Misticismo cristão medieval: Uma visão comparada da vida e obra de mestre Eckhart e São João Clíímaco



MISTICISMO CRISTÃO MEDIEVAL. UMA VISÃO COMPARADA DA VIDA E OBRA DO MESTRE ECKHART E SÃO JOÃO CLÍMACO 

Anamarija Marinovi

Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa

Resumo:

Este trabalho debruça-se sobre as especificidades do fenómeno místico medieval nas duas grandes vertentes da religião cristã: a católica romana e a ortodoxa. Comparando e analisando a vida, a obra e a filosofia do Mestre Eckhart, místico ocidental e de São João Clímaco, reconhecido como santo nas duas Igrejas, embora muito mais celebrado na ortodoxa, tentaremos ver se existem duas “místicas diferentes” ou apenas se trata de duas interpretações do mesmo fenómeno espiritual e religioso.

Palavras-chave: misticismo medieval, catolicismo, ortodoxia, Mestre Eckhart, São João Clímaco

Abstract

This work concentrates on the specificities of the Medieval Mystical phenomenon within the two great branches of Christian religion: the Roman Catholic and the Orthodox. Comparing and analyzing the life, the work and the philosophy of Master Eckhart, a Western mystic and Saint John Clymacus, recognized as saint in both Churches, although much more celebrated in the Orthodox one, we will try to observe if there are two “different mystics” or it is just about two different interpretations of the same spiritual and religious phenomenon.

Keywords: Medieval mysticism, Catholicism, Orthodoxy, Master Eckhart, Saint John Clymacus 

Introdução:

         Tendo em conta que a religião cristã (tanto na sua vertente católica romana como na ortodoxa) durante a Idade Média teve um papel importante na sociedade e na vida quotidiana das pessoas, neste trabalho pretendemos focar apenas um fenómeno muito presente no cristianismo: o misticismo. Este aspecto da religião será abordado de duas perspectivas; a católica e a ortodoxa. Uma vez que a realidade ortodoxa é a que conhecemos melhor, somos familiarizados com a existência do misticismo ortodoxo ao longo da História. Por outro lado, analisando a vida e obra de um místico católico, tentaremos ver se na realidade se trata de duas místicas diferentes ou apenas existem duas interpretações distintas da mesma experiência.

            No que se refere às fontes para este trabalho, utilizaremos algumas obras e páginas da Internet nas línguas sérvia e russa, e caso decidamos citar directamente os autores, as citações serão devidamente traduzidas para português. Optámos por esta solução porque assim temos a certeza de que as interpretações e explicações do misticismo ortodoxo provirão das fontes ortodoxas. No caso do Mestre Eckhart, tivemos que utilizar as fontes traduzidas em língua inglesa, uma vez que, por falta de conhecimento do alemão, não podíamos aceder aos originais.

            Para entendermos melhor as origens da mística e da sua importância no catolicismo e na ortodoxia, daremos um enquadramento histórico das circunstâncias que conduziram à separação entre as igrejas, sem pretender em momento nenhum discutir qual delas seria mais próxima do cristianismo primitivo.

Alguns factos históricos sobre o cristianismo: o cristianismo primitivo e o cristianismo medieval

             Neste capítulo tentaremos observar o desenvolvimento do cristianismo, desde os seus inícios até à época medieval, de forma a podermos situar melhor a vida e obra dos dois místicos que iremos comparando. Será inevitável mencionar o ano de 1054, quando se deu o grande Cisma e o cristianismo ficou dividido no seu ramo ocidental, que posteriormente se chamaria catolicismo, e o oriental, que adoptaria o nome de ortodoxia.

De acordo com Giorgio Vecchio (in: 2004) o cristianismo é uma religião monoteísta que tem a sua origem na vida, palavra e ressurreição de Jesus Cristo. Todos os seus seguidores recebem o nome de cristãos. Um dos princípios básicos desta religião é a afirmação de Deus enquanto criador de todo o universo e do homem. O Deus em que os cristãos acreditam têm três pessoas iguais e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Cristianismo primitivo começou a espalhar-se rápido graças ao trabalho missionário dos doze Apóstolos, Os imperadores romanos consideravam perigosas as palavras sobre o Reino dos Céus e sobre um Rei que pudesse ser superior a eles, e vendo nos cristãos uma ameaça para o seu poder, organizavam perseguições e julgamentos contra eles. Entre os perseguidores mais conhecidos dos cristãos encontram-se os nomes de Nero e Diocleciano. Nos primeiros séculos da existência do cristianismo, devido às perseguições, os cristãos tinham de se esconder nas catacumbas, e muitos deles foram executados por não terem desejado renegar a sua fé. Por esta razão, o período do cristianismo primitivo é uma época com um grande número de mártires e santos. Precisamente para se justificarem perante os seus perseguidores, surgiu entre os cristãos a necessidade de escreverem a sua doutrina. Entre os primeiros autores cristãos distinguem-se Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes, sendo o primeiro e o último posteriormente condenados como hereges e o segundo considerado santo pela Igreja ortodoxa.

Uma referência importante para a fé cristã, sem dúvida é a personalidade do imperador romano Constantino o Grande, que no ano 318. Legalizou o cristianismo, de modo a pararem as perseguições. Em 330. Com o conhecido Édito de Milão tornou esta religião igual à romana, para ela se considerar a religião oficial do Império a partir de 380. Durante o reinado do Imperador Teodósio.

Para fixarem a forma da sua doutrina os cristãos começaram a reunir-se em Concílios, tendo o primeiro sido organizado em Niceia em 325 em que foi condenado o arianismo como heresia e foi definido o Credo (Símbolo da Fé). A Igreja Ortodoxa reconhece as decisões dos primeiros sete concílios, e a Católica respeita os vinte e um concílios, sendo o último deles realizado no Vaticano em 1961.

De forma a poder controlar-se e governar-se melhor, o grande território do Império Romano foi dividido em Ocidental e Oriental em 395. Após a morte do Imperador Teodósio. A parte ocidental do Império teve a sua capital em Roma e continuou a existir até 476. Ano que muitos dos historiadores fixaram como data do início da Idade Média. O Império Romano Oriental teve a capital em Constantinopla, posteriormente seria chamado de Império Bizantino e existiria até 1453, quando caiu sob o domínio dos turcos. As fronteiras fechadas e a dificuldade de movimentação de pessoas e de circulação de informação influenciaram a que se criassem as primeiras divergências nas interpretações da doutrina cristã. No século VIII a Igreja cristã foi seriamente abalada pela crise iconoclasta, isto é pela veneração ou não dos ícones como imagens de Cristo, Virgem Maria e dos santos.

No Sétimo concílio ecuménico, que decorreu em 787 em Niceia foi decidido que os ícones devem voltar a introduzir-se nas igrejas, uma vez que a sua veneração não diminui a adoração de Deus e nada tem a ver com a idolatria.

 Em 1054 deu-se um evento importante que marcaria definitivamente a História do cristianismo: o Grande Cisma, após o qual esta religião ficou dividida em duas grandes vertentes: a católica romana e a ortodoxa. Na palavra “católica” reside o termo grego “universal” enquanto a ortodoxia optou pelo termo grego do “saber certo”. A causa historicamente reconhecida desta separação foi a procedência do Espírito Santo do pai, como a igreja Ortodoxa continua a afirmar, ou “do Pai e do Filho” (Filioque em latim) como se acredita na Igreja Católica. Outras diferenças visíveis foram a introdução posterior do Purgatório no cristianismo ocidental, que se rejeita na ortodoxia. No cristianismo oriental ainda se utiliza pão leveado, enquanto na católica o pão da hóstia sagrada é sem levedura. Estas razões revelam uma grande crise política antes de mais, que se manifestou publicamente pela mútua excomunhão das Igrejas feita primeiro pelo papa Nicolau I e confirmada pelo patriarca de Constantinopla Fócio. Esta crise aprofundou-se e agravou-se após o Quarto concílio de Latrão, quando os cristãos ortodoxos recusaram a participação nas Cruzadas.

Mesmo antes da separação das igrejas, começaram a surgir as primeiras comunidades dos monges e os primeiros traços do misticismo, porque o homem medieval não conseguia imaginar a sua vida quotidiana sem alguma relação com Deus e com o sagrado. Entre as numerosas definições que os estudiosos de várias áreas científicas têm vindo a dar ao ser humano, consta também a do homo religiosus, o homem religioso, que procura Deus, precisa de Deus e não pode sem Ele. Por isso, todas as sociedades, desde o início da História tinham algum tipo de religião, que mais se adequava á sua forma de vida.

No imaginário medieval entrelaçavam-se e por vezes confundiam-se o maravilhoso, o mágico e o milagroso, e mediante estes três fenómenos o homem medieval tentava perceber melhor o mundo e a natureza que o rodeavam. Destas formas as pessoas da Idade Média tentavam proteger-se das forças do mal, entender que nem tudo nas suas vidas depende da sua vontade e tentavam explicar fenómenos que desconheciam e que escapavam á razão humana. Na opinião de Jacques Le Goff (1983) é importante fazer-se a distinção a nível do vocabulário entre o mágico, o maravilhoso e o milagroso. O mágico na mentalidade medieval é muitas vezes visto como algo que se relaciona estreitamente com os efeitos maléficos. O maravilhoso pertence mais aos estratos antigos das culturas pré-cristãs e não é essencial no cristianismo. Não podendo erradicar a noção do maravilhoso da mente das pessoas, o cristianismo tentou dar-lhe um novo sentido. No início da utilização deste vocábulo, por maravilhoso entendia-se qualquer fenómeno sobrenatural que escapava a uma explicação razoável. Uma irrupção forte do maravilhoso na cultura medieval acontece graças aos romances de cavalaria e a literatura popular, especialmente contos de fadas, quando se estava à procura de uma identidade colectiva e individual. Mesmo assim distinguiam-se duas categorias do maravilhoso. O maravilhoso que ajuda e protege o herói da história e o maravilhoso que era preciso combater.

A terminologia ligada aos milagres e ao milagroso começa a usar-se muito estreitamente relacionada com o cristianismo. Quem faz milagres e Deus, manifestando-os através dos santos. Uma das características mais importantes é a sua imprevisibilidade e dependência da vontade de Deus. Estas realidades (a magia, as maravilhas, os milagres e o misticismo, que será abordado no capítulo a seguir) eram formas de o ser humano medieval se opor á rotina, a dificuldade e a banalidade da vida quotidiana.

Depois da divisão das igrejas as pessoas continuaram a aplicar as suas crenças e práticas religiosas de forma a alcançar o sagrado e a comunicar com Deus á sua maneira. Referindo-se ao sagrado, Rudolf Otto (1992) afirma que o contacto com o mistério provoca em nós um sentimento particular. Esta sensação deve-se ao contacto com o que está escondido, não revelado, extraordinário e estranho ao mesmo tempo, que não se consegue conceber nem compreender. Utilizando estas qualificações para o mistério, vemos que este autor neste fenómeno encontra elementos meramente positivos. Como observaremos no próximo capítulo a palavra “mistério” deu origem á designação “misticismo”, e inicialmente tinha apenas conotações positivas.

O misticismo como fenómeno: o misticismo cristão

Tentando definir o misticismo, muitos autores concordam com que este fenómeno é inseparável do conceito do mistério. Como prova disso é frequentemente citada a raiz indo-europeia myque indica o escondido, o não revelado e incompreensível. Juan Martín Velasco (2003) refere que este termo se introduz no vocabulário cristão a partir do século III. Devemos, porém, ter em conta que noutras religiões, nomeadamente no islão e no budismo existem também fenómenos e experiências místicas, apenas se aplicam práticas um pouco diferentes das cristãs e o seu significado pode ser interpretado de diferentes formas. Este mesmo autor é de opinião que a experiência mística não é resultado de um instante, que compreende memória, apreensões e expectativas e que pode chegar-se a este tipo de experiência através de jejum prolongado e da oração. O mistério cristão é o mistério de Deus, Numa outra obra sua, (2004) este investigador cita que a experiência mística implica o desejo da união com Deus e que atingir essa união certamente conduz a mudanças na consciência do sujeito. A noção da consciência em outros textos que abordam o problema da mística é substituída pelo conceito da “alma”, “autoconsciência” e outros termos afins. O fenómeno místico pode ser acompanhado de manifestações físicas, tais como visões, estigmatização, distintos milagres (no cristianismo) e levitação nas religiões e filosofias orientais. Para Nicolau de Cusa (1998:38) o misticismo surge porque ”o homem não é a consciência pura, nem o eu infinito do Idealismo”. Daqui concluímos que a mística não é resultado absoluto de um processo consciente e voluntário, nem implica apenas a alma da pessoa. Esta experiência significa uma entrega completa da pessoa: o seu corpo, coração, alma e todas as suas forças interiores. Para Rudolf Otto (op.cit:32.) “ o misticismo (...) é sempre na sua essência a exaltação levada ao extremo dos limites não racionais da religião” e nesta linha de pensamento continua a afirmar que “o que é só grande ainda não é sublime”. Com estas palavras pretende-se dizer que não bastam apenas grandes sacrifícios do corpo (jejuns, penitências, pouco sono, esforços para estar em pé durante as celebrações) para uma pessoa se tornar mística e que deve sublimar os seus pensamentos, atingir um determinado grau de paz interior, sossego consigo próprio, com os outros e com Deus para poder ser digno de viver uma união com o absoluto. Para Miguel García-Baró (in: Velasco, 2004:285) a mística representa ”realmente la culminación de laexperiencia religiosa, o sea la experiencia religiosa en su originalidad plena”, Outros autores referirão que este fenómeno é a união com o Absoluto, com o Amor mesmo, que faz com que as pessoas sejam mais do que elas próprias, e se temos em conta que a plenitude, o amor, o absoluto e a perfeição podem ser atributos de Deus, o místico é a pessoa que encontrou o caminho para se unir com Deus. Este caminho não é fácil, nem todas as pessoas podem segui-lo. Sem uma preparação espiritual especial, as tentativas de se tornarem místicos podem induzir as pessoas no pecado da vaidade e levá-las às diversas heresias.

André Vauches (1994) salienta que sobretudo na Idade Média o homem precisava de entrar em contacto com o sobrenatural por meio de fórmulas e gestos através dos quais é capaz de exprimir os seus estados de alma. Estas práticas religiosas podem ser a oração, o jejum, a esmola dada aos pobres etc., e podem também implicar algum esforço físico. Trata-se de um estado de sofrimento voluntário através do qual o homem pecador tenta recuperar o seu estado primitivo da pureza. Para os cristãos a vida e sobretudo o misticismo representam a imitação de Cristo em maior ou menor medida. Por este motivo são frequentes os casos em que o misticismo é inseparável da prática ascética.

Bernard Mc Ginn (1991) refere que o misticismo é tradicionalmente entendido como auge do caminho espiritual. Não é de estranhar que precisamente por isso a obra de São João Clímaco se chame a “Escada Espiritual”, que está traduzida para sérvio como “Escada da Elevação Divina”. O nome deste santo é Clímaco, que em si esconde a palavra grega klymax, que significa justamente apogeu ou culminação.

No que diz respeito ao surgimento do misticismo cristão, podemos dizer que esta palavra não se usa nem no Antigo, nem no Novo Testamento, mas que os especialistas no estudo bíblico na interpretação do comportamento de várias personagens bíblicas encontram traços do misticismo. Muitos investigadores salientam a importância da influência das ideias platónicas, neoplatónicas e estóicas no cristianismo, o que deu em formas específicas da mundividência e práticas religiosas nos primeiros séculos do cristianismo. Para finalizarmos este capítulo, tentaremos ver se existem diferenças entre o misticismo cristão e os não cristãos, como também em que se assemelham e distinguem o misticismo católico e o ortodoxo.

Nas religiões e filosofias orientais o estado da perfeição atinge-se mediante uma luta meditativa contra os desejos e sentimentos do Ego, no sufismo muçulmano os dervixes tentam aproximar-se do ideal da pureza mediante os movimentos específicos giratórios, que pelos leigos muitas vezes são considerados danças. No cristianismo pode tratar-se tanto da “mística contemplativa” como veremos mais tarde no caso do Mestre Eckhart, como da “mística do coração”, que se manifesta melhor na prática da “Oração de Jesus” (oração perpétua) ou “oração do coração” inventada pelos hesicastas ortodoxos do Monte Sacro Atos na Grécia.

O psiquiatra sérvio e estudioso da religião ortodoxa Vladeta Jeroti no seu livro “A Fé e a Nação”[i](1999), citando Max Weber responde à pergunta “em que é que a ortodoxia se diferencia do cristianismo ocidental” dizendo que a diferença básica reside na forma da ascese, uma vez que no catolicismo e protestantismo existe uma “ascese activa” em que o homem é visto como instrumento de Deus, e na ortodoxia tem-se um misticismo contemplativo e salvífico, em que o homem não é instrumento, mas si recipiente que deve acolher o divino.

No capítulo seguinte analisando com mais pormenores a vida e obra do Mestre Eckhart e de São João Clímaco veremos nos exemplos concretos as diferenças entre o conceito do místico e as respectivas experiências no mundo católico e ortodoxo.

O Misticismo Ocidental: exemplo do Mestre Eckhart

Esta parte do nosso trabalho é mais prática e vai concentrar-se na vida, obra e doutrina de Johannes Eckhart, teólogo e místico alemão, conhecido também como Mestre Eckhart. Gianni Colzani na Enciclopédia Christos (2004) refere que o pensador cuja vida estamos a apresentar aqui foi prior de Erfurt e vigário provincial da Turíngia. Faleceu provavelmente em Avinhão, e o seu túmulo ficou desconhecido. Uma vez que viveu num período de grandes crises, guerras, epidemias, fome e conflitos históricos entre Luís de Baviera, segundo papa de Avinhão e o papa João XXII, o que influenciará a vida espiritual em todo o território do Sacro Império Romano. Como resposta a essa crise dentro da Igreja, os mosteiros e conventos tornam-se ainda mais centros muito importantes da cultura, conhecimento e de vida religiosa particular. O próprio Mestre Eckhart inicia a sua procura de Deus de uma forma específica, apregoando o despojamento, desapego e renúncia de todos os “falsos deuses”.  Por este sintagma não se entendem tanto os deuses pagãos, antes pensa-se em tudo o que nos domina, em todas as paixões das que o ser humano não se consegue livrar. Gianni Colzoni (op. cit.) atribui-lhe uma “mística especulativa” que trata do caminho da alma para o conhecimento de Deus Bem Supremo. Na sua doutrina prevalecem as ideias do afastamento de si mesmo, conhecimento do “próprio nada”, transcendência de Deus mesmo quando ele é visível, presente e operante na alma. Para Eckhart a alma é o lugar da comunhão e da morada de Deus em nós. Pelo termo “morada” este místico pode assemelhar-se com a forma em que Deus se revela a Santa Teresa de Jesus, embora ela seja muito posterior a ele. Desta formulação podemos intuir que o misticismo católico possui algumas formas comuns de descrever a experiência mística. Segundo Eckhart, o místico deve esforçar-se para recuperar a imagem divina em nós. O que se critica nos estudos do Mestre Eckhart é a pouca importância que aparenta dar a Cristo histórico e a pouca consideração que tem pelos sacramentos no caminho espiritual. Quando Bruno Secondin na Enciclopédia Christos (2004: 603) define a mística, parece-nos que toca nos aspectos principais da experiência eckhartiana, porque como características deste fenomeno destaca a “experiência gozosa do absoluto” e “desapego do mundo exterior”. Por isso os místicos de todas as religiões são também considerados grandes pensadores e pouco interessados pelas riquezas materiais e pelo valor efémero dos bens terrenos.

 Na opinião de Nicolau de Cusa (op.cit. 62) “ o núcleo do pensamento do Mestre Eckhart é formado pela imanência e transcendência do Uno que está em tudo e ao mesmo tempo acima de tudo, age sobre o universo dos seres que dele dependem e contudo permanece intocável na sua experiência autárquica”. Na palavra “autárquica” aplicada a Deus reconhecemos que este pensador vê Nele o símbolo do poder supremo, que, no entanto, “permanece intocável”. Nesta parte da citação poderíamos ler uma certa indiferença de Deus em relação às suas criaturas e ao homem que se quer unir a ele, o que se opõe a concepção ortodoxa de Deus como amor supremo, que tem misericórdia e paciência por todos os seres que criou. O papa João XXII condenou 17 das proposições eckhartianas como heréticas e as 11 restantes ficaram suspeitas de o serem. Mesmo durante a sua vida, o Mestre Eckhart foi suspeito de heresia, e como uma forma de se defender (Eckhart:1981:72) usa as seguintes palavras: “I can be in error, but I am not a heretic, because the first belongs to the intellect, and the second to the will.”[ii]

O papel do intelecto é muito importante na doutrina deste pensador, uma vez que ele considera o intelecto como “o olho do coração”. Parece também convencido de que a razão humana pode encontrar provas para as verdades reveladas na Sagrada Escritura. Na sua interpretação de Deus atribui-lhe várias características, das quais destacamos a existência, a unidade, a verdade e a bondade. A linguagem eckhartiana não é fácil de perceber e é preciso ler o mesmo texto várias vezes para se tentarem perceber as suas ideias. As metáforas mais usadas para o poder escondido de Deus são: Castelo, Faisca ou Cidade. Curiosamente outra vez lembramo-nos das descrições que Santa Teresa de Ávila usava e podemos concluir que o vocabulário místico católico trabalha com a terminologia semelhante apesar da diferença temporal.

Uma das afirmações do Mestre Eckhart que consideramos um pouco ousada (in. Eckhart, op.cit.193) é que:” Whatever is proper to the divine nature, all that is proper to a just and divine man”.[iii] Se compreendermos que o homem foi feito á imagem e semelhança de Deus, podemos pensar que o ser humano pode chegar a possuir determinadas virtudes que Deus também tem, Porém, o que nos pareceu vislumbrar nestas linhas e a plena consciência da grandeza do homem, que se tenta igualar a Deus, e essa afirmação está latente no sintagma “homem justo e divino”. Este pensador repete muitas vezes que se sente “livrre e vazio” conforme a vontade De Deus e refere também que Deus está por cima de qualquer amor e da possibilidade de ser amado, e que mesmo assim devemos amar Deus “unspiritually”, isto é, livrar a alma do espírito e de todas as imagens. A ideia do esvaziamento e despojamento de tudo é uma das constantes na sua filosofia, Da mesma forma o é a importância da vontade. Do seguinte exemplo (Eckhart, op. cit, 256) “The inclination to sin is not a sin, but to want to sin is sin, to want to be angry is sin.”[iv] Aqui parece que o que se destaca é a necessidade de auto-controlo de forma a não realizar o desejo de pecar e desta forma a não cometer o próprio pecado, enquanto a própria tendência do ser humano ao pecado é desvalorizada. Por último, salientamos o papel que o coração desempenha na teologia mística do Mestre Eckhart. Na tradução inglesa da obra que temos vindo a citar (p.293) consta que: “the heart that has pure detachment of all created things, and so it is wholly submitted to God [v]and so it achieves the highest uniformity with God.”   O coração deve livrar-se de todo tipo de desejos para atingir o maior grau de “uniformidade” com Deus. É interessante salientar que agora já não se fala na “união”, mas sim na “uniformidade”, o que se poderia entender como a maior semelhança possível, Para encontrar Deus de novo, recomenda-se irmos buscá-lo onde o tínhamos deixado e a fazer exactamente o mesmo que fazíamos quando Deus ainda estava connosco. E para uma união completa nós devemos “mudar-nosem Deus”. Após uma primeira leitura da obra deste místico durante a nossa licenciatura, notámos algumas dificuldades, sobretudo em termos de linguagem. A releitura ajudou-nos a sentir algumas diferenças entre o misticismo católico e o ortodoxo, embora não sejamos capazes de exprimir com palavras exactas em que é que elas consistem. Esperamos que após a leitura da obra do místico ortodoxo e a sua comparação com o pensador ocidental algumas das nossas dúvidas fiquem esclarecidas, para podermos compreender melhor o fenómeno do misticismo cristão na sua complexidade e profundidade.

Um exemplo do misticismo ortodoxo: são João Clímaco

Monge e asceta grego João chamado Clímaco graças à sua obra principal, a “escada espiritual”, que posteriormente chegou a ser canonizado, nasceu em 575 e faleceu em 649. Devido ao facto de ter vivido e escrito a sua obra antes do Grande Cisma, é reconhecido e celebrado tanto pela Igreja Católica, como pela Ortodoxa, sendo o seu dia no cristianismo ocidental fixado para 30 de Março e na ortodoxia é-lhe dedicado o quarto domingo da Quaresma. Durante quarenta anos viveu como ermitão no monte Sinai e foi designado hegúmeno (superior) de um mosteiro. A pedido do seu amigo e guia espiritual escreve a “Escada” dando uma série de regras para os monges de forma a indicar-lhes o caminho mais correcto para o Céu. Na opinião de Giuseppe Laiti (in: Christos, 2004:491) trata-se de uma “enciclopédia ascética” de trinta degraus, que correspondem aos trinta discursos do Nosso Senhor desde o início da sua vida pública. Entre as características da mística de São João Clímaco este autor italiano destaca a apatheia, separação das paixões como meta da ascese com o fim de se atingir o estado da contemplação. O lugar central neste santo ocupam a oração do intelecto, a invocação do nome de Jesus e algumas técnicas específicas de respiração e concentração. A metáfora da escada de trinta graus, como considera Dimitrije Bogdanovi, autor do prefácio para a edição sérvia da “Escada”, é bastante simbólica. Por um lado faz lembrar a escada celestial que viu Jacó no Antigo Testamento, e por outro, como é preciso que passem trinta anos para que um homem seja maduro, são necessários trinta degraus para o monge atingir a perfeição.

Embora na Igreja Ortodoxa haja mais místicos e entre eles os “exclusivamente nossos”, escolhemos a personagem de São João Clímaco, loque a sua doutrina se assemelha muito ao que posteriormente se entenderia por ortodoxia, e também porque a sua obra inspirará o hesicasmo, uma tendência mística presente apenas na religião ortodoxa. Mais adiante a tendência do hesicasmo será devidamente explicada, mas antes disso devemos dar um sumário de cada um dos degraus na escada descrita por este santo.

O primeiro degrau e a renúncia ao mundo, o segundo renuncia as paixões, o terceiro e o afastamento, o quarto e a obediência. Pararemos aqui por um momento, para fazermos uma pequena comparação entre o Mestre Eckhart e São João Clímaco. Enquanto Eckhart elogia a questão da vontade, Clímaco afirma que; “ a obediência é o túmulo da vontade e a ressurreição do sossego”[vi]. Para o asceta ortodoxo é importante salientar que um monge deve ter sossego e obediência, para não se julgar superior a ninguém, para não se deixar levar pelas próprias paixões e vícios, para se ir aperfeiçoando e aproximando de Deus. O quinto degrau é o arrependimento, o sexto lembrança da morte. A primeira frase deste capítulo revela que cada palavra é precedida por um pensamento, o que em parte parece contrário ao ensinamento sobre a vontade e o pecado. Em São João Clímaco o pensamento é o início da palavra e a palavra conduz á obra, seja a obra boa ou má. Na parta sobre a memória da morte vemos a estreita ligação entre este degrau e o arrependimento, porque a alma que pensa constantemente na proximidade do Juízo Final, será obrigada a repensar os seus pecados, e fará todo o esforço possível para se corrigir antes de chegar o dia da morte. Este santo chama a atenção para o facto de haver pessoas que desejam a sua morte por desespero, que é um dos perigos mais graves na vida espiritual, tanto dos monges, como das pessoas que vivem “no mundo.” À continuação enumeram-se a ausência da raiva e a docilidade, um pecado perigoso contra o qual um monge deve lutar muito é a memorização dos pecados dos outros, que Clímaco chama de “um dos filhos da raiva”,[vii] porque se guardamos rancor a alguém por causa dos seus pecados e ofensas que nos tem feito, significa que somos incapazes de perdoar. Como sequência lógica deste comportamento vem a calúnia, e evitá-la e ficar insensível a ela indica subir o décimo degrau da escala da ascensão divina. Recomenda-se o silêncio em vez do uso excessivo de palavras, Para a mentira, diz-se que é o “desaparecimento do amor”, e a calúnia é a negação de Deus. Evitar a mentira significa o duodécimo degrau na escada espiritual, e quem o atingiu, conseguiu ter “a raiz das virtudes.”. Um monge deve lutar contra o desespero, deve dominar o seu estômago, porque o fruto principal da gula é a libertinagem, deve guardar a sua castidade. O décimo sexto degrau da ascensão na escala espiritual refere-se à renúncia ao amor pelo dinheiro e pelos bens materiais. O próximo degrau é a insensibilidade da alma e do intelecto, para no seguinte nível se falar no sono, oração e a liturgia como obra comum. Um bom monge deve fazer um grande esforço físico, preparando o seu corpo para a virtude praticando a vigília entre outras tácticas, porque dormir demais implica preguiça e perigo de cair no pecado da libertinagem. Contra a medrosidade, que é “a ausência da fé na esperança de uma desgraça inesperada”, deve-se lutar com muito cuidado, tendo a oração e o nome de Jesus como armas principais A mensagem número XXI refere-se à vaidade multifacetada que aparece frequentemente sob a máscara da tranquilidade. A crítica da soberba pareceu-nos muito bem encadeada depois da explicação do pecado da vaidade, porque, segundo São João Clímaco a vaidade é o início e a soberba o fim do mesmo pecado. Para um monge se curar desta doença, deve comparar-se sempre com os santos padres para ver que ainda nem começou o seu caminho espiritual., procurando encontrar a paz com ele próprio. O próximo perigo que se deve combater no caminho espiritualsão os pensamentos blásfemos. Aquele que conseguiu expulsar a soberba, recebeu os dons da simplicidade, inocência e falta de maldade, que são as qualidades que são abordadas na mensagem XXIV. Seguem-se o apaziguamento da mente, o raciocínio, o silêncio, a oração, a imitação de Deus e a última mensagem refere-se à união da fé, esperança e amor. Quem atinge esta união e quem consegue o amor atingiu a perfeição. São João Clímaco não apenas enumera as virtudes, mas também propõe técnicas e práticas religiosas para elas se atingirem, chamando ao mesmo tempo a atenção para os perigos, pecados e obstáculos no caminho da salvação. No fim de cada capítulo dá conselhos, advertências ou expressa alguma mensagem sábia que pode servir de guia principalmente para os monges, mas também para todos os que desejam que os seus nomes se inscrevam no livro da vida. Para ilustrar os seus ensinamentos, este santo cita exemplos da sua vida monástica e de ermitão, apoia-se nas citações das Sagradas Escrituras e na sua vida e sabedoria, e daqui concluímos que a sua mística é uma experiência vivida, sentida e muito bem fundamentada, que posteriormente inspirará o surgimento da tendência do hesicasmo no Monte Sacro Atos. Tal como são João Clímaco recomenda o uso do nome de Jesus como flagelo para os demónios, um dos postulados principais do hesicasmo será a oração de Jesus (oração do coração ou do intelecto) que se reza combinada com técnicas específicas da respiração e concentração e uma determinada postura do corpo. As palavras desta oração são: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus tem piedade de mim pecador/a”, e ela é considerada a oração mais poderosa no cristianismo ortodoxo. No que diz respeito ao termo “hesicasmo”, nas línguas eslavas ele tem a ver com o adjectivo “silencioso”, o que indica que uma das condições necessárias para o efeito correcto desta oração é o silencio exterior em que o monge se deve encontrar, e sobretudo interior, dentro do coração de quem reza. Decidimos propositadamente ligar esta tendência do misticismo ortodoxo, com a vida de São João Clímaco, porque, embora a data do seu surgimento seja posterior, consideramos este santo o primeiro hesicasta, que com o seu próprio exemplo lutou contra os demónios e atingiu a união com Deus como amor supremo. Diferentemente do Mestre Eckhart, que não dá muita importância aos sacramentos e a Cristo histórico, são João Clímaco é de opinião que sem Cristo e sem a aplicação dos sacramentos na vida quotidiana com o devido temor de Deus, não é possível nem imaginar a salvação. Enquanto Eckhart menciona que devemos recuperar a imagem divina na nossa mente, Clímaco é muito rigoroso com as visões dos santos, de Deus e da virgem Maria que aparecem nos sonhos dos monges que estão no início do seu caminho espiritual, porque chama a atenção para o perigo de os demónios desejarem induzir os não preparados no pecado da soberba

Considerações finais

A linguagem deste santo ortodoxo é também metafórica e poética, mas enquanto no misticismo católico estão muito presentes as imagens do castelo, cidade, faísca e fogo divino, no ortodoxo encontramos mais as ideias da escada, do caminho, do monge como navio, da vida espiritual como mar, das ondas como tentações e do porto como um lugar seguro. Não tendo tido tempo de explorar estes fenómenos com mais atenção e profundidade, não podemos dar uma explicação correcta destas metáforas. Notámos algumas diferenças entre o fenómeno místico ocidental e oriental dentro do cristianismo e neste momento atrevemo-nos a dizer só que as duas vertentes da mesma religião propõem um caminho cuja finalidade é a união com Deus. Na nossa opinião, a mística católica parece-nos muito mais abstracta, filosófica e especulativa e a ortodoxa muito mais prática. Sem desejar dar qualquer juízo de valor, consideramos que se trata de duas concepções diferentes do fenómeno místico, o que talvez seja possível explicar através da linguagem. Um dos factores que possa servir de argumento para que defendamos a ideia de duas místicas são as circunstâncias históricas em que o cristianismo se desenvolvia no Ocidente e no Oriente. Um outro elemento que não devemos esquecer e que influenciou a obra destes dois místicos e pensadores, é a sua educação e os autores e livros que leram no seu percurso espiritual, que os guiaram em direcções diferentes. De todas formas reler a obra destes dois pensadores depois de vários anos serviu-nos para ver até que ponto crescemos e amadurecemos e em que medida agora a esta distância compreendemos o fenómeno do misticismo cristão. Sublinhando que os dois autores que escolhemos para esta pequena análise são bastante difíceis e complexos, não deixamos de exprimir o grande gosto e prazer que a releitura das suas obras deixou em nós.

NOTAS


[i] O título original do livro é “Vera i nacija”

[ii] (ing.) Eu posso estar no erro, mas não sou herege, porque o primeiro pertence ao intelecto e o segundo á vontade. (tradução nossa)

[iii] (ing.) Tudo o que é próprio da natureza divina, isso tudo é próprio do homem justo e divino (tradução nossa.)

[iv] (ing.) A inclinação ao pecado não é pecado, mas desejar pecar eé pecado, desejar  estar zangado é pecado” (tradução nossa)

[v] (ing.) o coração que tem puro desapego de todas as coisas criadas e assim está completamente submisso a Deus e assim tem a uniformidade mais alta com Deus.

[vi] (sér.) Poslušnost je grob volje, a uskrsnue smirenja.

[vii] Todas as citações foram tomadas da edição sérvia da “Escada”, que referiremos devidamente na bibliografia.

Referências bibliográficas

a)     Obras dos autores místicos:

ECKHART, Meister (1981) The Essential Sermons, Commentaries, Treatises and Defense, Paulists Press, Mahwah

!"', >20=  !25B8 (1997), 5AB28F0 >60=AB25=>3 CAE>R5Z0, 0=0AB8@ %8;0=40@, !25B0 >@0, ?@52>4 A0 AB0@>3@G:>3: 48340=>28[

b)    Obras de carácter teórico:

CUSA, Nicolau de (1998) A Visão de Deus, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

 " , ;045B0 (1999) 5@0 8 =0F8X0, rs Libri, 5>3@04

Mc GINN, Bernard (1991) The Foundations of Mysticism, Crossroad Publishers, New York

"", Rudolf (1992),O Sagrado,Edições 70, Lisboa

VAUCHEZ, André (1994) A espiritualidade da Idade Média Ocidental (séc.VII-XIII), Editorial Estampa, Lisboa

VELASCO, Juan Martín (2004) (coord.), La Experiencia Mística, Estudio Interdisciplinar,  Centro Interdisciplinar de Estudios Místicos, Editorial Trotta, Madrid

­­­­­­________________________ (2003), El Fenómeno Místico, Estudio Comparado, Editorial Trotta, Madrid

c)     Enciclopédia:

CHRISTOS, Enciclopédia do Cristianismo (20049, Prefácio de D. José Policarpo, Cardeal patriarca de Lisboa, Editorial Verbo, Lisboa, pp.233-239, 300-301, 405-406. 491, 603-604

d)    Sitografia:

http://www.ecclesia.com.br

http://www.ortodoxiaplena.com.br

http://pravoslavie.ru

http://www.rastko.org

http://www.verujem.org

e)     Obras consultadas embora não directamente referidas:

LOUTH, Andrew (2007) The Origins of the Christian Mysticism From Plato to Denys, Oxford University Press, Oxford

PANIKKAR, Ramon (2005) De la Mística: Experiencia Plena de la Vida, Casa del Libro, Madrid


Autor: Anamarija Marinovic


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