A filosofia no Ensino Médio



Jonas Barbosa dos Santos*

A presença da disciplina de Filosofia no currículo escolar do ensino médio é algo que no Brasil sempre sofreu oscilações, devido a posições políticas diversas.
Inicialmente como forma de formação religiosa e colonial, onde futuros padres, políticos, doutores e advogados, em geral filhos dos colonos, estudavam-na nos poucos colégios que haviam.
Depois a filosofia torna-se como um meio para preparar oradores que ocupassem cargos públicos, onde pudesse de algum modo ajudar o país, com forte tendência a uma filosofia positivista.
Num outro momento acontece o alijamento da filosofia, no período do regime militar (1971), onde tal disciplina era tida como desnecessária, voltando apenas ao cenário nacional em 2006, como disciplina obrigatória no currículo do ensino médio, no entanto, não se estabelecendo como obrigatória aos três anos.
A partir da lei n.º 11.684 que altera o art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio, a filosofia ganha novamente seu espaço nos currículos de todas as escolas públicas e particulares que oferecem o Ensino Médio, tornando-se obrigatória nos três anos do Ensino Médio. Tal passo representa uma grande vitória para todos os amantes desta área de conhecimento e para os que percebem a importância desta disciplina na educação.
A filosofia pode contribuir de forma significativa no processo do ensino e da aprendizagem no nível básico, possibilitando uma conscientização na vida cotidiana e futura dos sujeitos protagonistas do processo educacional para que o aprendizado, por eles construído, não seja de forma servil, passiva e alienante, mas crítica e coerente, isto é, de forma ativa. Assim, a filosofia se coloca como necessária na medida em que possibilita a conscientização de si e de seu mundo e a produção de um pensamento criativo, reflexivo e intencional.
O contato dos educandos com a filosofia permite ainda o acesso a produções teóricas e construções evolutivas do pensamento, elaboradas pela humanidade, permitindo aos educandos dar um novo significado a tais construções e fundamentos, para assim (re) significar a própria vida de acordo com o momento atual em que interage enquanto ser-aí-com-os-outros num mundo social, econômico, político, cultural, religioso, etc.
No entanto, cabe-nos pensar aqui em um questionamento peculiar entre os professores de filosofia acerca de quais conhecimentos vivenciar em sala de aula e o como trabalhá-los na construção do conhecimento.
Sabemos que toda a construção do pensamento filosófico é uma construção milenar e tratar de tudo isso seria impossível até mesmo num curso de graduação em Filosofia, quanto mais numa sala de aula do Ensino Médio. Para atender a esta indagação é preciso fazer um recorte destacando alguns temas e perspectivas possíveis de serem trabalhados com os alunos do ensino médio, enfocando o momento atual em que vivemos no Brasil e no mundo, isto é, possibilitando temas ou conteúdos que permitam aos educandos (re) construir a sua maneira de pensar a vida e o mundo, de forma que conheçam de início o modo de filosofar e depois possam ir, gradativamente, conhecendo a história do pensamento universal em seus principais expoentes.
A inclusão da filosofia no currículo do Ensino Médio torna-se pertinente, pois com ela, os educandos podem ter acesso a uma capacitação teórico e metodológica que os possibilitem intervirem de forma efetiva, ativa e comprometida em seu meio social, transformando-o e dando-lhe um novo rosto, respeitando a alteridade do outro numa relação recíproca, discursiva e questionadora.
A filosofia no Ensino Médio torna-se hoje, uma certeza cheia de incertezas, visto que esperamos uma resposta da secretaria estadual de ensino de como ficará a distribuição da carga horária nas escolas estaduais, de como nas escolas particulares será organizado o novo currículo e, sobretudo quanto aos concursos e contratações de professores para lecionarem neste campo de saberes. Tudo isso ainda permanece numa obscuridade, carecendo de ser revelada.

* Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru - FAFICA e Pósgraduado em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC Salvador E-mail: [email protected]

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Autor: Jonas Barbosa Dos Santos


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