dar apoio e fortalecer as ações que pretendem desempenhar.

 

  1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL

No histórico da legalidade educacional, um dos primeiros tratamentos de maior abrangência ocorreu na Constituição de 1934.

A partir de 1940, a educação brasileira incorporou a matriz curricular urbanizada e industrializada. Caracterizou interesses sociais, culturais e educacionais das elites brasileiras como fundamentalmente a mais relevante para todo povo do Brasil.

Em seguida, com a nova Constituição Brasileira de 1947, propõe-se que a obrigatoriedade pelo financiamento da educação rural seja transferida para responsabilidade de empresas privadas (industriais comerciais e agrícolas).

Com a Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional de 1969, permanece a obrigatoriedade das empresas agrícolas e industriais com o ensino primário gratuito para empregados e os filhos menores de 14 anos. Assim sendo, a educação do campo foi gerenciada até 1970 pelas iniciativas privadas.

Com a Constituição de 1988, o Brasil consegue aprovar políticas de direitos educacionais bastante expressivas. Segundo as pesquisas feitas, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, foram elaboradas e implementadas “Reformas Educacionais” que emergiram em alguns documentos fundamentais, por exemplo, a Nova Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – 93/96, o Plano Nacional da Educação de 2001, e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Estes documentos pontuam, em parte, anseios da população e contemplam, sobretudo, a formação de indivíduos pautados nos interesses econômicos e políticos da classe dominante brasileira.

Em 1998, aconteceu a I Conferência Nacional de Educação do Campo e, em decorrência deste evento, criou-se então o “Movimento por uma Educação Básica do Campo”, envolvendo grupos organizados, pesquisadores e alguns governos do país, numa articulação que contribuísse para o melhoramento do ensino das séries iniciais do ensino fundamental. Nasce daí um novo olhar, uma nova maneira de pensar e lutar pela educação para o povo brasileiro que vive e trabalha no meio rural.

Por fim, é visível que a educação tem se constituído como uma ferramenta relevante na sociedade brasileira, porém, ao falarmos de “educação no campo”, às vezes é definida por concepções de pessoas leigas sem grande relevância e acabam inclinando-se para caminhos de natureza cartesiana.

Na análise dos dados repassados por nossos companheiros de sala de aula, compreendo o descaso que muitos municípios têm perante a qualidade da educação das pessoas do campo. No entanto, o município de Martinópole vem fazendo todos os esforços para manter as escolas das localidades do município em pleno funcionamento.

A educação do município de Martinópole é ofertada com qualidade para toda a população, acessível tanto na sede (zona urbana) como na zona rural. Manter os alunos em sala de aula é uma grande preocupação do município.

 

  1. 3.      TABELA DAS ESCOLAS NAS LOCALIDADES DO MUNICÍPIO DE MARTINÓPOLE/CE

Localidade:

Escola:

Boa Vista

 

Dr. Vicente Arruda

Lagoa do Curral

 

José Telesforo

Ilhas

Antonio Xavier de Matos

Cajueiro Lachado

 

Esmerino A. Filho

Jaguarapí

 

Cel. Chico Cruz

Alto Alegre

 

João Fernandes Dias

Carnaubal Preto

 

Prof. Rosa Brito

Jardim

 

Chico da Hora

Barrocão

 

Francisco Salvino de Lima

Lagoa Cercada

 

 

Dr. Oliveira

Pitombeira

 

Dona Iná Arruda

Jaburu

 

Eliezer Arruda

Caatinga

 

Chico Camilo

Curralinho

 

Neco Miranda

Várzea da Jurema

 

Artur Custodio

Paudolhio

 

Cel. José Antonio Oliveira

 

 

  1. 4.      ANÁLISES DOS DADOS COLETADOS

Com base nas informações coletadas, o município de Martinópole é composto por 57 (cinquenta e sete) localidades na zona rural, 16 (dezesseis) delas possuem escolas. Ou seja, pouco mais de 28% das comunidades da zona rural do município de Martinópole possuem escolas. Parece pouco, mas as escolas são situadas em pontos estratégicos para atenderem alunos da localidade onde a escola se situa, bem como aos alunos de localidade vizinhas. Assim sendo, os alunos das demais localidades são deslocados para a escola mais próxima de suas residências. Para esta situação, os responsáveis dizem que “tudo depende da quantidade de alunos naquela localidade. Se não há alunos suficiente, os mesmos deverão seguir até a localidade mais próxima para a obtenção do ensino”. É válido salientar que estas escolas oferecem o ensino do Maternal ao 9º Ano do Ensino Fundamental.

Um ponto a ser questionado em relação de como a educação está sendo repassada para os Martinopolenses, é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), cuja mesma só mantém uma 01 turma de 74 alunos localizada na zona urbana da cidade. Ou seja, aqueles que não moram no perímetro urbano não são assistidos pela EJA. O resultado disso tudo é a existência de uma grande massa de analfabetos, onde alguns têm apenas o prazer de assinar o nome e outros nem isso fazem.

Diante do fato, acredito que a Secretaria Municipal de Educação de Martinópole deveria avaliar melhor as circunstâncias, pois a educação de jovens e adultos é de grande relevância. Porém, só será realmente de grande contribuição para nossa sociedade se os responsáveis pela educação ampliarem as suas concepções, e o número de profissionais qualificados para essa modalidade de ensino seja sufiente para atender toda a demanda. Deste modo, poderemos ter a oferta de uma educação de qualidade e satisfatória, com ideais reflexivos e transformadores.

O que nos chama bastante atenção na atualidade é que as políticas públicas de educação implementada nas áreas rurais dos municípios do interior do Ceará não tem dado conta de acompanhar o trabalho de produção do campo, com recursos, formação profissional adequada para esta realidade e devidamente qualificada. Ocorre que, sucessivamente, os governos brasileiros têm implantado uma educação que não atende e não respeita as especificidades de cada realidade regional e muito menos a diferenciação (geográfica, cultural, histórica, social, etc.) do campo.

Diante da situação, é interessante destacar que Educação do Campo é muito mais que um ensino, ou seja, os protagonistas envolvidos podem ser educados e tornar-se cidadãos tanto na escola como no convívio familiar, no ambiente extraescolar por meio de sua cultura, saberes dos avós, etc. Assim sendo, na LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação, nº 93/96, determina em seu art. 1º que:

“A educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como nos lembra Paulo Freire, não se transforma o mundo somente com educação, mas também não se faz sem ela. Almejamos uma escola, não só para ler, escrever e contar, mas para se profissionalizar a partir de uma formação que não renegue uma cultura para sobrepor outra, e que possam seguir uma carreira tendo o direito de escolher onde será seu espaço de trabalho, se o campo ou cidade. Antes, porém, precisam de oportunidades de educação com qualidade, com currículo que problematize e não negligencie a realidade e o trabalho.

É preciso olhar a escola de um outro ângulo, como um ambiente de formação humana. E, acima de tudo, quando nós educadores admitimos que somos muito mais que simples repassadores de conteúdos, somos formadores de sujeitos, ou seja, professores e alunos são os principais atores responsáveis pela construção do ambiente educativo, a coletividade.

 

  1. REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel: FERNANDES, Bernardo M. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo. Vol. 2. Brasília. BF: articulação nacional por uma educação básica do campo, 1999.

 

BENJAMIN César,  CALDART Roseli Salete. Projeto Popular e Escolas do Campo: Por uma educação básica do campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por uma Educação Básica do Campo, 2000. Coleção Por uma Educação Básica do campo, n° 3.

 

CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítica compreensiva artigo a artigo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

 

FREIRE, P. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 30ª ed. 2007.

 

Secretaria Municipal de Martinópole/CE.

 

SILVA, Maria do Socorro. Educação do Campo e Desenvolvimento: uma relação construída ao longo da história. Os saberes do professorado rural: construídos na vida, na lida e na formação. Dissertação de Mestrado - UFPE, Recife, 2000.


Autor: Rayanna Matos De Sousa


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