Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos



O documentário "Nós que aqui estamos por vós esperamos", do diretor Marcelo Masagão, apresenta uma justaposição de imagens que nos ajudam a formar a história do século XX. Reunindo imagens de arquivos, extratos de documentários e de obras clássicas do cinema, permeadas com uma música fascinante de Win Mertens, Masagão retrata sobretudo o cotidiano de pessoas anônimas.

O século XX foi um período turbulento da história marcado por guerras e inovações tecnológicas, já colhendo os frutos de uma sociedade moldada pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa, na qual a vida e a morte encontram-se banalizadas.

A valorização da micro-história, corrente historiográfica preocupada com os hábitos dos "desconhecidos", ao mesmo tempo confronta e concorda com a fraqueza do indivíduo perante a sociedade, idéia defendida por Durkheim e por Marx nas metáforas do organismo e do edifício, respectivamente.

Se, por um lado, o filme demonstra como a vida das pessoas simples é influenciada pelos grandes eventos da sociedade, tornando-as meras partes da engrenagem social, Masagão também deixa claro que essas pessoas são construtoras da história. Tal visão do diretor aproxima-se, sobretudo, de uma posição de valorização da vida, contrapondo-se à banalização da morte que marcou o século XX.

O principal exemplo presente no filme que evidencia tal pensamento é uma citação de Cristian Boltaski: "Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias...".

Ao tratar das indústrias e grandes linhas de montagem, a película aproxima-se da visão de Marx. Através do exemplo de um operário da Ford que jamais possuiu um Ford-T, vemos o distanciamento do trabalhador dos meios de produção, deixando claro que o que resulta do trabalho do operário não é a ele destinado.

Um outro ponto que se aproxima da perspectiva marxista é apresentado logo no início do documentário. Negando situações do século XIX, como as ruas cheirando a cavalo e o balé sendo clássico, e ligando isso ao acontecimento da Revolução Industrial, temos que os hábitos e a cultura da sociedade são resultantes das mudanças econômicas.

Em "Nós que aqui estamos por vós esperamos", também é possível estabelecer uma referência a Weber, sobretudo pela perspectiva multicausal de origem dos acontecimentos sócio-históricos. Os principais fatos do século XX são retratados como complexos e causados por uma gama de fatores sociais, políticos, econômicos e também pessoais. Segundo Nicolau Sevcenko, professor de História da Cultura da Universidade de São Paulo (USP) e consultor de história na produção do filme, "a história é tramada numa imprevisível dialética entre pressões estruturais, decisões individuais, desejos, pavores e projeções subconscientes, tensões sociais e a polifonia de vozes que dão forma e expressão às conjunturas".


Autor: Paulo Araújo


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