Alimentação Infantil



 

Alimentação Infantil

"Guia alimentar para crianças menores de 2 anos"

Drª Elisama dos Santos Monteiro Silva

Crn/3-5393

 

A alimentação e nutriçãosão direitos fundamentais do ser humano, sendo requisitos essenciais para o crescimento e desenvolvimento de todas as crianças.

No Brasil a desnutrição infantil continua a ser um problema de saúde pública nesta faixa de idade de 0 a 2 anos, no qual a alimentação tem um papel relevante, assim como em outro extremo temos o advento da obesidade infantil nas faixas etárias subseqüentes crescente e preocupante.

Pesquisas revelam que a prevalência do aleitamento materno é baixa, sua duração é curta e o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida é raro.

Os alimentos complementares muitas vezes são precocemente introduzidos para uma grande maioria de crianças e são freqüentemente deficientes em conteúdo energético e de nutrientes. Em alguns casos, devido à falta de conhecimento e ao apelo constante da mídia, a escolha de alimentos é inadequada tanto em qualidade quanto em quantidade (para mais ou para menos).

O preparo dos alimentos também é preocupante, pois em muitos lares são preparados em condições desfavoráveis de higiene, às vezes estocados à temperatura ambiente por tempo prolongado, e quase universalmente são oferecidos, principalmente no primeiro ano de vida por mamadeira. Alimentos regionais de alto valor nutritivo, disponíveis e utilizados na alimentação da família, não são dados às crianças nos primeiros anos de vida em decorrência de crenças e tabus (do tipo: alimentos pesados, frios, quentes, fortes / fracos, permitidos / proibidos em uma dada etapa de desenvolvimento da criança).

Historicamente o Brasileiro ingere pouca quantidade e variedade de hortaliças (vegetais folhosos), legumes e até mesmo frutas, e observa-se também a pequena oferta destes alimentos às crianças nesta faixa etária, o que é muito prejudicial, pois são alimentos essenciais para o nosso desenvolvimento.

"O tentar fazer" uma criança comer, muitas vezes leva a atos extremoscomo as ameaças, as recompensas ou os castigos. Outras crianças são deixadas a se alimentarem sozinhas. A alimentação da criança doente também é muitas vezes inadequada, quer seja por suspensão ou restrição de determinados alimentos por algum período, pela administração de dietas de baixo valor calórico e nutritivo ou pela falta de estímulo à criança doente que se encontra muitas vezes sem apetite.

Os dois fenômenos: Desnutrição e Obesidade são preocupantes. A desnutrição é causa imediata de diversos problemas de saúde (anemias, por exemplo) levando aodéficit de estatura e peso e a obesidade por sua vez a problemas como hipertensão, diabetes, ortopédicos e psicológicos (relacionados à auto-estima e relacionamento interpessoal). Sabe-se ainda que 50% das crianças obesas provavelmente serão adultos obesos.

A Educação Nutricional visando hábitos alimentares nutricionais adequados é essencial para que estes dois fenômenos sejam controlados.

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) através de suas diretrizes:

I. Intersetorialidade

II. Segurança sanitária e qualidade dos alimentos

III. Monitoramento alimentar e nutricional

IV. Promoção de práticas alimentares saudáveis

V. Prevenção e Controle de Deficiências e Distúrbios Nutricionais

Visa promover aSegurança Alimentar e Nutricional uma vez que o Direito Humano á Alimentação deve ser assegurado através da alimentação em quantidade e qualidade adequada.

Para a promoção de práticas alimentares saudáveis estabeleceu-se que deveria haver a disseminação das Diretrizes alimentares sobre alimentação nas diferentes fases do curso de vida, para tal, profissionais especializados criaram o "Guia alimentar para crianças menores de 2 anos" e os "Dez passos para uma alimentação saudável para crianças menores de 2 anos" (disponível para downloand www.saude.gov.br/nutricao ).

As recomendações foram elaboradas com a participação de profissionais de saúde de todo o País que atuam com nutrição de crianças, em serviços de saúde, em ensino e em pesquisa, a partir de um diagnóstico baseado em pesquisas. Este Guia, portanto, apresenta um quadro da atual situação de nutrição e alimentação de crianças menores de dois anos no País, ao qual são aplicados conhecimentos científicos atualizados sobre o tema, de forma a abranger os problemas identificados como sendo comuns a todas as regiões.

Por quê a preocupação ainda na infância?

É sabido que tudo o que ocorrer nesta fase da vida refletirá no restante da existência do ser humano. A alimentação adequada nesta fase é essencial para o desenvolvimento da criança. Uma alimentação adequada compreende a prática do aleitamento materno e a introdução oportuna de alimentos complementares em quantidade e qualidade adequados.

O Guia alimentar para crianças menores de 2 anos é uma contribuição do Ministério da Saúde bastante rica e que tem como propósito materializar o direito à alimentação adequada. Destina-se à capacitação técnica dos diversos profissionais que atuam no campo da alimentação infantil, principalmente os profissionais nutricionistas e as Equipes de Saúde da Família. São 154 páginas com informações abrangentes e de fácil entendimento. Ele deve servir como protocolo para a orientação de mães com relação à alimentação de seus filhos.

O aleitamento materno exclusivo é indicado até o seis meses de idade. É essencial.

As categorias de aleitamento materno sugeridas pela OMS, assim definidas (Organización Pan-americana de la Salud / Organización Mundial de la Salud, 1991), são:

Aleitamento Materno Exclusivo – quando a criança recebe somente leite materno, diretamente da mama ou extraído, e nenhum outro líquido ou sólido, com exceção de gotas ou xaropes de vitaminas, minerais e / ou medicamentos.

Aleitamento Materno Predominante – quando o lactente recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como sucos de frutas e chás.

Aleitamento Materno – quando a criança recebe leite materno, diretamente do seio ou extraído, independente de estar recebendo qualquer alimento ou líquido, incluindo leite não-humano.

O leite materno não é apenas o alimento ideal para o recém-nascido, ele é também um grande aliado contra doenças potencialmente perigosas nesta fase. Seu efeitoprotetor do leite materno tem início logo após o nascimento. O leite humano, em virtude das suas propriedades antiinfecciosas, protege as crianças contra diferentes infecções desde os primeiros dias de vida.

As crianças quando amamentadas têm menor probabilidade de adquirirem infecções gastrintestinais, há vários estudos que comprovam a proteção do leite materno, especialmente em populações menos privilegiadas.

O leite materno protege a criança contra infecções respiratórias ou pelo menos diminui a gravidade das mesmas. Além da presença dos fatores de proteção contra infecções no leite materno, a amamentação evita os riscos de contaminação no preparo de alimentos lácteos e de diluições inadequadas – leites muito diluídos ou concentrados –, que interferem no crescimento das crianças (refletido no ganho de peso insuficiente ou de sobrepeso, respectivamente). Outra importante vantagem do aleitamento materno é o custo.

O aspecto psicológico da amamentação também é muito importante, pois fortalece o vínculo mãe-bebê.

Os DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, estabelecidos nestas duas publicações, com muita propriedade são:

PASSO 1 - Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.

PASSO 2 - A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.

PASSO 3- partir dos 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, frutas e legumes) 3X ao dia se a criança receber leite materno e 5X ao dia se estiver desmamada.

PASSO 4- A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança.

PASSO 5- A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher, começar com consistência pastosa (papas/purês), e gradativamente aumentar a sua consistência até chegar à alimentação da família.

PASSO 6 -Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida.

PASSO 7- Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.

PASSO 8 - Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.

PASSO 9- Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.

PASSO 10 - Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.

O Guia alimentar para crianças menores de 2 anos adota a recomendação da ONU de oferecer três refeições ao dia para crianças amamentadas e 05 para crianças desmamadas.

"Dez passos para uma alimentação saudável para crianças menores de 2 anos", é um livreto auto-explicativo que desmistifica as dificuldades da alimentação, mostrando que com alimentos do dia-a-dia como frutas, verduras, legumes, cereais, leguminosas e carnes na quantidade adequada a alimentação da criança pode ser nutritiva, agradável e saudável.

Estas publicações são instrumentos importantes e valiosos para a conscientização da população com relação à alimentação adequada.

Vitolo et col .cita: "As políticas públicas em saúde são diretrizes de ações que devem estar de acordo com as realidades da comunidade e serem capazes de prevenir ou solucionar os problemas atuais no curto prazo, mesmo antes da efetivação de reformas econômicas e sociais de maior impacto. A implementação dos Dez Passos para uma Alimentação Saudável: Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos mostrou-se efetiva na melhora de alguns aspectos da saúde da criança (aleitamento materno, práticas alimentares e morbidades), sendo evidente a necessidade da ampla aplicação desse programa na rede básica de saúde e na comunidade. Outras providências devem ser urgentemente tomadas quanto à situação da anemia infantil que atinge atualmente cifras alarmantes, como, por exemplo, a suplementação profilática de ferro e o enriquecimento dos alimentos. Tais medidas já se mostraram efetivas quando implementadas de forma sistemática e contínua. As crianças na faixa etária menor de dois anos beneficiam-se mais intensamente com programas que priorizam a vigilância nutricional no pré-natal e no primeiro ano de vida".

A implementação dos "10 passos" é essencial, porém deve-se levar em consideração que para que isto ocorra há de se promover também a modificação comportamental tanto dos pais quanto dos profissionais envolvidos, assim como da sociedade. Vivemos em um momento aonde a mídia veicula em seus meios mais alimentos inadequados que adequados.

Quem não se lembra do garotinho que pede brócolos para sua mãe e é tratado como esquisito? Voltando a ser "normal" quando aceita no lugar o produto anunciado?

Ou melhor, àquela mãe carinhosa mostrando a foto de legumes para seu filho enquanto lhe oferece uma papinha industrializada?

O público infantil é o mais vulnerável aos apelos promocionais, e a propaganda, a publicidade e a promoção de alimentos influenciam as escolhas alimentares infantis. O crescimento na promoção de alimentos industrializados e bebidas prontas nos supermercados é real e influencia negativamente a dieta e o estado de saúde das crianças.

As indústrias estão investindo cada vez mais na divulgação de fast-food ricos em calorias, bebidas carbonatadas, cereais açucarados matinais ealimentos os quais tendem a ser ricos em gorduras, açúcar e sal, bem como pobre em nutrientes. Alguns especialistas sugerem que a propaganda e a publicidade de alimentos ricos em calorias e engordativos podemcontribuir negativamente tornandoas escolhas saudáveis difíceis.

Ana Beatriz Vasconcellos afirma que o diálogo com o setor das empresas de alimentação e as indústrias dos meios de comunicação e marketing deve ser aprofundado com vistas a mudar progressivamente a demanda e eliminar a promoção de produtos alimentícios e de bebidas que contribuem para dietas que levam à má saúde na infância e na adolescência e a perspectivas de morte precoce e/ou a anos de vida incapacitante na idade adulta. Sabe-se que algumas empresas já começaram a alterar seus produtos a fim de torná-los menos prejudiciais. Essa iniciativa é bem acolhida e deve prosseguir sistematicamente, em escala e ritmo mais intensos (SCN, 2006).

Kaia Engesveen coloca ainda sobre o assuntoque o Marketing de alimentos nocivos à saúde deve ser tratado como uma questão de "proteção à saúde da criança".

Concluímos que para o indivíduo escolher o que lhe é adequado ou não ele precisa estar consciente de suas possibilidades de escolha e o que é melhor para ele e sua família, para tanto a informação é essencial. A Educação Nutricional é a única "arma" que pode evitar possíveis comprometimentos nutricionais e corrigir ou minimizar os existentes. As publicações citadas são grandes instrumentos de orientação e que devem ser mais divulgadas. Acredito que se durante o pré-natal houvesse uma conscientização com relação aos procedimentos alimentares, uma nova geração mais saudável despontaria.

A Saúde Pública e a Regulamentação da publicidade de alimentos

Ana Beatriz Vasconcellos et col.Artigo disponível:

http://200.214.130.94/nutricao/documentos/regulamenta_publicidade_alimentos.pdf

"Dez passos para uma alimentação saudável para crianças menores de 2 anos" Ministério da SaúdeBrasil disponível: www.saude.gov.br/nutricao

"Guia alimentar para crianças menores de 2 anos"

Ministério da SaúdeBrasil disponível: www.saude.gov.br/nutricao

Impactos da implementação dos dez passos da alimentação saudável para crianças: ensaio de campo randomizado.

Márcia Regina Vitolo et col.Artigo disponível:

http://www.scielo.br/pdf/csp/v21n5/18.pdf

OFICINA: Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos

Gisele Ane Bortolini & Helen DuarPowerPoint: disponível

http://www.escoladesaude.pr.gov.br/arquivos/File/mostra/nutricao/Gisele_Ane_Bortolini.pdf

Proteção das crianças contra o marketing agressivo de alimentos e bebidas prejudiciais à saúde: O potencial de uma abordagem baseada nos direitos humanos

Kaia EngesveenArtigo disponível

http://www.abrandh.org.br/artigos/kaiamarketing.pdf


Autor: Elisama dos Santos Monteiro Silva


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