O derrotado
O Derrotado.
Autor: Glauber Marques.
Conto:
Antônio é um homem comum (como muitos outros desta nação) não teve oportunidade de estudar e trabalha arduamente em uma empresa realizando um trabalho perigoso e braçal, não ganha mais que o mínimo, mas sua sorte está para mudar, já que conseguiu uma oportunidade de trabalho em uma cidade próxima à sua e o salário é razoavelmente melhor, além de outros benefícios. Antônio não tem esposa ou namorada, suas experiências com mulheres não foram muito frutíferas, portanto, não se casou e não teve filhos, mora somente com a mãe que é portadora de transtorno mental e requer muitos cuidados.
___ Antônio! Da cozinha, chamou-lhe a mãe, esses homens comentam que meu cabelo está sujo e com caspa...
___ Impressão sua mamãe... Respondeu Antônio, a senhora está tomando os remédios? Não há homem algum aqui além de mim.
___ Como tomar os remédios, Antônio ? O posto há muito tempo não tem a p... dos remédios! Gritou a mãe andando de um lado para outro e procurando o fumo de rolo afim de enrolar mais um cigarro artesanal.
Antônio sabia que a mãe não poderia ficar sem os remédios, isso trazia sérios danos à sua saúde frágil, mas além de pagar o aluguel e investir o dinheiro todo em despesas domésticas se esforçava ao máximo para que não faltasse à mãe os remédios, mas talvez isso venha a mudar, um vizinho de Antônio lhe oferecera uma oportunidade de trabalho que não era perigosa e não exigia tanto esforço físico.
Tal oportunidade era a de ser porteiro de um prédio de luxo, um serviço que exigia boa fluência verbal e uma assiduidade exemplar, como cabelos e barbas sempre aparados e sapatos sempre engraxados. O único empecilho seria se descolar de uma cidade para outra, mas isso não era estorvo para ele que estava muito animado em aprender outra profissão, ganhar mais e cuidar da mãe de uma maneira mais próxima.
Os dias passam e Antônio pede licença no trabalho a fim de resolver uns problemas pessoais numa cidade próxima (a entrevista para o trabalho de porteiro). Ele se vestiu com a roupa que costumava ir à igreja, uma roupa social bem batida, mas muito bem limpa e passada.
___Senhor Antônio, gostamos do seu perfil e temos certeza que o senhor desenvolverá em nosso prédio um excelente trabalho e não se importe com a passagem nos a pagaremos porque para você lhe é muito cara. Disse senhor Leandro síndico do condomínio.
Antônio conseguiu o emprego e o que era mais importante, não teria que se mudar e consequentemente se instalar em outra cidade, embora fosse também custoso e cansativo o deslocamento de uma hora e meia para outra cidade o que significava também duas conduções, uma da sua casa à rodoviária e outra da rodoviária para o trabalho.
No primeiro dia de trabalho, o novo porteiro do edifício Social chegou bem antes do esperado, foi apresentado aos demais condôminos, recebeu o uniforme que eram três calças, três camisas e um par de sapatos. O primeiro dia de trabalho foi tranquilo e sem maiores contratempos. No final do dia vai para casa como de costume, mas em casa as coisas nem sempre são como Antônio espera.
___Desgraçado, porcos, imundos, vocês pegaram o meu cigarro! Grita a mãe de Antônio
___Calma mamãe, calma... O filho tenta acalmá-la em vão, não há ninguém aqui, o seus cigarros acabaram.
___Não posso ficar sem os meus cigarros, não posso, quero os meus cigarros. Advertiu a mãe louca num acesso de fúria jogando contra o filho porteiro um molho de chaves.
Em seguida sai o novo porteiro para comprar cigarros para a mãe.